Mao - IV

"Espera, Mao!" O pequeno o interrompia em seu caminho. "Só mais umas três horas!"

"Você acha que consigo esperar? Nós já passamos a noite toda aqui escondidos!" Retrucou o homem. "Quanto mais ficarmos aqui mais perigoso será, temos que ir logo."

"Ah sim, com certeza," respondeu com sarcasmo o garoto, "nunca reclamou do perigo antes, não é agora que vai ser. Eu sei que você só quer ir de uma vez," revirou os olhos. "Mao, seus ferimentos não estão totalmente curados. Principalmente sua perna!"

"Eu já tô bem," disse girando o braço no ar. "A noite inteira foi descanso suficiente."

"Ok," suspirou Óli, sabia que não o convenceria. "Então me dê só trinta minutos, faço os últimos preparativos e nos vamos."

Mao concordou finalmente, e se sentou na cama do esconderijo enquanto o garoto preparava sua loção de ervas e, mesclando-a em suas mãos, ativava ao pronunciar: "Link on: Asclepius."

Havia passado a noite em claro cuidando dos ferimentos de Mao, após encontrarem um esconderijo nos subúrbios da capital com a ajuda de Robin. A batalha contra o Papa Bishop fora mais brutal que o aparente, e os ferimentos foram graves, incluindo vários dos músculos de Mao completamente rasgados – principalmente os do abdômen – e o osso de sua perna esquerda totalmente quebrado em dois. Felizmente, e com muito suor, Óli já era bastante proficiente em seu uso do Link, e com seus conhecimentos medicinais mais desenvolvidos, conseguiu curar o guerreiro quase por completo durante a madrugada enquanto ele descansava.

A meia hora passou voando, e Mao sentiu bem seu efeito, até se impressionando com a evolução do garoto nos últimos meses. Era realmente aplicado. Saíram do esconderijo os dois e foram até a estrada que levaria ao castelo de Sarkan. A última estrada.

"Vamos," disse Mao, e começou a andar.

"Eu achei que você ia sair correndo," Óli o seguiu rindo.

"Não precisa ter pressa, o que importa é chegar."

"Olha quem fala!"

~ ㊙️ ~

Como estavam sendo procurados pelos guardas da capital pelo ataque contra o Papa, não demorou para serem encontrados. No entanto, a perfeita capital que desfrutava de paz e tranquilidade à gerações, consequentemente tinha os soldados mais inexperientes, e foram todos massacrados facilmente pelo guerreiro. Nunca na mente de Sarkan passaria a possibilidade de que Bishop, sua criação definitiva, seria derrotado, e confiava totalmente nele para a proteção da cidade.

Mais algumas horas de caminhada passaram enquanto Mao e Óli desfrutavam da bela vista da capital, lutavam contra soldados imperiais, e conversavam sobre todo tipo de coisa. Mesmo já sentindo seu objetivo na ponta de seus dedos, o clima como sempre era ameno entre os dois.

"Mas sério, você me impressionou com essa sua cura," disse Mao, "tenho que admitir que minha perna tava bem fodida. É por isso que você tava comprando aquele montão de ovos, Óli?"

"Sim, estava treinando a aceleração da regeneração e desenvolvimento de células com o Link," respondeu o garoto, "tive a ideia depois de ler um livro ancestral de anatomia que o Silas me deixou."

"Legal. Você nunca tinha dito que queria ser médico. Isso é bom, vai poder ajudar muita gente."

"Espero. Na verdade, só cheguei nessa conclusão pensando em como poderia te ajudar na sua jornada, Mao. É outra das coisas que te de–" Óli interrompeu e apontou para frente, "olha, Mao, já dá pra ver o castelo!"

No horizonte, por entre as árvores, na frente do imenso tronco da grande árvore-mãe, já se via as pontas transparentes dos gigantescos cristais que formavam o castelo do Imperador.

"Finalmente! Vamos lá, Óli!" Esboçou um sorriso no canto da boca o homem e saiu correndo, e o garoto o seguiu.

No fim da estrada, o teto de galhos e folhas se abria e revelava apenas um campo aberto, o céu azul e os colossais braços e gigantescas folhagens que abraçavam as nuvens da imponente árvore Gaia. Seu imenso tronco bloqueava o campo de visão de qualquer um diante sua, e suas raízes se espalhavam em todas as direções, por dentro e fora do solo. O grande castelo de cristal parecia uma miniatura em comparação, mas ali residia em todo seu esplendor, e na sua frente, um grande batalhão de soldados posicionados.

"Por fim chegou a estrela do dia," se levantou um velho de uniforme militar negro, diante de todo o pelotão, "Mao."

"Esses caras não cansam mesmo, hein," reclamou o homem. "Não bastou matar aquele Papa, achei que ele era o segundo em comando depois do Sarkan."

"Bishop pode ter tido muito poder, mas não passava de um tolo!" Bradou o general. "Um tolo hipócrita que falava de paz enquanto matava a sangue frio. Eu sim sou o verdadeiro líder do exército, o homem mais fiel ao magnânimo Imperador e regente da cidade do norte de Quetzalcoatl, general Leorio!"

"Mao, ouvi falar que a cidade de Quetzalcoatl é a mais militarizada e avançada tecnologicamente. O general Leorio é o mais influente deles, e dizem que seus super soldados nunca perderam uma batalha.."

"Mas que saco," suspirou.

"Como você matou aquele monstro da igreja, sei que não posso pegar leve. Saiam!" Ordenou o general.

Quatro crianças de uniformes negros se revelam de dentro dos pelotões e param em fileira ao lado do general. Três garotos, um que tremia enquanto encarava Mao com os olhos raivosos e aflitos, outro que vestia uma máscara de gás, e um maior que portava uma espada e um escudo com a mirada séria; assim como uma pequena garotinha triste, sobre cujos ombros sentava uma pequena fada azul, percebida por poucos. Os quatro formavam a infame ELQ, a Elite Linker de Quetzalcoatl.

A ELQ foi um experimento idealizado por Leorio justo após a versão finalizada do Link começar a ser produzida em massa. Em busca dos soldados perfeitos, Leorio raptou dezenas de crianças e as treinou rigorosamente, tanto física quanto psicologicamente – utilizando de controle mental e deprivação sensorial forçada para aumentar a sincronização com os cristais – com o intuito de gerar mestres Linkers para o exército. O projeto ainda estava em andamento, mas aquelas quatro crianças foram os maiores resultados, gênios no uso do Link, e eram temidos como os maiores combatentes do exército por todo o império mesmo na infância, o que só mostrava o potencial do Link como arma militar.

"Então você é o Mao?" Perguntou uma das crianças, um garoto pálido de cabelo quebrado. "Sim, só pode ser você, Mao." Suas olheiras se destacavam com os olhos arregalados enquanto levava as mãos à cara. "Mao.. meu mestre, Bakulu.. seu desgraçado, você o matou! Mestre Bakulu!" Levantou as mãos ao céu. "Por quê?! Tanta coisa você tinha pra me ensinar! Sobre nosso mundo e o mais além, e todas as fantásticas entidades que os habitam.." Lágrimas escorriam de seus olhos e ele caía de joelhos no chão, soluçando alto, até limpar as lágrimas e encarar aquele homem. "Pelo espírito do meu mestre, vou rasgar sua alma em pedaços!"

"O espírito do seu mestre tá nos confins do inferno," riu Mao. "Eu o mandei pra lá."

"Você acha que eu não sei onde ele tá?!" Gritou em frenesi o garoto e bateu violento com a palma da mão no chão. "Link On: Ah Puch!" Desde sua mão, o chão começou a apodrecer; a terra, a grama, o solo e seus organismos e nutrientes, tudo apodrecendo e desintegrando e contaminando como uma onda de putrefação que rapidamente se espalhava.

Mao segurou Óli e saltou até uma árvore, segurando em um de seus galhos. "Parece que vou ter que acabar com eles antes de passar," pensou enquanto via o chão se decompor.

De repente, viu uma veloz lâmina cortando na direção de seu pescoço, mas desviou deixando-o cair pra trás, e logo com um ligeiro impulso do tronco ao chão. Era o Linker mais velho, que o encarava com a espada na mão e os olhos admirados com sua velocidade e movimentos sutis mas eficientes e intensos. O rapaz o seguiu com seu próprio impulso e tentou outro corte, mas Mao desviou com um passo ao lado e, girando o corpo inteiro, acertou um soco com as costas da mão direita na cara do garoto, que foi lançado de volta até o exército enquanto arrastava pelo chão.

