Capítulo 11 - Uma entrevista de trabalho
Disclaimer: Todos os personagens pertencem a JK Rowling. Esta fanfic é uma tradução autorizada de "Falsas Apariencias" postada em 2007 no FanFiction por Sisa Lupin.
Capítulo 11 - Uma entrevista de trabalho.
Os primeiros raios do dia acariciaram o rosto da jovem que, naquele momento, entreabria os olhos ainda maravilhada pelo seu último sonho. Piscou e esfregou os olhos com ambas as mãos várias vezes, enquanto se decidia a abri-los por causa da luz abundante que banhava todo o quarto.
Quando se ergueu na cama, olhou para o seu acompanhante com um enorme sorriso, percebendo que não tinha sido nenhum sonho e só tinha visitado suas lembranças com o lobisomem que descansava ao seu lado com uma expressão suave. Depois de observá-lo, animada pelo silêncio e solidão, Tonks inclinou-se, contendo a respiração, o coração se oprimindo com a mão, e o beijou na testa.
Já Remus suspirou ainda meio adormecido. Tendo consciência da situação, Tonks deslizou por entre as cobertas e apoiou os pés descalços sobre o tapete roído do chão. A cama rangeu assim que se libertou do peso da jovem. Com a expressão alarmada, virou-se para o lobisomem, que se mexeu um pouco até virar-se para o outro lado, sem acordar. Com um suspiro de alívio, pôs total atenção ao breve caminho que a separava da porta, em direção ao banheiro mais próximo.
Lançou um último olhar para trás e o viu adormecido como no início. Nada parecia lhe dizer que tinha acabado de dormir junto da sua pior inimiga.
Como ele se sentiria se chegasse a descobrir...?
Nunca saberia, disse a si mesma. Era muito egoísta para pensar em danos colaterais. A jovem limpou uma lágrima e fechou a porta com cuidado.
Pouco depois, Sirius com uma bandeja de café da manhã nas mãos e o queixo caído pela surpresa, observou às escondidas sua prima sair do quarto de seu melhor amigo em direção ao banheiro.
Com severidade, o animago foi até o quarto do lobisomem. Não tinha pregado o olho a noite inteira porque queria que a filha da sua prima se sentisse em casa com eles, e tinham começado com o pé esquerdo, ou pelo menos, era o que tinha pensado até então.
Deixou a bandeja em um móvel ao lado da porta e então a abriu. Aproximou-se da cama onde o lobisomem adormecia com cara de pateta e, com um gesto rápido, mas efetivo, puxou as cobertas.
Um grito escapou da boca do lobisomem e por pouco não caiu da cama pelo susto.
Uma vez recuperado, ele tentou falar, mas seu amigo adiantou-se, erguendo um dedo acusador em sua direção.
— Essa cena de chapéuzinho e lobo mau disfarçado de vovózinha, não me agrada em nada! — exclamou fora de si.
— Sirius, por favor, não tire conclusões precipitadas...
— Não, o que eu vou tirar é a varinha e depois, se quiser, tiramos conclusões.
— Está errado, Almofadinhas. Pelo amor de Merlin!
— Muito velho, muito pobre, muito perigoso para ela — disse com sarcasmo — Não demorou muito para esquecer disso!
Remus já imaginava as faíscas verdes que sairiam da varinha de seu amigo após pronunciar a maldição assassina, mas Tonks irrompeu no quarto observando, atônita, a cena que se desenrolava diante de seus olhos.
— Posso saber o que está acontecendo aqui?
Como um delinquente qualquer, Remus mantinha as mãos à vista do melhor amigo, que naquele momento apontava a varinha na altura do peito. Ambos viraram-se surpresos pela intromissão.
— Tonks! — conseguiu gritar o lobisomem — Diga a esse desequilibrado que vire essa coisa para lá!
A jovem virou-se então para o primo.
— Sirius, dá para abaixar a varinha, por favor? Se te preocupa tanto saber, ainda sou virgem.
— Sério? — perguntou Sirius um tanto perturbado.
Ela assentiu com a cabeça e cruzou os braços.
No mesmo instante, a varinha abaixou e, finalmente, Remus pôde voltar a respirar.
— Caramba, foi mal. Achei que... — pigarreou — Bom, não importa. Não podia ter me dito isso antes que eu fizesse papel de trouxa, Aluado? — o repreendeu.
— Eu tentei!
Por um segundo pareceu que Sirius estava arrependido.
