C A P Í T U L O 03

     Nem mesmo um chacoalhar permite que a enorme loba branca desperte. Era muito bom dormir até a hora que desejasse ao ponto de acordar cambaleante e desatenta devido a preguiça que ela tenta espantar ao esticar seu corpo. Ela olha para suas enormes patas negras enquanto sente seus ossos estalando depois de um bom dia de sono.

     O pôr do sol na pedreira ao lado da cachoeira costuma ser uma das mais belas vistas. Ela poderia morar o pequeno buraco que se forma dentre as formações rochosas. Embora pequeno, deu-lhe um excelente dia de sono e mesmo faminta, Arya sentiu-se confortável.

      Porém sua antiga alcatéia a acharia facilidade nesta região. Mesmo ela conseguindo escapar por exatas duas semanas e mantendo-se livre, esgueirando-se sem parar entre as árvores, roubando, tentando aprender e sobreviver, ela sabe que sua antiga alcatéia está perto. Não é a primeira vez que eles quase a capturam…

      Arya não consegue entender como chegou tão longe. Está magra, extremamente faminta e com um ferimento em sua pata causada por caçadores humanos. Em nenhum momento ela voltou a sua forma humana, pois sente-se mais segura em sua forma lupina. Exceto quando tinha que passar por buracos fechados entre pedras para esconder-se e dormir como um pequeno animal indefeso.

     Mas uma loba de seu tamanho, na a altura de uma mulher adulta e um comprimento equivalente a altura de um homem, por mais magra e desnutrida que esteja, chama atenção. Ela ainda se lembra de seu primeiro encontro com humanos a três dias. Eram cinco homens adultos e armados. Andavam cautelosos e silenciosamente entre os arbustos e árvores.

     Arya deveria ter fugido. Seu instinto pediu que ela fugisse, mas o cheiro dos humanos não representava perigo. Era até… atraente. Parecia mais uma caça em potencial do que uma ameaça. Arya cogitou a ideia de atacá-los já que estava faminta, porém, a incrível semelhança dos humanos com a forma homidhea de seu povo a fez exitar. Era seu primeiro encontro com humanos e ela estava curiosa sobre seu comportamento.

     A estranha linguagem deles a deixava mais curiosa sobre o que sussurravam para si. Ela adoraria saber o que significa "cuidado" e "devagar" que falavam uns para os outros enquanto tentavam manter-se em silêncio. Um odor familiar de sangue cercava os homens e isso apenas atraia a inocente loba, que escondia-se a uma certa distância observando-os. 

     Até que eles atiram uma vareta de madeira com metal na ponta dianteira e uma espécie de pena ponta oposta contra um cervo que grunhi de dor, cambaleia e tenta correr. O cheiro do sangue a deixou sedenta, desesperada para comer. Ela não resistiu ao seu impulso e correu até o servo, cambaleante ignorando a presença dos humanos. Ela derrubou o animal no chão e ficou sem saber o que fazer. Ele estava vivo! Se mexia, se debatida. Tudo que comia era uns pedaços de carne e uns coelhos e esquilos mortos, que ela basicamente os engolia.

     Totalmente perdida, ela dava patadas no servo, igual fazia com os coelhos para matá-los antes de comer. O peso de suas patas contra o pequeno corpo os matava, mas esse servo era enorme. Arya estava faminta e não sabia o que fazer para abate-lo. Ela o mordia tentando puxar sua carne, mas o servo se debatendo a assustava. Ela chia em agonia e o mantinha no chão, pensando e repensando no que fazer, lambendo o sangue de seu ferimento no ombro próximo ao pescoço e sentindo seu maravilhoso gosto. Ela iria enlouquecer se não experimentasse aquela carne!

     Ela rosna frustrada e senta na grama. Chia, rosna e bate sua negra para contra o servo, querendo que ele pare de se debater para que ela possa comê-lo. Estava feliz com o cervo que chegou a esquecer os humanos. Mas eles lembraram-na que estavam ali, desentendidos e intrigados quando pararam de observar a acertaram em sua pata esquerda. Arya grunhiu de dor. O aço da flecha atravessou sua pata no chão prendendo-a.