"Esse moleque é bem rápido," pensou Mao enquanto o fitava se levantando.

"Ah Puch, definhe a alma desse desgraçado e a mande aos confins do submundo. Link On!" Um brilho cinza foi percebido na ponta da cabeça do vingador, como um chifre. Apontou a palma da mão para Mao, e o próprio ar começou a enferrujar rapidamente na sua direção.

Mao empurrou Óli para trás de uma árvore e circulou o ar apodrecido. Quando foi saltar na direção do exército, foi parado pelo espadachim outra vez, com uma tentativa de corte em sua barriga que foi desviada prontamente, e retribuida com um soco na cara que o mandou longe outra vez.

"Sai daí, Klaus, o Mao é meu sacrifício!" Seu link brilhou cinza outra vez. "Link On: Belzebu!" Proferiu, e a podridão do local atingido antes atraiu uma volumosa onda de moscas – algumas até gigantes e raivosas, próprias da Floresta de Mogu – que voou rapidamente na direção do homem, seu zumbido agudo ensurdecendo.

"Eu sou seu sacrifício?" Riu Mao enquanto arrancava um galho cheio de folhagens de trás sua. "Essa juventude tá muito abusada mesmo." Bateu forte com o galho no ar, e a rajada de vento desferida matou várias das moscas, mas eram demasiadas e o circularam. Com um mortal até outra árvore, pousou seus pés no tronco e propulsou até o numeroso batalhão. Em um piscar de olhos ali estava, distribuindo golpes e arremessando soldados longe e chocando-os uns com os outros. A onda de moscas não demorou pra alcançá-lo e começar a comer um por um os soldados do exército, que desmaiavam secos de sangue, gritavam e fugiam em desespero.

"Bakara, pare agora mesmo!" O general ordenou, mas percebeu que a sede de vingança havia cegado os olhos do garoto, que continuava a controlar as moscas com uma mirada psicótica. "Droga. Elias, acabe com essa insanidade."

O garoto da máscara assentiu, e apontou a mão até a grande onda de insetos. "Link On: Agni," enunciou baixo, e uma poderosa rajada de fogo emitiu de suas mãos, que incinerou até a morte todas as moscas e até pegou Mao desprevenido, queimando levemente seu braço enquanto se afastava com um salto.

"Merda, um atrás do outro," pensou o guerreiro enquanto circulava rapidamente o lugar. "Não tenho tempo pra isso!"

"Elias! O que pensa que tá fazendo, quer morrer?!" Brigou o pequeno mestre voodoo.

"Fique calmo, Bakara," mandou o general, "ou vou ter que te mandar de volta pro campo."

"N-não, o cam–" somente a menção dessa palavra travou e aterrorizou o garoto. O campo era uma sugestão hipnótica implantada no subconsciente de todas as crianças do projeto ELQ, para controlá-las com seus piores medos. Ao ser mencionada, lembravam do lugar onde recebiam intensa tortura psicológica e, através do terror, obedeciam qualquer ordem. "Tudo bem, mas eu ainda quero matar ele!"

"Bravo, Mao," aplaudiu o general. "Você é habilidoso."

"E você ainda não viu nada," respondeu cuspindo no chão.

"Essas crianças são os usuários de Link mais habilidosos do exército. São o fruto do meu trabalho e meu maior orgulho. Vamos ver até quando você aguenta."

"Se o exército de Sarkan depende de umas criancinhas, isso diz muito sobre ele," escarnou.

"NÃO OUSE FALAR ASSIM DO GRANDE IMPERADOR, SEU VERME!" Protestou o general. "Elias!"

As palmas das mãos do garoto mascarado brilharam, "Link On: Logi!", e delas saíram uma forte e fina lufada de fogo que o fez voar. No ar, apontou as mãos até o homem, e após uma densa esfera de fogo se concentrar nas suas palmas, "Ishum!" projetou uma violenta tempestade flamejante na direção do homem.

Mao pulou para trás para desviar, mas foi surpreendido outra vez pela espada do rapaz, que o visou pelas costas. "De novo?!" Segurou a lâmina pouco antes de ser cortado, e com apenas um filete de sangue escorrendo pelos dedos, a girou com força junto com o garoto e o lançou na direção da nuvem de chamas. Ele se encolheu atrás do escudo, protegendo-se do fogo, e sem querer bateu com ele na cara de seu companheiro, e os dois caíram ao chão.

O general mordeu os lábios impaciente. "O que pensam que estão fazendo, incompetentes?!" Repentinamente, algo explodiu no meio do seu pelotão. Logo, mais uma explosão, e outras duas seguidas. Dezenas foram mortos sem nem perceber, e outros muitos feridos, e quebravam a formação para proteger-se. "Mas que merda é essa? Um ataque surpresa?!"

"Não se preocupe com esses aperitivos, Mao," escutou uma voz familiar aparecendo pela estrada. "Nós tomamos conta deles." Era Silas, e de trás sua, todo o exército revolucionário, junto com Trish, o velho Yin e um outro homem barbudo de uniforme. "Se preocupe apenas com Sarkan."

"Silas!" Gritou Óli, saindo de seu esconderijo nas árvores e correndo até eles. "Eu sabia que vocês viriam."

"Não podíamos perder um dia histórico desses. Robin nos contatou após a derrota de Bishop, e viemos o mais rápido possível," respondeu sorrindo.

"Escória rebelde," o general mordeu os lábios desconcertado outra vez, e ao perceber um antigo conhecido junto de seus inimigos, se chocou. "O que está fazendo com esses vermes, Aldebaran?!"

Se referiu ao velho de pé ao lado do líder revolucionário, que também vestia trajes militares. Era Aldebaran, o general de Xbalanque. "Leorio," proclamou o general, "você sempre foi cego para as atrocidades do Imperador. Sempre tivemos nossas diferenças ideológicas, mas não importa, essa loucura acaba hoje!"

"Você se aliou aos rebeldes?!" Sua voz expressava surpresa e nojo. "Nem de você eu esperava tamanha decadência."

Xbalanque, a cidade do sul, era a maior região de todas as três e fonte de produção do império, cheia de plantações, fábricas e indústrias que alimentavam a capital e as outras cidades. Habitada por inúmeras famílias trabalhadoras e comunidades de operários, que sofriam com a exploração de recursos e os altíssimos impostos. A miséria era tamanha que era aproveitada pelos militares de outras regiões, que invadiam e roubavam constantemente as regiões mais pobres, ou cobravam tributos altíssimos por sua proteção. Aldebaran era o velho general regente dali, um homem íntegro e honroso – e grande amigo do velho Yin – que tentava proteger seus habitantes com todas as forças. Estava cansado da injustiça do império e a indiferença do Imperador, e resolvendo aproveitar a chama da esperança acendida por Mao, se uniu aos revolucionários com seu batalhão.

"Palavras são inúteis para um fanático como você," disse o velho para o outro enquanto revelava o link rosa em seu pulso esquerdo. "Como eu disse, essa loucura acaba hoje."

"Que conveniente," disse Mao se aproximando dos aliados que apareceram, "vou deixar eles com vocês então. Melhor que meu plano de matá-los de qualquer forma enquanto economizava o máximo de energia pra Sarkan."

"Bem melhor mesmo," riu com a audácia do homem que o impressionou de novo, "só vá, e deixe um pouco da diversão pra nós também," respondeu o líder revolucionário.

"Todos vocês sairão daqui mortos, escória rebelde." O general Leorio apontou para eles. "Batalhão, pelo orgulho de Quetzalcoatl, ao ataque!" E com a ordem, finalmente, todos os soldados correram na direção dos revolucionários. "Klaus, você também."

Mao fitou o garoto da espada, que se preparava para a investida. "Link On: Ares!" Ouviu ele pronunciar, e seus músculos se acentuarem em seu corpo, assim como seu olhar tranquilo queimar enquanto ele respirava ritmicamente. Aqueles olhos lhe eram nostálgicos, afinal, eram os olhos de um guerreiro em seu habitat natural.

