Capítulo 4 - Odeio seu sorriso

Ele estava parado na minha frente, aquele sorriso largo estampado no rosto como se fosse alguém que eu estivesse adorando estar vendo. Na verdade se fosse pensar no antes sim isso seria verdade. Aquele sorriso sempre foi a chave dele para chegar ate mim, mas desde que tudo aconteceu esse sorriso não chegava nem perto do efeito do que faria a algum tempo atrás.

- Então será que eu e você podemos conversar?

- Me dê uma boa razão para isso. – retruquei dando meia volta.

- Eu te amo.

Gargalhei alto. Ta não era uma gargalhada normal, parecia mais algo estranho de se ouvir naquela manhã e daquela forma. Então me virei para ele e o olhei nos olhos, seu sorriso sumiu do rosto e ele se focou nos meus lábios.

- Você não vale a saliva que gasto. – me virei e comecei a caminhar.

- E ele vale? – ele praticamente gritou.

Parei.

Por um momento avaliei o que se passava naquela mente e na mina também, não era segredo qual interpretação era a minha para aquela frase, mas e a dele? Era a mesma que a minha? Ou ele estava jogando para ver ate onde eu poderia ir.

Silencio.

- Ele é melhor do que eu? – ele falou quase em sussurro.

Viro-me para olha-lo, seu rosto estava perdido em algum sentimento que eu não conseguia identificar naquele momento, eu nunca fui bom em fazer escolhas e é claro que a próxima escolha minha seria uma das piores da minha vida. Como eu sei disso? Não precisa ser vidente e muito escritor de livro para saber que não fui feito para me dar bem, estou mais para o personagem que passa o livro todo sem ninguém e nos últimos capítulos aparece um indigente de sabe Deus da onde e diz que me ama.

Clichê. No mínimo. Então eu me aproximei dele como eu sempre fazia nessas ocasiões e lhe dei um abraço, não era muito, mas sempre o ajudava. Matheus nunca foi bom em fazer escolhas também e assim como eu esta segregado a erros contínuos, talvez tenha sido por isso que acabei me apaixonando por ele há algum tempo atrás.

Chovia. O céu estava turvo e faixas de luz atravessavam sua extensão. Eu estava encharcado. Eu havia saído para uma caminhada para pensar na minha vida, quando a chuva me pegou. Eu não estava me importando com isso. Caminhava pela rua praticamente vazia quando me sento debaixo de uma arvore que ficava próxima a minha casa. A água fria caia do céu e tocava o chão em um pequeno show natural.

Ao longe um garoto corria, estava tão ensopado quanto eu, mas ao que parecia não queria se molhar, sua camisa branca estava colada no corpo, o tênis estava tão encharcado quanto sua bermuda bege quando ele parou debaixo da mesma arvore que eu estava. Seu cabelo estava desalinhado e as gotas escorriam pelos seus cabelos. Ele me olhou e eu fiz o mesmo. Mas não houve uma única palavra.

Por quê?

O garoto que estava ao eu lado nada mais nada menos era Matheus Cassagrande, filho de Alberto Casagrande dono de uma rede de supermercados, lojas de departamento, shoppings e dois prédios na área central da cidade. O mesmo Casagrande que me humilhou desde o sétimo ano, me chamou de viadinho, gasela, bicha, mulherzinha, e muitos outros nomes. O mesmo que me deixou seus amiguinhos...

Silencio.

Mas eu preferia continuar em meu silencio, meus pais nunca souberam, me orgulho deles, são ótimos advogados, mas não sei como receberiam a informação de ter um filho gay. Na verdade esse sempre foi um medo que tento não ter, mas como não ter quando eles falam em netos, perguntam sobre minhas namoradas. Era por essa razão que eu estava sentado debaixo daquela arvore.

Então sinto algo atrás de mim e olho vagamente para ele, que se senta ao meu lado, suas mãos estavam em minhas costas e ele soltou um sussurro:

- Eu sinto muito. Perdoe-me.

Um raio.

Meu corpo estava no chão a uma distancia da arvore que fumegava, o fogo queimava lentamente e era apagado na mesma intensidade. Ela estava partida e caída no chão. Meus olhos percorreram rapidamente a procura ele, mas ele estava onde eu menos esperava. Seu corpo estava sob o meu, seus braços dele tentavam me proteger. Seus olhos carregavam uma urgência e o medo transparecia seus olhos arregalados. Então ele me deu um largo sorriso envergonhado e esse sorriso me fez esquecer que eu quase havia sido acertado por um raio.

“Como eu odeio esse sorriso”. – pensei comigo mesmo.

Ele me olhou nos olhos e como sempre fazia, suas mãos percorreram minhas costas, seu rosto se aproximou do meu e sua respiração se tornou mais quente e seus batimentos se tornaram altos. Então seus lábios se aproximaram dos meus e...

Meu alarme tocou me tirando daquele transe e me fazendo me levantar de forma rápida em direção a minha casa, não olhei em nenhum momento para trás e quando cheguei à esquina da minha casa, esbarrei em alguém e novamente fui ao chão.

 - Isso esta se tornando um habito não acha?

Marxos sorria para mim, seus braços fortes em envolviam e me apertavam contra o seu corpo. Eu sabia o que aquilo significava, e eu sabia onde aquilo iria parar também, mas seus olhos estavam presos nos meus e eu sabia que não havia mais o que negar.

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