Capítulo Especial: Um presente inesperado

A multidão de alunos saia às pressas pelos corredores da escola. Era o último dia de aula antes das tão desejadas férias de finais de ano. Enquanto alguns se apressavam para esvaziar seus armários, outros conversavam animadamente sobre os planos para aquele final e é claro alguns se despediam melodramaticamente.

Nunca fui uma espécie de adolescente ajustado, estava pegando meus livros quando sinto Simone se aproximar de mim, me abraçando por trás e dando sorrisos baixos. Era uma piada que tínhamos entre nós. Uma piada depreciativa a mim, por não me aceitar de certa forma. Era algo totalmente estranho sentir o que eu sentia, eu diria anormal.

- O que foi? – disse ela em meio a um sorriso – Nunca foi abraçado por trás?

Revirei os olhos em meio a um sorriso. Simone entendia meus sentimentos mais íntimos e minhas paranoias, pelo menos ela tentava, era difícil ser o que todos esperavam de mim. Na verdade, é um paradigma, e um problema. A maioria das pessoas diem que casais homo afetivos produziram filhos homo afetivos, o que não é bem verdade.

Mas como tudo há uma exceção, eu era essa bendita exceção. Filho de um casal homo afetivo, eu havia descoberto recentemente que gostava de garotos, e isso não é o problema para mim é como contra aos meus pais. Eles sempre perguntam por minhas namoradas, já falamos sobre sexo e tudo o que envolve isso, eles se animam muito com a ideia de terem netos.

Para a maioria isso seria uma besteira, mas a maioria não sabe como é estar dentro desta estatística. E se isso virasse um problema para meus pais e se eu os perdesse. Eu não poderia me dar o luxo de correr este risco eu precisava ser o mais normal possível, isso se eu conseguisse tal ato.

- Então você vai não é? – perguntou ela animada.

- Para? – disse olhando ela sem muita emoção, pegando meus livros no armário.

- A festinha que planejamos, onde você finalmente vai deixar de ser BV.

Gargalhei alto.

- Não acredito que esta com essa ideia na cabeça ainda.

- Mas é claro que estou. Você deveria estar mais animado ainda.

- Porque? – dei ênfase.

- Porque vai ser, não se preocupe com isso. Agora vá para casa, se troque que as sete passarei por lá.

- Vai me pegar em casa? Que milagre. – ri alto.

- É uma noite especial. – disse ela se virando e me deixando ali com meus livros.

O relógio de parede marcava sete horas em ponto. Meus pais estavam vendo televisão enquanto eu parecia inquieto na poltrona. Caleb nunca se atentou aos sinais que demonstram o quão desconfortável eu estou, mas...

- Esta tudo bem Guilherme? – perguntou Joshua parecia preocupado.

- Deixe Guilherme amor. – disse Caleb sem tirar os olhos da televisão – Simone disse que ele vai beijar pela primeira vez hoje.

Ele disse isso como se não fosse nada de mais, logo em seguida Joshua já estava com um semblante mais aliviado e me bombardeava de perguntas quando se havia escovado dentes, se o hálito estava em dia, se estava levando balinhas, e é claro dando conselhos para não babar de mais enquanto Caleb ria disfarçadamente olhando a televisão.

Simone e meus pais se davam muito bem, se não soubesse que meu pai ama apenas meu pai Joshua eu diria que ele teria pulado a cerca e tido Simone. Quando Simone chegou ela entrou tão rapidamente me puxando que não entendi nada do que ela falava aos meus pais enquanto me arrastava para o carro.

Estávamos na casa dos Blake, o som estava alto e todos pareciam se divertir na piscina. Blake era o tipo de garoto que ia ser sarado sem o menor esforço, seu corpo já tinha proporções naturais para isso, ele não gostava de esportes, era ligado mais em games e HQ's, mas sempre dava um show a parte nas aulas de educação física quando tirava a camisa nos revezamentos.

Havia um Dj e muita bebida, Simone me trazia vários copos diferentes e quando dei por mim não estava mais com ela, minha visão estava um pouco turva e tudo parecia que ia pender para um único lado. Com algum esforço segui ate a escadaria que dava acesso a cozinha da casa, quando esbaro em alguém.

- Opa. Você esta bem? – a voz dele ecoou na minha cabeça. Respondi com um meneio de cabeça afirmativo, ele riu – Não, com toda certeza deve ter bebido do suco batizado com a "Queda do Diabo" como dizem meus amigos: "Quanto mais doce o pecado, mas rápido é levado pelo diabo". Vamos vou te ajudar.

- Acho que preciso de um lugar um pouco mais silencioso.

- O.k. Então é melhor eu te levar pra um dos quartos. Esta com vontade de vomitar?

- Graças a Deus que não.

Ele riu e me levou pela casa, me indicando cada degrau, para que soubesse onde estava pisando e me levou para um dos quartos de visita. Me ajudo a me deitar e tirou meus sapatos. Então comecei a rir. Ele me olhou de forma curiosa.

- O que foi?

- Simone me fez vir a esta festa para ter meu primeiro beijo, mas acho que a ideia dela de me embebedar para me soltar foi o tiro na culatra nos planos dela.

Ele me olhou com um sorriso.

- Então é por isso que está quase caindo de bêbado.

- Pois é.

- Bem, acho que não pode ficar sem dá um beijo, não é justo depois de tanto álcool que você bebeu.

- Duvido que alguém me beijaria nesse estado.

- Hmmm... Acho que posso te ajudar nisso.

- Como?

Ele havia saído do meu campo de visão, eu apenas via o teto turvo, com uma parte da iluminação exterior que vinha do jogo de luz da festa piscar na parede. Então ouço um clack. Ele volta e se senta do meu lado.

- Vamos fazer o seguinte. Eu te ajudo e você me ajuda, pode ser?

- É... acho que sim. – disse sem entender e ele riu.

- Você sabe que as vezes rola um "sarro" quando estamos com vontade de transar com uma garota, e depois que rolou... bem, eu estou curioso quanto a como seria beijar um garoto. Então eu pensei que poderíamos nos ajudar.

- Acho que sim.

- Isso fica entre nós dois esta bem?

- Claro.

Meus olhos começaram a ficar pesados, então senti sua mão segurar minha cabeça e me levar até os seus lábios, ao toca-los ele riu e sussurrou que eles estavam doces. Então sua língua pediu passagem e o beijo ficou mais intenso, ele tinha pegada, mas então...

Quando abri meus olhos, minha cabeça doía. Eu estava no meu quarto, a janela estava aberta e as cortinas balançavam. Me sentei devagar na cama, sem entender como havia chegado ali, então na escrivaninha havia um pequeno pedaço de papel amarelo preso a tela do meu computador. Levantei-me e peguei o mesmo que dizia:

"Espero que tenha gostado do presente de Natal antecipado, pelo menos ate onde consegue se lembrar. Foi o melhor beijo que dei em minha vida" - Blk

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