Klaus investiu contra Mao, rápido como uma flecha, e desferiu um veloz corte vertical que o cortaria em dois. Mao bateu com as duas palmas na espada, parando-a no ar, e com toda sua força, a partiu no meio. Com o pé bem posicionado, girou o tronco e socou o garoto, que bloqueou com seu escudo, mas um impulso com o cotovelo fez o escudo quebrar, junto com o braço que o segurava, "ele quebrou meu escudo de mithril elemental?!" Indagou surpreso o rapaz, e sentiu outro forte golpe em seu estômago que o fez cair de joelhos no chão quase inconsciente.

"Você tem futuro, moleque," disse Mao. "Lute por si mesmo, e não pelos objetivos dos outros, e assim chegará bem mais longe." Se preparou e investiu contra os soldados.

"Sigam ele!" Bradou Silas. "Dessa vez o inimigo é formidável, o exército do norte e sua Elite Linker. Mas depois desse obstáculo, a liberdade do nosso povo nos espera!" E com essas palavras, o exército revolucionário, junto do batalhão principal de Xbalanque, também foi à batalha.

"Insolentes.. vou servir suas cabeças ao Imperador numa bandeja de prata!" Pensou. "Lia," ele se ajoelhou para a garotinha ao seu lado, "papai precisa de ajuda. Eu sei que você não gosta, mas por favor, mate eles pra mim!" E fez carinho em seus cabelos.

Relutante ela concordou, e revelou o cristal azul em sua garganta, pondo a mão sobre terra. "Link On: Neith.." invocou e seu Link brilhou. Logo, após uns fortes tremores que surpreenderam a todos, um furão com braços gigantes e garras afiadas saiu de um buraco cavado por ele no chão, e logo após, uma colossal girafa com pescoço e cabeça de serpente e incisivas presas em sua poderosa mandíbula, dois dos animais mais perigosos e ferozes da Floresta de Mogu. A garota possuía a benção de Artemis, Ullr, Neith e outras divindades da caça, e assim podia controlar qualquer tipo de fera do reino animal. Ainda assim, não gostava de batalhas como aquela, e preferia conviver tranquilamente com os bichos – quando era permitida – na natureza, já que sempre foi muito próxima de todo tipo de animal. A quimera girava seu enorme pescoço e o chocava contra os grupos revolucionários, dizimando como bonecos os inimigos do império, enquanto mordia com sua poderosa mandíbula a outros e os atravessava com as afiadas presas.

"Opa, esse bicho parece perigoso," analisou Mao e, enquanto a criatura arrasava um grupo rebelde, a agarrou pelo imenso pescoço e a girou no ar rapidamente, lançando-a contra os soldados do império, o que os esmagou como formigas e fez o chão tremer ao colidir com ele. Mao caiu pisando forte no corpo do animal desmaiado, e correu em direção ao castelo, enquanto a garotinha chorava ao ver seu amigo ferido.

"Onde você pensa que vai?!" esbravejou Bakara, apontando sua mão ao homem. "Link O–" foi interrompido por uma pedra que acertou sua cabeça com força, o sangue que escorreu era quase verde e viscoso. Olhou enfurecido para o culpado, era Óli.

"Eu vi seu mestre morrer com meus próprios olhos, bem louco era ele," riu o loirinho, "e agora, o meu vai mudar o mundo enquanto você só olha!" E saiu correndo.

"Desgraçado!" Uma veia saltou na testa de Bakara, e ele correu atrás do garoto.

"Deixem que passe," comandou o general, "são ingênuos se pensam que Mao derrotará o grande Imperador. Concentrem-se nos rebeldes!"

Uma pequena risada saía abafada pela máscara de gás, e as palmas das mãos do garoto revelavam dois Links hexagonais vermelhos que brilhavam enquanto ele cantava: "Link On: Apolo." Um calor extremo se concentrava em espiral num único ponto, pouco acima do pequeno mascarado, e gerava uma imensa bola de fogo que queimava incandescente e logo era jogada em seus inimigos. Mesmo sem ver seu rosto, se percebia que o garoto adorava aquilo, pois tremia de excitação e ria quase sem parar. Era um piromaníaco.

"Link On: Geb!" Uma imensa parede de pedra se levantou do chão e bloqueou a intensa explosão naquele lado do campo aberto. Era Trish, que vestia uma armadura de pedra enquanto suava após a poderosa invocação. Não é a toa que era a mais habilidosa Linker dos revolucionários. A mesma parede, que esfumaçava de quente, ela lançou de volta contra os soldados imperiais, mas apenas a viu virar pó no ar, se desintegrando.

"Não pense que vão fazer o que quiser," ameaçou Bakara. O imperador matará Mao, mas vocês sofrerão no lugar dele!" E jogou a mão ao chão outra vez, infectando-o junto com dezenas de azarados que caíram agoniazando no chão enquanto sua pele carne, sangue e órgãos apodreciam.

"Vai lá, Mao, não se preocupe que nós cuidamos daqui, tudo depende de você agora!" Torceu Óli.

Ele o ouviu, e já nas escadas de cristal diante da grande porta de entrada do castelo, Mao olhou para trás uma última vez e observou a intensa batalha. Uma vibração de excitação percorreu sua espinha. Aquele era o ápice de sua jornada, e mesmo que quisesse matar Sarkan por seus próprios motivos, era consciente do peso de suas ações e suas consequências para o resto do império. Sorrindo de canto, ele arrombou a porta com um chute e adentrou o castelo.

~ ☯️ ~

Apesar de ser enorme por dentro, a arquitetura do castelo era bem simples. Salões gigantes com esculturas, artefatos raros e obras de arte, e extensos corredores retos com várias portas que davam até as inúmeras salas de estudo, treino e experimentos do imperador, assim como muitos outros de seus interesses especiais. Não demorou para ver ao longe, no fim do corredor mais amplo e decorado, uma grande porta de madeira negra que contrastava com as paredes de cristal. Mao não pensou duas vezes e, aproveitando a aceleração, a destruiu com uma voadora.

Se deparou com um imenso salão – o castelo aparentava ser bem maior por dentro que por fora – com espessas e inúmeras colunas estruturais de cristal que subiam até o teto, que ficava à dezenas de metros de altura. Grossos cristais pontiagudos de diferentes cores e tipos formavam o que era um magnânimo trono de cristal, no qual sentava-se imponente aquele monstruoso homem, cuja silhueta mais parecia a de uma besta, a cabeça escorada em sua titânica mão, e ele sorrindo como já a anos não fazia, de orelha a orelha. Um sorriso de desafio.

Só de pôr os olhos sobre a colossal figura, memórias de um passado traumatizado fluíram como um rio e passaram como um filme instantâneo por seus olhos. Sarkan contra os bravos guerreiros dos Azai, que lutavam heroicamente pelo orgulho e sobrevivência do clã, e cada um deles sendo dizimado com cada golpe desferido pelo tirano, um por um, até não sobrar ninguém, apenas a gigante silhueta do imortal vitorioso sobre o rio de corpos.

Essa memória era a última coisa que Mao esperava que fosse surgir quando visse o soberano, e sentiu a cólera fluir por suas veias e esquentar seu sangue. Aquela raiva que nunca conseguia controlar totalmente, que o comia por dentro pouco a pouco. Agora, estava de cara com sua fonte. Flexionou os joelhos e deu um poderoso impulso na direção do imperador, que sorria enquanto levantava e acompanhava seus movimentos.

"SARKAAAAAN!" Mao gritou enquanto apontava a palma da mão esquerda pra ele e jogava a direita pra trás; girando o tronco horizontalmente e, já perto do imperador, o socava com o punho em vertical com todas as forças.

Rindo, Sarkan também desferiu um poderoso soco que chocou contra o de Mao, seu imenso punho três vezes maior que o dele, e o impacto da colisão causou uma forte onda de choque que ecoou pelo ar e nas paredes do imenso salão.

"Então ele é mais forte que eu?" Pensou Mao ao sentir seu ombro doer após o golpe, e foi empurrado com força de volta ao chão, sobre o qual deslizou de pé para trás quando alcançou. "Nada menos que o esperado. Ele não teria destruído meu clã com menos que isso." Apesar de não ser uma surpresa, era a primeira vez em sua vida que encontrava alguém mais fisicamente forte que ele, já que desde o incidente, seus poderosos instintos e intenções subconscientes lhe concediam força descomunal, removendo os limites neurológicos de seu corpo, sem nem mencionar seu próprio talento inerente.