— Bom, esperava que eu pensasse o quê? — retrucou — Acabei de vê-la sair do seu quarto. Acho que tenho o direito de tirar conclusões precipitadas, não? E dá para pôr alguma coisa? Pensei que depois de Hogwarts não teria que te ver nunca mais de cueca.
Diante de sua observação, Remus se apressou em se vestir. A jovem segurou as gargalhadas enquanto Sirius revirava os olhos. Depois de alguns instantes, Tonks percebeu um agradável cheiro do lado de fora do quarto.
— O que está cheirando tão bem? — perguntou a Sirius.
— Porção dupla de panquecas para nossa ilustre convidada — sorriu — Come a parte do Remus também, ele não merece — disse com fingido desdenho. Remus franziu o cenho como resposta — Além disso, precisa juntar forças para lidar com esses picaretas do Ministério.
— Não poderia ter descrito melhor, embora... — pausou dramaticamente antes de continuar — Agora estou em uma missão muito importante para o mundo bruxo. Estou procurando o grande Sirius Black, o prisioneiro de Azkaban. É claro, o título é meu.
Os olhos dele brilharam quando disse aquilo.
— Mesmo? E onde acha que está nosso fugitivo agora? Com certeza alguma praia paradisíaca com um coquetel na mão e algumas garotas ao redor. Continue investigando por aí, pequena.
Com uma piscadela, abandonou o quarto, não sem antes lançar um olhar irritado para o lobisomem.
— Ele vai me matar — lamentou quando se foi.
— Ele supera — ela sorriu — Vem, eu divido meu café da manhã contigo.
Teve uma longa pausa. O lobisomem ficou entorpecido, tanto pela forma descontraída de falar quanto pelo sorriso que lhe oferecia. Naquele momento, podia jurar que levitava. Por sua vez, a jovem o observou de forma estranha.
Em uma última tentativa de voltar à realidade, pigarreou e passou a mão pela nuca.
— Outro dia, talvez — respondeu — Esqueci que tenho uma entrevista de emprego.
— Tem que ir agora mesmo? — perguntou um pouco aborrecida — Por que não espera um pouco e saímos juntos? Eu posso te acompanhar aonde quer que...
Os olhos arregalaram e não precisamente de surpresa.
— Não precisa — apressou-se em dizer — Sério, obrigado — acrescentou mais relaxado — É daqui a uma hora e não daria tempo de comer nem se vestir. É melhor eu ir sozinho e nos vemos à noite.
— Remus, espera...
As suas tentativas foram frustradas. Desapareceu tão rápido que era como se tivesse desaparatado, ou usado pó de flu. Suspirou frustrada enquanto pegava a bandeja do café da manhã que tinha atrás da porta e a levava até a cama.
Mais tarde, no escritório dos aurores, Tonks observava impaciente o relógio em sua mesa de trabalho. Os ponteiros do relógio acabavam de dar a volta na esfera. Um castigo por todas as horas em que tinha escapado do trabalho durante a última semana.
Passou o dia redigindo relatórios que não levavam a lugar algum, notas de imprensa sobre coberturas de desaparecidos e um relatório detalhado sobre o foragido Sirius Black.
Era para enlouquecer. O relatório era uma obra de ficção digna de qualquer prêmio literário, pelo menos imaginação não lhe faltava. Depois, apoiou sua cabeça em cima da mesa e fechou os olhos. Ainda naquela postura poderia cair no sono.
Tudo ao seu redor foi desaparecendo. Aos poucos, foi notando como sua mente se desconectava da agitação do dia, deixando os músculos relaxarem.
Mas seu sono se viu interrompido subitamente.
— Tonks!
A jovem se incorporou no assento no mesmo instante.
— Às ordens, senhor!
Seu chefe a observava com a sobrancelha erguida. Em frente a ele, a jovem auror se encontrava em posição militar, algo cambaleante e com o rosto cheio de tinta. Na sua bochecha direita era possível ler "Sirius Black está no Haiti".
Scrimgeour apertou a ponte do nariz enquanto fechava os olhos por um instante, tentando controlar os seus impulsos.
— Posso saber o que diabos está fazendo perdendo tempo? Espero que tenha pelo menos terminado. Este relatório deveria estar na minha mesa há duas semanas!
— Ah... Bom... Ainda faltam alguns detalhes, mas... — tentou desamassar as folhas do precioso relatório. Com os nervos e, vendo a última página toda borrada, derramou o tinteiro em cima da mesa, empapando tudo ao redor — Ah não.
— Tonks! — estourou — Como pode ser tão desastrada? Conserte isso imediatamente! Não quero ver se levantar dessa cadeira esta noite! Fui claro?
