Anthony - Parte dois
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Semanas após a chegada nos Estados Unidos, Estela não se sentiu bem. Ao ser atendida, o médico informou a gravidez, e ela se emocionou, pois, ao sair de perto do pai, estava grávida e não fazia ideia. Ele teria ficado todo bobo, como quando ela estava a primeira vez.
A sogra, e uma tia de Richard que morava perto, a ajudava em muita coisa assim como o irmão.
Mas o sogro parecia não aprovar, e ela sabia por ter escutado conversas sem querer, onde ele a culpava por ter prendido o filho dele no Brasil. O senhor John certa vez disse a Richard: "Você foi iludido pela beleza da 'morta de fome', para que a tirasse daquele lugar miserável". Getúlio nunca ouviu, mas desconfiava que o velho não gostava deles, pelo fato de estar sempre de expressão séria.
Denise nasceu em 09 de dezembro de 1965. Anthony cantarolava baixinho para ela dormir, as canções que o avô cantava para ele.
Richard continuava agindo de modo distante com Estela, apesar de falar mais vezes do que quando fez birra no Brasil. Não a levava para passear, nem as festas dos amigos. A procurava como mulher nas noites em que estava em casa, mas por outras não dormia lá, estava em farras com o irmão mais novo, e amigos dos dois.
Os amigos faziam piadinhas durantes alguns churrascos na casa dos pais de Richard, muitas não compreendidas pelos irmãos, mas as risadinhas deixavam claro que era chacota com eles, por serem brasileiros, ou pelo jeito de falar, de ser.
***
Em uma ocasião, Getúlio viu Richard aos beijos com uma das amigas do Steve, irmão dele. Avisou a irmã, mas ela disse que ele estava se confundindo, que a sogra já tinha alertado sobre brincadeiras das amigas deles, e que não se preocupasse, pois, isso era importante para os homens, que era normal que eles flertassem, mas ela era a esposa e deveria cumprir com seu papel quando ele voltasse para casa.
Ele a lembrou da carta do pai para ela, mas ainda assim, Estela disse que não desperdiçaria o casamento por causa de besteira, que certamente ele achou que viu mais do que aconteceu.
O tempo passou, e ele novamente o viu, com a mesma mulher. Conversou com a irmã, e ela prometeu verificar. Estela confrontou o marido, que claro, distorceu tudo, dizendo que o irmão dela queria voltar para a casa e estava inventando coisas. Além disso, ele criou mais argumentos e acusações a ela, que acabou acreditando que não estava sendo boa esposa. Ele a convenceu a pedir ao irmão que ele parasse, ou teria de mudar de casa.
Getúlio mal pôde acreditar, mas não ficou surpreso, afinal sabia que o cunhado exercia poder sobre a irmã, e para não ficar longe deles e não protegê-los caso houvesse necessidade, aceitou ficar quieto e "não inventar confusão para atrapalhar o casamento dela" como a mesma dizia.
Mas a vida dá voltas, e num fim de tarde, antes do dia do seu aniversário, Getúlio voltou da casa da namorada, tinha desistido de dormir lá, não se sentiu bem. Ao entrar em casa, deu um beijo na pequena Denise, e no alto da cabeça do sobrinho, enquanto os dois viam tv, sentados no sofá. Depois, foi ao encontro da irmã na cozinha, e a pegou chorando. Se aproximou dela perguntando baixinho o que tinha acontecido, e ouviu um pedido desculpas.