Sarkan saltou de seu trono, e ao cair na frente dos degrais da escada que subia à ele, um tremor retumbou no salão. "Parabéns, Mao," sua voz grave e penetrante soou, "não esperava que alguém fosse capaz de derrotar o Bishop, talvez nem eu mesmo. Você sabe o trabalho que vai ser construir o próximo?!"

"Não precisa se preocupar com isso, pois você não vai sair vivo daqui hoje," respondeu áspero, mas ao mesmo tempo, não conseguia deixar de admirar a figura imponente de seu musculoso inimigo, gigântico e mastodôntico, o ápice definitivo de um ser humano com todo o tempo do mundo a seu dispor para evoluir, que parecía até mais monstro que homem.

"Hahahaha! É assim que se fala. Venha, Mao!" Provocou, "me mostre mais uma vez a grandeza dos Azai!"

Uma veia saltou na testa de Mao enquanto ele formava sua postura marcial – joelhos flexionados, mão esquerda apontando e mão direita abaixo da cintura – e, encarando o soberano, propulsou em sua direção. Em um piscar de olhos, estava cara a cara com ele, e desferiu o mesmo soco de antes ainda no ar, agora mirando em seu estômago.

"Acha que o mesmo ataque vai funcionar?" O imperador segurou o braço de Mao como se fosse um pedaço de galho, e o apertou com intenção de esmagá-lo, mas sentiu um rápido e forte chute na cara – vindo do guerreiro, que girou o corpo inteiro usando o braço preso como eixe – e cuspiu sangue. Segurando forte o desafiante, o girou no ar duas vezes e o esmagou contra o chão de cristal, chegando a rachá-lo com o impacto, e fazendo Mao grunhir de dor. "Vamos lá, eu sei que você pode mais!" O levantou ainda pelo braço e o arremessou com força pelos ares contra um dos pilares de cristal.

Mao choca de costas contra o pilar e tosse sangue. Abre os olhos e percebe Sarkan se aproximando pelo ar rápido como uma bala, e desvia de seu poderoso golpe com um ágil salto até o chão, e apenas observa enquanto o corpulento pilar de cristal se faz em pedaços e desmorona como se de cartas. "Além de forte, ele é rápido," pensou. Antes que ele caísse no chão, correu veloz para se perder de sua vista, e saltou rápido na trajetória que ele cairía, girando várias vezes no ar, e acertando-o nas costelas com um poderoso chute.

Sarkan caiu de pé no chão com a força do chute, mas o havia bloqueado com seu musculoso braço direito. Quando percebeu, se defendeu de vários cacos de cristal que foram lançados – ainda no ar – na sua direção por Mao, e dois deles atravessaram sua pele e afundaram em sua carne. O sangue escorreu de seu braço, e o imperador o fitou com uma mescla de surpresa e animação expressada em seu rosto.

"Sim! Era isso que eu estava esperando!"

Esperou o desafiante cair no chão e saltou alto na sua direção com as mãos pra cima, caindo pesado e descendo-as rapidamente sobre a cara do homem que foi obrigado a que bloquear o golpe com ambos os braços – cruzados um sobre o outro – sentindo até seus ossos vibrarem, e ainda assim a potência do ataque afundou seus pés no chão sólido que trincou. Com dificuldade, ele retribuiu com uma intensa patada no estômago do imperador, que cambaleou para trás, e pulou ligeiro, acertando um gancho em sua mandíbula e propelindo com o cotovelo de baixo pra cima, o primeiro de seus golpes que conectou efetivamente, e lançou o tirano pelos ares.

"É minha chance!" Arqueou os joelhos e saltou com força, preparando um poderoso chute mirado em seu plexo solar de baixo pra cima, mas foi surpreendido pela recuperação instantânea do imperador, que agarrou sua perna com força – fazendo-o gemer de dor, já que era sua perna ferida – e, após voltear no ar uma vez, o arremessou com toda sua força no chão, que estourou em inúmeros pedaços de cristal e deixou um pequeno rombo ali, enquanto Mao rangia os dentes para aguentar a dor.

Percebeu e rolou para o lado ao ser surpreso pela imensa perna que caiu como uma guilhotina e destruiu ainda mais o chão, se distanciando com um mortal para trás. "Mesmo sendo mais forte que eu, seus golpes não são mais pesados que os de Bishop," analisou enquanto desviava com dois passos ao lado de outra investida do monarca que ria, "consigo acompanhar seus movimentos, e sou mais ágil." Viu o imperador rapidamente voltear o corpo e golpeá-lo com as costas do braço, então agarrou-o firme com as duas mãos e subiu um forte joelhaço em um nervo central, que fez Sarkan rugir de dor pela primeira vez.

"AGH! Desgraçado!" Sarkan flexionou seu bíceps e enrijeceu o músculo, desprendendo-se do agarre de Mao bruscamente e fazendo-o cair ao chão. Aproveitou esse tempo para girar a cintura e chutá-lo com força no ar, num ligeiro pontapé que acertou em cheio suas costelas, o fez voar longe e bater contra a longínqua parede no outro lado do salão. "Hehehe, impressionante," disse esfregando no ponto golpeado do braço, "mas sei que isso não é tudo que você tem."

Mao saiu de dentro do buraco na parede que o impacto causou, ofegando. Já mais calmo, em sua mente surgiam um turbilhão de pensamentos que o deixavam inconfortável de uma forma que nunca sentiu, como se tivesse algo preso em sua garganta que lhe incomodava, que sempre lhe incomodou mesmo sem ele se dar conta. E com certa hesitação, "Sarkan!", ele bradou alto. "Os Azai.. minha família.. por que você matou minha família, miserável?!"

"Por quê?" O temível respondeu em tom de escárnio. "Exatamente para esse momento! Não está claro?!" Ele riu para o alto. "Essa emoção, essa adrenalina que só pode ser adquirida em uma batalha feroz, até a morte, isso é o que eu busco, esse sentimento! E você é o resultado, Mao. Sua sede de vingança o trouxe até aqui, e te dizimar como fiz com seu clã vai ser a melhor sensação de todas!" Seus olhos arregalavam em ansiedade. A glória do imperador se via deturpada em seu frenesí.

Mao fechou os olhos, claramente aflito ao descobrir o verdadeiro motivo do massacre de seu clã. "Não adianta remoer o passado nessa altura do campeonato," ele percebeu. Afinal, nada havia mudado, seu objetivo ainda era o mesmo. De certa forma, até entendia o que Sarkan queria dizer, mesmo repugnando-o. O prazer da batalha também não lhe era desagradável.

"É aí que você se engana," disse enquanto limpava a calça de pedacinhos de cristal, "o que me trouxe até aqui não foi minha sede de vingança," tirou a longa parte de cima de suas vestes marciais, sem camisa, e separou as pernas, "o que me trouxe foi minha sede de tudo!" O cristal cinza cravado em sua mão direita brilhou intenso e ele proclamou com todo o ar que restava em seus pulmões: "Link On: MAO!"

Sarkan se impressionava com a intensa energia que emanava do corpo do homem – era versado no conhecimento hermético da visualização áurica –, e a forma como seu corpo contraía ao limite, involuntariamente, todos os músculos de seu corpo ao mesmo tempo, destravando todas as suas barreiras físicas de tal forma que até sua postura se inclinava pra frente, sem controle. Mesmo naquela distância ele conseguia sentir a pressão emanada pela atmosfera do novo estado alcançado pelo guerreiro, que agora também lembrava uma fera.

Todas as expectativas de Sarkan foram superadas, e ele riu em toda sua glória. "SIM, MAO! SIM! Em dois séculos de experimentos com o Link, você foi o primeiro a descobrir como usá-lo corretamente!" Os dois braceletes nos pulsos de Sarkan, rodeados por cristais negros triangulares, começaram a brilhar opacos. "Chega de palavras, apenas venha!"

Em um piscar de olhos Mao desapareceu da vista do imperador, e logo este sentiu um intenso impacto nas costas que afundou dentro de sua pele até os fortes músculos, penetrante como uma garra. Desceu o cotovelo contra o braço do guerreiro, mas este somente se distanciou e desapareceu com um salto, dando voltas no ar e acertando um avassalador chute na cara de Sarkan, que o atingiu desde o pescoço até o rosto, e o fez cair de cara no chão.

