C A P Í T U L O 34
— Hoje você está pensativa… — Ella arrisca-se a falar. — É meu Alpha?
— Talvez. — Nhshley suspira. — Não pertenço a esta alcateia. Logo terei que partir.
Ella olha para o espelho, vendo sua mudança física. Está muito mais ousada do que antes. Jamais iria atrever-se a usar tais vestimentas em seu passado. Ferro segura seus seios, mantendo-os levantado para que seda e cetim caia sobre seu corpo em um vestido solto onde suas pernas aparecem através de um corte a altura de sua cintura. Toda sua coxa e perna pode ser vista conforme ela movimenta-se ou anda.
Toda essa mudança devia-se a Nhshley.
Ella pode lembrar-se de quando a viu pela primeira vez. Estava destraída quando trombou com ela. Nhshley era peculiarmente linda. Suas vestimentas ousadas, tais como seus cabelos negros, menores de um lado, quase como se fossem raspados a algum tempo e cresceram. Ella nunca havia visto mulher tão linda. Ficara tão fascinada que sentiu-se ofuscada.
Era seu primeiro encontro com uma lhycan. Fharlley já havia falado da beleza que as mulheres possuem. É o símbolo para a perdição dos mais sordicos guerreiros. Uma beleza tão naturalmente delicada que acalmava qualquer fera. É característico das mulheres deste povo. Chega a ser raro nascer alguém desprovido de tal aparência física.
Ella tinha seu coração acelerado. Nhshley estava tranquila e dirigiu-se algumas palavras que a lhycan não compreendeu. Ela não falava seu idioma, então a mulher percebeu que Ella tinha descendência humana. Era uma transformada ainda adaptando-se a nova vida.
A prova foi seu susto quando Dylan apareceu repentinamente no jardim que estavam. Ela recuou um passo indicando que não deseja afrontar ninguém. Mesmo sendo de nobreza Genuína, Nhshley deveria temer qualquer Alpha ou lhycan mais dominante que ela. O Alpha sem dizer uma única palavra orientava sua loba para dentro do castelo quando a ousadia da forasteira a fez pronunciar-se.
— Não sabia que havia uma outra mulher além da Ômega e eu no território. Quanto tempo ela está aqui? — Dylan a encarou. Ella ficou ao seu lado, olhando as feições de seu Alpha sem entender uma única palavra a ser pronunciada. — Estou aqui para cuidar da saúde de uma desonrada, mas a companhia de uma lhycan agradaria-me e muito.
— Por que eu concederia-lhe liberdade a minha lhycan? — Questiona Dylan em um tom julgador. Ele poderia facilmente ignorar, mas o interesse de Nhshley prendem-no pelo motivo que sai da boca da mulher, em resposta:
— Sou mulher. Ela também. — Ela faz menção de aproximar-se mas o olhar do Alpha a faz manter-se no lugar. Ele não quer sua aproximação. — Terei companhia feminina em noites intediosas onde não estarei cuidando de Arya e sua lhycan, sendo inexperiente, pode aprender em maior progresso com influência de alguém como ela.
Em alcateias, mulheres sempre foram muito unidas. O motivo para ocorrerem muitas alianças e amizade entre bandos, até mesmo de patamares diferentes na hierarquia sempre as foram as fêmeas. As amizades ultrapassam a barreira da hostilidade de qualquer macho e fortalecem os mais delicados laços. O interesse de Nhshley é facilmente compreensível. Seu instinto busca uma companhia feminina dentre tantos homens. Uma amizade não é um obstáculo e pode facilmente influenciar Ella em diversos requisitos.
Sendo a única mulher da alcateia a pressão sobre ela é grande. Há urgência instintiva de querer uma mudança, além de uma exagerada proteção. Homens a ensinando não é o ideal. Se tivesse outras mulheres dentro da alcateia Ella evitaria os machos e provavelmente ficaria apenas em companhia feminina, onde seria facilmente influenciada e aprenderia muito mais rápido. Pensando nos interesses que uma possível amizade entre elas poderá beneficiar a alcateia, além da evolução de sua loba, o Alpha permite tal aproximação.
Mas Nhshley sabia os riscos. Os membros da alcateia local as vigiavam, sempre atentos e protetores a Ella. Se algo acontecesse a lhycan, mesmo que Nhshley fosse de nobreza Genuína, após Arya estar bem, ela sofreria graves consequências. Mas ela não importava-se. Tinha uma mulher para conversar e descontrair suas noites tediosas sempre que não precisasse cuidar da Ômega.