     Sua falta de experiência e desespero em tentar soltar-se apenas agravaram seu ferimento. Seu braço tremia com a dor e ela gritava. Tentava tirar aquela vareta de si, mas a dor que sentia ao simplesmente tocá-la a fazia berrar e desistir antes de uma nova tentativa.

     Nesse desespero uma nova flecha acerta seu ombro e um novo grito sai de seu focinho branco. Seus olhos amarelos lacrimejam e ela tem certeza que estaria chorando se estivesse em sua forma humana. A pelagem macia e espessa de seu ombro a protegeu, mas o aço a feriu. Arya estava desesperada, com medo e com dor. Ela olhava os humanos com medo e quanto mais eles aproximavam-se, mais medo ela tinha.

     Mas seu desespero venceu a dor. Ela gritou e berrou de dor quando sua mandíbula mordeu sem a precisão de força a madeira que quebrou próxima a sua pata ensanguentada. Ela conseguiu desgrudar a pata do chão e não perdeu tempo em correr mancando para a floresta, recebendo mais uma flecha em sua coxa direita.

     Os caçadores a perseguiram, porém, mesmo ferida, com dor e fraca, a loba era ainda mais rápida do que os humanos e não demorou até desaparecer na floresta, onde chiava de dor, tentando tirar o metal de sua pata. Doeu para tirar a flecha de sua coxa, mas foi mais fácil do que a do ombro. Seu pelo não permitiu um ferimento maior, porém, ela mesma se machucava a cada tentativa. Já sua pata, era outro caso. O metal atravessou sua pele e sua fuga só piorou a situação.

     Mesmo agora, três dias depois, o metal ainda encontra-se enterrado em sua pata, com o ferimento aberto e sangrando. Ela o limpa constantemente, sabe que tem que tirar, mas não sabe como. Ela anda mancando e se recusa a voltar a sua forma homidhea. Mal quer imaginar a dor em sua pata se voltar. Apenas as tentativas eram insuportáveis!

     Mesmo assim ela ainda se rasteja até a água, lambendo sua superfície, umedecendo sua língua e tomando. Assim que satisfeita, ela limpar seu ferimento. Seu próprio gosto de sangue parece atrativo a ela que mal consegue pegar um coelho nesse estado. Sua movimentação constante de fuga também não ajuda. Ela precisa de repouso, mas não pode se dar a este luxo.

     Tomando ainda mais água depois de abaixar-se e fazer xixi próximo as pedras, mancando, ela continua seu rumo, forçando sua pata a pelo menos se movimentar para longe do local. A noite caindo lhe dá um ar mais seguro, afinal, sua deusa é a luz que ilumina a escuridão. Sua presença é mais sentida a noite e ela agradece por isso. Ela precisa sentir, ao menos, essa sensação de segurança…

      Eles estão perto… Mas Arya jamais imaginava que estavam tão perto ao ponto de chegarem na clareira onde ela havia sido atacada a alguns dias. Seu sangue no local atraiu predadores mas por enquanto extinto, todos se mantém afastado, apenas observando a loba. Sabe que é questão de tempo até ela torne-se fraca o suficiente para ser abatida. Porém, a presença de um grupo de lobos tão grande quanto ela muda muita coisa. 

     Um lobo de pelagem marrom, patas cinzas e um porte robusto e musculoso toma a dianteira do grupo, aproximando-se do sangue seco na grama alta da clareira, espatando qualquer animal presente ali. Ele identifica o sangue da Ômega junto ao de um cervo enquanto o resto do grupo identifica rastros humanos. Faz apenas alguns dias que a pequena Ômega passou pelo terreno e a julgar pelos seus antigos rastros, ela não vem alimentando-se corretamente.

     É certo que a Ômega está desnutrida, fraca e ferida. Eles poderiam facilmente alcançá-la, porém, tudo indica que a fêmea está indo em direção a ao território de uma outra alcatéia sem sequer perceber. Ela saiu das garras de um Alpha e caminha em direção as garras de outro… E ainda próximo da Lua de Sangue…

     O cair da noite trás revigoração as fêmeas que despertam de suas camas macias. Cada uma com seu jeito especial de espreguiçar-se. Algumas juntos de seus filhotes, maior parte, gêmeos, outras sendo despertadas por calorosos beijos de seus amados companheiros e outras com suas próprias vontade devido a solteirice ou a ocupação de seus amados que não pode ajudar a afugentar a preguiça.

