C A P Í T U L O 01

     A umidade estava alta. A vegetação verde da floresta era coberta pela neblina branca da manhã fria. Entre uma árvore e outra, um cervo afasta-se de seu grupo, buscando as frutas vermelhas dos arbustos.

     Estava calmo. O dia acabara de amanhecer e não havia indício de perigo. Mas sabia que estava ali. É um macho adulto e, por experiência, sabia que era arriscado afastar-se de seu grupo. O perigo pode estar a espreita, mesmo que não perceba.

     Levantando a cabeça de tempos em tempo, olhando ao redor em busca de perigo era a prova que o animal estava atento. Sabia o risco de afastar-se do grupo, mas queria as frutas do arbusto. A aproximação de um outro macho, mais jovem, deixa-o mais tranquilizado.

     Pelo menos até o estalar de um galho, deixando todos em alerta. É quando uma flecha é atirada, acertando o pescoço do animal que grita. Todo o grupo, assustado, começa a correr, esgueirando-se entre as árvores e arbustos fugindo do que tivesse os atacado.

     O animal ferido não vai muito longe. Está com dor e logo vê-se cansado. Seus passos vão diminuindo e, aos poucos, é separado da manada. É quando uma segunda flecha o acertou, nos ombros dianteiros, fazendo-o novamente gritar enquanto desequilibra-se, indo ao chão.

     Desesperado, ele tenta levantar-se, correr, e alcançar seu grupo. Mas sabe que não irá conseguir.

     Ele sente o predador aproximar-se e grita de dor e medo quando sente seu toque. Não é agressivo. É firme e rápido, tanto ao tocá-lo, quanto a cortar sua garganta deixando que seu sangue caia em um balde, recém colocado.

— Por que demoram? — Mesmo sentado em seu nobre trono, mantendo a compostura de um autêntico e verdadeiro rei, é notável seu nervosismo. Sua esposa, sentada ao seu lado sabia que ele poderiam também estar com medo, embora jamais fosse admitir.

     Cautelosamente, ela reparava em seu marido. A noite estava fria e o rei, além de ficar a todo momento olhando a lua pela janela, tremia e suava. Estava nervoso pela chegada de seu convidado especial e, ao mesmo, o temia. Era inevitável ficar preocupada.

     Quando a grande lua cheia atingiu seu ápice, um homem entra no salão, chamando a atenção de todos os nobres convidados. Ele ajusta sua postura, reverência o rei e anuncia a chegada do grande e esperando nobre que pacientemente aguarda atrás das grades portas de madeira polida.

     O rei parece ficar mais tenso. Todos os convidados olham para a porta. Esse nobre era o motivo da festa e nada poderia sair errado!

     Quando a porta é finalmente aberta, o olhar de todos é direcionado ao nobre. Ele trajava vestimentas peculiares que fazia questão de expor seu porte de guerreiro. Suas botas são de couro fino. Sua calça é de um tecido levemente brilhoso e justo em suas pernas. Não trajava vestimentas superiores e permanecia com o abdômen e peito exposto, revelando o quão robusto é. Em seu pulso havia um bracelete de ouro e em suas costas uma provável espada. Mas o que mais chama atenção, parece ser os desenhos tribais, perfeitamente pintados de preto do lado direito de seu abdômen.

     Não apenas ele, mas todos os homens que estão com ele contém características similares. Todos são homens robustos, trajando vestimentas escuras, portando armas distintas, com o abdômen e peito nu, além de conter desenhos tribais semelhantes uns aos outros. São um povo diferente, com costumes diferentes e desconhecidos. Mas sabe-se que são poderosos guerreiros com força indescritível.

     O grande nobre e aguardado guerreiro, toma a dianteira de seus irmãos, caminhando até o rei que não demora a perceber a diferença entre ele e os outros homens. As marcas em seu abdômen parecem ser diferentes. Todos contém marcas pintadas em seus braços, peito ou pescoço, mas nenhuma descia até a costela e chegava até a lateral do abdômen. Seu traje, parece haver mais riqueza, já que o tecido parece conter um fosco brilho. Mas apenas sua atitude é a mais marcante. Uma atitude autoritária.

     O rei não sabia ao certo o tamanho de sua força, mas sabia que era incalculável. Desejava o homem ao seu lado, como seu aliado e não exitou em oferecer todo o conforto que ele poderia dar. Ofereceu a seus homens seu vinho mais caro e a melhor comida que tinha. Mas ao líder, ofereceu-lhe, além de vinho e comida, um dos mais honrados acentos e variáveis presentes.

     Ouviu dizer que seu povo gostava de jóias e minérios especiais, portadora de beleza e riqueza. Barras de ouro e prata juntamente com esmeraldas, rubis e os poucos diamantes pareciam interessá-lo. Tudo estava ótimo. Perfeito! O rei fazia questão de agradá-lo ao ponto de permitir que ele deitasse-se com sua própria esposa, se desejasse.