Vendo a expressão dele confusa, ela reuniu forças respirando fundo, explicou: Estava fazendo um bolo de aniversário para ele, para o dia seguinte quando ele voltasse, então percebeu que faltava um ingrediente e foi buscar na casa dos sogros (a frente) pois tinha a chave reserva. Quando entrou, sentiu cheiro de perfume feminino, mas achou que era coisa de sua cabeça, afinal, a sogra, o sogro, a tia de Richard e o irmão dele estavam viajando. Pegou na cozinha o pote com o ingrediente que faltava, quando escutou vozes vinda do quarto de Steve, pensou que alguém tinha invadido e foi devagar, verificar. Chegando próximo a porta, ouviu sussurros e gemidos, percebeu que era a voz de seu marido. A porta estava entreaberta, e pôde ver os dois entregues ao prazer do momento. Ela se afastou, sem saber o que fazer, as lágrimas escorreram e se sentiu tão pequena que só quis voltar para casa, queria abraçar os filhos, mas não fez pois iriam questionar, então sentou-se, torcendo que por um milagre não estivesse sozinha, que ao menos a sua melhor amiga Lenah estivesse com ela, foi quando ele apareceu.
O irmão a abraçou, sentindo ódio do cunhado por fazer aquilo.
Ela falou que doeu ver que o marido tinha um caso, pois era a mesma mulher que Getúlio tinha avisado, então não era brincadeira como a sogra dizia. Pediu desculpas novamente.
O irmão lhe disse que não precisava se desculpar, que sentia muito e a convenceu de que era melhor mudarem dali, saírem antes dele chegar. Poderiam com certeza ir para casa da namorada dele, e no dia seguinte já procurariam algum outro lugar.
Enquanto arrumavam o necessário em poucas malas, ela comentou que poderiam buscar o pai, para ficar com eles. Não era interessante voltar pois as crianças estavam estudando, não era justo prejudicá-los. Ela estava num emprego de meio período e ele estava trabalhando num supermercado.
Getúlio concordou, e então levaram a mala para a sala, foi quando Richard chegou e questionou o que estava acontecendo. Começou uma discussão, e os dois homens se agarraram numa briga. As crianças ficaram assustadas, mas ainda assim, Anthony segurou a mão da irmã para levá-la para o quarto, mas antes de chegar lá, viram a mãe tentar afastar os dois, e o pai sem querer a empurrar, fazendo bater num móvel e cair no chão.
Levaram-na a emergência. Infelizmente além do hematoma, dor, ela também estava sofrendo um aborto - e nem sabiam que ela estava grávida.
Getúlio preferiu passar por cima da raiva e conversar com ele, assim como seu Olívio faria. Contou que Estela sabia das traições, mas tratava como "brincadeiras", só para se mostrar a esposa que a família dele queria. Pediu que refletisse em como ele tinha sido tratado melhor pela família dela, do que eles estavam sendo tratados pelo pai dele. Que Richard tinha se tornado alguém diferente, mas ela ainda estava ali, para manter a família, e ele não merecia isso.
*
Quando ela voltou para casa, exigiu que ele saísse, que fosse morar na casa dos pais dele. O marido queria recusar, pois pensava em tê-la de volta, estava arrependido, mas seguiu o conselho do cunhado e do Rudolph, para fazer o que lhe foi pedido.
Anthony apesar de ainda criança, entendeu que a mãe estava muito triste e precisava que ele fosse embora, mas Denise ficava chamando pelo pai, chorando a noite, pedindo a mãe para ele voltar.
Richard mostrou esforço. Parou de sair com o pai e o irmão, e toda vez que Steve fazia festa, ele preferia sair com Getúlio, que aceitava só para ver como estava a mudança. Por dois meses, todo fim de tarde, ele colocava uma rosa no parapeito da varanda e espiava da outra casa. Estela pegava, cheirava e entrava com ela. Então, depois desses dois meses ela aceitou jantar com ele.
Foram a um restaurante chique, coisa que ele não fez antes. A elogiou, dançaram enquanto sussurrava em seu ouvido os momentos simples que viveram na Bahia: Como ficar deitados na esteira no chão, olhando as estrelas, ou os banhos de rio em que "tentavam fazer menino" como seu Olívio dizia e eles riam. Então ele falou que havia comprado outra casa, e que Getúlio o ajudou a escolher, poderiam seguir em uma nova chance, se ela o perdoasse.