O tirano levantou a cabeça e buscou seu oponente, mas este desaparecera outra vez, e quando menos esperou, viu sua perna cair forte como um cometa em seu estômago, imitando a guilhotina de antes, e tossiu de dor. Sentiu sua cabeça ser agarrada no forte aperto da mão direita de Mao, que propulsou com passos fortes seguidas vezes no chão, correndo e arrastando em alta velocidade o corpo do grande imperador pelo solo de cristal, aumentando a aceleração que já chegava a distorcer o ar com a propulsão de cada intenso passo, até chegar no outro canto do imenso salão e colidir a cabeça de Sarkan contra sua parede, causando um grande estrondo que a fragmenta por inteiro e quase faz o castelo colapsar.

Mao retira sua mão afundada no cristal e se distancia do corpo de seu inimigo. Aquele era possivelmente o ataque mais poderoso que já havia desferido em sua vida – tanto que queria até nomeá-lo epicamente – mas tinha o pressentimento de que não fora suficiente contra o monarca, e ele levantaria. Dito e feito. O cristal se rompe somente com o esforço de Sarkan se levantar para sair dali, revelando o rosto ensanguentado e uma expressão difícil de discernir entre fúria e diversão.

"Magnífico," disse tremendo. "Você não sabe o quanto esperei por isso!" Formou um martelo com as mãos pra cima, e as bateu impetuoso contra o chão tão forte que tremulou todo o salão – mas a onda de choque se concentrou em um único ponto à sua frente – e fez o chão de cristal trincar e subir violentamente como uma rápida fissura na direção do guerreiro.

Mao desviou facilmente da onda tectônica, mas foi surpreendido por um maciço pilar de cristal que saiu dela como uma flecha e o acertou com força no estômago, levando ao limite a contração de seus rígidos músculos abdominais recém curados e fazendo-o cuspir sangue enquanto o arrastava pelo chão rapidamente. Conseguiu escapar da trajetória – se agarrando e subindo no pilar – quando estava prestes a ser esmagado contra outra das imensas colunas.

Sarkan era capaz de manipular, através de seus movimentos e intenções, suas estruturas de cristal. Inspirado por um certo psíquico que viu em ação mais de um milênio atrás, almejou o controle mental sobre a matéria e treinou essas habilidades, mas nunca fora proficiente nelas mesmo com suas duradouras pesquisas herméticas e desenvolvimento psíquico, tinha facilidade com outras. No entanto, enquanto estudava a natureza dos cristais, percebeu que sua estrutura molecular era geométrica, perfeita e consistente, e isso fazia com que, além de propagar energia muito mais eficientemente, fosse mais fácil de serem manipulados. Isso o levou até sua fórmula alquímica de cristalização e muitas outras tecnologias ocultas, assim como seu controle psíquico sobre estruturas cristalizadas, que apesar de limitado, foi extremamente potencializado pelo uso do Link.

Com os dedos e pés agarrados no pilar de cristal, Mao se jogou contra o imperador, com os braços pra trás e intensos e distanciados passos em sua disparada. Tamanha sua velocidade, quase desaparecia da vista do imperador, que rapidamente calculou sua trajetória e o socou quando estava em seu alcance.

Já cara a cara com ele, desviou de seu golpe com um pequeno salto rodante, e apoiou as mãos em seu braço, impulsionando forte e chutando com os dois pés na cara de Sarkan, que revidou com uma cabeçada e aguentou o poderoso chute. Tentou agarrar o guerreiro ainda no ar, mas esse usou a própria testa do imperador pra desviar com um salto e cair de novo sobre o chão sobressalente.

Sarkan correu até Mao, três de seus gigantescos passos eram suficientes pra alcançá-lo, e rotando o corpo, desferiu um poderoso cruzado. Mao o bloqueou com o braço esquerdo, apoiando um pulso no outro, mas sentiu seu braço quase ser esmagado – mesmo com o Link ativo – tamanha a força do golpe do imperador, claramente mais poderoso que antes.

"Só pode ser o Link," pensou. Desviava dos golpes de Sarkan que desferia soco após soco cada vez mais rápido, com dificuldade, sem poder fazer movimentos sutis graças ao enrijecimiento de seus músculos contraídos pelo Link. Saltava de um lado pro outro, para trás e abaixava a cabeça. O desumano tamanho dos punhos de seu inimigo também não ajudava enquanto rasgava o ar tamanha sua força.

Viu o imperador pisar forte no chão, e outra onda sísmica se projetou em sua direção. Já preparado, saltitou para o lado e escapou do rápido pilar de cristal que cresceu do chão mirando seu queixo. O que escapou sua atenção foi Sarkan ao seu lado, girando rapidamente o corpo todo e o acertando nas costas com a parte de trás do braço, estalando sua coluna e esmagando-o contra o pilar.

Mao aguentou como pôde e flexionou os braços na coluna, destruindo-a com a força de seu agarre. Aproveitando a posição de braços cruzados, agarrou os dedos do grande punho de seu inimigo com a mão direita e o puxou, utilizando sua própria força para fazê-lo perder o equilíbrio, e logo esmagou a junta de seu braço contra seu cotovelo por cima e joelho por baixo, o que quebrou seu osso naquele ponto e fez Sarkan urrar de dor.

Sarkan agarrou a perna esquerda do guerreiro com esse mesmo braço, e com facilidade começou a girar várias vezes no mesmo ponto, aumentando cada vez mais a velocidade e a pressão. Só a força centrífuga fazia o corpo inteiro e os músculos de Mao esticarem ao seu limite, e sua perna esquerda ser esmagada ao ponto de seu osso rachar. Sarkan o lançou com força na direção de outra das imensas colunas, quase perdendo o balanço no fim.

Mao voou como um projétil, mas com seus avançados reflexos conseguiu pousar no pilar primeiro os dedos, logo as mãos e pés, e amorteceu seu choque contra ele distribuindo a força do impacto por toda sua superfície, se segurando ali como uma aranha.

Viu o monarca ir até outra das colunas e golpeá-la levemente, o que a fez rachar em linha reta, e com força, a arrancou de seu lugar enquanto sorria mostrando os dentes, o que fez o castelo tremer. Mao suou frio e saltou dali rápido ao ver o imperador balançar a imensa coluna – de dezenas de metros e grossa como um tronco – na sua direção, golpeando-o com ela como um bastão de baseball, fazendo-o saltar na direção de outra pilastra e destruindo inconsequentemente o lugar inteiro.

Com um impulso, fez o mesmo e se deslocou até outro dos pilares, e até outro, sempre desviando dos golpes de Sarkan que quase demolia seu próprio castelo enquanto mirava o guerreiro com o pilar em mãos. Calculando sua trajetória, chegou a acertá-lo em cheio, mas graças ao imenso tamanho da coluna, este conseguiu pousar sobre ela e escapar dali com outro impulso. Logo, já não estava mais deslocando de coluna em coluna com intenção de esquivar-se, e sim contornar o lugar e o imperador, aumentando cada vez mais a velocidade até se perder de sua vista, como um vulto que se movia veloz quicando por todo o imenso salão.

"Foi a segunda vez que ele passou pelas minhas costas," percebeu Sarkan enquanto analisava cautelosamente os rápidos movimentos do guerreiro. "Na terceira ele me golpeará," riu. "É sempre na terceira. Humanos, tão previsíveis," e se preparou. Mao apareceu rápido e repentino nas costas do imperador, como ele previu, e foi surpreendido por uma cotovelada sua, mas a desviou abaixando a cabeça e o tronco inteiro. "Ele leu meus movimentos?!" Se espantou o tirano.

Aquela era a posição perfeita, e Mao chegou a sorrir arrogantemente. Seu corpo flexionando, os pés girando rapidamente junto com o tronco, e o braço direito subindo intenso de sua cintura até o corpo do outro, tamanha sua intenção e força que finalmente conseguiu fechar o punho por inteiro – esticando ao máximo as fibras de seus músculos que quase partiam-se – e acertando um poderoso soco no fígado do bestial imperador, cujo corpo chegou a retorcer enquanto seus olhos reviravam de dor e quase perdia a consciência. Mao jogou com força o braço pra cima, e o corpo contorcido de Sarkan foi lançado pelos ares.

