Capítulo 4 - Se eu morrer jovem
As vezes sua mente processa mais de uma coisa em uma pequena fração de segundo, algumas pessoas tem o dom de assimilar várias coisas ao mesmo tempo, de estudar, ver televisão e ouvir música ao mesmo tempo, ou até mesmo os escritores que escrevem mais de um mundo ao mesmo tempo, porque um universo é sempre pouco demais para se aventurar.
Para a maioria das pessoas, felicidade são momentos felizes que se eternizaram em sua memória, para outros é sinal de mal agouro em um futuro próximo. Me pergunto nesse momento em que tipo de pessoa me encaixo, talvez na ambivalência de ambas, mas eu teria que escolher um. E apesar de estar acontecendo tudo em câmera lenta sob meus olhos eu ainda consigo pensar em tantas coisas.
Eu posso ver o cachorrinho cheirando o chão, as lues como um pequeno lance ofuscado, o medo no rosto, o movimento de músculos se contraindo e se estendendo de uma forma milimetricamente modificada em uma fração de segundo, são tantos músculos que se movem nesse pequeno espaço de tempo e ainda sim meus olhos conseguem vê-lo.
Não era um olhar de crueldade, sua boca se contraia em um sorriso medonho, mas ao contrário de tudo o que eu podia imaginar não posso ouvir nada, eu consigo sentir o calor em minha pele, era para ser apenas uma boa ação, mas nem tudo acontece como planejado.
Mas por alguma razão eu me lembrei de tudo o que me fez estar aqui nesse momento e posso dizer que apesar de tudo eu sou aquele que guardara a lembrança em minha memória. Contra todas as chances de ser um negativista pelo resto da minha vida, de certa forma algumas coisas mesmo que pequenas e que de certa forma pareçam insignificantes, nesses momentos são as mais importantes de toda a nossa vida.
- Espero que tenha uma...
- Aham professor... – disse Math me olhando – Fale com meu pai sobre isso.
- E quem você pensa que é?
Math lhe entrega um cartão, Oliveira lê o mesmo atentamente, olha para Math que sorri e sem mais nenhuma palavra se virando para o quadro ele fala:
- Sente-se.
Math vem caminhando, sob os degraus da escadaria e se senta ao lado de Paloma.
- Ah, claro. Odeio segurar vela mesmo. – dizia minha prima risonha.
Eu estava estático, não havia caído a ficha que ele estava na minha frente, com aquele sorriso largo. Seus olhos estavam presos nos meus quando sinto suas mãos segurarem minhas mãos gélidas que suavam de forma nervosa. Ele mexia e alguma forma comigo, meu corpo reagia a sua presença.
- Eu disse a você que nunca iria desistir de você.
- Math... – meus olhos ficaram marejados.
- Eu te amo Guilherme e suas tentativas de me manter longe de você, não faram que eu desista de você.
E em uma fração de segundo seus lábios estavam nos meus. Sua língua pedia passagem que era dada sem nenhum problema. Ouço um alvoroço de vozes alguns felizes outros incomodados pelo ato em plena sala de aula. Me afasto dele e dou um breve sorriso. Suas mãos seguram as minhas e por um momento me sinto novamente quem um dia eu fui.
As aulas se passaram rapidamente naquele dia, o ultimo sinal soara e Paloma já corria para os braços do bombeiro enquanto Math me abraçava e seguíamos pela calçada, as luzes começavam a se acender na avenida movimentada enquanto as pessoas iam e vinham.
Enquanto meu ombro repousava em seu ombro, um pequeno filhote de cachorro fugiu dos braços de sua dona e correu para a rua, a pequena de cabelos negros e olhos castanhos escuros usava um vestido amarelo florido, correu em direção a rua para pegar o pequeno cachorro, mas eu a impedi, entreguei minhas coisas a Math que ficou com ela enquanto eu pegava o pequeno cachorro e caminhava de volta a calçada enquanto o sinal continuava fechado para carros. A pequena deu um sorriso ao receber seu animal de estimação de volta e sorriu agradecendo. Math deu um largo sorriso e eu o devolvi.
E foi nesse momento que tudo ficou em câmera lenta, as feições de Math eram uma mistura de sentimentos irreconhecíveis a mim naquele momento, mas ainda sim não deixei em nenhum momento de sorrir para ele.
E na fração seguinte de um segundo meu corpo foi jogado para o alto, mas a gravidade seria cruel, meu corpo foi puxado de volta e no instante seguinte eu estava no chão. Tudo continuava em um silencio profundo, eu podia ver os lábios de Math se mexerem rapidamente, eu não conseguia acompanhar o que ele estava dizendo.
Meus olhos ficaram pesados, meu corpo começava de alguma forma a ser anestesiado, tive apenas forças para segurar seu rosto por um instante, dei o melhor sorriso que eu pude a ele então...
MATH
- Fica comigo! Não! Gui, não fecha os olhos! – eu gritava. – Alguém chame ajuda por favor! Por favor!
Senti sua mão me tocar o rosto, seus olhos estavam baixos e mesmo com tudo aquilo acontecendo ele me deu um sorriso. Eu não pude segurar as lagrimas que caiam do meu rosto. Aquele não seria um adeus. Eu não permitiria. Eu não poderia. O sangue começava a escorrer pela fratura que havia em sua cabeça, sua perna direita estava quebrada, com uma fratura exposta, apenas o peguei em meus braços. Alguém tentou me impedir, e o chutei. Eu não podia esperar, ele não poderia esperar.
As lagrimas estavam ainda ali, mas eu tentava me concentrar em chegar no meu carro que não estava longe, peguei as chaves, meus dedos estavam trêmulos a chave não queria entrar e o desespero começava a tomar conta de mim, mas mantive o que pude da calma.
- Você vai ficar bem, eu prometo, você vai ficar bem. – eu sussurrava.
Não sei como, apenas entrei e com ele em meus braços sai dali o mais rápido que pude.
Eu estava esperando uma cadeira na sala de espera do hospital, minhas mãos estavam em meu rosto. O cheiro de desinfetante impregnava meu nariz, minhas roupas estavam sujas de sangue. Os pais de Gui falavam com uma enfermeira enquanto Paloma voltava com seu namorado com um copo de café me entregando.
- E se a culpa foi minha?
- Não foi culpa sua. – dizia Paloma indignada. – Foi algo que ninguém esperava.
- Se eu não tivesse voltado...
- Você estaria se lamentando que não estava aqui para evitar, algumas coisas acontecem porque tem que acontecer, você estar aqui não mudaria o fato.
- Eu não posso perde-lo.
- Nenhum de nós quer.
- Se eu achar quem fez isso... – meus punhos se fecharam. – Eu não sei...
Meus olhos se focam nos pais de Gui, Joshua senta-se na cadeira e coloca as mãos no rosto, Caleb tenta acalma-lo enquanto o médico que aparecera colocava a mãos nos bolsos do jaleco. Meu coração se acelerou na fração de segundo seguinte. Meu corpo se levantou, meus pés começaram a andar e quando dei por mim estava correndo, eu gritava, gritava seu nome o mais alto que eu podia.
Enfermeiros tentaram me segurar, mas não sei de onde eu tirei forças para me desvencilhar deles, eu não queria que ninguém me impedisse, eu não ficaria ali parado, eu precisava vê-lo. Eu precisava saber o que estava havendo, foi então que fui impedido de entrar por dois médicos e quatro enfermeiros que me puxavam para tras. Meu corpo balançava, eu queria estar com ele.
- Gui!
Ele. Era apenas o queeu precisava.
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