Capítulo 6 - Dylan
-Onde você estava? – pergunta meu pai assim que entro em casa, com a pizza já fria.
- Desculpa – eu digo, e vou direto para a cozinha, ele me segue – eu precisava de ar fresco, e você dormia feito uma pedra.
- Uma tal de Danna ligou – ele fala e olha para mim com um sorrisinho. – Amiga nova?
- É só a menina da pizzaria pai. – digo a ele.
- Ah – ele fala parecendo decepcionado – agora faz sentido o que ela disse.
- E o que ela disse? – pergunto.
Coloco algumas fatias de pizza em um prato e coloco no micro-ondas.
- Ela disse que a vaga é sua. Pra você aparecer lá amanha. – ele fala sem muito entusiasmo.
- Posso perguntar do que se trata? – ele pergunta
- Odeio decepcionar você pai – eu falo segurando uma risada – mas só se trata de uma vaga de emprego.
- Apesar de ser uma novidade muito boa, acredito que estou decepcionado. – ele diz.
- Você sempre está decepcionado comigo pai – rebato.
- Isso não é bem verdade. – ele fala num tom como se tivesse ofendido.
- Bem, quando se trata de garotas sim. – digo a ele.
- Isso é verdade. - ele admite e solta uma risadinha.
- Nunca pensou em chamar essa moça para tomar um sorvete? – ele pergunta, e dá uma mordida em um pedado de pizza fria. O micro-ondas apita.
- Bem, ela me chamou para sair esse final de semana. Mas eu recusei. -digo
- E eu posso saber por quê? – quer saber ele
- Você sabe o porquê pai. - respondo
Ele não fala nada. Eu tiro o prato do micro-ondas e nós comemos em silêncio.
- Eu a vi – digo a ele, depois de vários minutos sem falar nada. Ele me olha como se tentasse processar o que acabo de dizer, e eu vejo sua expressão mudar, quando ele percebe o que aquelas palavras significam.
- Eu estava voltando da pizzaria, e ela estava lá. Parada na garagem da casa dela, como uma miragem. – continuo, minha voz apenas um sussurro.
- Eu sinto por isso filho – ele fala com uma voz embargada. – Não queria que as coisas fossem desse jeito para vocês.
- Eu sei pai – digo a ele e sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto – mas está tudo bem. Eu estou bem, de verdade. Fico feliz que ela esteja em casa, e que esteja planejando um recomeço.
- Não acredito que voltar a viver naquela casa possa ajudar a Mia, Dylan. – ele fala e agora parece triste. – Sabemos o que acontece ali dentro, todo mundo sabe. A Linda parece estar cega, mas só ela ainda não percebeu. – ele continua. – E queria muito pode ajudar essa menina, me dói o coração saber que ela está sofrendo e ninguém faz nada para ajudar.
- Sinto por você também filho – ele completa e dá uma tapinha no meu braço.
- Eu sei que sente pai – eu falo, e dou mais uma mordida na minha pizza. – mas não precisa se culpar.
- Nem você! – ele rebate. – Eu só acho que precisa achar uma forma de seguir em frente. Ainda pode apoiar a Mia, e ser amigo dela, mas creio que a missão de salva-la não pertença a você. – diz ele e levanta da mesa.
Ele está próximo a porta da cozinha quando para e diz:
- O número da Danna está na mesinha da entrada, caso mude de ideia.
**************
Continuo encarando o celular, com o dedo a centímetros de pressionar o botão ligar. A tela do aparelho está apagada, mas eu sei que por trás daquela cortina negra, está o número dela, que eu também sei de cor.
O CD player para de tocar, e imediatamente começa a tocar a mesma musica, como em uma tecla de repeat infinito.
Everyday is like a Sunday do The Smiths. A nossa música.
Olho para o espaço vazio ao meu lado na cama, e pesco o pedaço de papel com o número da Danna, que o meu pai anotou.
- Eu não posso continuar desse jeito – falo para mim mesmo. – Meu pai tem razão. Preciso fazer alguma coisa.
Levanto da cama em um pulo, visto uma camiseta e enfio os pés nos sapatos que estão ao lado da porta, e saio.
A noite está mais fria que o normal, e eu não visto um casaco. Enfio as mãos nos bolsos da calça e caminho pela calçada.
