🌾Capítulo 8. Noite na Fazenda🌾
"Você sempre vai querer com mais intensidade aquilo que não pode ter."
(Newton)
Após levarmos uma canseira de Detonalta para recuperar o celular de Antônio, voltamos ao entardecer para o casarão. Estaciono o Jeep no pátio e quando nos aproximamos do hall de entrada, reconheço uma voz familiar...
__Elias!__Meu irmão está sentado na sala de estar conversando com Bruno.__ O que faz aqui?__ Vou direto abraçá-lo. Se levanta já de braços abertos.
__Aproveitei a folga do fim de semana para visitar meu amigo e matar a saudade da minha irmãzinha!__ Elias me coloca no chão.
Bruno nos observava quieto, mas com um leve sorriso no rosto.
__Como essa pestinha tem se comportado, Bruno? Está te dando muito trabalho?__ Elias bate no ombro do amigo.
Bruno mal tem oportunidade de responder, porque dou um soco no braço de Elias.
__Pare de falar sobre mim como se eu fosse uma criança! Estou bem aqui! Me respeite!__Elias massageia seu bíceps e sorri. Logo, seus olhos batem em Kat, parada mais atrás.
__Olá Katiane. Tudo bem?__ O jeito implicante e debochado de Elias desaparece em dois tempos.
__Tudo bem, Elias.__ Noto que Kat fica corada.
Como não havia notado isso antes?
__ Foi bom você ter vindo, amigo. Assim poderá participar da festa da fazenda esse ano.__ Bruno quebra o silêncio constrangedor.
__Esse ano não perco. Só não poderei ficar até o final, pois na segunda terei reunião cedo no trabalho.__ Elias explica.
__Então fique o quanto puder e volte no domingo mesmo à noite. Você já conhece a estrada e sabe que a viagem é tranquila.__Bruno dá a ideia.
__Isso! E poderia dar uma carona à Kat. Ela também precisa voltar mais cedo por causa do trabalho. Antônio até se ofereceu para levá-la, mas seria desnecessário, com você indo para o mesmo lugar.__ Pisco para Kat, que arregala os olhos.
__Para mim, será um prazer. Se não se importar de voltar comigo?__ Elias se dirige a Kat.
__Se importa amiga?__ Finjo inocência.
Kat me encara piscando demais, como sempre faz quando está tensa.
__Claro que não me importo! Eu que agradeço!__Elias sorri satisfeito.
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Mais tarde em meu quarto, enquanto analiso e organizo as amostras que coletei, Kat me repreende...
__Que ideia repentina foi essa de me oferecer para voltar com seu irmão?
__Ué, você não acha mais prático, já que ambos vão para o mesmo lugar? Fora que indo com ele fico mais tranquila. Conhecemos Antônio há pouco tempo para você viajar com ele. __ Sou sincera, mas Katiane estreita os olhos.
__Espero que isso não seja uma tentativa de me jogar para seu irmão.
__Que isso, Kat! Você já deixou bem claro que não sente nada por meu irmão. Só quis ajudar, mas se preferir voltar com Antônio, tudo bem.
__Não. Acho que voltar com seu irmão será mais prático mesmo.
Sempre senti um clima diferente entre meu irmão e Katiane, mas ambos não reconhecem. Kat por orgulho e Elias porque acaba de sair de uma fase "cafajeste". Não é porque é meu irmão que não vou reconhecer seus defeitos. Mas ultimamente parece que está mudando.
__Sobre amanhã, já sabe o que vai vestir na festa?__ Me olha curiosa.
__Acho que vou improvisar. Não trouxe traje de festa caipira.
__ Bem, finalmente minha mala enorme, que você tanto implicou vai servir para alguma coisa!__ Kat me provoca. __Venha, vamos em meu quarto escolher algo para você!
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O jantar foi mais movimentado na noite de sábado. Dodô ficou satisfeita de poder cozinhar para mais gente e ver quase todos os lugares da mesa ocupados. Após o jantar, Bruno e Elias foram para a biblioteca conversar, enquanto Kat e eu nos oferecemos para ajudar Doralice, que ficou até tarde fazendo os quitutes para a festa de domingo...
__Vá descansar um pouco Dodô.__ Digo pela décima vez.__ Coloque essas pernas um pouco para o alto para aliviar a dor.
__Acho que agora vou ouvir seu conselho minha querida. Já está praticamente tudo pronto. Só falta mesmo terminar de enrolar esses docinhos.__Doralice seca as mãos.__Vá descansar também menina. Já passa de uma da madrugada.
__Pode deixar. Só vou terminar de guardar esses docinhos e subirei para descansar também.
__ Obrigada, querida. Você vale ouro.__ Dodô beija meu rosto e se retira.
A casa fica silenciosa depois que Doralice sobe. Somente a luz da cozinha está acesa. Kat se rendeu ao sono uma hora antes. Elias e Bruno ficaram conversando e bebendo na biblioteca até mais tarde, mas Elias também já foi dormir, porque estava cansado por ter saído do trabalho no Rio e vindo dirigindo direto para Vassouras.
