Capítulo 6
“Ninguém irá te amar se você não for atraente” — Melanie Martinez
Nunca imaginei que estaria sentada no sofá da casa do Matteo, um piloto arrogante e chato, assistindo “Simplesmente Acontece”. O meu filme da vida.
— Nossa, esse cara vai deixar ela ir embora assim? Sem dizer nada? — e ele ainda estava revoltado com o filme — Você está rindo do que? — me perguntou.
— Normalmente os homens fazem isso. Só se dá conta depois que perdem, por simples orgulho! — então ele ficou em silêncio e eu fiquei boquiaberta — Não vai me retrucar? — Agora é que eu estava confusa mesmo.
— Fiz um propósito de não discordar com você, somente concordar. Minha meta de vida agora — debochado.
— Ah tá!!
— Você assiste pelo enredo ou pelo ator? — me cutucou.
— Os dois! É sempre bom aproveitar os dois lados, né? — devolvi a provocação e antes que ele pudesse dizer alguma coisa — Agora preste atenção no filme.
— Sim senhora! — bateu continência. Não sei se ele tem vinte sete anos mesmo ou é um adolescente. Permanecemos assistindo o filme e por um momento tentei buscar dentro de todas minhas memórias, alguma vez que eu assisti filme assim e não consegui — O que foi? — Acho que ele percebeu que eu não estava totalmente focada no filme.
— Nada não! — praticamente cortei o assunto e me ajeitei no sofá para continuar assistindo o filme, mas eu não estava totalmente aqui. Me lembrei de todas as vezes em que quis viver coisas assim com um cara ao qual eu estivesse apaixonada, mas eles só se aproximam de mim para ser meus amigos ou quando querem alguma coisa.
Tentei focar no filme e de minuto em minuto pegava Matteo me olhando e de verdade eu não estava entendendo esse homem, ficamos em um silêncio que era cômodo para nós dois. Até que ele usou o velho truque do bocejo e quando eu menos imaginei lá estava ele com seus braços atrás do meu pescoço, bem no estilo adolescente de filme mesmo.
— Você já se apaixonou? — me perguntou, enquanto brincava com um cacho meu.
— Acho que já — estar apaixonada e amar alguém, são coisas extremamente diferentes — E você? — devolvi a pergunta, porque a vida amorosa de Matteo Giordano sempre foi uma incógnita.
— Acho que sim! Mas prefiro evitar amar as pessoas — quando ele olhou para mim, pude perceber seu olhar carregado de culpa e arrependimentos.
— Acho que nunca senti algo tão profundo por alguém, que chegasse ao ponto de amar — disse, um pouco confusa.
— Todas as pessoas que eu amo costumam partir para longe de mim. Eu as afasto ou a vida as afasta de mim. Mas por favor, não coloque isso no seu artigo.
— Você acha que eu faria isso? Escreveria sobre você não querer amar as pessoas? — Tirei seus braços que estavam ao redor do meu pescoço — Eu não colocaria isso, mas quem sabe eu coloque os truques que você usa quando vai assistir um filme com alguma garota - me levantei.
— Sei — debochou — Você acha mesmo que eu usaria truques? Com você?
— Por que você não usaria truques comigo? — rebati e senti que fiquei igualada a ele na infantilidade.
— Por que? Porque sim — ele gaguejou e ficou me encarando.
— Entendi — peguei meu celular que estava em uma escrivaninha ao lado do sofá.
— Entendeu o que? Eu ao menos disse alguma coisa — senti o rosto dele ficar vermelho e tenho certeza que não era de timidez. Matteo Giordano odiava ser contrariado, e eu já sabia disso.
— Você não usaria truques com alguém como eu — fiz um gesto que mostrasse a ele o meu corpo. E é claro que o babaca de Matteo Giordano jamais daria moral para um gorda.
— Eu não disse isso! — ele tentou se aproximar de mim, quando eu caminhei em sentido a porta da sala.
— Mas pensou! Eu conheço esse olhar e nem precisa dizer mais nada! Eu achei mesmo que você poderia ser legal, mas percebi que não!