Não percebo para onde estou indo, até já está encarando a janela dela. Ela tem a luz acesa, e posso ver sua sombra se movendo dentro do quarto. Quase posso escutar o barulho de seus passos.
- Eu só posso está louco – digo a mim mesmo.
Eu deveria ter ligado para a Danna, não vindo até aqui. Mas a verdade é que eu precisava vê-la. Vê-la de verdade, e poder enxergar, mesmo que por um segundo a minha Mia.
Então fico ali, parado do outro lado da rua, em frente a sua casa, encarando a sua janela. E a única coisa em que consigo pensar, é no que vou fazer se ela olhar pela janela e me ver ali. E eu de fato quero que isso aconteça, e começo a pensar:
- Olha pela janela Mia – eu penso, como se eu pudesse fazer meus pensamentos chegarem até ela – Olha pela janela, Mia. Por favor.
Mas nada acontece.
Está tarde e eu decido volta para casa. Estou caminhando de volta quando esparro em alguém. É ela. Não a minha Mia, mais a Danna.
- Ai Meu Deus! – ela fala e balança a cabeça de leve – É você – ela solta uma risadinha nervosa quando percebe que sou eu.
- Oi Danna - eu digo – me desculpa eu estava distraído, não vi você. – Me desculpo.
- Tudo bem – ela começa a se balançar nos calcanhares, de um lado para o outro.
- Está tudo bem? – ela pergunta. Pisco algumas vezes enquanto me forço a prestar atenção na pessoa diante de mim.
- Está sim – respondo e olho para trás, por cima do ombro. Não tenho como evitar.
- Eu te liguei hoje – ela fala, parece constrangida.
- Sim, - eu falo rápido demais – me desculpa. Eu tinha esquecido o celular. Muito obrigada por conseguir a vaga pra mim. – continuo
- Não foi nada. - ela responde
- Claro que foi – pego as mãos dela. Na verdade nem percebo o que estou fazendo.
Lembro das palavras do meu pai. Elas ecoam não minha cabeça. Me sinto confuso.
Sem pensar duas vezes me inclino em sua direção e a beijo. Ela parece surpresa mais logo depois retribui o beijo.
Meio descoordenados damos alguns passos até as costas delas estarem pressionadas contra uma árvore. E nos beijamos ainda mais.
- Ai meu Deus! – ela fala e se afasta – Eu confesso que não estava esperando por isso, Dylan.
- Me desculpa Danna...- eu começo a falar mais pela me interrompe.
- Para de se desculpar Dylan – ela diz e dá uma risadinha – Eu não sei você, mas eu espero por isso a um tempão.
- É, eu acho que já sabia disso – solto.
- Sério? – ela pergunta parecendo surpresa. Será que ela me acha tão lento assim? – Se você sabe que sou afim de você, porque nunca... – ela não completa a frase. Não precisa.
- Eu não sei – respondo – acho que não estava pronto Danna, e você merece mais.
- E acha que está pronto agora? – ela pergunta sua voz um pouco rouca. Ela dá um passo na minha direção e se inclina. Dou um passo para trás.
- Provavelmente não – digo a ela.
- Eu posso esperar, Dylan – ela fala e me beija. Eu não a impeço.
Ela joga seus braços ao redor do meu pescoço e eu a abraço pela cintura. Seus seios roçam levemente meu peito, e sinto algo estranho percorrer meu corpo. Ela é ousada, intensa, decidida. Ela aprofunda o beijo e por um momento me perco naquela sensação. Por um momento sinto como se estivesse vivo, vivo de verdade.
Rapidamente minha mente me leva para outro lugar. Minhas mãos sobem até os ombros dela e eu a afasto.
- Desculpa – sussurro. Me sinto envergonhado.
- Está tudo bem, Dylan – ela fala e sorri. E eu acho que ela compreende. Ela olha por cima do meu ombro, e percebo que estou encarando a janela da Mia, que continua com a luz acesa.
- Eu vou esperar, Dylan. Talvez eu esteja me iludindo achando que tenho chances contra ela, mas eu vou esperar. – ela deposita um beijo no meu rosto, e vai embora.
- Vejo você na segunda – grito para ela.
Ela para e se volta para mim, sorrir e vai embora, me deixando sozinho com a aquela confusão de sentimentos.
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