C A P Í T U L O 12

     Horas se transformaram em dias, dias em semanas que o Supremo aturava Nhyara. Sendo reconhecida como sua companheira, ela deita-se com ele com a esperança de ser marcada. Mas ele nunca a marcou e conforme o tempo passa, tal fato vai ficando mais claro. O Supremo não a marcaria.

     Ele a toca como um homem toca sua mulher, todavia ele não a vê como sua. Ele proíbe a entrada da fêmea em seus aposentos e fornece a ela um quarto abaixo do seu, onde ele a vista todas as manhãs antes de seu sono procurando seu corpo. Nada mais.

     Todavia, convencendo-se de que não seria marcada, em uma certa manhã, Nhyara recusou-se a ter relações sexuais, pois não era agradável. O Supremo não era carinhoso, não importava-se em dar-lhe prazer, não dormia junto com ela e muito menos a marcou. A lhycan questionou-o sobre sua virgindade na Lua de Sangue e exigiu ser marcada para que continuasse a ter relações com ele. As palavras de seu Alpha foram "Não obriguei-a a nada e jamais disse que a marcaria. Foi sua escolha entregar-se a mim."

     O Supremo não insistiu em continuar a ter relações com Nhyara. Ele a procurava por ser uma lhycan que a aguentasse, mas o prazer que sentia com ela não era muito diferente das outras. Seu corpo estava ficando mais rigoroso. Sentia tesão e desejo constantemente, todavia, não era por nenhuma escrava ou por Nhyara.

     O Alpha estava constantemente frustrado. Todos percebiam sua frustração e havia aqueles que estranharam o fato de ele rejeitar a companhia até de sua fêmea que deveria acalmá-lo. Até mesmo Rômulo estava frustrado com sua Peeira que procurava sua fêmea, Henna para desabafar. Como Lhuna, Henna não negava o consolo a Nhyara embora ela mesma não esteja bem. A fêmea acreditava que Nhyara a ajudaria nos sistemas que vem sentindo juntamente com seus sonhos e pressentimentos. Mas o único problema de Nhyara era o Supremo.

      Todavia, Henna se apoiava em Rômulo e o consolava com doces e simples palavras. Ele não dizia o que realmente estava acontecendo com medo de procurá-la, todavia, desde a última Lua de Sangue, o inimigo começou a agir. Há uma movimentação estranha nas montanhas ao norte, na Rússia.

      A alcatéia residente após as montanhas informou a presença de feiticeiros na região. Eles procuram a alcatéia enquanto observam uma outra alcatéia não muito longe que encolhe-se na defensiva.. Uma alcatéia da Sombra liderada por um lhycan chamado Dylan Rucker.

     O Alpha tomou um reino como seu e aborda uma posição defensiva. Sua alcateia continha 28 membros antes de ele transformar uma humana e adquirir 29 membros contando com ele. Seus lobos estão espalhados por todo o território tendo como base o castelo que reside aproximadamente 10 lobos incluindo seu Bhetta.

      O mesmo ocorre na alcatéia Eclipse de Fogo no deserto. Há peculiaridade na alcatéia que aparenta esconder algo que chama a atenção dos feiticeiros. Os lobos da região também estão na defensiva não querendo nenhum tipo de forasteiro na alcatéia.

     Até mesmo a população humana é impedida de estar no local. Corpos estão acumulando-se, colocando medo e terror em qualquer outra espécie. Arya, a Ômega que é escondida não entende tal acontecimento, mas está acostumada. De certa forma ela agradece a quarentena que impede que outras alcateias a procurem devido a algo que ocorre dentro da alcatéia. Ella por outro lado está assustada com os corpos que constantemente aparecem na região. Uivos são ouvidos todas as noites assustando-a. Geralmente significa que alguém morreu. 

     Como um Alpha esperto, Dylan sabe que está sendo observado. Ele mantém sua alcateia em posições diferentes por todo o território e monitora Ella a distância. Os humanos são escravizados enquanto a nobreza é interrogada sobre as torturas e interrogatório feitas aos sobrenaturais capturados.