"Agora você não me escapa!"

Mao respira fundo e arquea os joelhos, saltando na direção do imperador com toda sua força. Estava preparado para sua recuperação aérea, e apontou a mão esquerda para ele.

Sarkan o encarou estupefato – quase admirado pelo guerreiro. Jogou o peso de seu braço direito pro lado e recuperou o equilíbrio no ar, e quando o viu se aproximar, o socou com todas as forças.

Com as costas da mão esquerda, Mao contornou calmamente o imenso punho do monarca e mudou a trajetória de seu golpe, e com sua mão direita aberta como uma garra – já não conseguia mais cerrá-la – golpeou forte no peito de Sarkan, que estufou os músculos do tórax para aguentar o impacto, mas o choque quase fez seu coração parar e ele ofegou.

"Esqueceu, miserável? O movimento mais básico do estilo dos Azai é o impulso dos músculos!" Ele alinhou o ombro com o braço e propulsou com força com o corpo inteiro, ombro, braço e cotovelo, e atravessou o peito do imperador, que o encarou surpreso, abruptamente. Sentiu seu grande coração palpitar em suas mãos, e sem hesitar, o arrancou de seu corpo.

Viu suas mãos ensanguentadas segurando o órgão – várias vezes maior que o normal – que ainda batia vividamente. O que não viu foi a mão esquerda do imperador descendo forte e dando contra seu pescoço, quebrando sua clavícula e lançando-o de volta ao chão tão rápido como subiu.

Com o choque repentino, soltou o coração no ar, e este foi segurado com cuidado pelo soberano, que afundou o órgão em seu próprio ferimento no peito e o colocou de volta onde estava, posicionando-o cautelosamente enquanto começava a cair com a força da gravidade. Esticou as pernas e abriu os braços, aumentando ainda mais a velocidade da queda, e caiu com todo seu peso e força em cima do corpo do guerreiro, que sentiu todos os músculos de seu corpo, já contraídos ao máximo pelo Link, estourarem e rasgarem como um balão.

Mao não teve forças nem pra gritar. O brilho do cristal em sua mão se apagou, e ele não conseguia mais se mover.

Sarkan saltou apressado e ofegante até seu trono, e de trás dele sacou um pequeno frasco, cujo líquido branco despejou pelo buraco em seu peito, e uma estrutura cristalina se formou ali. "Por enquanto isso resolve," disse com dificuldade e suspirou. "Essa foi por pouco," pensou enquanto a memória nostálgica e milenar de seu despertar vinha em sua mente, "seria irônico morrer assim depois de todo esse tempo."

Ele olhou para o corpo do guerreiro atirado no chão, sangrando por todos os orifícios, e uma onda de deleite emergiu por sua espinha. A adrenalina que antes o movia agora fazia seu coração recém colocado bater rápido como nunca, sua espinha tremer e os pelos de seus braços ouriçar. Aquela sensação, aquela euforia.. aquele sentimento era realmente o que buscava, além de conhecimento, já faziam muitos séculos. Quando se é imortal, as vezes chega o ponto em que poucas coisas realmente te entretém, te movem como nunca antes. Era assim que ele se sentia agora, seu dilema emocional saciado, e levantava os braços aos céus em êxtase.

"MAO!" Ele gritou deslumbrado. "Eu te agradeço! Este encontro será inesquecível, e esse sentimento certamente insuperável pelos séculos que virão! Os Azai se mostraram oponentes formidáveis até seu final."

Enquanto isso, Mao escutava apenas um ruído soar ao longe, abafado como se estivesse dentro de uma caixa d'água, e o único som nítido que percebia era o de sua própria respiração fraca. Sua visão completamente embaçada pouco via, e não sentia nada que não fosse dor por todo seu corpo, por dentro e por fora, como se mergulhasse em uma banheira de ácido. Seus sentidos estavam totalmente destroçados, a sombra do que eram alguns instantes atrás, e o único que mantinha sua consciência desperta eram seus poderosos instintos, sua incrível tenacidade.

A dor o fazia sentir seu corpo inteiro, seus órgãos, seus ossos e músculos rasgados. A forma como o sangue corria pelas suas veias e artérias, como escorria pelos ouvidos, nariz e boca, como o ar enchia seus pulmões tão debilitados que quase nem se percebia. Era uma experiência interessante, apesar de sofrida e brutal, que o fez tomar consciência de seu próprio corpo, de seu interior.

Com seus sentidos debilitados e sua perspectiva distorcida, naquele momento, ele era pura consciência e intuição. A incapacidade de se mover e seus músculos destruídos fizeram ele relaxar completamente, contra sua poderosa vontade, até aceitar.

Ele se lembrou de sua luta com Bishop, mais precisamente o instante em que desferiu a Palma Vazia, uma das técnicas secretas de seu clã. "É verdade," seus pensamentos fluíam inconscientemente, "em todo esse tempo, eu nunca fiz jus aos guerreiros do meu clã."

O estado de consciência alcançado graças à súbita aceitação fez com que memórias ancestrais presas em sua genética surgissem de seu mais profundo subconsciente, e o surpreendessem como uma torrente de informação epifânica. O estilo marcial dos Azai, assim como as antigas tradições asiáticas, estudavam a fundo os movimentos da natureza, dos animais e paisagens, e os aplicavam em suas artes marciais, sentindo com o próprio corpo o fluxo energético natural e imitando-o. A sintonia absoluta entre corpo, mente e espírito, isso era o que criava o guerreiro definitivo.

Mao percebeu que utilizava apenas um dos elementos dessa trindade fundamental: o corpo. Sua ambição sem fim o cegou para qualquer outro tipo de reflexão, e por isso seu espírito nunca esteve em paz, mesmo que este conhecimento estivesse dentro dele todo esse tempo.

A dualidade universal está presente em todas as coisas. O que faz o frio ser frio e o calor ser calor é apenas a perspectiva biológica humana e sua anatomia, mas na verdade são apenas diferenças numéricas de graus em uma mesma escala, a qual outros seres vivos sentirão de forma totalmente diferente. Assim como luz e trevas se definem como presença ou ausência de claridade, mas não deixam de ser uma única coisa, o tudo e o nada fundamentalmente são iguais, já que sem um conceito prévio do que é o nada, não conseguiríamos nem ao menos conceber o que é o tudo. O caos e a ordem. O vazio e a forma. O bem e o mal. O masculino e o feminino. O amor e o ódio. O corpo e a mente. O Yin e o Yang. Mesmo diferentes em polaridade, essas dicotomias universais não passam de diferentes partes de um mesmo processo, apenas em distintas intensidades. Uma dualidade fundamental que tudo define através de seu contraste e sublime nuância.

Mao sentia uma vibração forte emanar desde a base de sua coluna e subir com força até a coroa de sua cabeça, concentrando-se na testa entre os dois olhos, e espalhando-se pelo corpo inteiro como um calor que percorria suas veias com intensidade. Uma energia primordial que sentia surgir de dentro de seu mais profundo ser, mas que ao mesmo tempo se mesclava com o ambiente e tudo ao seu redor, indiscriminadamente. "Esse sou... eu?" Ele indagou enquanto notava essa energia vital emanar de todos seus poros, e inundar todos seus chakras e nadis.

A manipulação da energia vital, ou Qi, era a outra face oculta do estilo marcial dos Azai, aperfeiçoada apenas pelos seus maiores mestres. "O corpo e a mente," ele refletiu. Sentir a intensa energia que o manifestava neste plano físico lhe revitalizou de certa forma, e mesmo com os músculos destroçados, pouco a pouco, ele tentava se levantar, concentrando essa mesma energia vital em suas pernas e braços. Agora que era capaz de sentí-la, controlá-la era questão de intenção.

Ele nem percebeu, mas sua Faísca do Destino havia despertado junto com o conhecimento ancestral de seu clã.

"Inacreditável," Sarkan o encarou boquiabierto. "Você é mais formidável do que eu imaginava, Mao." O imperador desceu as escadas de seu trono calmamente enquanto encarava o corpo fraco do guerreiro se levantando aos poucos. "Com certeza é merecedor do meu respeito."

Enquanto escutava ao longe passos abafados vindo em sua direção, Mao apoiava todo seu peso na perna direita – já que a esquerda já estava em fragmentos – e se colocava de pé por fim.