E Ella gostava da sua companhia. Aprendia rapidamente muitas coisas sobre seu novo povo. Cada vez mais estava familiarizada com suas habilidades lhycan. Dylan percebia a mudança. A mulher estava cada vez mais ousada e menos submissa. Ella estava radiante como uma verdadeira lhycantropica. Aprendeu até mesmo algumas palavras e frases do idioma e treinava suas cordas vocais a produzirem sons que nunca achou que iria pronunciar.
Mesmo que por acidente ela tenha uivado pedindo socorro na floresta, ela estava aprendendo. Ella ria internamente sempre que lembrava como os lobos chegaram em pouco tempo ao local e seu Alpha, Dylan, logo começou a avaliar seu estado físico. Nhshley odiou a noite. Estava ensinando Ella a uivar informando sua localização e não a pedir socorro. Os lobos deslocaram sua coluna com o impacto do ataque ao irem socorrer sua lhycan.
Apesar da frustração de Nhshley ao ter que deslocar cada osso de seu corpo para enfim recuperar-se em sua transformação parcial, foi um grande progresso para a alcateia. Ella sabia como uivar pedindo socorro e informando perigo, embora bem desafinada e problemática ao ponto de fazer Nhshley ensiná-la sobre a presença de algum lobo já que quase perdeu um braço quando tentou ensiná-la a uivar chamando seu Alpha — já informado da tentativa — e Ella uivou como se alertasse a alcateia de um ataque.
Nhshley ficou a noite inteira reclamando da brutalidade desses lobos e Ella continua seu sorriso com a proteção que todos davam a ela. Por fim, a forasteira decidiu evitar a qualquer custo ensinar a uivar, já que ela sempre pedia socorro, alertava a presença de intrusos ou pedia ajuda para lidar com o perigo. O uivo desafinado de Ella chegava a arder os ouvidos como se ela tivesse realmente precisando de ajuda e Nhshley não queria perder a cabeça sendo ela tão jovem ainda.
Mas as maiores dúvidas de Ella não eram saciadas. Seu progresso era grande e rápido, mas sua curiosidade sempre a fez perguntar sobre as outras duas mulheres no castelo. A albina fantasma que tinha total atenção de um dos forasteiros e a mulher ao qual Nhshley estava encarrega de cuidar. Quem elas eram?
— E a… Ômega?
— Quase completamente recuperada. Logo o Supremo vai levá-la e eu provavelmente não irei. Seu Alpha não irá me querer aqui, afinal acredito que ele logo sairá, também.
— Sair? Como assim?
— Alcatéias da Sombra são nômades dentro até de seu próprio território. Não sabia? — Ella olha para Nhshley confusa. A loba se ajeita e começa a falar com seu sotaque lhycan. — A natureza ao qual você foi convertida é inquieta. O tipo de lobo de sua alcateia não ficam muito tempo em um mesmo lugar. Facilmente trocam de território e estão sempre em migração. Estou até estranhando eles estarem tanto tempo em um mesmo lugar ainda mais num castelo onde o repugnante cheiro dos humanos infecta o ar. Não é cheiro de liberdade e como você foi transformada a pouco tempo, quanto mais tarde partir, mais acostumada você vai ficar. Logo já vai estar procurando uma toca para seus filhos se minhas suspeitas estiverem corretas.
— Que suspeitas? — Ella franze a testa. Não há como estar grávida. Do que ela referia-se?
— Ella você é a única mulher da alcateia! — Nhshley fala num tom como se fosse óbvio. Ella ainda continua confusa. — Os lhycans não te pressionam e nem exige nada. Não é costume forçar o desejo de uma lhycan, mas há algo que eles nunca vão permitir de você. Chegarão até agir de forma agressiva se isso ocorrer.
— O que é? — Ella estava curiosa.
— Que você tente relacionar-se com um humano. — Ella assusta-se com a resposta. — Você pode notar que eles evitam seu contato com humanos, principalmente homens. Você por ter se derivado dessa espécie não tem o mesmo nojo que qualquer lhycan tem. Algo pode acontecer e você se interessar por um deles pode resultar em atitudes bem agressivas. O humano não viverá nem mais um dia assim que alguém descobrir um mínimo interesse seu. — Nhshley levanta a sobrancelha, alertando-a. Um humano é desprezível por natureza e incapaz de satisfazer a mulher de sua própria espécie, o que dirá de lhycans? Transformar um homem está fora de cogitação. Homens mostram-se muito menos dignos do que as mulheres e o Alpha da alcateia de Ella certamente preferia devorá-lo no jantar do que convertê-lo. — Se você pretende ter filhos e ter um homem para chamar de companheiro, seu marido, como os humanos dizem, será alguém dessa alcateia. Basta você escolher bem. Tem até a liderança para saciar seus mais obscuros desejo na cama.
