Capítulo 12 - Rei, dama e peão

Disclaimer: Todos os personagens pertencem a JK Rowling. Esta fanfic é uma tradução autorizada de "Falsas Apariencias" postada em 2007 no FanFiction por Sisa Lupin.

Capítulo 12 - Rei, dama e peão.

Tonks sentia frio apesar de que o ar, naquela sala de espera, fosse quente naquela noite de verão. Suas mãos se moviam inquietas sobre o seu colo e, quando levou uma delas à sua testa, encontrou a sua pele fria, coberta de suor e provavelmente tão branca quanto a parede.

Não havia nada que pudesse fazer para se controlar. Seus sentimentos enterrados tinham tomado controle dos invisíveis fios do seu corpo. Por trás das cortinas, era a espiã, mas pelo cenário era a protagonista, e isso a estava enlouquecendo.

Do seu lado, a senhora Weasley a rodeava com seus braços, mas ela era incapaz de senti-la. Era como se nem estivesse ali, como se alguém a tivesse abandonado para sempre.

Mais rostos conhecidos da Ordem apareceram ao seu redor, atentos aos movimentos dos medibruxos. Enquanto isso, Tonks se repreendia, nada teria acontecido se não tivesse se intrometido tanto na vida do lobisomem. Era uma Comensal, pelo amor de Merlin, e uma Comensal não deveria chorar a morte de um inimigo, uma Comensal nem sequer podia se dar ao luxo de ter coração e, no entanto, sentia como se o seu se rompesse em mil partes dentro de seu peito ao pensar na sorte do lobisomem.

De repente, um curandeiro apareceu diante deles, interrompendo seus pensamentos e os de todos.

— Como ele está? Está bem? — Molly apressou-se a perguntar, muito angustiada. O desespero daquela jovem era contagioso, ainda mais quando não tinham recebido notícias de seu estado. Só sabiam que Remus tinha sido atacado no Ministério e sua repentina transferência ao Hospital St. Mungos.

O curandeiro, vendo o nervosismo dos presentes, se dispôs a responder o quanto antes.

— Está estável. Acabou de acordar e não apresentou nenhuma sequela depois do tratamento. Se continuar assim, logo receberá alta.

Todos se aliviaram ao escutar o diagnóstico. O curandeiro se dirigiu então à jovem. De todos eles, ela era a única que continuava alterada.

— Suponho que deve ser a senhorita Tonks — ela o olhou perplexa — Perguntou por você — acrescentou com um sorriso — Deveria ir vê-lo, está muito nervoso e isso não é bom, tendo em conta o tumulto.

Tonks olhou para Molly, que assentiu, apoiando-a silenciosamente. Não se fez de rogada, queria vê-lo e comprovar com seus próprios olhos que estava a salto.

A jovem levantou-se e seguiu o curandeiro por um longo corredor. Com o tempo, chegaram a um amplo quarto. O curandeiro a estimulou a entrar e imediatamente foi para outra direção. Tonks deu alguns passos enquanto observava Remus sentado sobre uma das poltronas da sala, o rosto cansado e cheio de hematomas. Apesar disso, parecia estar bem.

As lágrimas rolaram por suas bochechas pálidas quando ele percebeu a sua presença em frente à porta. Ela agachou-se ao seu lado e o abraçou com força, escondendo o rosto em seu pescoço. Remus mal podia entender o que dizia, mas não se importou.

— Graças aos céus — soluçou finalmente sendo compreendida — Se acontecesse algo contigo, nunca me perdoaria.

Apenas podia conter a emoção e, sem pensar duas vezes, a jovem aproximou os lábios dos seus e lhe devolveu o beijo que não pôde lhe dar na entrada da mansão de seus antepassados.

Remus não pôde evitar a surpresa. Mil coisas passaram por sua cabeça, mas naquele momento resolveu deixar de lado as dúvidas. Sem parar de beijá-la, segurou seu rosto em formato de coração entre suas mãos. Só quando o ar começou a faltar, eles se separaram.

— Uau — murmurou extasiado — Quem dera os Comensais me atacassem mais vezes.

— Não brinque com isso! — o repreendeu com seriedade.

Remus pegou a sua mão entre as suas. Ela beijou a dele enquanto novas lágrimas começassem a surgir em seus olhos.

— Estou bem, Nymphadora — sussurrou — Me desculpe por ter te preocupado, mas eles não estavam atrás de mim...