     Já outras, não aproveita a sorte que tem. Henna, a Lhuna da alcatéia, é uma delas. Sempre tão preguiçosa que mal deu indícios de acordar, deixando seu companheiro, Rômulo, impaciente. Ele rosna ao subir na cama, passando as garras elas costas nua de sua fêmea, provocando-lhe arrepios. Ele a chamando enquanto distribui beijos por seu ombro, fazendo-a ronronar com a sensação e espreguiçar-se pela cama, fazendo questão de esfregar seu corpo completamente nu, ao seu companheiro.

Estava tendo um sonho tão bom… — Reclama completamente fogosa. Rômulo afunda seu rosto nos cabelos castanhos claro de sua fêmea e pergunta sobre o sonho. — Ah, eu sonhei com uma coisa que você fazia…

— Uhum… O quê?

— Ah! — Geme em expectativa. — Aquela sua língua me deixava em êxtase…

     Rômulo sorri ao pressionar ainda seu robusto corpo contra o de sua preguiçosa companheira. Ele desliza sua mão até debaixo de seu corpo e escorrega por seu abdômen, indo em direção ao seu sexo. Henna, fogosa, abre mais as pernas para seu amado.

E o dedo? Não traz nenhum efeito? — Ele flexiona contra sua intimação, arrancando um suspiro de sua amada.

Quero sua língua! Agora! — Exige impaciente.

Acho que a comida pode esperar… — Bastou ele sussurrar estas palavras para sua fêmea escorregar de seu braços dizendo que comida não se espera. Na cama, Rômulo ri enquanto chupa seu dedo, lembrando de seu gosto. — Só porque eu fiquei com fome.

     Henna vestia-se tão rápida que Rômulo mal consegue admirar suas curvas. Todavia, seus volumosos seios balançando com seus apressados movimentos com certeza é algo ao qual ele aprecia enquanto se espreguiça na cama até chegar a vez de sua fêmea encará-lo impaciente.

Quero comer! — Bate o pé, impaciente.

Sou todo seu, companheira. — Aponta para seu corpo. Henna rosna e caminha até a porta, afirmando que vai atrás de outro, provocando rosnados de seu companheiro antes de senti-lo prendendo-a contra seu corpo. — Como é?!

Vou atrás de outro! — Ela vira-se para ele, que pega em seu queixo e olha sério em seus olhos. — Eu quero comer e você não quer me alimentar! Vou atrás de outro…

     Rômulo beija os lábios de sua amada e, emburrado, sai do quarto com ela. Ele conhece sua fêmea. Entre ele, o Bhetta da alcatéia e comida, ela escolhe a comida, sempre. Então ele tem que mantê-la bem alimentada antes que ela decida fazer de sua carne a próxima refeição.

     Então Rômulo leva sua fêmea até o grande salão onde um banquete os aguarda. Quatro enorme alce de 7 a 8 metros de altura encontra-se abatido. Henna já pode sentir sua boca salivar ao sentir o cheiro da carne do animal. Uma grande fogueira foi acesa dentro do gigantesco salão de puro mármore e rocha do covil em que abrigam-se. O salão é tão grande que é possível abrigar toda a alcatéia e ainda mais. A cachoeira que cai ao redor, formando uma piscina termal ao ar livre no andar superior faz Henna sentir-se livre no ambiente. Despreocupada, até.

     O covil é gigantesco. Ele cobre uma enorme parte no subterrâneo, na montanha e na superfície de seu rochoso plano elevado. É bem escondido, mas todos sabem quem reside naquela formação rochosa no coração da floresta, próxima ao maior lago da região, e poucos atrevem-se a aproximar-se.

     Henna, já entusiasmada com a música tocada em harpas, tambores e alguns outros instrumentos. O cheiro fresco da carne sendo assada, as fêmeas dançando, comendo, os machos divertindo-se entre suas histórias. Um ambiente agradável na alcatéia.