Ella arrepia-se com as palavras de Nhshley que a encara maliciosa fazendo a lhycan entender o duplo sentido. Sempre foi lapidada para que ela fosse quem deveria satisfazer os desejos de seu marido escolhido por seu pai. Mas Nhshley deixava claro que seria Ella a escolher seu marido. Ela quem entraria por si própria em um cortejo e seria ela a escolher entregar seu corpo a homem, querendo-o como seu companheiro.
— Não acho que demonstrem interesse em mim. — Nhshley sorri.
— Ella você é a única mulher da alcateia! — Torna a repetir como o fato mais óbvio da alcateia. — E não notou nada?
Pela face de Ella, claramente ela não notou. Nhshley a chama para sentar ao seu lado e a lhycan obedece. Apesar de saber que são vigiadas constantemente, mesmo estando no quarto, a mulher sente necessidade de alertar sua nova amiga completamente inexperiente.
— Você não notou nada mesmo? De nenhum membro da alcateia?
— Não.
— Você claramente não sabe como funciona o cortejamento? — Ella nega. — Bem, terei que te ajudar nisso antes de partir. Não seria a primeira a fazer uma escolha precipitada por falta de informações. Ainda mais não tendo outras mulheres na alcateia para te orientar em uma decisão tão importante quanto a escolha de seu companheiro.
— Você fala como se eu fosse casar-me. — Ella sorri.
— Não dúvido. — Nhshley levanta sua sobrancelha de forma convencida. — Bom. O ritual de cortejamento é para fortalecer os laços e sentimentos, adaptar-se um ao outro e decidir se você realmente o quer como seu. Se o seu companheiro é digno de você.
— E como eu sei se alguém… tem interesse em mim? — Nhshley repara nas bochechas avermelhadas de Ella. Talvez ela tenha alguém em mente.
A loba não decide perguntar nada ainda. Ela sabe que a conversa está sendo ouvida e tal informação certamente seria de grande valor para qualquer lhycan da alcateia que instintivamente irão querer mostrar quem é a melhor opção, sufocando-a.
— O ritual de cortejamento é diferente dependendo do povo. O tipo de lhycan que você foi convertida é muito violento. Não posso dizer com precisão porque é diferente em minha terra, mas todos tem uma base de como funciona. — Nhshley suspira e alerta Ella. — Mas a violência da sua alcateia em uma disputa pode ser extremamente violenta ao ponto de alguém dentro do bando morrer.
— Como é? — Ella precisava dessa informação. Estava nervosa.
— Em base, o macho tenta chamar sua atenção a distância. Seja em uma luta típica de qualquer alcateia, mostrar suas habilidades e exibir seu porte físico tentando causar, ao menos, desejo em você. Mas as vezes eles só estão sendo eles mesmo então isso é muito vago. — Ella faz uma careta de descontentamento. — Então fique atenta ao olhar. Quem mais te olha, quem mais exibe-se e quem mais marca sua presença.
— Marcar presença?
— Se um homem está interessado, ele pode até inventar motivos para ficar próximo de você. Quanto mais dominante o lhycan for, mais privilégios ele terá. Se alguém notar que um macho dominante está rodeando muito uma mulher, ninguém irá atrever-se a aproximar-se. Isso que gera a violência se tiver mais de um interessado. — Nhshley olha para a janela, onde a brisa da madrugada entra enquanto pensa em uma forma de tornar a explicação mais simples. — É como uma disputa. O mais forte e dominante ganha direito ao cortejo enquanto os outros tem que ficar distante. Se alguém for ousado pode gerar uma luta. Quanto mais você der ousadia a tal lobo, mais e mais ele vai tornar-se defensivo e possessivo. Não irá tolerar outros lhycans tentando cortejá-la. Alguns são violentos ao ponto de matar.
— E se eu estiver interessa em um lobo que não seja muito… dominante? — Próximo dali, alguns lhycans olham para o quarto de Ella, mesmo aqueles no jardim. O assunto de fato, interessa.
— Ninguém irá obrigá-la a aceitar quem não quer. Nem mesmo o Alpha. É contra o próprio orgulho e honra obrigar alguém livre e honrada aceitar quem não quer. Ele irá continuar querendo chamar sua atenção, todavia, não poderá fazer nada se você continuar rejeitando-o. — Nhshley suspira. — Por fim, ninguém poderá impedir que seu pretendente chegue até você. Mas diga-me Ella, está interessada em alguém?