— Quê? Por que acha isso? — perguntou com apenas um fio de voz.

— Por que se estivessem, já estaria morto. Além do mais, não teriam me procurado na sua mesa. Eles não queriam me ferir, estavam atrás de você.

Depois de uma pausa, a rodeou entre seus braços e a metamorfomaga agradeceu aquele gesto, assim não poderia ver o seu rosto paralisado pelo medo. Parecia que, naquela noite, o Lorde das Trevas tinha dado um passo mais perto da tal arma que se escondia nas profundezas do Ministério. Com ela, Voldemort se ergueria de novo sem que a Ordem da Fênix sequer soubesse da sua existência, e ela os ajudaria a conseguir contra a sua vontade.

De repente, sentiu seus lábios em seu pescoço e ela fechou os olhos com força.

— Não vou deixar que te machuquem, Tonks — lhe sussurrou no ouvido — Eu prometo.

Ela o abraçou com mais força. Não era a sua vida que corria perigo agora. Seu amor o cegava e isso, no momento, o mantinha afastado da verdade.

•••

A luz da lareira alargava as sombras dos três indivíduos que tinham ao seu redor. Dispersos pelo cômodo, um deles respirava de forma entrecortada sobre uma poltrona empoeirada, enquanto que o outro permanecia de pé ao seu lado, tentando formular suas reclamações da melhor forma possível, e o último — que não era menos importante — se encontrava perto do fogo com um papel escrito entre suas magras mãos.

— Diga, Severus — o instigou. Nem sequer ergueu o olhar daquele pergaminho — O que quer?

O professor de poções avançou alguns passos, agitando sua escura túnica de Comensal.

— Milorde — começou —, não pretendo pôr em dúvida o vosso critério, mas converter Nymphadora Tonks em um dos nossos foi um terrível erro. Seus sentimentos a denunciam, inclusive com a poção que lhe proporcionei para melhorar sua metamorfomagia. Esta noite deixamos de nos ver por sua culpa e a Ordem não demorará a descobrir o que fazíamos no Ministério, e se isso acontecer, podemos esquecer essa arma para sempre...

De repente, o outro Comensal soltou um grito cheio de frustração.

— Devia tê-lo matado! Esse maldito lobisomem... — cuspiu — Da próxima vez, não me pegará tão desprevenido...

Voldemort afastou o olhar do papel pela primeira vez desde que estavam ali, e fixou então os seus ardentes olhos em seus fiéis vassalos.

— Acalme-se, Lucius, logo morrerá. Nos encarregaremos disso — o Comensal fechou a boca e reprimiu um gemido de dor. Ainda sofria as sequelas do contra feitiço do lobisomem, embora tenha se mostrado agraciado com as palavras do bruxo. Voldemort sorriu — Mas tudo a seu devido tempo, senhores — ergueu novamente o papel, mostrando a eles — Sabem o que é isto?

— Idiotice de apaixonados... — resmungou Snape.

Isto é um álibi — enfatizou como se não tivesse escutado —, uma cobertura. Agora vejo claramente.

— Não entendo — retrucou — Pensei que a última coisa que gostaríamos era isso — alegou, pondo o seu olhar obscuro no papel — Seria uma loucura! — prorrompeu — O senhor mesmo disse e, por isso, a obrigamos a acatar suas ordens a golpes de varinha...

— As coisas mudaram, Severus. Temos que nos adiantar aos acontecimentos — fez uma pausa. Depois, continuou pondo especial ênfase em cada uma de suas sílabas — Para isso, deverá contar a eles o que procuro.

— Como...? — perguntou, perplexo.

— A essa hora, já devem ter vigiado o edifício. Não poderemos nos aproximar da arma... nem mesmo eu. Por sorte, já contava com um segundo plano, se isso acontecesse.

— O garoto — sussurrou com a voz trêmula.

— Exatamente. Esqueceu o porquê Nymphadora está nessa? Esqueceu o porquê está em Grimmauld Place? Ela é a chave para atrair o garoto.

— É muito arriscado.

— Eu sei, por isso temos você. E vocês — olhou para Malfoy — averiguarão o lugar exato e os deixarão ver o necessário para semear a dúvida no inimigo.

O Comensal esboçou um sorriso cruel e assentiu com a cabeça. Por sua parte, o professor de poções não hesitou em manifestar o motivo de sua preocupação.

— E Lupin?