Me sentia mal de agir como uma adolescente, mas eu sabia e conhecia caras como ele. Os olhares que eu tive a vida inteira. Da minha mãe, dos colegas de escola, caras da faculdades e mais uma lista de pessoas. E quando coisas assim acontecem, a minha insegurança sempre fala mais alto, a voz quase ecoa pra fora do meu corpo. É maior do que eu.
— Você disse que seria para sempre — olhei bem para a cara de Giuseppe e eu esperava que ele dissesse que tinha sido um delírio da minha cabeça tudo o que aconteceu.
— Você achou mesmo que eu ficaria para sempre com uma pessoa como você? — ele simplesmente vomitou as palavras em mim.
— Você achou mesmo? — minha melhor amiga debochou.
— Eu podia esperar isso dele, de qualquer cara. Mas de você? — limpei as lágrimas que insistiam em cair.
— Ah, pelo amor de Deus, eu só ando com você por todas as roupas que você me dá. Que a sua mãe faz pra você, mas não tem entra. Porque está uma porca de gorda — ela se aproximou de mim e eu fiquei imóvel, porque desconhecia as pessoas na minha frente — Jamais eu e ele ficaríamos com pessoas como você. Jamais! Você não passou de uma aposta. Entendeu? Porquinha!
Sinto meu coração acelerar e desejo sumir para qualquer lugar que não seja a minha vida, meu corpo.
— Tá tudo bem? — fui acordada pelo piloto que me olhava desconfiado e meu coração estava um tanto acelerado.
— O que você está fazendo aqui? — disse, confusa.
— Estava saindo para caminhar e escutei você dizendo algo. Aconteceu alguma coisa? — me perguntou e eu alcancei meu celular para poder me situar do horário. Quem ia caminhar às quatro da manhã?
— Vai caminhar às quatro da manhã?
— Vou. Eu faço isso quando perco o sono — ele olhou para mim e eu sabia que ele tentaria voltar com as piadinhas sem ao menos pedir desculpas pelo o que falou — Toma uma água — estendeu a garrafa que estava em sua mão.
— Por que está sendo legal? — questionei, pois eu realmente estava confusa sobre tudo o que estava acontecendo aqui. Comecei a me arrepender de aceitar o desafio do meu chefe.
— Olha, me desculpe! Mas você surtou naquela hora do filme e ao menos me deixou explicar — sabia que ele entraria em modo defesa — Talvez você tenha entendido alguma coisa errada e tirou suas próprias conclusões.
— Eu? Você disse que não usaria truques com uma pessoa como eu! Esse alguém como eu, seria alguém gorda? — parecia patética, mas talvez fosse mesmo. E ele começou a dar risada!
— Não! Não — e agora ele gargalhou — É sério que você acha que eu disse aquilo porque você não está nos padrões estabelecidos pela sociedade? — Me olhou sério e eu nem me dei o trabalho de responder — É sério, Ursinha? Eu jamais usaria truques com você pelo simples fato de você fazer um artigo e ferrar com minha carreira, mas do que eu já ferrei. Pouco me importa o quanto você pesa, qual tamanho você veste. Você é linda — eu ainda estava perplexa, agora não estava tão brava — E provavelmente uma pessoa incrível. E de verdade, eu achei que soubesse que eu sou a pessoa que menos se importa com aparências — ele levantou e abriu os braços — Olha pra mim? Eu sou o piloto que mais causa de todo o grid, acha mesmo que eu ligo pelo que pensam de mim?
— Você disse o que? — Estava tentando assimilar tudo o que ele falou.
— Que você é linda, mas é chata! — implicou comigo e eu sabia que ele jamais repetiria que eu era incrível, o orgulho falava mais alto — Achei que toda essa mulher empoderada que anda toda pomposa pelo paddock, não desse importância para o que as pessoas pensam — ele caminhou até a porta — Me desculpe! De verdade, se eu disse algo que a magoou e se eu disser algo que a magoe daqui em diante, não hesite em me dizer! Por favor? — ele saiu do quarto, deixando só o aroma de um bom perfume francês e um sorriso bobo estampado na minha cara, assim adormeci novamente.
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