     Alegre, Henna pega na mão de seu companheiro, retirando de sua cintura, e o puxa até próximo da fogueira. Rômulo solta-se de Henna, beija sua bochecha e caminha até um dos alces, afugentando qualquer lobo presente e arranca o fígado do interior da caça. Ele olha ao redor, procurando qualquer sinal de duelo ou alguém contra ele ser o primeiro a alimentar-se. Mas ninguém parece interessado. 

     É a hierarquia da alcatéia. Os mais fortes são sempre o primeiro a alimentar-se, pegando o que desejar e defendendo o que desejar. Com a ausência do Alpha, os Bhettas são a autoridade máxima e Rômulo, como o único entre os Bhettas com uma companheira, é o menos intolerante a uma disputa, ainda mais tendo uma fêmea faminta como a dele. Ele lutará pela carne até que sua fêmea e ele estiverem satisfeitos.

     Sem nenhuma ameaça ou desafio, ele coloca a carne em um recipiente de metal, temperado e partido em vários pedaços antes de ser espetado e posto ao fogo.

     Henna junta-se ao seu amado, pegando sua mão ensanguentada e suavemente lambendo, saboreando o gosto do alce.

      Rômulo permite que sua fêmea limpe sua mão, enquanto assa a carne na chama do fogo até que Henna, impaciente, cansa do sangue rosna querendo comer. Rômulo limpa sua mão em um pano branco e tira os primeiros pedaços de carne, equivalente ao tamanho da palma de sua mão. Ele coloca em uma pequena bandeja e entrega a Henna, dando-lhe um beijo na testa.

     Mais paciente, Henna aproxima-se das pequenas piscinas termais no fundo do salão, senta-se na beirada e mergulha seus pés dentro da água morna. Ela não quer molhar-se enquanto saboreia com calma a carne da caçada de hoje. O gosto, textura, tempero… tudo! Uma delícia sem igual. As fêmeas aproximam-se de Henna, comprimentando sua Luna e tentando, de alguma forma, convencê-la a compartilhar.

     O fígado de um alce como aquele não é facilmente conseguido em uma alcatéia como esta e fêmeas são bem mais tolerantes e amigáveis que os machos. O único problema é que Henna é uma fêmea gulosa e odeia compartilhar comida. Mas ela compartilha a carne com uma das fêmeas entrando na adolescência. As demais apenas olham e Rômulo ignora.

      Porém, com a divisão, a carne logo acaba e Henna rosna em frustração querendo mais. Ainda está com fome!

     É necessário mais do que isso para suprimir as vontades de uma lobisomem, — quanto mais duas — mas felizmente, Rômulo retorna com um gigantesco pedaço, assado, temperado e bem preparado em uma bandeja de um metro.

     Ele senta-se próximo a ela em um banco que cerca uma das várias pequenas fogueiras, ao lado de alguns machos. Henna aproxima-se e fica de costa para a fogueira em frente ao seu amado. Ela belisca a carne e, só desta vez, permite que seu macho também alimente-se de sua comida. A pequena loba logo junta-se a eles, apreensiva, mas Henna também oferece a carne. A gêmea da loba tenta também, ganhando o olhar de Rômulo.

       Sua loba sempre foi uma bondosa loba, mas é difícil vê-la compartilhar comida, ainda mais com mais de uma fêmea. Gêmeas? Por enquanto, ele ignora o fato de Henna permitir que duas lobas ainda filhotes, mas entrando na adolescência alimente-se junto a ela. Talvez seja apenas a vontade de ter uma amiga tão próxima que ela chame de companheira.

      A conversa logo inicia-se entre os machos. Rômulo, com sua autoridade de Bhetta, sentado de forma aberta, quase relaxada expondo seu porte físico de guerreiro também participa, ouvido história de caça, luta e guerra. Os machos com companheira mencionam suas fêmeas e não demora muito até Henna ser mencionada por Rômulo. Ela rosna quando ele fala de sua preguiça e ganha um sorriso de Rômulo. Mas ela só alivia sua face fechada quando Rômulo dá-lhe um petisco na boca.