Ella dá um sorriso tímido. Seu rosto vermelho indica que sim. Ela abre a boca para dizer um nome, mas Nhshley impede. Os lobos que escutavam a conversa com sua audição acurada, principalmente no jardim não escondem a frustração. Ella tem levemente a impressão de ouvir um rosnado de desgosto e Nhshley sorri.
Não é o mais adequado, mas é uma ótima forma de retribuir a brutalidade deles quando Nhshley ensinava Ella a uivar.
— Em resumo, é assim que é o cortejamento em todas e qualquer alcateias. Mas é muito mais complexo. O ciúmes, possessividade, o instinto de exibir e até mesmo tocá-la fará parte de um desejo insaciável que qualquer lhycan interessado tenha por você. Entre as formas de chamar atenção está o porte físico e o cheiro. — Nhshley morde os lábios. — Eles vão tentar excitá-la. O cheiro de fertilidade e masculinidade ira de te sufocar. Seu corpo irá aquecer-se e ter a visão dos músculos impecáveis representando força e dominância pode trazer a você a perdição. E tantos de uma vez, gera violência. Todos farão promessas ocultas de desejo e tentarão ter relações sexuais com você. Mais violência pode surgir. Mas saiba, assim que alguém marca-la, saiba que você agora pertence a ele. Ele é seu companheiro.
— Marca-la?
— O cortejo tem apenas um objetivo; criar uma intimidade tão grande através do desejo para terem o seu corpo. Em outras palavras, sexo. — Nhshley ajeita-se na cama. — O casamento é diferente. Você pode ter direito a uma grande festa onde todos saberão que você já é casada, mas não importa se você for ou não virgem. Não importa a festa. Você só é considerada realmente comprometida quando um homem tira sua virgindade e, em meio ao prazer, ele morde seu pescoço. É um ritual onde você entrega sua alma a ele. A ligação entre vocês será tão grande que seu corpo só corresponderá ao seu companheiro. Uma marca surgirá na sua nuca e o cheiro dele estará em cada parte do seu corpo. Apenas assim, você poderá gerar uma criança. Sem a marca que só é dada em relações sexuais, você não está casada. No máximo, noiva caso haja uma festa. Mas se você entregar sua virgindade e for marcada, você estará casada.
— E se eu escolher errado? — O medo era notável em Ella.
— Devido a possessividade que todo lhycan tem com sua mulher, será difícil você se separar. Relações sexuais são constante entre os casais. É o que fortalece o laço e a marca. Você não é obrigada a entregar-se a quem não quer, mesmo sendo seu marido. — Ella lembra-se das palavras de seu Alpha em um de seus ensinamentos. — Será uma experiência desagradável mas uma separação é possível. E quanto a sua virgindade. Não fique preocupada. Ela não define sua honra. Suas atitudes definem.
— Mas… — Ella faz uma leve careta. — Aquela mulher que você cuida ainda é virgem e mesmo assim vocês dizem que ela é desonrada.
— Porque ela é. — O tom de Nhshley é firme. Está certa de sua afirmação. — São poucas, mas existem mulheres que não são virgem, não tem companheiro e são tão honradas quanto qualquer outra. Nós somos mais rígidas quanto a nossa fenda, mas sempre existirá alguém que é mais safada e não conteve seu desejo carnal. Os homens adoram uma loba safada. A concorrência chega a ser maior do que com uma virgem, já que a relação será composto de um casal insaciável. E bom, o fogo de um macho, principalmente se for dominante faz qualquer mulher, mesmo as mais desinteressadas e tímidas ficarem excitadas.
Ella fica tímida. Ela lembra-se daquele homem que todos chamam de… Supremo. A reação de seu corpo foi completamente inesperada. O poder e masculinidade que ele exalava… Ella tenta afugentar tais pensamentos de sua mente.
— Então por que ela é desonrada? — Retorna sua curiosidade para a Ômega.
— Porque ela nasceu. — Afirma.
— Hã? Eu não entendo… — Pelo seu tempo com Nhshley, Ella aprendeu muitas coisas de sua sociedade. A afirmação dela vai contra muitos de seus conceitos ligado a "honra".