No mês seguinte, mudaram-se. E em 1970 nasceu Noah.
Getúlio voltou ao Brasil em 1972.
***
Certo dia, Anthony estava conversando com um de seus colegas que morava na mesma rua e estudavam na mesma classe, sobre as garotas mais bonitas do colégio, quando revelou que havia beijado a mais bonita da sala, na festa de aniversário de um dos amigos em comum.
Quando o colega foi embora, Richard sentou-se ao lado do filho, no degrau da varanda e disse ter escutado um pouco, que não queria ser intrometido, só queria ajudar, dar conselhos sobre mulheres.
O filho disse que agradecia, mas não precisava. O pai pediu que ele falasse sobre a moça, e começou a dizer como tratar uma mulher, foi quando Anthony sussurrou que não queria conselho dele pois sabia que ele ainda tinha outras mulheres.
Richard olhou ao redor de modo rápido, depois disse que aquilo era invenção e que ele não falasse mentiras à mãe. O rapazinho disse que tinha visto várias vezes, mesmo antes do tio ir embora, e tinha poucos anos que isso aconteceu. Suspirou como se dissesse "infelizmente não posso mudar você" e disse que o pai ficasse tranquilo pois, quando ele quis contar a mãe, no mesmo dia escutou uma conversa entre ela e Lenah, em que Estela dizia que desconfiava que o marido a traía de novo, mas que, isso acabaria com ela se fosse verdade pois, o amava mesmo sem ele merecer. Fora que ela disse que não queria ser vista como "a separada, a que tirou os filhos de perto do pai, a que não soube ser boa esposa para segurar o marido".
O pai disse que era melhor não contar, e que ele não entendia como um homem precisava dessas escapadas, pois "tinha se prendido muito cedo, e obrigado a ficar lá, não tinha vivido nada".
O filho respondeu que ele era um péssimo exemplo, e que aliás, o tinha ensinado muito, a como não tratar uma esposa, não fingir que estava feliz dançando com ela, ou num jantar de família. Que quando ele tivesse uma esposa, a trataria como rainha, mas por ser verdade e não para esconder algo.
Richard disse que ele não fingia, e o filho retrucou que sim, tudo era teatro para ela não descobrir.
O pai exigiu respeito, e quando Anthony fez menção de levantar, Denise perguntou atrás deles se estavam brigando. Os dois responderam de forma seca que "não", mas ficaram a semana seguinte sem se falar, evitando ficar no mesmo ambiente até.
Estela não sabia o que fazer, e nem o motivo da distância deles, mas foi Denise, com seu jeitinho de "princesa do pai" e "queridinha do irmão", que os convenceu de irem para o sítio do avô no fim de semana. Era um lugar bonito, usado para descanso e encontros de família, e durante uma pescaria, também ideia dela, eles acabaram voltando a falar um com o outro.
Claro que ainda mantinham opiniões diferentes sobre o estilo de vida de Richard, mas souberam deixar o assunto de lado depois de ver como Estela sorriu ao ver os dois trocando palavras. Antes de voltar para casa, o pai pediu para conversar com o filho e prometeu que iria parar com as traições, mas Anthony sabia que era mais uma mentira, ainda assim, disse que era muito bom ouvir aquilo.
***
O rapaz contava as novidades por carta ao avô e ao tio, como quando tirou a licença para dirigir, sobre o emprego de meio período, ou quando conheceu a primeira namorada. Também contou coisas tristes como o falecimento do senhor Rudolph, ou que todas as vezes que estavam prestes a comprar passagens para o Brasil, alguem da familia por uma infeliz coincidência ficava doente, ou até mesmo ocorreu a morte da tia de Richard, e a sua avó se sentiu solitária por um longo tempo, sem a companhia de sua irmã.