     A noite seguiu tranquilamente entre o povo. Henna logo terminou a refeição e juntou-se a outras fêmeas em uma dança em volta da fogueira, que claramente atraiu o olhar de seu amado que, com calma, ainda comia. As gêmeas obviamente afastaram-se do Bhetta ainda com fome. Não arriscariam mais pedaços sem Henna.

     A conversa entre os machos durou, Rômulo permanecia um tanto quieto, escutando, comendo e observando sua loba. O claro tecido transparente da saia revelava as curvas de sua pernas. Com a dança, tudo tornava-se mais belo. Rua roupa era claramente da nobreza e tampava apenas seu seio com sulthiã claro. Sua barriga era exposta, assim como as pequenas correntes de prata que caiam até a longa saia transparente por baixo da tanga de couro na cor branca. Rômulo nunca deixaria de encantar-se com as curvas de sua amada, embora não encontre lógica no corpo curvilhento de uma fêmea que vive reclamando de fome enquanto come.

     Durante duas horas Henna divertia-se, dançava e mostrava todo seu glamour, vez ou outra, ia até seu amado, comendo mais um pouco. Rômulo, por outro lado mantinha-se calmo, observando sua fêmea enquanto falava com outros lobos até o momento em que Henna cansou e foi até ele, sentando-se no chão próximo aos seus pés, apoiando a cabeça em seu joelho. O macho não demora a acariciar seu cabelo e perguntar se a loba está com fome. Henna obviamente confirma e o lobisomem lhe dá mais algumas porções de carne que ela saboreia com gosto.

     Ela mantém-se quieta com a comida e o carinho de seu amado sobre seus cabelos e observa o evento. Só pela intimidade do casal, todos sabem que desta vez ela não dividirá o coração que a pouco foi assado na fogueira.

     Uma caça e um banquete coletivo como aquela acontece de tempos em tempos, principalmente durante lua cheia com exceção da Lua de Sangue e a Lua Az'hull. As fêmeas adoram, é um dos principais dias de conquista, cortejo e competição. Mas claro, ninguém ousa desafiar os três Bhettas presente.

     São considerados os lobisomens mais dominantes e ferozes da alcatéia. Eles lideram seu bando junto de seu Alpha e todos sabem que eles não chegaram a Supremacia atoa. Cada linhagem mais forte que o anterior, influenciado pela deusa, tendo cada um uma predestinada companheira ligados desde o nascimento garantindo a mistura de genes certo para uma geração ainda mais forte.

     Rômulo é o único entre os Bhettas com uma companheira, marcada e assumida, deixando-o ainda mais intolerante a certos assuntos. Um duelo pelas melhores parte da caça contra ele que mantém uma fêmea conhecida por estar sempre com fome, realmente não é uma boa idéia. Ele não levaria a disputa como algo amigável e até mesmo os dois Bhettas restante sabem disto. Não tratando-se das melhores porções de carne.

     Mas a tranquilidade de Henna parecendo satisfeita com o que ganhou e o claro desinteresse dos Bhettas sobre o resto da caça, faz com que os machos tentam a sorte. A aproximação do coração dos cervos, o fígado, os órgãos mais nutritivos… nenhuma movimentação dos Bhettas para defender alguma parte. Nem mesmo a loba de Rômulo demonstra interesse que seu amado proteja algo… ainda. Parece mais focada no carinho e na sua atual comida.

     Sem rivalidade, logo as disputa pelos melhores pedaços que antes eram protegidos pelos Bhettas, começam. Os lobos com companheiras e filhotes a espera são os primeiros a duelar e a cada vencedor, um grande pedaço da carne. A animação das fêmeas só aumenta quando todas banqueteiam-se. 

     Entre uma disputa e outra, com os lobos sempre atentos aos Bhettas e a Henna, Rômulo puxa sua amada para seu colo, fazendo-a sentar-se em sua coxa. Ela esconde seu rosto sobre a curva do pescoço do macho e aceita mais carinho do mesmo. 