— Ômega é a classe mais baixa de lhycans. É uma punição. Mas, ao longo de toda nossa história, existiram crianças que nasceram fora da época de procriação. Eles nasceram Ômegas. Acreditamos por muito tempo que era uma punição, todavia, a que culpa a criança tinha de nascer fora da época? Mesmo que alma seja corrupta e desonrada, uma vida é um recomeço. A pior maldição é ser desprovido de vida. — Nhshley deita-se na cama e encara o teto. Ella faz o mesmo para ouvi-la. — No passado, foi dado mil e uma oportunidades para os Ômegas provarem sua honra. Mas eles só davam nojo com a submissão impregnado casa parte de sua alma. Aceitavam tudo que eram-lhe imposto sem nenhum desejo de lutar. Até mesmo serem estuprados e dizerem que a culpa foi deles pois o estuprador ordenou que dissessem tais palavras. Mas o cúmulo foi aceitar o machismo, preconceitos, insultos e até mesmo agressões de humanos. Uma Ômega em particular, no passado, desonrou todo o nosso povo aí submeter-se a um estupro por humanos! Simplesmente deixamos de acreditar que algum Ômega possa ter honra e orgulho próprio. Por que Arya seria diferente? O que adianta ser virgem se sua alma é podre? Sem desejo, sem orgulho, sem honra! Tenho nojo dela.
— Mas e se ela for diferente?
— Ela não é.
— Mas e se for?
— Tudo começa com desejo. Foi o desejo que salvou-lhe, Ella. — Nhshley olha para a lhycan. — Humanos são desprezíveis. Controlam e humilham mulheres e elas aceitam porque eles dizem que é o correto apenas porque uma mulher pecou contra esse Deus que falam tão orgulhosos. Patético. Como se eles mesmo não fizessem algo pior. Mas dentre tanta submissão, uma religião pagã e abusiva, você nasceu e com desejo de ser algo mais do que foi ordenado que você será. Foi o que fez seu Alpha transformá-la
— Como ele poderia saber de meu desejo?
— O olhar de alguém que sente-se sufocado por desejar o que não pode. Que deseja lutar, mas não tem força. É instintivo. É nosso orgulho. Nossa honra! — Nhshley olha para sua própria mão e a fecha como um sinal de força. — Desde que você tenha desejo e vontade de lutar, nos juntaremos a você. Se você não tem força, daremos a você. Se você está perdida, iremos te orientar. Se você está prestes a fraquejar, estaremos lá para dizer que iremos até o fim com você. É assim que uma alcateia age. Você queria lutar, tinha vontade, mas era inútil sem força e seu Alpha deu a você a força para alcançar a liberdade dessa espécie abusiva.
Ella fica sem nada a dizer. As palavras de Nhshley defe completamente Ella antes de conhecer Dylan. Naquela noite, chegou a pensar em suicídio. Não aguentava ser controlada e descobrir que estava noiva de ao completar 16 anos casaria-se sem escolha, é como se sua vida não tivesse sentido. Sua vida está muito melhor nesse mundo ainda desconhecido do que como uma humana.
— Mas se você não tem nem ao menos desejo de lutar, por que ajudar? — Nhshley fecha os olhos. — Se você acredita que esse machismo, preconceito e humilhação dos humanos com suas mulheres é, de fato, correto… Por que mostraremos outro mundo a você se você não quer? Se você não tem vontade de lutar, você não passa de uma desonrada desprovida de orgulho próprio. Não merece nada além da humilhação e desonra que tanto aceita de bom grado.
— Mas e se aquela mulher tivesse desejo? — Nhshley olha para Ella. — Bom, e se ela tiver um pouco de honra? E se ela quiser lutar, mas não tem forças? Como eu… antes…
Nhshley lembra do olhar de Arya. Seu olhar havia mudado. Continuava submisso, sujo e desonrado, representando sua alma podre. Mas havia algo oculto que ela jamais esquecerá. Nas últimas semanas, seu olhar não mudou. Na verdade, parecia mais forte. Havia um brilho incomum. Ela descarta a possibilidade que a Ômega possa adquirir honra. Mas devido ao seu nascimento e sua recente, experiência, Nhshley não nega que há algo de diferente em sua irmã caçula.
Ela responde:
— Se ela de alguma forma deseja lutar pelo seu orgulho, desejo e honra, então lutarei com ela, junto a ela. — Nhshley sorri debochada. Onde está com a cabeça? — Mas não acredito que ela queria algo. Ômegas são submissos demais para despertar algo como… desejo. Quanto mais vontade de lutar!
Ella não deixa de reparar que Nhshley disse "deseja" e "lutarei" invés de "desejasse" e "lutaria". Não é muito adequado usar se tem tanta certeza que ela não tem honra. Ao encarar o olhar pensativo e desconfiado de sua amiga, Ella decide ficar calada e não falar nada sobre suas palavras estarem ditas de forma errada. Sendo lapidada, um erro desses na lhycan poderia gerar descontentamento. Poderia dar a entender uma mentira. Não era permitido uma mulher mentir.