"Que sensação mais estranha," pensou enquanto tentava se localizar no salão, mesmo sem conseguir ver um palmo à sua frente, "meu corpo já não aguenta mais, sinto como se fosse cair a qualquer momento," escutava passos na sua direção, mas eram tão abafados que sua perspectiva de distância já não estava, "então de onde vem essa vitalidade? Essa energia que me transmite vigor? A sinto aflorando dentro de mim.. mas ela realmente faz parte de mim?" Sentia como se seu ego rompesse pouco a pouco, e as barreiras físicas se desfizessem. "Não sinto onde começa ou acaba meu corpo."

Sarkan percebeu o desnorteamento de Mao, que tremia em angústia dos pés à cabeça. O próximo golpe, não importa o quão leve fosse, seria o suficiente para matá-lo. Tanto o imperador quanto o guerreiro eram conscientes disso. "Foi bom enquanto durou, mas essa batalha acaba aqui."

Os suprimidos passos agora se apressaram e o imperador corria impetuoso, rápido e pesado como um rinoceronte, na direção do guerreiro debilitado. Não percebeu reação alguma vir dele, então simplesmente contraiu os músculos do braço direito e desferiu um poderoso cruzado.

Mao pouco via e ouvia, mas uma nova sensação estranha lhe surgiu com a rápida aproximação do imperador, conseguia sentir sua presença, como um calor que tomava forma no espaço e se movia uniformemente. Com a mais pura intuição, ele deslizou a perna direita pra trás, apoiando seu peso nela, e deixou o corpo cair de leve, fazendo o imenso punho de seu inimigo cortar o ar sem ele nem perceber. Automáticamente, a memória celular de seu corpo o fez devolver um soco nas costelas de Sarkan, mas toda sua descomunal força de antes agora fora substituída por uma intensa concentração energética em seu punho, e o golpe acertou o soberano antes mesmo dele perceber.

"Você ainda pode se mover?" Perguntou claramente surpreso, "mas um ataque fraco assim não vai ser o suficiente pra me parar. Desista agora, grande guerreiro." Desferiu mais dois socos que foram igualmente esquivados, de uma forma tão sutil que nem parecia ser o guerreiro a comando de seu corpo. "Ele parece estar se movendo subconscientemente," pensou o imperador, e nesse momento, sentiu uma forte pontada em suas costelas, como um estouro interior que o chocou e o impediu de se mover por um instante.

Ele saltou pra trás e cambaleou ao ficar de pé. "O que é isso?" Ao observar melhor o homem, que tomava sua postura marcial, percebeu que seu corpo não apenas emitia, mas também absorvia toda a energia ao seu redor, a transmutava e a concentrava em pontos específicos do corpo. "Ele está manipulando o próprio prana do ar?" Se questionou ao se lembrar que alguns dos mestres Azai fizeram o mesmo, mas nenhum havia chegado naquela escala de controle. "Não tenho noção do dano que um ataque desses pode causar. Muito interessante, na verdade, mas justamente por isso tenho que te matar agora."

O que parecia uma atmosfera amistosa instantaneamente se intensificou com aquelas palavras. Sarkan vestia no rosto um olhar assassino e um sorriso agressivo. Mao sentiu claramente a diferença no ambiente, e se preparou como pôde. O tirano afundou os dedos das mãos no chão de cristal com o melhor agarre possível, mirou o guerreiro e, veloz como um disparo, se jogou em sua direção, para acertá-lo como um projétil em cheio com seu imenso ombro.

O impacto seria mais que suficiente para matá-lo, e Mao sentiu a morte tocar na sua porta, aparecer ao seu lado rápida e indescritível. Fez fluir sua energia para a perna direita e apoiava todo seu peso nela enquanto a flexionava ao máximo, e esticava completamente a perna esquerda, movendo-se pra trás, tocando o chão com quase todo seu corpo e desviando completamente da investida do imperador, que chegou a passar por cima dele e cuja presença e posição sentia clara como água.

"Impossível, ele ainda pode se mover assim nesse estado?!"

A energia vital que cobria sua perna instantaneamente fluía até seu braço direito enquanto ele a esticava com toda a força que lhe restava e dava de cara com Sarkan mesmo sem poder vê-lo, poucos centímetros de distância acima. Não apenas a da perna, mas a energia de todo o seu corpo fluía por seus canais energéticos rapidamente até seu braço, deixando-o pálido, mas em seu rosto a expressão era mais vívida que nunca.

"É tudo ou nada, Sarkan! Esse golpe trará paz pro meu clã e pro mundo! Então aperta os dentes e sente bem!"

A primordial energia kundalini que constituía seu corpo físico, cada célula, cada átomo, cada fibra que emitia sua própria vibração, a poderosa energia manifestada de todas as dimensões superiores até este plano físico, era totalmente concentrada naquele punho, que subiu o mais rápido que seu corpo permitiu, e acertou em cheio no peito do tirano o forte soco. "Impacto Psíquico!" Gritou o guerreiro e, alinhando o ombro com o braço e o corpo, impulsionou com toda a força que lhe restava, e o punho em vertical rachou o cristal que protegia o peito do imperador e afundou em sua pele.

Sarkan sentiu o calor extremo se espalhar desde seu peito até todo seu corpo, e sentiu o chakra de seu coração ser totalmente pulverizado com a energia fulminante, que logo fez o mesmo com todo seu corpo energético. O cristal que espalhou por seu peito absorveu até certo ponto essa energia, mas chegou ao seu limite e explodiu em seu corpo físico devido tamanha intensidade, e a força daquele impacto energético o lançou pelos ares até chocar com o teto de cristal – já danificado pela batalha – e o atravessou completamente, revelando o céu azul e os galhos da árvore-mãe.

Deslizando lentamente pelo teto, Sarkan olhou para o céu e as nuvens enquanto sentia sua mente fraquejando, e um certo vazio lhe preenchia.

"Não acredito.. depois de tudo isso.. esse é meu fim? O fim do grande Sarkan?" Com seu sistema energético destruído, as sensações físicas lhe escapavam enquanto seu corpo colossal caía e deslizava sobre o teto pontiagudo de cristal. "Talvez.. talvez.. seja melhor assim."

Sarkan sentiu sua vida, pouco a pouco, esvair de seus dedos.

Era o fim de seu milenar e absoluto comando sobre os humanos.

"Será que foi o suficiente?" Se perguntou Mao enquanto observava a figura embaçada de seu punho que se abria. "Só pode ter sido. Só pode.."

Já sem forças para se mover, falar, respirar ou até mesmo pensar, com suas energias vitais totalmente escassas e a cara pálida, ele caiu de joelhos no chão, logo de cara, e perdeu a consciência com um sorriso no canto da boca. "Sarkan, seu miserável.. foi uma boa luta."

~ ☮️ ~

Fora do castelo, a guerra continuava implacável.

O sangue escorria, as lâminas se chocavam e os gritos de dor e raiva ainda ecoavam pelo ar. As forças revolucionárias lutavam bravamente contra o exército do norte e sua elite Linker. Poucas horas haviam passado, mas as perdas já eram imensas para ambos os lados.

"Ao ataque, homens!" encorajava o general Leorio, "O grande imperador conta com nossa força!"

"Nossa liberdade está ao alcance de nossas mãos! Estamos mais perto que nunca, irmãos!" Silas fazia o mesmo.

"Olha lá! O que é aquilo?!" Um dos soldados apontou para o telhado espinhoso do castelo, e poucos voltaram seu olhar até ali.

Um imenso vulto deslizava pelo teto de cristal, desde sua superfície até o chão. Caiu pesado na frente do castelo, o que causou um tremor sentido por todos os surpresos, e rolou escada abaixo até alcançar o campo de batalha. Os soldados observaram a cena incrédulos, e os olhos do general Leorio se arregalaram em desespero ao perceber a identidade do colossal corpo. Não havia dúvida alguma.

"N-não pode ser.. impossível.." Ele se aproximou com passos falsos do corpo, enquanto balbuceava: "g-grande imperador Sar-" e foi interrompido por uma espada de lâmina vermelha que atravessou seu peito e o queimou por dentro. "I-impo-"

"Essa guerra acabou, Leorio," proclamou Silas enquanto retirou sua espada do peito do general e empurrou seu corpo já sem vida ao chão. "Ouviram isso, companheiros?" Limpou sua espada na cintura e a levantou ao alto, em um momento que seria relembrado por muitas gerações por vir. "ESSA GUERRA ACABOU! MAO CONSEGUIU! É O FIM DO IMPÉRIO DE SARKAN!!"