Nós iremos para Bulgária… — Ele sussurra a sua amada que o olha desentendido. No meio de tal situação, é mesmo sábio tirar a Lhuna da alcatéia? — O Alpha escolheu uma fêmea na alcatéia Eclipse Branco. Ele quer que você a conheça antes de trazê-la aqui.

Escolheu?

— Ela não é legítima. — Henna rosna em desagrado. Como assim "escolheu"? O Alpha tem uma predestinada companheira. Ela deve ser encontrada e não escolhida. Seria uma fêmea oferecida querendo poder? Claro que sim! Henna, de fato, não estava gostando daquela história. — É uma solysthica. — Henna levanta uma sobrancelha. — Não sabemos se é ela, mas ela foi gerada na noite do cometa no ciu após o aborto e supostamente, não há companheiro, mesmo sendo a filha legítima de um Alpha.

— O Supremo não deveria sentir-se, de alguma forma, ligado a esta… loba?

Solysthicas — Henna revira os olhos. Realmente não há o que esperar-se de solysthicas. Geralmente são uma surpresa atrás da outra… — Você é uma legítima Lhuna da alcatéia. É de extrema importância que esteja lá, tal como eu. Há assuntos que exigem nossa atenção.

— Compreendo… — Suspira desanimada com a ideia. Henna não tem nenhum interesse em conhecer esta fêmea, quanto mais sair da segurança do território e da alcatéia para vê-la.

Tentarei ser o mais rápido possível. — Rômulo tenta consolar sua amada. Embora seja geralmente animada para uma aventura, conhecer novas lobas e tentar fazer amizade sem qualquer interesse em sua posição social, mas é preguiçosa demais para aventurar-se tão longe, além, claro, de ser uma Lhuna. Seu instinto mais básico é permanecer próximo a alcatéia.

     Mas Rômulo, como um lobo analítico que é, não deixa de notar no claro desinteresse de Henna com esta suposta loba, que parece ser a escolhida. Ela vem de uma linhagem nobre, primogênita legítima de uma Peeira e um Alpha Genuíno. Para alguém como Henna, ficar desinteressada em uma provável suposta grande amiga, é de se estranhar. Isso dá a Rômulo, péssima impressão do que está a vir com esta fêmea, em especial.

Promete?

— Claro, minha Lhuna. — Ele beija seus lábios.

Quando iremos? — Novamente a grande animação é sentida na deprimente voz de Henna. Rômulo fica atento a este detalhe e, provavelmente ficará mais atento a sua loba em tudo equivalente a esta loba que conhecerão. Os instintos e impressões de uma Lhuna não é algo ao qual não deve ser subestimado.

Amanhã. — Henna suspirou frustrada. Realmente não quer sair da alcatéia e permaneceu quieta o resto da noite.

     Rômulo sabia que ela estava desanimada, mas também reconhecia as feições pensativas de sua fêmea. Queria saber o que ela estava pensando e a opinião que estava formando-se em sua mente. Como Lhuna, obviamente sua opinião seria algo ao qual ele gostaria de ouvir, mas antes, ela deveria ser formulada.

     Logo a madrugada deu sinais de seu fim quando o sol apareceu no horizonte. Henna não havia saído do covil como havia dito que faria após o banquete e embora Rômulo houvesse mencionado esta sua vontade, ela preferiu ficar ali, quieta, no colo de seu lobo.

     Mas a chegada do sol indicava sono em seus olhos e logo, Rômulo a leva até o quarto, sentindo-se desconfortável com o jeito completamente quieto e distraindo de Henna. Ele logo tenta tirá-la de seus devaneios com sua safadeza e consegue uma fêmea completamente trapaceira nas primeiras horas de sexo na manhã.

     Ele tinha certeza que ela usaria o pretexto de sono para ganhar mais algumas horas na alcatéia quando o dia caísse e a noite voltasse. Faria drama se necessário, mas ele não questionaria. Ele ama esta fêmea e faria apenas uma cena, mas concederia a ela mais algumas horas extras no território, mesmo que isso significasse chegar atrasado.

    A noite novamente trás renovação as fêmeas. Todas acordando de suas respectivas formas, quase no mesmo horário. A noite parece chamá-las de uma irresistível forma. Até às em profundo sono não resiste. Esta madrugada está fria. Está gostoso! Não há como resistir ao seu chamado e, cada uma, inclusive Nhyara, encontra um jeito de despertar.