— Por agora, será mais útil vivo do que morto — disse e sorriu com sagacidade, desfrutando de cada palavra pronunciada.

Lucius esboçou um sucinto sorriso de prazer.

— Pobre insensato — murmurou com deboche.

Finalmente, o professor de poções assentiu. Seu senhor tinha traçado um plano mestre. Com o lobisomem, tinham as costas protegidas para qualquer contratempo que pudesse surgir. Em seu jogo, ele era um peão. Um miserável sem importância que defenderia sua amada contra seu rival com os olhos fechados e o coração inchado de falsas esperanças.

Nymphadora seria sua rainha. Os peões sempre as protegiam com venerável lealdade, essa era sua razão de ser, mas elas não duvidavam em sacrificar-se pelo bem maior, por seu rei. A jovem sacrificaria seu peão, e o mais importante, nem sequer se daria conta disso.

O Lorde das Trevas jogou a nota nas chamas. Seus olhos brilharam de malícia enquanto via o material transformar-se em cinzas.

Xeque — sussurrou para as chamas — Encarregue-se de ser Mate, minha querida Nymphadora.

•••

Enquanto isso, Remus suspirava agoniado.

— Chega, Sirius — disse — Eu consigo sozinho, sabia?

— Última vez que me preocupo contigo — exclamou o animago, fingindo estar ofendido — É um mal agradecido.

Sirius atirou uma almofada em seu rosto, seu amigo fez uma careta, e em vez de devolver o favor, resolveu pôr o objeto em suas costas. A poção revitalizante que tinham dado no hospital estava começando a perder o efeito, mas isso algo que não estava disposto a confessar, muito menos diante de Sirius, que fazia de tudo para ajudá-lo.

Estava envolto em um mar de travesseiros, sob um edredom em pleno agosto, caso fizesse frio, e seu livro favorito sobre o seu colo caso se entediasse. Ao seu lado, o segundo chá descansava sobre a mesa, pois nenhum cavalheiro inglês ganhava de Sirius.

Remus decidiu que já tinha sido feito de ridículo o suficiente por hoje, e se desfez do edredom enquanto que, com a sobrancelha erguida, observava seu melhor amigo trabalhar.

— O que está procurando, Sirius? — perguntou com certo tremor na voz.

— O memômetro. Tenho certeza de que guardei por aqui...

— O o quê?

— O memômetro, ficou surdo?

Remus suspirou.

— Primeiro, é termômetro, não memômetro, e segundo, não estou com febre...

— E como sabe? Uma pessoa não pode saber de tudo. Ah! Encontrei!

— Almofadinhas, eu imploro, procure outra vítima.

— Cala a boca e abre a boca.

Antes que pudesse retrucar, já tinha o termômetro entre os lábios. Remus bufou e cruzou os braços.

— Não ponha essa cara — o repreendeu — Tonks me fez prometer que ia cuidar de você. Eu dei a minha palavra de maroto!

No mesmo instante, a expressão de Remus relaxou. Então tentou disfarçar enquanto tirava o termômetro da boca e pigarreava.

— Disse isso? — perguntou com suposta indiferença.

Sirius sorriu estranho e assentiu.

— Bom, não acho que seja grande coisa — o lobisomem deu de ombros.

— Pelo amor de Merlin, Aluado! — exclamou — Não consegue ver? Nymphadora gosta de você, ela mesma me disse quando... — de repente, se interrompeu ao ver sua sobrancelha erguida. Acabava de revelar aquilo que prometeu não contar.

Remus se ergueu lentamente, raciocinando cada uma daquelas palavras. Era uma situação inverossímil, mas então por que motivo seu amigo estava tão nervoso. Era verdade?

— Ela te disse isso...? — balbuciou.

O animago voltou a fixar o olhar no amigo depois de ter se afastado.

Foda-se a minha palavra de maroto!

— Claro que sim — admitiu — Disse que era muito bom e honesto com ela, que se viu obrigada a escolher outro parceiro nas vigílias porque você jamais olharia para ela, que por isso te evitava e que todos esses dias que ficou longe de você foram um inferno. Até brilhava os olhos quando falava o seu nome...!

Sirius suspirou abertamente, como se tivesse se livrado de um peso enorme. Pelo menos, até que Tonks aparecesse e o lançasse uma maldição assassina.

Remus ficou perplexo. Queria acreditar. Mas, por outro lado, não podia cometer o mesmo erro de sempre.