     Todavia, tal restrição chamou a atenção dos reinos aliados que ameaçam Dylan. Ele não reage às provocações e defende o território com ferocidade. Mas tal ameaça não poderia passar despercebido.

     Henna sentia que algo aconteceria. Por alguma razão ela sentia-se ligada a região e mesmo que Rômulo não lhe contasse nada, ela sabia que algo aconteceria. A fêmea tinha pesadelos constantes com lobos. Rômulo entendeu a urgência quando Henna sonhou com Dylan.

     Seria uma artimanha naquela noite.

     O mundo é tão cheio de mistério e coincidência que apenas as mentes fracas e fechadas impedem o surgimento de grandes oportunidades para si. Um reino não muito longe do território tomado por Dylan abrigava uma destas oportunidades. O fato de ameaçar o Alpha apenas atraiu atenção para o que estava prestes a acontecer naquela noite.

      O reino estava em apenas mais uma noite comum. Os guardas faziam sua ronda enquanto a maioria dos humanos dormia. No castelo os nobres tinham uma reunião do que seria feito contra Dylan quando dois guardas entram afirmando ter encontrado algo na floresta.

      Para a surpresa de todos, era Ella McCarvalho, uma das filhas do conselheiro principal do rei. Estava machucada e ferida. Implorava por socorro e parecia amedrontada. Um curandeiro foi rapidamente chamado para cuidar de seus ferimentos. Porém havia algo de errado. O corpo de Ella havia sangue fresco, suas vestes estavam rasgadas e sujas, porém, o sangue não é dela. Ella está intacta e quando o curandeiro olha para a garota, ela sorri. Seus olhos mudaram de cor, garras brotaram em suas mãos e ela rasgou a garganta do curandeiro.

      Ela olhou para todos na sala, incluindo para os guardas que sacaram suas espadas. Um estalo é ouvido. A espinha de Ella partia-se ao meio, assim como suas pernas, braços, mãos e pés. Ela rasga o que faltava de seu vestido ficando nua e revelando a mutação de seu corpo que vai ficando peludo. Seu joelho de quebra e cai, ganhando uma forma peculiar. Ela desce de quatro no chão e revela a cauda felpuda.

      Ella não assumiu a forma completa de um lobo. Sua transformação tinha traços humanos. Suas mãos eram humanas e, embora esteja com mutação, seus pés e braços também. A pelagem de Ella é negra e seu olhar era feroz.

     Os guardas não tiveram chances contra a fera que estraçalhou todos, mas não antes que o sino de alerta fosse tocado. Logo há guardas armados nos corredores com intenção de matar a fera. Mas quando entraram na sala, não encontraram nada além de corpos estraçalhados e a janela aberta.

     Havia marcas de garras nas paredes subindo em direção aos quartos. Os guardas logo correm a fim ao menos tentar evitar uma tragédia.

      Dulce, a princesa foi acordada pelo barulho do sino e vai até a porta após escutar alguns toques, juntamente com uma voz conhecida. Ela abre a porta.

— Ella? — Ela conhece a mulher nua no corredor. Ambas fazem parte da realeza de reinos aliados. Ela encara a garota estranhando seu estado e claro, também, sua presença. — O que faz aqui?

— Vim atrás de você. — Ella agarra o pescoço da princesa e a puxa, lançando contra a parede.

      Barulhos são ouvidos na escada e Ella assume a forma da besta, esperando suas vítimas. A garota lutou contra todos com ferocidade, realizando um massacre. Mas ela não estava sozinha. Com o tempo, novas bestas causaram terror no reino, matando todos que aparecerem em sua frente. Não demorou até um incêndio iniciar-se ceifando a vida de toda população.

     Dulce, apavorada, naquela noite viu seus pais morrerem pelas mãos das besta e seu reino ser consumido em chamas.

      Muitas coisas ficaram vagas no ataque ao castelo assim como Dylan e muitos lobos na região, incluindo a alcatéia além da montanha na Rússia.

     Ella, que passou a noite inteira distraída na floresta, não soube do ataque. Fazia semanas que ela estava amaldiçoando-se com o que havia tornado-se.