Os revolucionários comemoravam enquanto a batalha silenciava aos poucos, e os soldados imperiais abaixavam suas armas.

"Finalmente!"

"Graças a Deus!"

"O inferno acabou.."

Muitos gritavam em euforia, outros choravam pelo fim de uma era de trevas, mas por todos passou o mesmo sentimento de alívio e alegria. De por fim se libertarem das correntes que tanto os causavam sofrimento, os prendiam sem esperanças para o futuro. Os soldados do império não tiveram outra escolha que soltar suas armas e abaixar a cabeça, muitos deles até genuinamente feliz com o resultado da batalha, pois vivenciavam em primeira mão os horrores do exército.

"Ele conseguiu.. ele realmente conseguiu.. MAOOOOO!" Óli gritou aos céus e chorou com os braços pra cima. "Obrigado. Muito obrigado!"

"Q-quem vocês pensam que são pra baixar a guarda na minha frente?" Disse com raiva Bakara, o pequeno mestre voodoo. "Link O-" Mas foi interrompido por Klaus, que pousou a mão em seu ombro.

"Acabou, Bakara," ele disse, e o outro relutantemente aceitou.

"Não consigo acreditar que alguém realmente conseguiu vencer Sarkan," ofegou Aldebaran, ferido em batalha.

"É verdade, Mao!" Óli saltou, limpou as lágrimas e correu o mais rápido que pôde até o castelo, subindo as escadas. "Ele ainda deve estar lá dentro!"

Silas, Aldebaran e o velho Yin o acompanharam logo em seguida.

Ao entrar no castelo, perceberam que sua superfície cristalina estava rachada em quase todas as paredes. A força bruta dos golpes dos dois guerreiros quase colapsou o castelo inteiro, e eles se impressionaram. Mas não tanto quando, ao final do longo corredor central, adentraram no salão principal, onde ficava o trono de cristal. Apenas observar o estado do lugar os deixou boquiabiertos.

Inúmeras colunas espessas e rígidas, com várias dezenas de metros de altura até o longínquo teto, totalmente destruídas, outras jogadas pelo chão. As paredes trincadas como se fossem quebrar a qualquer momento, quase sem conseguir suportar seu próprio peso. Até no próprio chão se viam algumas fissuras, ou crateras. Mas ainda assim, o ambiente do lugar era solene. O silêncio preenchia, e apenas o barulho do vento entrando pelo buraco no teto e ecoando pelas paredes transmitia certa calma, certa paz. Como a calmaria após a tempestade.

No meio da cena, contrastante ao clima imperturbável, estava o corpo de um homem deitado sobre uma poça de sangue.

"Ali está!" Apontou Óli e foram correndo até ele.

"Meu Deus do céu," chocou-se Silas.

"Ele.. está vivo?" Perguntou o general Aldebaran.

"Sim! Ele com certeza está!" Disse Óli enquanto retirava de sua bolsa verde suas ervas medicinais e as bandagens, mas sinceramente, nem sabia onde começar.

A pele retalhada de Mao revelava seus músculos rasgados, que sangravam por todo seu corpo. Sua perna esquerda totalmente fragmentada, com o osso quebrado em múltiplas diferentes partes. A clavícula quase exposta estava, e se notava o inchaço roxo no pescoço. Mas o mais estranho era que parecia totalmente pálido, fraco. Não pela perda de sangue, mas sim por sua expressão. Para os olhos de Óli, que já estava acostumado a tratar dos ferimentos do guerreiro, era uma situação desesperadora.

"Ele perdeu completamente sua energia vital," comentou o velho Yin. "O movimento dos chakras em seu corpo energético é fraco, completamente diferente de quando o vi antes. É a primeira vez que vejo isso acontecer," disse. "Apenas imagino como foi essa batalha.

"E-então, o que faremos?!" Perguntou Óli assustado.

"Temos que alimentar o corpo energético de Mao o mais rápido possível," respondeu sério o velho. "Felizmente, conheço as artes ancestrais do Reiki, e posso ajudar. Talvez tenha maneira de salvá-lo."

Com um olhar de determinação, Óli começou o tratamento. Com a ajuda do velho Yin, que também era um grande curandeiro, estancou o sangue e espalhou sua loção pelos maiores ferimentos do homem, costurou, atou forte bandagens e engessou sua perna esquerda com um tipo de barro energizado com a benção de Asclepius. Enquanto isso, o velho Yin movia as mãos em círculos por cima do corpo em tratamento do homem, manipulando tanto o prana do ambiente quanto a escassa energia vital que restava no corpo do homem, fazendo pouco a pouco seus chakras energizarem e voltarem ao seu funcionamento, em um processo que durou horas. Até o general Aldebaran ajudou, e honrado em fazê-lo, usando seu Link com Ganesha e a habilidade de manipulação de sorte.

Quando já estava estabilizado, voltou a respirar constantemente, e o alívio foi notável no semblante dos presentes.

"Finalmente," ofegou Óli, "é a primeira vez que vejo o Mao desmaiado, quem dirá nesse estado. Espero que ele acorde logo."

"Bom, vamos levá-lo daqui," propôs Aldebaran. "Nosso salvador merece descansar em um lugar apropriado."

"Não sei se ele ia gostar de escutar isso," riu Óli. "Mas vamos, rápido."

Silas segurou com cuidado o corpo desacordado do guerreiro em suas costas, sorrindo e acenando com a cabeça em agradecimento, e então, os cinco saíram do castelo.

Quando suas silhuetas foram vistas saindo pela grande porta, em cima das escadas, os gritos de celebração foram escutados, palmas e assobios, muitos louvando o nome de Mao, outros a própria liberdade.

A história do que foi feito com essa liberdade, a ascenção do ser humano e o início de uma longa e próspera era de paz e liberdade, empatia e união, fica para outro dia.

~ ✝️ ~

Em um dos quartos do grande hospital da capital de Vedas, no meio de todo o tumulto causado pelos nativos incrédulos da cidade, Mao descansava. Uma semana havia passado desde a invasão ao castelo, mas mesmo que o homem estivesse já fora de risco de vida, ainda não havia acordado, e tampouco havia alguma previsão. Havia apenas esperança. E uma perna esquerda manca. Com uma pitada de tendões da mão direita despedaçados.

Nos primeiros dias, muitos o visitaram, o fizeram companhia, mas já uma semana depois, graças aos inúmeros afazeres que os mantinham ocupados, apenas Óli continuou aparecendo todos os dias, e ocasionalmente o velho Yin.

Agora, para a grande surpresa de Óli, uma semana depois, na sua oitava manhã de visita seguida, "ué, onde ele está? Mao?"

Mao havia desaparecido.

Uma grande busca foi feita, mas não foram capaz de encontrar vestígio algum do grande guerreiro. Ele havia sumido totalmente, sem deixar rastros. Até suas vestes, que haviam sido recorridas do castelo, haviam desaparecido. O acontecimento então foi dado como um mistério, que perdurou por séculos, e deu início a inúmeros rumores e lendas.

Lendas sobre o homem que libertou a humanidade das garras de um tirano milenar, e se foi como o vento.

"No fundo, eu sabia que isso aconteceria," disse Óli a Silas, após uma grande conferência de assuntos públicos, apoiado em uma grade e observando o anoitecer da grande capital de Vedas, "sei que agora mesmo, Mao continua seu caminho, e vai chegar até onde mais o necessitem."

"Esperemos que sim," sorriu Silas.

"Foi graças a ele que o mundo mudou. Mas será graças a nós que ele evoluirá. Todos nós. Essa foi a tocha que Mao nos passou, mesmo que ele nem quisesse isso no fim," riu.

E assim acaba a história de Mao nesta era, neste planeta. O misterioso guerreiro que surgiu do nada, libertou a raça humana das poderosas garras que a prendia, e desapareceu.

Mal sabia Óli que, alguns milhões de anos no futuro, esse nome seria ouvido e ecoaria outra vez, dessa vez, por todos os cantos do universo.

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