Capítulo Único
A dor de perder alguém que se ama é algo irreparável, difícil de superar. Por mais que os outros digam que você deve levantar a cabeça, seguir em frente e continuar sua vida, isso na verdade, torna-se uma tarefa dura demais a se fazer. É horrendo conviver com um buraco no peito, com aquela sensação de vazio, de se sentir incompleto.
A ausência da pessoa amada no seu dia-a-dia, feri, machuca e dói demais. Não ter mais aquele alguém ali como antes pra compartilhar seus medos, anseios, angústias, assim como também as alegrias, os sorrisos, abraços, carinhos, é doloroso.
Com a perda você passa a viver só das lembranças dos momentos bonitos e inesquecíveis aos quais viveu com essa pessoa. Momentos onde a felicidade era sua companheira constante e não a solidão como costuma ser depois da perda.
E essa agora era a realidade de Sara há pouco mais de cinco meses, desde que perdeu seu amado Grissom em um acidente de carro.
Ela vivia somente das lembranças que ele havia lhe deixado. A perita após a perda do marido caiu numa tristeza e depressão profunda. As lágrimas e a solidão, assim como, as lembranças de tudo que viveu com Grissom, haviam se tornado sua companheira fiel ao longo desses meses em que já estava sem seu grande amor ao seu lado.
Ela não tinha vontade de fazer nada, além de chorar e lamentar a perda que teve. Da gravidez sequer se preocupava em cuidar. Pra conseguir fazê-la voltar a trabalhar foi um custo. Seus amigos foram essências pra que ela conseguisse isso.
No primeiro dia em que voltou a entrar no seu local de trabalho após mais de um mês da morte de Grissom, Sara sentiu-se mal. Uma dor lasciva no peito e na alma lhe veio de imediato assim que pôs os pés no laboratório onde seu marido também trabalhava. Não ver seu supervisor e amado marido vindo pra distribuir os casos da noite foi a pior coisa. Aquele lugar lhe lembrava demais dele, assim como a casa deles.
Sua cama passou a ser o lugar ao qual ela se permitia viajar nas lembranças. As manhãs frias e solitárias as quais ela passava ali eram torturantes. Olhar todo dia para o lado vazio da cama aonde ele costumava dormir, era algo angustiante.
Ele era sua vida e ao partir também levou-a junto com ele!
A saudade que sentia dele era descomunal. Nesses meses todos não houve um dia sequer em que ela não pensasse ou não derramasse uma lágrima que fosse por seu amor perdido. Às vezes, quando estava sentada na cama deles, ela olhava pra porta do quarto e parecia vê-lo ali, parado e encostado naquele batente, só a observando com aqueles orbes azuis lindos que ela era fascinada, e lhe sorrindo daquele jeito de garoto tímido como muitas vezes ele lhe sorria.
_Sinto tanta a sua falta, amor!
Ela fitava uma foto deles juntos e abraçados. Depois levou uma das mãos a alisar a barriga já evidente por conta da gravidez de seis meses.
_Queria que estivesse aqui, cuidando de mim e do nosso filho. Só você se foi sem ao menos saber do nosso bebê.
Alguns instantes mais tarde, Sara acabou pegando num sono profundo e agarrada a sua foto com o marido.
****
Ela andava por um lindo jardim. O perfume das flores que por ali haviam aos montes, era inebriante e lhe dava uma sensação maravilhosa. Olhou um pouco ao redor e notou que o lugar era cercado de flores e árvores majestosas de diversas espécies. Havia também borboletas e pequenos pássaros revoando ao redor. Mais adiante tinha um pequeno lago e passando por cima dele uma ponte que levava para o outro lado do lago.
Aquele lugar mais parecia um paraíso ao qual Sara nunca tinha visto antes, não fazia idéia de onde estava, mas tinha certeza de uma coisa, de que ali era lindo demais.
O sol morno, uma brisa leve e um cheiro de natureza fez a morena cerrar seus olhos por segundos enquanto aspirava o ar puro daquele lugar.
Ela abriu novamente seus olhos segundos depois. Mais adiante de onde estava, viu alguém parado perto da ponte. Olhando mais atentamente percebeu que conhecia aquela pessoa... Era ele!... Era seu amor parado ali.
Ele vestia camisa e calça branca, e seus pés pareciam descalços. De imediato, Sara pensou que fosse uma fantasia ou uma peça pregada por sua mente saudosista em querer vê-lo, que a estava traindo com aquela visão. Dessa forma, ela então fechou novamente os olhos e os abriu frações de segundos depois na intenção de que aquela "visão" sumisse. Porém não foi isso que aconteceu quando abriu os olhos pela segunda vez. A perita notou que seu amado ainda continuava lá parado, com as mãos no bolso e o sorriso tímido de sempre.
Duas lágrimas escorreram dos olhos castanhos dela por estar vendo-o de novo. Em seguida, foi um sorriso que brotou em seus lábios por aquilo.
Sara o viu abrir os abraços e chamá-la. Sem pensar duas vezes, ela correu pra ir ao seu encontro. Assim que chegou perto dele, se jogou em seus braços e o abraçou com tanta força que chegou a comovê-lo.
Ela sofria demais com sua ausência e ele era testemunha disso.
_Eu não acredito que está aqui comigo! É você mesmo? - Ela passava às mãos trêmulas pelo rosto dele enquanto plantava vários beijos em sua boca.
_Sim, sou eu mesmo, meu amor! - Ele respondeu entre os intervalos dos beijos que ganhava dela.
_Isso é um sonho ou eu estou morta também?
_É um sonho, Sara. Nosso sonho querida.
...