Escreveu também quando conheceu Pierre, o francês e também britânico, três anos mais velho que ele. Neto de avó britânica, assim como Anthony, se tornou seu melhor amigo. Os dois iam a festas de penetras e conquistavam amizades. Em outras festas o francês era reconhecido pois a família dele tinha investimentos na indústria cinematográfica, e então tinha entrada liberada.
Numa dessas festas, Anthony conheceu Heather, e logo começaram a namorar. Richard fez muito gosto nesse relacionamento pois descobriu numa conversa com ela, que a moça também não simpatizava com a ideia de Anthony sobre ficar alguns meses no Brasil, e ele enfatizou que o lugar não era dos melhores, que onde o avô dele morava, ficava longe de tudo que era civilizado.
Anthony a levava a testes para produções de tv, acompanhava- a nas festas da família dela, que tinha o nome conhecido na região assim como a do Pierre.
Sobre o amigo dele, ela era simpática, mas chegavam a discutir quando o francês incentivava que fossem ao Brasil rever o avô de Anthony, que parecia ser um grande homem, assim como o tio pelas histórias que ele ouvia. Fora que ele queria conhecer outros lugares.
***
E numa certa tarde, Anthony recebeu a carta, que o tio informou que seu avô estava pior que antes. Depois de conversar com os pais e falar que caso eles não pudessem ir, ele iria, falou com Pierre que confirmou que iria com ele, e mais, que conseguiria que fossem no avião particular de um amigo da família, mas só poderia quando estivesse disponível, e não seria entre aqueles dias próximos, então daria tempo de ao menos falar melhor com a Heather.
*
Semanas antes do aniversário dele, os amigos fizeram uma viagem, e ela prometeu a ele que se fosse, poderiam falar melhor sobre a ida ao Brasil.
A intenção era resolver a questão da viagem, então aceitou e Pierre foi também.
Nessa casa de praia, ficariam três dias, mas, na primeira noite quando voltaram para o quarto para dormir, ele avisou a ela que conversariam no dia seguinte, pois era urgente que organizassem tudo.
Ela respondeu que não iria. Ele pediu que conversassem pela manhã, pois ela não estava bem.
Heather respondeu que estava ótima, e falou que nunca concordou que ele perdesse tempo voltando para um lugar que nada acrescentaria a ele, ou para pessoas que não poderiam ajudá-lo e nem ele poderia fazer nada. Que ela tinha planos para os dois, com o curso concluído, poderiam abrir uma empresa com a ajuda do pai dela.
Anthony respondeu que não teria problema falar sobre a ajuda na volta, mas precisava ver o avô. Repetiu que conversariam pela manhã, se aproximou dela com a intenção de ajudá-la a deitar-se, e ela pediu que ele a largasse, que não iria para a viagem alguma - além de soltar opiniões preconceituosas, entre outras frases.
Naquela madrugada ele mal dormiu, ficou observando se ela estava bem apesar de tudo, sabia que ela tinha bebido demais - apesar dele e da amiga dela ter pedido para ela beber menos para que não ficasse como estava.
Mas, depois de um tempo "brigando com o sono" os olhos fecharam, e ele teve um sonho curto: Uma moça, e ela lhe sorria, estavam sentados numa pedra, perto de um rio, ele a beijava e quando perguntou o nome dela, acordou.
Ficou olhando para o teto, tentando lembrar se conhecia a mulher que apareceu no sonho, assim como pensou em tudo o que a namorada falou, tanto ali quanto em outras ocasiões, ela queria tudo somente do jeito dela, só para a própria conveniência. O amigo estava certo, tinha de terminar o relacionamento.
Na manhã seguinte, ela acordou e já foi logo para o banheiro, quando saiu dele viu que Anthony parecia pronto para ir embora. Perguntou o que havia acontecido, e ele explicou a conversa que tiveram antes dela dormir, mesmo ele pedindo que não fosse naquela hora, mas foi bom, pois descobriu que ela e o pai tinham armado para ele não ir para o Brasil há um ano e meio atrás, por algumas semanas que ficariam livres do curso. Fora outras coisas, que ela já tinha dito antes sem beber, e repetiu ali.