Com mais 20 minutos termino de enrolar os últimos docinhos, arrumo-os nas bandejas e pego a primeira para guardar na geladeira. Mas quando me viro, dou um salto de susto ao me deparar com Bruno parado no batente da porta da cozinha me observando. Está de calça jeans, mas sem camisa e descalço.
Disfarce Lizandra! Pare de encarar assim! Ele vai perceber que você está o analisando minuciosamente!
Tento disfarçar como posso. Levanto as sobrancelhas.
__Ainda acordado?__Abro a geladeira e evito encará-lo.
Bruno cruza os braços, evidenciando os músculos bem trabalhados. Engulo seco.
Controle seus pensamentos Lizandra!
__Pergunto o mesmo. Por que está acordada até agora fazendo isso?
Pego a segunda bandeja para guardar.
__Ah, fiquei com pena de ver Dodô fazendo tudo sozinha. Além do mais estava sem sono.
Bruno entra na cozinha e sua presença parece preencher todo o ambiente. Pega a bandeja de minhas mãos e começa a ajudar a guardar na geladeira.
__Mas Dodô sabe que não precisa fazer tudo sozinha. Pode contar com o auxílio da esposa e da filha de Venâncio a hora que quiser. Já disse isso a ela. O problema é que ela não gosta que ninguém se intrometa em sua cozinha.
Olho surpresa para Bruno.
__Será que ela ficou aborrecida por eu ter me oferecido para ajudá-la?
Passo a última bandeja para Bruno colocar na geladeira.
__Provavelmente não. Ela gosta de você.__ Diz simplesmente e fica ali parado no meio da cozinha me encarando.
Preciso fazer algo para tirar o foco de mim!
Então começo a lavar o tacho vazio sujo de doce. E para meu desespero, Bruno pega um pano e começa a secar a louça que vou enxaguando.
__Isso já é da sua natureza, não é?
__Não entendi __ Olho de lado desconfiada.
__Seu jeito. Todos gostam de você logo de cara. Está sempre disposta a ajudar a quem precisa. Conquistou até Betina!__Dá um leve sorriso.
Quando se explica me desarmo.
__Betina é um amor de pessoa. E não é sempre assim, não. Nem todos simpatizam comigo. Você mesmo não me suporta.__Sorrio.
Bruno para o que está fazendo e me encara sério. Sem poder evitar mais olho para seu rosto.
__Vejo que interpretou tudo errado. __Ficamos frente a frente. Bruno apoia os dois braços na pia me deixando sem saída.
Permaneço em silêncio o encarando.
__É exatamente o contrário. Só que não sou tão expressivo como você. __ Bruno diz com o rosto bem próximo do meu.
__Então deveria tentar, porque as vezes pode soar meio antipático.
Ai meu Deus, perdi o filtro novamente!
Os olhos de Bruno percorrem meu rosto.
__Lizandra, Lizandra, você tem uma língua bem ferina, sabia?__ Está com o rosto quase colado ao meu. Nossos narizes quase se tocam.
Posso sentir seu hálito adocicado.
Será que andou bebendo? Isso não vai dar certo!
__ Desculpe, acho que falei demais.__ Me desculpo, porém sustento seu olhar.
Os olhos de Bruno analisam cada traço de meu rosto e quando falo, seu olhar se direciona para minha boca.
__ Mentirosa. Falou exatamente o que pensa.__ Olha para o piso e depois ergue a cabeça. Seu olhar faz minhas pernas amolecerem.__ Sabe que seu irmão é meu melhor amigo, não é?__ Afirmo com um movimento de cabeça.__ Ele me ajudou em um momento crítico de minha vida. Por isso zelo muito por nossa amizade. E esse é o único motivo que me impede agora de...
__ De quê?__ Sussurro.
Lizandra você vai atrapalhar seu estágio! Feche a boca!
Bruno se aproxima ainda mais.
__Não sou apropriado para você.
__Como sabe o que é ou não apropriado para mim?__Sei que estou fazendo um jogo de palavras arriscado. Mas tudo o que me desafia me interessa mais.
Bruno suspira.
__Acredite, eu sei. Não sou como os rapazes da cidade que está acostumada. Há coisas sobre mim que não sabe. Já passei por muita coisa. Sou complicado. Não vou negar que me sinto atraído.__ Passa o nariz em meu pescoço.__ Mas cometi erros que não quero repetir, ainda mais com irmã de um amigo.
Dessa vez, minha língua ferina fica guardada. Não consigo pensar em nada. Minha mente parece ter assimilado somente uma parte da conversa. A que ele diz que se sente atraído por mim. A parte de que é complicado é totalmente ignorada. Permaneço de cabeça erguida o encarando.
Apesar das palavras, Bruno permanece parado. Parece travar uma luta interna. Quanto a mim, a razão me alerta para me afastar, mas o desejo exerce uma forte atração, como um ímã que nos aproxima.
De repente ele se afasta.
__Vá descansar Lizandra. Está muito tarde. Vá para seu quarto.
Desencosto da pia e dou um passo a frente. O obrigo a recuar. Sigo até a porta e olho para trás.
__Boa noite.
Sinto que seus olhos tem muito mais a dizer.
__Boa noite Lizandra...__ Fica parado no meio da cozinha.
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