Mas as perguntas de Ella ainda permanecem firmes na mente de Nhshley. E se o brilho no olhar de Arya significar uma mudança drástica? Arya é a primeira Ômega a ter irmãos gêmeos. Seria possível ela ser a primeira Ômega a adquirir… honra?
O cometa… O Supremo. O Alpha já tem uma companheira. Nhyara. Por que está aqui e ainda tão preocupado com o fato da fertilidade da Ômegas? Esse brilho no olhar de Arya. Seu olhar no Supremo.
Nhyara foi gerada na noite do cometa.
Mas Arya nasceu na noite do cometa.
Nhshley senta-se bruscamente na cama, praticamente sem fôlego. O cometa trazia um poder poderoso. Arya nasceu com irmãos gêmeos. Seria possível?
— Solysthica… — Sussurra, desorientada.
Seria possível um vestígio de honra naqueles olhos?
Arya é mais solysthica do que Nhyara…
Primeira Ômega sem séculos, nascida em uma nobreza Genuína. Toda nobreza e realeza tem um predestinado companheiro. Por ser uma Ômega, acreditou-se que esse fato não seria possível. É necessário ter honra para ter um predestinado companheiro. Mas ao nascer na noite do cometa, ter seus irmãos gêmeos mortos seria o início? Um vislumbre de honra?
A primeira Ômega, nascida de nobreza. E a primeira Ômega a ter irmãos gêmeos. A primeira Ômega com honra? Será realmente possível?
Se for… Se Arya tiver um vislumbre dos mais insignificante de honra ao nascer, ela teria um predestinado companheiro.
— Supremo Alpha… — Sussurra em meio a dor de cabeça.
Arya não é uma mulher alta. Mas também não é baixa. Ela tem uma estatura normal e atrai mais atenção do que o costume. Sua pele alvara e branca começou a dar sinais de sua saúde a alguns dias. Suas bochechas voltaram a tornar-se rodada e todas as imperfeições que adquiriu em seu estado crítico foram perdidos.
Olhos verdes como as das mais raras jóias, mudando para azul conforme a luz. Lábios e bochecha rosados e cabelos com um considerável volume em negros cachos largos como onda até sua cintura. Arya tem um considerável volume em seu busto, quase como os de uma mulher que já deixou de ser virgem e chegou até mesmo a ficar grávida. Seu quadril podia facilmente ser a perdição de qualquer homem, tal como seu cheiro de pura fertilidade convocando de modo inconsciente todos para momentos quentes de prazer.
Poderia existir tamanha perfeição física?
Sentindo recuperada e disposta, Arya neste momento olhava-se no espelho. Teve que moldar as vestimentas humanas ao seu gosto lhycan. Todavia, tudo que humanas vestem parecem ser apropriado para ocultar o máximo possível de seu corpo. Já Arya tinha outras intenções quando vestiu um leve vestido de seda branca, quase transparente, improvisou uma saia abaixo para esconder sua intimidade e amarro um pequeno tecido no busto, aumentando a densidade do tecido e impedindo que alguém os visse. Seu abdômen plano era visível, mas seu ferimento era ocultado pela densidade da saia. Sem acessórios, seus cabelos não tiveram opção a não ser caírem como cascatas pelo seu ombro.
De tal modo, ela saiu do quarto onde ficou, por talvez, semanas. Ela estava sendo ousada em sair. O território não é seu. Seu Supremo foi claro ao afirmar que a queria no quarto e, ela teme o Alpha local, tal como seus lhycans. Sua mão tremia e ela vacilou ao passar pela porta. Mas fechou os olhos e, em um ato de coragem, saiu.
Da coragem vem a honra…
Sua natureza não é corajosa. Mas Arya deve encontrar a sua e segue o mais silenciosa possível pelos corredores olhando para seus pés, forçando-os a darem um passo de cada vez sem recuar apesar da tremedeira. Mas ela vai ao chão, assustada. Seu desejo é correr de volta ao quarto, recebendo ordens como uma submissa que é, mas sabe seu destino e gostaria de lutar contra ele.
T'chaar avroo hoort d'har tarō…
Ela repete em sua mente. Fecha os olhos e respira fundo. Está tremendo de medo. Seu instinto diz para se acovardar, aceitar até mesmo o destino imposto pelo seu companheiro em troca de segurança. Qual o problema, afinal?
Arya volta a tremer. Não consegue levantar-se e continuar. Descobrir uma saída desse lugar parece algo bem menos tentador do que retornar ao quarto e esperar que o Supremo a tire dali, apesar de… Nhyara.