Anthony então disse que desejava ao menos que ela dissesse "não vou, mas, espero você voltar e desejo que o seu avô fique bem". Porém o que ouviu dela foi esclarecedor, mais do que ouvia seu amigo tentar abrir seus olhos. Disse a ela que era melhor terminar enquanto poderiam ter amizade.
Ela ficou enraivecida e indignada, tentou acerta-lo com uma decoração que estava num móvel, mas ele saiu do quarto com a mochila, o que fez com que o objeto se chocasse com a porta fechada. A amiga dela que já estava se aproximando do quarto (certamente ouviu o escândalo) o chamou de babaca e que ele não merecia ela, quando passou ao lado dele.
Ele desceu as escadas e encontrou Pierre na sala, o aguardando. Ao entrar no carro, ele contou ao amigo que havia terminado o relacionamento.
***
Quando chegaram no Rio de Janeiro, na casa de Irina, souberam de seu falecimento, ocorrido logo depois da volta de Getúlio. A filha dela os recebeu com carinho, insistindo que ficassem aquela noite com ela e sua família. Pierre e Anthony saíram com o filho dela, para uma festa, e no dia seguinte, com as instruções dela, foram para Salvador, depois à Feira de Santana e chegaram ao Bravo.
*
Getúlio escutou a buzina e foi para a varanda. Mal pôde acreditar que eram eles descendo da caminhonete do Daniel. O rapaz (que tinha visto eles na praça, após descerem do ônibus, ofereceu ajuda e Anthony aceitou) aguardou os familiares se cumprimentarem, depois perguntou ao filho de Olívio como o senhor estava, disse também que o que ele pudesse ajudar, o procurassem e se despediu.
Antes de entrarem na casa, Getúlio disse que estava impressionado, como o pai tinha acertado. Explicou que 3 dias atrás o senhor falou que havia sonhado com a chegada deles, e afirmou que viriam. O tio contou isso sem saber se ria ou se chorava de emoção por revê-los, assim como Estela.
Ele disse que o pai desde o sonho, estava mais esperto, mais corado, como quem melhorou significativamente, apesar de ainda não levantar da cama.
Anthony ao ouvir que o avô sonhou, e acertou, se lembrou dos sonhos (com a moça misteriosa) o primeiro lá na casa de praia, a terceira vez foi um dia antes daquela viagem. Quando deu por si, a mãe já estava dizendo ao irmão que queria ver o pai.
O tio pediu que aguardassem na sala para que pudesse prepará-lo, seria uma surpresa e tanto, e passando pelo corredor, foi até a porta do quarto e perguntou se estava tudo bem.
O senhor com um sorriso no rosto -como uma criança que sabe que vai ganhar um presente- disse que escutou vozes e se perguntou baixinho: "São eles? " O filho lhe devolveu: " O senhor acertou de novo pai. Aguenta a surpresa? "
Escutaram um assobio dado por Anthony, que já estava atrás do tio, doido para espiar. O avô pôs as mãos no rosto e começou a chorar. Getúlio até comentou que cada um entrasse separadamente, afinal já era emoção demais, porém só quem ficou na sala foi Noah e o pai, aguardando.
Estela "se jogou" nele, com cuidado o abraçou, pedindo perdão por não ter voltado antes. Anthony se encostou no avô do mesmo jeito que a mãe, e o senhor emocionado dizia que o importante era eles estarem ali, e beijou o alto da cabeça dela e do neto. Depois o jovem apresentou a irmã, em seguida o amigo Pierre, enquanto o tio chamava os dois que ficaram na sala.