Sentada sobre a grama verde, à sombra de uma árvore frondosa e tendo o lago de águas cristalinas a sua frente, Sara que estava acomodada entre as pernas de Grissom curtia aquele momento incrível que estar novamente de volta aos braços de seu marido.
_Por que teve que me deixar Grissom?
_Era a minha hora, Sara. Não podia mais ficar.
_Você me faz tanta falta. - Ela acariciava a mão dele que pousava sobre sua barriga volumosa. _ Me sinto tão sozinha sem você. Tudo perdeu o sentido pra mim depois que você partiu.
_Você não está sozinha... Eu sempre estarei do seu lado, querida. Só que a diferença é que agora você não me vê, mas eu continuo aqui, com você, Sara. Sempre! Prometi isso a você e estou comprimindo. E estando ao seu lado tenho visto sua tristeza durante todo esse tempo após minha morte. E por não aguentar mais te ver assim que resolvi aparecer em sonho pra você. Pra te dizer que precisa acabar com essa tristeza que vem lhe corroendo Sara. Precisa parar de chorar por mim e voltar a ser a Sara Sidle de antes.
_ Eu não consigo, sem você não tenho forças pra seguir em frente.
_Querida, olhe pra mim. - Ele pediu e ela virou-se pra ele. _Você tem que reagir, sair desse buraco em que se enfiou. Nosso filho vai nascer logo e vai precisar de você. Faça isso por ele e também por mim. Reaja, Sara! Eu te peço, meu amor, por favor. - Ele segurou seu rosto. _Você não sabe o quanto me dói ver você chorando e sofrendo por mim. Sei que não é fácil superar o que aconteceu, pra mim também não foi. Ter que me separar de você foi horrível, mas as coisas são assim, uma hora temos que partir.
_Não queria que tivesse partido.
Nem ele queria!
_Não somos nós quem decidimos isso, meu amor. Quando chega a nossa hora, simplesmente temos que ir. Você tem que seguir sua vida, tem nosso filho pra criar. Nossos amigos vão te ajudar nisso.
_Eu queria você me ajudando nisso. - Ela começou a chorar.
_Mas eu vou fazer isso de onde estou. - Ele enxugou suas lágrimas. _Eu quero que me prometa duas coisas. A primeira é que vai reagir. Vamos, me prometa isso, Sara.
As mãos dele seguraram firme seu rosto próximo ao dele. Sara tocou os lábios dele com as pontas dos dedos e olhou em seus olhos cheios de lágrimas. Amava-o tanto que não podia lhe negar nada nem mesmo em um sonho.
_Eu prometo, Gil!
_Ótimo!... E a segunda coisa é que você não vai fechar as portas do seu coração para o amor quando ele surgir novamente pra você.
_Isso não posso prometer. Eu não posso amar outro.
_Pode, sim. Quem está morto sou eu e não você, Sara. Não se prenda a minha lembrança. Você é jovem e tem todo o direito de refazer sua vida.
_Eu não quero outro.
_Vai surgir outro e quero que você o aceite. Quero que refaça sua vida com outra pessoa. Prometa-me isso também. Prometa-me que não vai fechar seu coração para o amor.
_Mas Gil...
_Não, Sara. Vamos me prometa.
Ela sabia que o que ele lhe pedia era uma tarefa difícil de se cumprir, jamais se imaginaria amando a outro que não fosse o homem a sua frente. Mas ela tentaria cumprir aquela promessa que ele lhe implorava que cumprisse.
_Tudo bem, eu prometo. Mas quero que saiba que nenhum outro terá meu coração e meu amor como você teve. Ninguém!
Ele assentiu. E logo em seguida, a beijou de maneira doce e singela. Era um beijo de despedida.
_Você foi a minha vida inteira, mas eu... Fui só um capítulo da sua!* - Ele murmurou a ela após o beijo.
_Eu te amo, Gil!
_E eu sempre vou te amar, Sara.
***
Após o sonho que teve com o marido, Sara começou a reagir, a cumprir o que havia prometido a Grissom. Retomou pouco a pouco sua vontade de viver, sua alegria, seu sorriso e sua vida, pra satisfação dos amigos que sofriam por vê-la sofrendo por Grissom.
Meses depois nasceu o filho dela. Um menino que foi batizado com o nome do pai. Essa foi a forma de Sara homenagear o homem que marcou sua vida pra sempre.
Anos passaram-se, um... dois... e três anos após o sonho que teve, Sara conheceu um promotor chamado Brian com quem trabalhou num caso complicado. A princípio eles se tornaram bons amigos, mas depois de alguns meses em que já se conheceriam, Brian a surpreendeu ao pedir-lhe em namoro. Sara imediatamente lembrou-se da promessa que fez a Grissom e então aceitou o pedido do promotor.
Um ano mais tarde, ela se casava com Brian. Seu atual marido era um homem incrível que amava o pequeno Gilbert como se fosse seu próprio filho. Além do mais, o promotor era o sonho de consumo de qualquer mulher. Bonito... gentil... amoroso, adjetivos não lhe faltavam e Sara o amava de verdade, porque senão fosse assim não teria se casado com ele, mas por mais que o amasse, ela ainda matinha lá dentro de seu coração, o seu amor por Grissom. Um amor que nenhum outro podia tirar dali.
Grissom tinha um significado que mais ninguém teria. Mais ninguém teria seu coração como ele teve... Mais ninguém teria o amor que ela deu a ele, nem mesmo seu atual marido. Foi o que Sara prometeu a Grissom naquele sonho e era assim que seria até o fim de seus dias.
# Fim#
...
*Trecho tirado do filme P.S I Love You.
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