     Toda bajulação com o único objetivo de uma proposta.

     Quando o ápice da madrugada chegou, cinco jovens e belíssimas mulheres virgens dançaram para o nobre. Era as três princesas, filhas do rei, carregadas de uma proposta de casamento e futuros grandes herdeiros e duas das mais belas dançarinas com a função de tornar tudo mais gracioso para as princesas.

     Era notável a diferença entre as moças. O rei fez questão de diferenciar suas filhas das outras duas dançarinas. As princesas eram loiras e as dançarinas morenas. A mais velha das princesas é a protagonista da dança entre lenços e charme. Apesar da incredulidade da rainha sobre o que estava acontecendo, o rei estava satisfeito. Cada movimento era perfeito e agradava, não apenas o nobre, mas seus homens.

     Havia ternura, graça, sedução e beleza entre as jovens. Mas uma em especial pareceu ganhar mais sua atenção. Parecia ter aproximadamente 19 anos e dançava de uma forma alucinante. Os olhos negros e sombrios do nobre passavam detalhadamente pelas curvas em movimentos perfeitamente sincronizados da jovem. O cheiro que ela exalava era atraente. Sua beleza parecia destacar-se das demais e ele a queria em sua cama.

     O rei, satisfeito e orgulhoso, reparou no interesse do nobre em uma das jovens. Mas havia um problema...

     A jovem não era loira e, portanto, não é uma das princesas com proposta de casamento. Era apenas uma dançarina com o propósito de auxiliar na dança e ele, o nobre Dylan Rucker, a desejava para si.

     Levantando as mãos com delicadeza e depois as baixando, contornando seu corpo com delicadeza e sensualidade. As lágrimas saem de seus belos olhos verdes, e descem por sua bochecha. Mas delicadamente são limpada pelos dedos da garota conforme a música.

     Ela sente dor. Odeia dançar para o Alpha e seus Betas. Odeia dançar para seu pai que está entre eles. Ela sente nojo de seus movimentos, no entanto, gosta de dançar essa música. O propósito é simular uma fêmea carente, que chora para ser notada por um macho capaz saciar seus desejos carnais e Arya cumpre com perfeição cada movimento.

     Fazia tempos que ela havia deixado de limpar até a exaustão tudo que era-lhe mandado para aprender formas de agradar o sexo oposto. Era, desde seu nascimento, destinada a prostituição e agora, com seu corpo desenvolvimento na fase adulta, é lapidada.

     Ela chora seguindo o que é pedido, sincronizando com cada movimento da dança. Mas suas lágrimas não são simuladas. Elas são reais. Cada lágrima que cai de seus belos olhos verdes, marcado por seus cílios negros são de dor, nojo e incapacidade. Ela libera sua dor durante a dança, aproveitando-se do único momento em que é permitido a bela jovem expressar suas emoções.

     Ela não saberia dizer se gosta ou não da situação. Desde pequena, gostava da cultura de seu povo. Gostava das músicas, arte e dança e, secretamente, sonhava com um suposto dia onde pudesse dançar para si mesma, liberando todas as emoções que desejasse sobre a luz de Azhulla. Chegaria a trocar seus 20 anos de existência por esse único dia de vida.

     É quase inevitável sorrir em meio aos seus pensamentos ocultos, esquecendo completamente da presença de seus superiores no salão. Esse foi seu erro.

     Sorrisos não fazem parte da coreografia e simulação e Arya recorda disso no momento em que sente uma bofetada em seu rosto, forte o suficiente para que caia desnorteada. Sente um gosto metálico em sua boca e uma pulsação em sua bochecha. Arya tenta a todo custo não chorar, mas sua mente está conturbada de mais com seu futuro.

     Ela deve atuar perfeitamente para impressionar os Supremos que chegarão no dia seguinte. Depois de anos de sua vida sendo a "imunda inferior a todos de sua raça" era lapidada dia e noite por muitas luas com o objetivo de render lucro com seu povo. Deve impressionar, não apenas os Supremos, mas também o comprador de sua virgindade, chamando-o para o sexo com tal dança.

     Sua vida já está decidida e é doloroso demais para guardar dentro de si. A bela jovem chora. Deixa suas reprimidas lágrimas saírem por seus olhos, lamentando a vida que tem.

     Um rosnado de insatisfação é tudo que Arya Campbell escuta antes de ser apagada com um novo golpe, desta vez, dado por seu pai.

     Sentindo algo molhado em seu rosto, Arya levanta-se assustada com falta de ar. A luz do sol queima em seus olhos, fazendo-os lacrimejar. Uma dor de cabeça a faz ficar repentinamente tonta e desnorteada. Tudo em sua visão gira, mas Arya logo recompõe-se.