Richard o cumprimentou, e se pegou mais emocionado do que pensou. De repente, estava pedindo desculpas por não ter cumprido a promessa de voltarem para visitá-lo, depois apresentou o neto mais novo. O menino não quis sair de perto do pai, a expressão era de quem "não queria encostar no senhor doente" bem diferente dos avós que ele conhecia. Mas, a mãe pediu que ele ao menos tocasse a mão dele, o garoto fez, mas não demorou, e numa distração de todos, voltou para a sala.
Naquela noite, conheceram a "amiga" de Getúlio, e depois do jantar, foram segurando candeeiros para o lado de fora, falar sobre o aniversário de Anthony, que seria na segunda-feira (o jovem e seu amigo estavam no quarto do avô) Getúlio contou que desde o dia que o pai teve o sonho, pediu a Helena que fizesse o bolo para comemorar. Ela havia aceitado por carinho a ele, mesmo não acreditando muito que a família apareceria, e ali estava abismada.
*
Anthony pediu ao avô que contasse causos, e explicava algumas palavras que o francês não entendia. Outras, nem ele conhecia, mas compreendeu a conversa.
Naquela noite, ele pendurou a rede no quarto de seu Olívio. Pierre, Noah e o tio dividiram outro quarto. Estela, Richard e Denise ficaram em outro.
*
No dia seguinte (sábado) o neto aproveitou que o tio tinha levado os outros (exceto Estela) à feira no centro, para mostrar ao avô as cartas que recebeu para cada aniversário até os 18 anos de idade, e agradeceu pelos conselhos.
O senhor se emocionou ao ver que ele as guardou com cuidado. Conversaram sobre algumas situações, ele falou sobre ter terminado com a namorada antes da viagem, e algo que o avô comentou o lembrou dos sonhos, o que o fez comentar, e escutou dele, que algo assim não era atoa.
Quando a mãe voltou para o quarto, depois de organizar a cozinha (e ela disse que não precisava Anthony ajudar, que ele ficasse um pouco com o avô) ele resolveu deixá-la com o pai, para terem também um momento sozinhos, assim como ele teve. Então resolveu caminhar um pouco pela área próxima, procurar alguma sombra de árvore, levou um balde pequeno, pois o tio o disse que poderia colher algumas frutas caso andasse "por aí".
Ao ver de longe uma moça estendendo roupa no varal do quintal da casa dela, que era um pouco afastada da do avô, ele se perguntou novamente onde estaria a desconhecida dos seus sonhos.
*
Segunda-feira
Anthony acordou escutando vozes que vinham do outro cômodo, era sua mãe conversando com seu tio. Se pegou pensando no quanto sentia falta daquilo e sussurrou "saudades", e ouviu o avô dizer "feliz aniversário meu fio". O neto se levantou e respondeu: "Obrigado. Bom dia, a benção vô. " - A mãe e o tio não o deixavam esquecer esse costume.
Depois do café na companhia do avô, recebeu dele dois envelopes, e foi instruído o qual abrir primeiro: Estava recebendo o terreno de Salvador. No segundo envelope, outro documento que representava a casa ao lado (onde Olívio morava antes de adoecer e precisar ficar com o filho na casa dele) e esta seria dividida entre a filha e os netos.
O senhor disse que o "garoto" poderia fazer o que quisesse, morar ou vender o terreno que tinha uma casinha em Salvador, para ajudar no futuro. Ainda nesse mesmo envelope, tinha uma pequena quantia em dinheiro, mas que representava o cuidado dele em pensar que poderia ajudar no que fosse possível.
O neto agradeceu e disse que ele não precisava ter se preocupado tanto. O avô brincou que, ao menos quando ele encontrasse a moça do sonho, poderia comprar um presente bonito para ela, e os dois riram.
Seu Olívio deu um outro envelope à filha, com "um trocado" para os outros netos e ela. Ele tinha vendido todas as criações de animais, uns meses antes, e caso se fosse antes de vê-los, o filho entregaria, mas aí, sonhou, e depois, sonhou de novo.