     Revirando-se e abraçando o tecido, resmungando e sentindo a noite, ela, aos poucos abre seus belos olhos verdes e encara o teto de seus aposentos.

     Ela gostaria que seu companheiro, o Supremo, a acordasse, mas sabe que ele não fará isso enquanto não marca-la, sem contar sua excessiva ocupação mal deixa-o com tempo para ela. Mas talvez, hoje, tudo possa mudar. A Suprema Lhuna da alcatéia virá para o castelo acompanhado de mais um dos Bhettas. Como atual única Lhuna, sua opinião será extremamente importante e a loba fará questão de impressioná-la.

     Tratando logo de levantar, ela veste-se com as mais elegantes vestimentas, exibindo seu maravilhoso corpo curvilhento. Ela faz questão de mostrar a marca de nascença semelhante a uma meia lua logo abaixo de seu seio esquerdo, mostrando ser uma fêmea de honra. Ela mantém uma saia média, batendo em sua coxa com um véu transparente branco que chega seu tornozelo. As jóias são moderadas e seu cabelo vermelho mantém-se solto em variáveis tranças que destacam sua franja no comprimento de seu rosto.

     De forma elegante, ela retira-se de seus aposentos, buscando por seu companheiro, o Supremo Alpha que a aguardava além da floresta, na pedreira da praia. Ela não tinha pressa ao andar pela floresta, era familiarizada com a sensação única que ela provocava e não importaria-se de chegar no exato momento em que a Suprema Lhuna chegaria. Porém, mesmo quando chega no exato momento marcado, encontrando seu Alpha observando o horizonte, ela esperou por mais de três horas até que o navio humano fosse visto e, de lá, embarcadero um casal atrás de uma canoa.

     Ela odiou a espera. Ninguém a fazia esperar! Mas aquela fêmea não fez apenas ela, mas o Supremo esperar. Ela esperava que o Supremo a repreendesse, mas nada foi dito mesmo quando ela aproximou-se calada da pedreira, seguida por um macho de grande porte.

     Ela olha para Nhyara, mas reverencia seu Supremo, antes de simplesmente dar um simples sorriso a fêmea. O Supremo, tal como Rômulo, repara nessa atitude. Ela não vê a ruiva como sua Suprema e isto já não é um bom sinal.

     Nhyara esperava que ela, ao menos, se apresentasse primeiro, mas a fêmea observa cada feição de Nhyara e mantém-se quieta ao lado de seu companheiro. O leve levantar de sobrancelhas de Henna indica que ela não irá apresentar-se antes. Ela acha muito ousadia da fêmea. Ela pode ser a filha de um Alpha Genuíno, mas Henna ainda é uma Suprema enquanto a ruiva, ainda será avaliada para governar ao lado do Supremo Alpha.

     Depois de vários segundos em silêncio, Nhyara finalmente apresenta-se com seu nome, parentesco, alcatéia e deixando claro o "futura Peeira da alcatéia Lua de Sangue" enquanto Henna apenas a observa, desde suas palavras, o tom usado e sua compostura.

Acredito que saiba quem eu sou e, por tanto, não vejo razão para apresentar-me. — Henna faz questão de deixar claro sua autoridade e dominância enquanto Nhyara não vê opção além de concordar.

     Henna como predestinada a Supremacia, sente de forma única o chegar do momento em que outra fêmea entrará na Supremacia. Ela sente que novos tempos chegará junto de novas fêmeas. Mesmo que ela esteja em completa paz, ela sabe que ocorre uma movimentação. Isso de alguma forma a atormenta, mas não há nada que possa fazer.

     Um tanto frustrada desta sensação, ela respira fundo e olha para os olhos azuis de seu Alpha. Ele percebe uma leve rejeição de sua Lhuna com a futura Peeira e isso não o agrada.

     O tempo está acabando. Ele precisa de uma Peeira. Nhyara é claramente uma solysthica, mas não a que ele procura. Onde está fêmea deve estar?

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