      De uma humana religiosa e vegetariana a uma besta comedora de carne. Ella já havia tentado suicídio, todavia sua própria crença não permitiu. Apenas Deus decide quando é sua hora e a lhycan permaneceu neste mundo com a esperança de que ainda houvesse salvação.

      Desde quem uma mulher que uma mulher olhou para ela com desprezo e ódio após chamá-la de demônia e proferir maldições contra a jovem, Ella mudou completamente. Ficou ainda mais submissa e amedrontada, recusando-se a comer tudo derivado de animais. Ela tentou recuperar sua dieta vegetariana que a mantém viva, todavia fraca.

      Os membros da alcatéia logo repararam neste comportamento e não foi trabalhoso dar um exemplo aos humanos ao fazer um banquete com as mulheres do reino. Muitas foram estupradas enquanto outras foram decoradas vivas. Ella sabe que algo aconteceu, todavia, Dylan proibiu seu contato com qualquer humana ou humano com intenção de não contaminar ainda mais a sua única fêmea lhycan da alcateia com superstições e crenças tolas. O restante dos membros da alcatéia não comenta o ocorrido.

     Com o isolamento, Ella teve contato apenas consigo e seu corpo. Ela só assume a forma de uma loba quando Fharlley ordena e, mesmo após semanas terem passado, Ella ainda tem dificuldades em assumir a forma completa de um lobo e provavelmente vai demorar até que saiba como tornar-se uma hispo. Um lobo cujo ¾ de transformação é de uma fera. Há traços humanos na transformação que deixa a fera ainda mais perigosa. E Ella não contém controle nem sobre seus olhos e garras. 

      A fêmea é constantemente vigiada por ser o membro mais fraco da alcateia e a única fêmea. Os lobos tentam mostrar o melhor de suas habilidades e exibem-se para ela suas táticas de batalha em forma humana. A força monstruosa dos homens sempre a assustou, mas mantinha seu interesse. Toda noite eles lutavam, não por necessidade, mas por prazer.

      Dylan, em nenhuma vez apareceu e isso atiçava a curiosidade de Ella. E quando ele apareceu, permaneceu ao lado dela olhando seus lobos. A lhycan acreditava que ele lutaria, todavia, um uivo na floresta que arrepiou sua espinha fez todos pararem e correrem. Apenas Fharlley e outros dois lhycan permaneceram junto de Ella.

     Era um ataque, não ao território de Dylan, mas a um reino humano. O Alpha da Noite, sobre o pico de uma colina, observou os bruxos atacarem um reino humano, consumindo-o em chamas. Quando o dia amanheceu, a fumaça ainda fazia sombra nas árvores. Dylan uivou tão forte e claro como um Alpha.

     Foi o primeiro uivo que Ella ouviu de seu Alpha. Era majestoso e glorioso. Mas ela não sabia como interpretar seu significado.

     Dylan foi embora após perceber que ainda havia feiticeiros no local. Homens que carregavam uma mulher nos braços e a depositaram sobre a margem de uma lagoa. Com uma mão cheia de neblina e do sangue colhido após o sacrifício de diversos animais, eles entraram em sua mente, criando uma outra versão do que a princesa viu no ataque.

     Quando Dulce acordou, tudo que veio em sua mente era Ella. Seu reino em chamas. Ela não lembrava-se de como foi parar naquele local, mas seu estado a fazia lembrar-se do que aconteceu.

      Nas colinas ela podia ver seu reino destruído tendo ela como provável única sobrevivente. Suas pernas não se aguentaram em pé e a humana cai de joelhos com lágrimas em seus olhos.

      Ela amaldiçoava Ella pelo ocorrido. Queria voltar mas o medo a consumiu de maneira que a fez correr pela mata densa da floresta sem um rumo específico. Mas ela sabe que correu com dor e medo só parando quando encontrou um cervo que consumiu todas as suas forças e a fez desmaiar por horas.

      Distante dali, na Bulgária, onde o Supremo reside, Henna novamente tem um desmaio. A Lhuna não acordou um dia inteiro. Até mesmo Nhyara ficou preocupada até a fêmea começar a alucinar.