T'chaar avroo hoort d'har tarō…
Provocar a ira de um lhycan tão forte quando o Supremo é suicídio. Morte. O fim. Sem dor. Sem… destino. Ela está afrontando-o.
Sem dor…
Com suas pernas bambas, exige que seu corpo force a levantar-se, tremendo e angustiada. Seu destino é a morte, ficando ou não naquele quarto.
E ela era tão calma… Tão acolhedora…
A única que quis Arya do jeito que ela é. Ela lembra-se da paz que sentiu. A escuridão não a julgava. Se não fosse pela sua irmã tentar deitar seu destino, estaria morta. Maldita lhycan que interferiu!
Mas ela ainda está lá. Em uma linha invisível da inconveniência e convivência. E a morte está nas garras e presas de cada lhycan dessa alcateia. A dor é apenas a passagem. Ela deve encontrar seu amor, mesmo que seja na morte. Agora que sabe que a escuridão da inconsciência a quer, deve ir ao seu encontro.
Algo a deseja…
Um passo de cada vez…
Tremendo, ela passa um corredor. Dois. Três. Arya chega às escadas. Um degrau de cada vez, vacilante. Ela pergunta-se as consequências se caísse, imagina-se batendo a cabeça tão violentamente que seu crânio racha, esparramando seu sangue por todo o chão enquanto sua vida deixa seu corpo. É necessário um único deslize. Nem sua irmã iria conseguir salvá-la.
Um passo de cada vez…
Um degrau de cada vez…
— Arya? — A voz potente e dominante atrás de si faz perder o fôlego. O ar some de seus pulmões. Sua perna fica bamba e seus pés, enroscam-se no meio da escada e Arya perde o equilíbrio.
Ela não grita. Ela apenas fechou os olhos e sente a gravidade puxa-la para baixo. Então Arya cai para os braços musculosos de alguém consideravelmente forte. Quando não sente mais a gravidade puxa-la, a Ômega abre os olhos e encara o ser que impediu o acidente. O Supremo não está muito contente em vê-la fora do quarto.
Mas não nega o fogo que apossou-se de seu corpo ao tê-la em seus braços…
Arya é tão pequena comparado a ele. Tão leve e delicada que para alguém de seu porte não é trabalho algum mantê-la em seus braços. Esmaga-la com seus músculos é algo extremamente simples mesmo quando ela lança-lhe seu olhar azul.
Azul? Não eram verdes?
O Supremo a levanta, colocando-a de pé mas a Ômega agarra-se ousadamente aos seus músculos do braço. Ela assusta-se com a dureza de cada volume da massa muscular e tenta afastar-se. Mas perde o equilibrar. O Alpha é forçado a segura-la, visto que sua cabeça bateria na ponta da mesa caso caísse. Arya havia torcido o tornozelo.
O Supremo rosna mas não vê muitas possibilidades a não ser pegá-la em seu colo e subir as escadas onde Arya, assustada agarra-se a seu pescoço. Mas ele tinha tanta facilidade em mantê-la em seus braços que a única coisa que parecia incomodá-lo é o fato dela ter agarrado seu pescoço.
O limite do toque entre os machos é muito ríspido. O pescoço é uma das áreas mais sensíveis, tais como os ombros. Uma luta pode iniciar-se caso alguém toque seu ombros. Mas o pescoço? É uma das áreas onde os lhycans atacam para matar. É onde o cheiro é mais forte. É onde a marca de companheiro fica. Como uma das principais áreas de cortejo e sedução para unir laços únicos de confiança entre um casal, a garganta, a curva do pescoço e o pescoço é considerado uma área de grande intimidade emocional e prazer. Até mesmo uma mulher séria atacada caso deseje explorar tal área sem indícios de que o homem deseje tal intimidade.
E Arya tem uma de suas mãos no seu peito, quase alcançado a curva do pescoço e, embora sua cabeça esteja abaixa e ela encolhida, ela facilmente teria acesso a garganta caso levantasse a cabeça. Mas ela não o faz. Não tem intimidade com o lhycan para tal ato.
Quando filhotes, laços fortes são feitos através desta área bastante explorada entre os irmãos e pais. Mas um limite é estabelecido por volta dos 20 a 25 anos, onde a criança começa a exalar sua dominância e pouco a pouco começa a incomodar-se cada vez que alguém, toca ou cheira o odor intenso característico e único de cada lhycan. Arya, mesmo tão próxima e imóvel evitando um incômodo ao Alpha, sente seu cheiro.