— Vai passar — disse olhando para o outro lado — É melhor assim.

O primogênito dos Black o olhou de forma reprovatória, profundamente magoado e decepcionado. Então se levantou da cadeira, disposto a ir embora, mas uma vez mais não pôde segurar a língua.

— Sabe o que eu acho? — perguntou muito sério. Como esperado, não recebeu resposta — Acho que está com medo, porque foi a única mulher que viu além das aparências. No fundo, tem medo de que acredite nessas histórias de "sou muito velho, pobre e perigoso para você".

Remus abriu a boca, disposto a negar tudo, mas se surpreendeu ao perceber que não podia. Olhou para o amigo que o observava com o cenho franzido. Realmente, odiava que o conhecesse tão bem.

Abaixou o olhar e fechou os olhos com força.

— De que adiantaria dizer que gosto dela? — confessou — Ela é auror e eu... um lobisomem entre muitas outras coisas, e nenhuma boa.

Sirius relaxou o semblante. Sabia o muito que tinha custado admitir, mais para si mesmo do que para ele.

— E o que importa? Ela gosta de você — disse em voz baixa.

— Mas isso vai acabar, eu sei. Vai embora e eu ficarei acabado.

— Deixa de ser egoísta, Tonks também tem estado mal. Se a afastar agora com os mesmos argumentos de sempre, sem parar para pensar no dano que está causando, também acabará destroçado.

Sirius saiu do quarto, deixando Remus completamente sozinho com seus pensamentos. A cabeça lhe dava voltas e sentia seu coração em um punho quando escutou a porta do seu quarto fechar.

Sabia que Tonks não estava bem. Não precisava prestar muita atenção para saber e, provavelmente, ele era culpado pelo seu sofrimento. Justamente ele, que tinha prometido protegê-la de todo o mal.

Seria tão bizarro que ela sentisse o mesmo por ele?

Nesse instante, o ruído da porta ao se abrir se escutou na antiga casa dos Black. Tonks a fechou com cuidado atrás de si, mas de novo o maldito porta guarda-chuvas em forma de perna de trasgo a delatou. Por sorte, dessa vez conseguiu não cair.

Quando ergueu o olhar, encontrou-se com Remus indo em sua direção. Estava melhor do que naquela manhã, embora ainda mancava um pouco.

— Já disse a Sirius mil vezes que tire essa coisa do caminho. Tudo bem?

— Claro, já estou me acostumando — sorriu — E você? — perguntou, agora, visivelmente preocupada.

— Muito melhor — piscou — Sirius tentou cuidar de mim. Como pediu para ele.

Tonks mordeu o lábio inferior. Se perguntou o que mais o seu primo tinha contado. Ultimamente, não conseguia controlar a própria língua.

Depois de um silêncio, continuou.

— Estava te esperando — confessou, um pouco nervoso — Preciso falar contigo.

— Sim, eu também — adiantou-se.

Tonks o olhou nos olhos. Sabia muito bem o que tinha que dizer. Unicamente a verdade. Que gostava dele como nunca tinha gostado de ninguém, que cada vez que o via estremecia de emoção, que quando sorria a fazia perder a noção de tempo, e quando o beijava, se sentia feliz.

A jovem abaixou o olhar. O lobisomem sentiu a garganta fechar. Não era muito bom com essas coisas, ainda mais se tratando dela.

— Olha, Remus — sussurrou e pronunciou o seu nome com um fio de voz — Nessa manhã no hospital — disse e fez uma pausa. Depois, continuou sem olhá-lo no rosto — Não deveria ter te beijado. Estava aliviada de que não te aconteceu nada de mal por minha causa. Sinto muito se dei a entender outra coisa.

O lobisomem ficou mudo. Ela nem sequer o olhava. Pensou que estava muito envergonhada para isso.

Finalmente, Tonks ergueu o olhar e tentou não reparar em seu rosto marcado.

— Também não se sentiu assim, certo? Era isso que ia me dizer?

Tinha um nó na sua garganta. O lobisomem se via incapaz de pronunciar qualquer palavra e só pôde assentir com a cabeça. A metamorfomaga o olhava com tristeza. Sabia que não dizia a verdade.

— É melhor assim, acredite.

Remus a observou, interrogativo. Ela tentava conter as lágrimas, mas antes que ele percebesse as mentiras que escondia por trás de suas palavras, escapou do corredor em direção às escadas, deixando-o sozinho e profundamente magoado.

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