      "Cervo" foi a única coisa que ela disse, seguindo de uma ordem de animais. Um cervo, uma coruja, um glutão, um búfalo, um lince, uma cobra, um gato, um urso, um tigre e, por fim, uma águia. Henna repetiu essa sequência por mais um dia inteiro antes de acordar e começar a alucinar conforme a semana passava.

     Todos sabiam que havia significado em suas palavras, mas não não entendia. Tinham esperanças que Nhyara entendesse, mas ela aparentava estar ainda mais confusa. O que esses animais representam?

     A situação se agravou quando não houve mais notícias dos feiticeiros desde o ataque ao reino. Não demorou até que um outro Bhetta se juntasse a base da alcatéia na Bulgária. Isso significaria problema aos feiticeiros, todavia, a humana, Dulce estava seguindo a magia acumulada pelos sacrifício dos animais.

      Ela desmaiou quando viu um cervo e despertou sobre o som de uma coruja. Ela seguiu seu caminho até deparar-se e fugir de um glutão. Por segurança, ela seguiu uma manada de búfalos por três dias, alimentando-se das frutas que encontrava no caminho até avistar um lince na vegetação um pouco antes de alcançar a neve da região e se esconder-se, perdendo assim, o bando. Ela escondeu-se até acordar com o som de uma cobra e correr pela mata, completamente desorientada e parar quando avista uma espécie de gato selvagem. Dulce caminhou por horas até escutar o som de um urso e apavorar-se. Ela adentrou cada vez mais a floresta, a fim de evitar o animal, mas tudo piorou quando ela deparou-se com um tigre e gritou.

      Desse animal, ela sabia que não iria conseguir fugir. Ela sentia seu fim cada vez mais próximo e não aguentou-se em pé quando sentiu uma árvore atrás de si. O tigre preparou-se para atacá-la. Lágrimas saíram dos olhos cor de mel de Dulce antes dela fechar os olhos e virar seu rosto.

     O tigre rugiu e pulou sobre Dulce, mas a humana sentiu apenas as garras do felino sobre seu ombro antes de uma ventania arranca-lo de si. Ela abriu os olhos assustada e com dor, mas não viu nada quando neve foi lançada contra ela. Uma luta acontecia e o tigre foi lançada contra uma árvore que partiu-se ao meio levando-o a inconsciência.

     Quando Dulce terminou de limpar seu rosto e tirar a neve de seus olhos, na escuridão daquela noite, ela viu um par de gigantescas asas, semelhante aos de uma águia. As asas estavam nas costas de um homem, que indireita sua postura e vira-se para a humana.

     Seus olhos eram grandes e dourados. Ele estava usando apenas uma calça felpuda e havia penas em seu cotovelo. Em passos calmos ele caminha até ela, abaixando-se em sua frente. Devido a escuridão com a chegada da noite, Dulce não consegue ter uma boa visão, todavia, ela repara em sua beleza, tão angelical quanto um anjo.

— Não poderia perdê-la para um tigre. Humanos… — Mas o anjo em si, havia garras retráteis em suas mãos, ao qual aproximando-se do rosto de Dulce, acariciando sua pele macia. — Minha carne favorita!

     Ele a pega pelo braço e a ergue sem delicadeza. Abre suas asas com intenção de lançar voo, todavia, do céu, cai mais três homens. Um deles, em um linguajar completamente desconhecido o manda parar.

     Dulce não via muito além do olhar verde brilhante que o diferencia dos demais. A voz do homem parecia haver mais autoridade na discussão que termina quando o ser que o segurava solta a humana. Dulce não perde tempo ao tentar correr.

      Mas os olhos verdes aterrissa em sua frente e a prensa na árvore mais próxima, fazendo-a gemer de dor. Ele aproxima-se do pescoço de Dulce e a cheira. Com um sorriso, ele beija a bochecha da mulher e encara seus olhos cor de mel, antes de afirmar na língua comum para que todos, incluindo a humana entendesse:

— Essa é minha…

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