     Aos poucos seus sentidos vão ficando claro e a bela Ômega nota que amanheceu. Sua memória procura os últimos acontecimentos onde era golpeada e desmaiada por seu pai durante a madrugada. A corrente fria do ar da manhã bate contra sua pele molhada e a faz encolher-se. Havia sido acordada com água no mesmo salão onde dançava.

     O macho quem acordou-a jogando-lhe água fria tinha uma notícia e a disse sem nenhuma importância. Sua virgindade já tinha um dono que chegaria junto do Supremo nesta noite. Arya não saberia dizer se preferia a morte ou... a vida.

     Mas estava desesperada...

     Assim que alguns esquilos foram jogados no chão para que pudesse alimentar-se e recuperar as energias, Arya, ainda dolorida, seguiu para a calmaria da floresta. Precisava sentir seu aroma e esvaziar sua mente. Necessita desabafar sem qualquer perigo de alguém vê-la expressar suas emoções.

     Um lugar onde não é julgada apenas por existir...

     Ela chorava com a dor. Imaginava como seria um pênis masculino e como seria ter um dentro de si. Sempre disseram-na que a primeira vez doía, mesmo que o macho fosse compreensível e carinhoso com inteira intenção de dar-lhe prazer. Mas também afirmavam que ela era nascida para dar e jamais receber prazer. Zombavam de si e provocam-lhe pavor sempre que dizia suposições de sua primeira vez.

     Em uma posição desconfortada para si, totalmente aberta, incapacidade e despreparada. Tomada por movimentos bruscos, apertões, arranhões, tapas e agressões até o momento em que ele se visse satisfeito. Torcendo a todo momento para não engravidar e ter um bastardo.

     Cada palavra e zombaria fazem Arya perder a força. Sua dor é muita e logo, com lágrimas, desaba do chão, onde adormece.

Quanto tempo falta? — Pergunta a linda ruiva a sua mãe que observa-a atenta. — Será que irei agradá-lo?

     Era surpresa para a mulher que aparentava ter um pouco mais de 35 anos, apesar de já ter passado dos 70. Sua filha puxava todas as suas características. Ruiva, pele maravilhosamente bronzeada, fazendo um maravilhoso contraste com seus olhos verdes como esmeralda. Sua filha, com seus exatos 39 anos — embora aparente um pouco mais de 19 — , é mais do que belíssima.

     Fala com elegância e sedução cada palavra de seu idioma lupino. É uma caçadora esperta e uma fêmea habilidosa.

Creio que sim. — É definitivamente o que sua mãe acredita. Por mais sonhador que seja, tudo parecia estar ao alcance. Sua filha era linda. Sua genética era pura e fora gerada no dia do profetizado Cometa de Sangue, durante o cio após aborto.

     Sua mãe não duvida que o motivo de ela não ter um predestinado companheiro seja porque ela está destinada a ser mais que uma companheira de ninguém mais, ninguém menos do que o mais feroz lobisomem; o Alpha dos Alphas; o Supremo Alpha.

Tenho orgulho de você, Nhyara.

     Horas se passaram até o momento em que a bela Ômega abre seus belos olhos azuis. Percebendo que o dia já ia-se embora, ela levanta-se totalmente assustada. Tenta reconhecer o lugar a sua volta mas nada parece-lhe familiar.

     Sempre marcava os troncos das árvores e as rochas com suas garras já que não sabia como usar seu faro. Mas não havia nada marcado. Nada familiar.

     E, se não quiser ser punida, deve voltar imediatamente!

     O desespero a toma e Arya começa a correr, tentando lembrar-se do caminho por onde veio. Mas estava assustada demais para pensar por onde passava.

     Pouco a pouco, o tempo vai passando. A noite vai caindo e sua visão vai mudando. Mas nada de chegar a sua alcatéia, por mais que ainda esteja em seu território.

     Quando a lua cheia ergueu-se no ar e um uivo foi ouvido, extremamente distante, Arya sente o ar fugir de seu corpo. É o chamado de seu Alpha. É tarde se mais para ela.

     Quando um segundo uivo é ouvido, mais do que nunca a bela Ômega começa a correr. Mas em direção oposta ao uivo que reconhece ser de seu pai, o Beta da alcatéia. Seu medo é tanto da punição que a aguarda, que ela prefere tentar a sorte no perigo do mundo a fora, do que com os líderes de sua alcatéia

     Arya sabe que cruzou a fronteira quando o intenso odor de seu Alpha desaparece, logo depois de ficar intenso entre os arbustos e os troncos das árvores antes da clareira começar. E, mesmo assustada e com medo, mais do que tudo, Arya sabe que está sozinha e totalmente vulnerável nesse mundo desconhecido.

     É ela contra o mundo e todos...

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