É masculinidade pura. Sensualidade, poder, dominância e autoridade. É tão intenso e marcante que pode fazê-la alucinar pelo resto da vida. Sentir seus braços carregando-a com tanta facilidade pelas escadas e sentir o cheiro único do lhycan poderia deixar seus hormônios em alerta, causando arrepio por todo o seu corpo. Gostaria de esconder-se nesta região, mas sabe o quão perigoso é.
O Supremo a leva pelos corredores até o quarto colocando-a na cama. Por cima dela, ele olha em seus olhos verdes quando seus braços escorregam por seu ombro musculoso e suas costas encontram na cama. Ele rosna em desgosto e segura em seu queixo falando de modo autoritário com cada palavra banhando dominância:
— Será punida por desobedecer-me. — Arya não contesta ou diz nada. Fica calada diante a dominância dele. Seus olhos são de repressão e chega a fazer Arya tremer diante de seu poder.
O Supremo afasta-se e vai até sua perna, pegando em seu tornozelo e checando. A lhycan tenta afastar-se, mas ele impede, encarando-a com reprovação. Arya fica quieta.
Não foi muito grave, mas Arya deslocou e quase quebrou o pé.
Desastrada!
Não havia muito o que dizer. Arya estava bem, apesar da desobediência. Logo voltariam para a alcateia, junto da nova Lhuna. O Supremo retirar-se do quarto, mas não demora para a porta ser aberta e Nhshley entrar.
O Supremo não a chamou. Não ajudaria Arya em uma torção de tornozelo e sua irmã não estava ali a tratamento médico. Ela analisa o tornozelo, constando o cheiro que sentiu no corredor.
— Você saiu, desobedecendo uma ordem… — Nenhum Ômega havia desobedecido um ser de autoridade. Muito menos o Supremo. — O que pretende?
Arya não responde. Ela continua quieta. Seus objetivos estão em sua mente e não em suas palavras. Aprendeu nas últimas semanas que o silêncio vem sendo uma afronta quando necessário. Mas Nhshley não estava com paciência, precisava de resposta para as milhares de questões que surgiram em sua mente desde as perguntas curiosas de Ella.
Nhshley faz uso de sua dominância e agarra os cabelos de Arya, forçando-os para trás.
— O que você deseja, vadia?! — Arya encara-a com os olhos lacrimejando. Nhshley não é dominante, mas para alguém tão submisso quanto Arya, é muito.
Arya é forçada a responder, nada mais do que a verdade:
— Q-Que tire s-sua… s-sua mão! — A surpresa é inevitável a Nhshley ao olhar nos olhos de Arya. Em meio às lágrimas e submissão, havia garra. Vontade oculta e desejo de respeito. Arya usou a submissão ao seu favor, dando uma resposta digna de afronta.
Levaria um bofetada em sua face por tal ousadia, mas Nhshley afasta-se, vendo Arya levar sua mão até seu cabelo, tentando aplacar a dor e esfregando. A Ômega tinha a audácia de encará-la faíscas de nojo e raiva em meio as lágrimas que caem de seus olhos.
— Solysthica… — Nhshley repete ao cambalear para trás. Arya é impura, desonrada com a alma podre. Ou era. Ignorar o desejo nos olhos da lhycan vai contra suas convicções.
Ignorar Arya vai contra seu orgulho e sua própria honra! Como Ella, uma humana que desejava ser mais do que era destinada mas sem força para lutar, Arya é uma Ômega com desejo, mas sem força. Não importa sua vontade. Uma Ômega é fraca para lutar. Não tem força. Mas tem honra?
Nhshley volta a aproximar-se de Arya que afasta-se amedrontada. Seu instinto é submisso. Mas há coragem em seu olhar azul.
— Diga-me Arya, você tem amor próprio? — A pergunta era um teste definitivo. Uma pergunta suave sem nenhuma dominância usada, incentivando a audácia que Arya parecia desenvolver.
— Por que está aqui? — Arya não respondeu. Não queria responder. Ela escolheu não responde.
— Apenas você pode definir seu limite, através de seus próprios desejos e vontade. Porque quero saber seu limite. O que está disposta a sacrificar para conseguir o que almeja? — Arya não exitou em responder:
— Tudo. — Nhshley analisa seu olhar. Há convicção.
— Então mostre-me sua honra, e lutarei com e por você sem exitar! — Nhshley estava convicta e certa de sua decisão. Se houver honra em Arya, lutará. Se Arya for digna, Nhshley será a força e a dominância que Arya não tem.
O verdadeiro significado de honra!
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