Capítulo 7

"Morte.

Não lhe peço que silenciem a sua dor, mas que silenciem o desespero.

Não espero que estanquem suas lágrimas, mais estanquem os altos níveis de angústia. A saudade nunca é resolvida, mas o desespero deve ser aquietado, pois não honra quem partiu" — Augusto Cury

Estar em casa é sempre bom. Mas não importa o que eu faça ou o quanto tente, tem sempre um filho que perdeu um pai e um filho que se foi. Acho que foi naquele dia em que eu morri, que meu coração deixou de se sentir acolhido. Eu perdi meu pai, meu mentor. Entrei numa escuridão sem fim e todas as vezes que achei que encontraria a luz, ela se foi.

— Matteo, eu não posso discutir com você agora — ele dizia enquanto colocava a balaclava.

— Não pode ou não quer? — questionei, irritado.

— Meu filho, eu quero muito sentar para que possamos conversar sobre o seu futuro. Mas agora eu preciso correr. O dever me chama — eu lembro que ele disse que era a última temporada em que ele sacrificaria tudo o que tinha para conseguir o título mundial. Eu podia esperar? — Matt, eu amo você. Eu amo vocês e juro que só vão se sacrificar por mim somente mais essa temporada. Depois eu sou todo de vocês. Promete que vai estar aqui quando a corrida acabar?

E eu estava lá. Eu fiquei lá por ele, por mais que eu não quisesse e a raiva me consumia. Eu sabia que ele amava a gente e sempre fez o que pode, e eu realmente estava lá. Somos família e é isso que nós fazemos.

— Preparado? — minha irmã disse se sentando ao meu lado, enquanto eu observava o vento balançar as folhagens das árvores. Não importava o tempo que estivesse, quando chegava esse dia. Ele estava ali presente.

— Sim — disse, e a abracei.

— Com o passar dos anos, o que fica é somente a saudade. E mesmo assim, ainda acho que um dia ele vai passar por aquela porta e nos abraçar — ela encosta sua cabeça em meu ombro e simplesmente não digo nada. Para todos nós foi difícil, mas ela ainda era uma criança e por muito tempo ela odiou o automobilismo por tirar uma das pessoas mais importantes para ela.

— Estamos prontas — a Nana e minha mãe vem ao nosso encontro e trazem flores. Minha mãe uma rosa vermelha.

— Vocês se importariam se eu convidasse a Giulia? — perguntei e todas elas me encararam como se não entendessem nada. Pudera, nem eu entendia mais.

— Claro que não... Se você se sente confortável e seu coração manda. Faça! — Minha mãe bateu no meu ombro — Seu pai sempre disse isso. Obedeça seu coração e tudo ficará bem — nem posso mensurar a dor que minha mãe sentiu ao perder papai, mas ela se manteve dura por nós. Eu a ouvi chorar muito, mas nunca na nossa frente. E ano após ano ela ainda leva a rosa, que era uma espécie de tradição entre eles. Quando eles se conheceram, o meu pai não tinha uma vida cheia de dinheiro e no primeiro encontro o que ele conseguiu comprar além do jantar, foi uma rosa vermelha. E em todo aniversário de casamento, ele dava um presente acompanhado de uma rosa. A tradição continua, além de que mamãe nunca tirou sua aliança — Vai... — e então fui ao encontro de Giulia.

— Eu não vou publicar isso! Ao menos sei se é verdade, vou verificar primeiro! — Assim que cheguei na porta do quarto em que ela estava, a ligação foi finalizada.

— Tudo bem? — perguntei, apontando pro celular.

— Ossos do ofício — percebi que ela estava um pouco desconfortável — O que devo a honra de uma visita? — tentou quebrar o gelo.

— Não é um programa legal — dei os ombros — mas estamos indo levar flores pro meu pai. Quer vir? — ela me olhou um pouco surpresa.

— Tem certeza? — perguntou, arrumando o seu cabelo. Que não estava mais em sua forma lisa, assim como no dia da festa.

— Sim... Quer vir? Prometo que para compensar, eu te levo para almoçar — eu lancei a proposta e mesmo sem querer, já estava torcendo para que ela aceitasse.

Chegamos ao cemitério e cada um colocou uma flor, como de costume e eu ainda permanecia estagnado e tentando assimilar tudo. Já faz anos e ainda tenho a mesma sensação, toda vez que eu volto aqui me torno adolescente novamente. Eu perdi meu pai, parceiro e mentor. Há muito tempo não vejo sentido no que eu faço, tenho certeza que ele me daria uma direção a seguir, estou sem rumo. E quanto mais idade tenho, maior o vazio fica. Se

— É... Já faz tanto tempo e eu ainda espero o Senhor voltar de alguma corrida. Me perdoa? — suspirei — Por não ser metade do que você chegou a ser. Sinto muito te desapontar — e então me dei conta que minha família já tinha se retirado e só eu e Giulia que estava um pouco atrás de mim, me dando um pouco de privacidade — Eu sinto sua falta — apesar de não conseguir chorar e me sentir anestesiado, o choro parece entalar em minha garganta. E sinto o perfume dela ficar um pouco mais próximo de mim e suas mãos encontrarem meus ombros.

— Eu não posso imaginar a dor que vocês sentiram e sentem por perder um pai, marido. Sinto muito — são poucas as palavras, mas sinto sinceridade em sua voz.

— Obrigado! Normalmente eu lido melhor com esse dia, mas ultimamente minha vida anda tão sem sentido — procurei palavras para continuar explicando, mas não encontrei.

— Ás vezes nós só precisamos desacelerar — e então ela abriu um sorriso para mim, transmitindo paz e esperança em seu olhar.

— Eu tenho a sensação de que eu estou sempre desapontando meu pai, sabe? — falei meu sentimento a ela e em voz alta soa ridículo.

— Matteo sei que o que se passa aqui dentro — ela aponta pro coração — é algo muito íntimo e não importa o que falem para a gente, as nossas inseguranças e medos sempre falam mais alto. Mais, saiba que você é um piloto incrível, mas precisa se encontrar e enfrentar todos os seus medos. Não se cobre e nem se martirize tanto. Digo, por experiência própria, que não vale a pena.

— Ok! — disse, me recompondo de toda a energia e pesar que está dentro de mim, meu pai jamais gostaria de me ver assim. No instante em que me distancio do túmulo de papai, me lembro que preciso visitar outro. Mas deixo pra outro dia, esse eu não consigo enfrentar hoje e me sinto fraco por isso. Já na saída do cemitério, tenho o desprazer de encontrar Smith.

— Olha se não é a jornalista que "odiava" o Giordano, andando com ele! — sinto meu sangue ferver.

— Estou fazendo o meu trabalho — Giulia rebate.

— E você? — aponta pra mim — Trouxe a sua próxima vítima, já que a última morreu? — percebo que ele está um pouco fora de si.

— Você não sabe o que está falando! Cale-se — sinto que meus punhos se fecharam e a vontade de acertar a cara desse babaca é enorme.

— HAHAHA — ele solta uma de suas gargalhadas sórdidas e se vira para Giulia, que me olha confusa — Ele já te contou que matou a namorada e o próprio filho? — ele agiu como se arrancasse o curativo da própria ferida.

E eu não tive mais controle das minhas ações, só pude sentir o impacto quando um soco meu encontrou seu rosto e Giulia gritou. E pude descarregar todas minhas frustrações e adrenalina acumulada nele. Não me orgulho desse tipo de atitude, mas foi quase que instintivo e só senti a paz e calmaria, quando ela tocou em mim e tentou me separar dele.  

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