No fim da tarde, estavam "cantando parabéns" pegando Anthony de surpresa, já que o bolo e petiscos foram feitos na casa de Maria Helena. Todos no quarto do senhor, e depois do sopro das velas, Richard colocou o bolo na mesa da cozinha, para Helena repartir, e Getúlio colocou o disco de Jimmy Durante, que o sobrinho trouxe pois tinha a música preferida da mãe, e ela se lembrava do pai.
*O tio havia informado por carta, que ainda não tinham energia, mas podiam ouvir discos, graças a uma adaptação com bateria no toca-discos, assim como o rádio am, também conectado a uma.
Anthony estendeu a mão como um convite para a mãe dançar com ele. Pierre dançou com Denise. Getúlio ajudou Maria Helena com a partilha das coisas na mesa. Richard e Noah encostados na janela, e Olívio observando, memorizando a cena enquanto os dançarinos cantarolavam à música, que ele não entendeu, mas achou que era boa de ouvir.
Na mente dele, foi o melhor presente antes de ir. A família ao seu redor.
Depois, Pierre pediu que todos ficassem juntos, e fez 3 fotografias, que faria a revelação quando voltasse para casa. Então, a amiga de Getúlio seguiu as instruções e fez a quarta fotografia, para que ele também estivesse na imagem.
*
Naquela madrugada, Anthony acordou depois de sonhar novamente com aquela moça que não sabia quem era. Dessa vez, ela estava indo em sua direção, vestida de noiva.
Ele acendeu o candeeiro, para não pegar o lampião aceso acima do móvel e foi até a cozinha. Encheu um copo com a água do pote e tomou. Voltou para o quarto e o avô estava acordado, então pediu desculpas se fez algum barulho.
Olívio explicou que não acordou por causa disso, aproveitou e pediu água ao neto. Depois de beber, pediu que ele ficasse mais um pouco perto dele, e o neto acomodou o travesseiro, se sentando ao lado dele na cama.
Olívio perguntou o que tinha tirado o sono do neto, e teve a resposta de que ele havia sonhado de novo com a moça, e contou como foi. O sonho fez o senhor citar a mãe de seus filhos, e disse que também havia sonhado com ela, antes de conhecê-la.
Ficaram uns segundos em silêncio e o avô mudou o assunto, dizendo que ainda não sabia chamar o nome dele direito, apesar de Getúlio ensinar. O neto sorriu dizendo que ainda se lembrava deles rindo quando o pai ensinava as palavras, quando ele era criança, apesar de não lembrar de muitas coisas tinha flash e aquele era um dos.
Anthony perguntou se o avô estava feliz.
Olívio respondeu que poderia ir em paz. O neto "brigou" com ele. E mesmo tomando cuidado para falar baixinho, escutaram Estela dizer lá do outro quarto: "Menino deixa seu avô dormir. "
Os dois riram baixinho- assim como os dois riam quando Olívio tentava repetir as palavras em inglês que o genro ensinava a Estela e a Getúlio. O neto em seu colo, ficavam observando as aulas. E até quando Anthony tentava ensinar e ele repetia de um jeito engraçado, eles riam.
O avô agradeceu por eles estarem ali, por ter conversado um tempo com a filha no dia anterior, e pelo carinho do neto. Afirmou que a maior felicidade foi ter visto eles novamente. Que ficou surpreso do neto lembrar do assobio que ele dava, então Anthony explicou que quando criança não sabia fazer, só lembrava do som, mas o tio o ensinou lá nos Estados Unidos.
Anthony respirou de forma intensa e disse que a mãe estava certa, o senhor precisava descansar, então levantou e enquanto ajeitava o lençol, agradeceu pelos presentes, pelo cuidado mesmo de longe.
O avô o abençoou, como fazia quando era pequenino e falou para ele voltar a dormir.
Foi a última conversa de seu Olívio.
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