A jovem assentiu envergonhada. Depois, seu chefe marchou, resmungando todas as maldições que conseguia pensar, a caminho da saída.
A calma retornou ao solitário quartel dos aurores. Tonks se deixou cair sobre a cadeira, sem saber se chorava ou ria. Sem dúvidas o relatório se consertaria com um agitar da varinha, mas o seu mau jeito não tinha nada que pudesse corrigir.
— Dia difícil? — perguntou uma voz ao seu lado.
Ela ergueu a cabeça, surpresa.
— Remus! — exclamou ao vê-lo — O que faz aqui?
O lobisomem sorriu com timidez do outro lado do escritório. Parecia cansado, mais do que o habitual.
— Agora trabalho aqui também.
— Sério? — perguntou entusiasmada.
A alegria que lhe causava tê-lo por perto naquele deprimente lugar era maravilhoso para ela.
Remus se sentiu incômodo diante de tanta efusividade. Voltou a sorrir, mas de forma forçada, embora a metamorfomaga não tenha notado esse detalhe.
— Fico feliz por você — acrescentou. Sabia que tinha tido muitos problemas em encontrar trabalho por causa de sua condição — É um grande bruxo. Um dos melhores, pelo que dizem. Não podiam te deixar ir.
Ele assentiu de forma ausente. O quão enganada estava. Se fosse um bom bruxo, não teria que procurar trabalho, o trabalho o encontraria.
Tonks permanecia ao seu lado com um sorriso sincero, mas finalmente percebeu a sua falta de entusiasmo. Talvez sentisse falta de dar aulas em Hogwarts. Afinal, o Ministério não era grande coisa para alguém de seu potencial, pensou.
Logo teve uma ideia para animá-lo.
— Vamos comer. Não aceito um não como resposta! — sugeriu com fingido orgulho.
O lobisomem se animou diante da idade. Sem dúvida qualquer plano que implicasse estar junto dela seria maravilhoso, mas não queria ser muito impulsivo depois do que aconteceu na outra noite.
— Não posso, Tonks. Ainda faltam algumas horas para terminar o meu turno, e não quero que me despeçam no primeiro dia — disse, olhando para os sapatos.
Ela bufou e então cedeu.
— Certo. E eu que estava disposta a vadiar por sua causa! Agora terei que ficar e terminar esse relatório maldito...
A jovem bocejou. Só em pensar no monte de pergaminhos que faltava redigir, lhe dava sono. Remus se obrigou a intervir. Não podia permitir que caísse no sono de novo naquela cadeira desconfortável.
— Por que não vai para casa? — sugeriu — Está exausta e não acho que vai avançar muito.
Tonks bufou. Ouvir o que queria não ajudava. Amanhã teria que aguentar outra bronca de Scrimgeour. "Uma a mais, uma a menos, que diferença faz" pensou.
— Acho que tem razão. Mas antes... — ela pegou um dos pergaminhos da mesa, rasgou na metade e escreveu em um dos pedaços com sua pena favorita — Aqui — entregou a ele enquanto mordia o lábio inferior.
Remus leu com curiosidade.
"Vale um jantar com N.Tonks".
— Quando quiser.
O lobisomem esboçou um sorriso e guardou no bolso interior do casaco.
Antes de ir, a jovem se pôs na ponta dos pés e lhe deu um carinhoso beijo na bochecha. Então, um pouco envergonhada, despediu-se com a mão e, por pouco, não tropeçou na mesa por andar de costas.
Remus a viu desaparecer com um sorriso nos lábios. Ainda não entendia como aquela mulher conseguia corá-lo com tanta facilidade. Balançando a cabeça de um lado ao outro, pegou os papéis em cima da mesa e se pôs a folheá-los.
Pouco depois, um som surdo se escutou às suas costas. Imediatamente, com os sentidos aguçados pela licantropia, virou-se, mas não tinha ninguém ali, nem uma alma. Esteve tentado a pegar a varinha e dar uma inspecionada, mas decidiu pôr a culpa na imaginação e sentar-se para terminar o relatório de Tonks.
Horas mais tarde, no número 12 de Grimmauld Place, a voz alarmada de Sirius acabou acordando a metamorfomaga. Naquela noite tinha ido deitar tarde, esperando a chegada do lobisomem.
Olhou pela janela, ainda era noite.
— O que diabos quer, Sirius? — perguntou Tonks, irritada.
— Tem que se levantar. Atacaram Remus no Ministério.
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