Capítulo 10 - Dylan


Capítulo dedicado a LaisBohrer.

Obrigada pelo carinho <3

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Eu apenas fico lá, sentado ao seu lado, segurando sua mão. Como se isso pudesse fazer alguma diferença.

A sensação é estranhamente familiar, como se eu a sentisse indo embora, escorrendo por entre os meus dedos, a única diferença é que ela não está coberta de sangue.

Está pálida, e gélida. Seus pulsos estão descobertos e posso ver as cicatrizes. A pele rasgada, agora em um tom rosa claro.

Há vários acessos em seus braços.

Sinto seus dedos apertarem os meus, e meu coração se conforta em saber que ela sabe que eu estou aqui.

- Mia, você está acordada? – pergunto, em um tom ansioso demais.

- Não fique tão ansioso – diz uma enfermeira que acaba de entrar no quarto – ela vai acordar aos poucos.

- Mas ela está dormindo há um tempão – digo.

- O medicamento que ela tomou era muito forte e o efeito demora um pouco para passar – responde a enfermeira enquanto troca uma das bolsas de soro – não se preocupe, ela ficará bem.

Nesse momento meu pai entra no quarto.

- Como ela está? – ele pergunta.

- Oi pai, - cumprimento - a enfermeira disse que ela ficará bem – respondo.

A enfermeira acaba de trocar os soros, e sai.

- E como você está? – ele pergunta.

- Eu não sei – confesso – ás vezes penso que gostaria de encontra-la em uma situação diferente, pra variar.

- Talvez não devesse ter vindo – ele diz simplesmente.

- Não se preocupe comigo, eu estou bem – garanto- eu só precisava vê-la.

- Tudo bem então – ele diz – acho que vou deixa-los a sós, só por mais uns minutos.

- Eu preciso ir – digo para ninguém em especial – afinal hoje é o meu primeiro dia no emprego novo.

Ele assente, e eu o sigo até a saída.

Quando estamos saindo, ouço um barulho estranho vindo do quarto.

Uma enfermeira que vinha pelo corredor carregando uma bandeja de medicamentos, entra no quarto.

- O que está acontecendo? – meu pai pergunta, a seguindo.

O barulho fica cada vez mais alto, um pi...pi...pi frenético.

- Os batimentos... –a enfermeira diz – estão subindo muito rápido. – ela completa.

- Mia? – eu grito, tentando entrar no quarto.

- Tirem-o daqui – meu pai grita para alguém que está passando pelo corredor.

- Não – eu grito de volto – eu preciso vê-la.

Mas já estou sendo arrastado pelo corredor em direção a saída, e estou chorando.

- O que está acontecendo? – minha mãe pergunta ao me ver sendo arrastado.

- Me desculpe doutora, mas ele estava tentando entrar no quarto de uma paciente.

- O que houve, Dylan? – ela pergunta.

Eu não conseguia responder. Ela está morrendo, eu queria dizer mas as palavras não saiam da minha boca.

- Me tira daqui mãe. – foi tudo o que me ouvi pronunciar.

*************

- Pode parar aqui mãe – eu disse quando ela passou em frente a pizzaria.

- Mas você não pode trabalhar nesse estado – ela tentou argumentar.

- Eu estou bem, mãe – eu disse, mesmo não sendo verdade – só para o carro, por favor.

Ela encostou próxima a calçada e eu desci.

Me sentia sufocado.

- Dylan... – ela começou a dizer – filho me liga se você precisar conversar.

Eu assenti e comecei a caminhar para qualquer direção.

Tateei os bolsos a procura do celular e dos fones de ouvido, conectei-os, os encaixei nos ouvidos e continuei andando enquanto tentava ignorar as lembranças que invadiam a minha mente junto com a batida da música.

*************

- Você está bem? – ela perguntou mais uma vez e me olhou de conto de olho – Eu sei que já perguntei antes, mas é que você tá bem estranho. – ela explicou.

- Eu estou bem, Danna – respondo novamente. – Só estou cansado.

- Não deixa o chefe te ouvir falando assim – ela disse em um tom de brincadeira.

- Pode deixar – eu disse socado a massa de uma pizza.

Olhei para o relógio e ainda faltavam 45 minutos para o meu turno acabar.

- Ei – comecei – aquele convite para o show ainda está de pé? – perguntei

Mas o que eu estava fazendo? – podia ouvir essa pergunta ecoando na minha cabeça. Tentei ignora-la.

Ela abriu um largo sorriso incapaz de conter a própria felicidade e disse:

- Claro!

- Ótimo. – eu disse de volta.

- O que te fez mudar de ideia? – ela quis saber depois de uns minutos de silêncio.

- Nada especifico – eu disse. Mentira! Era o que eu queria dizer. – Só pensei no que conversamos na outra noite. – eu disse.

- Entendi – ela disse, e não falou mais nada.

- Eu soube que a Mia está internada – ela começa e me olha de canto de olho – você sabe o que aconteceu?

Sinto meu sangue gelar, as imagens dela indo embora me deixam tonto.

Não digo nada, apenas balanço a cabeça em um sinal negativo.

Os poucos clientes que restavam foram indo embora um por um. Limpei as mesas e o salão em silêncio, e segui para a ala dos funcionários.

- Você pode usar o banheiro dos funcionários, se quiser tomar banho. – Ela disse e me jogou uma chave.

- Te encontro em 20 minutos – continuou e seguiu para outro lado em direção ao vestiário feminino.

Sentei em uma das assentos do vestiário e mandei uma mensagem para a minha mãe, dizendo que iria chegar mais tarde.

Tirei o uniforme e entrei no chuveiro, deixando a água escorrer por meu rosto e pelo corpo.

Meus ombros estavam pesados, e sempre que eu fechava os olhos a imagem dela invadia a minha mente. A Mia indo embora de todas as formas imagináveis.

*************

- Então o que achou do seu primeiro dia? – Danna perguntou enquanto caminhávamos até o local do show.

Ela pegou a minha mão, entrelaçando os nossos dedos e eu não a repeli.

- Acho que posso dizer que foi produtivo – respondi com um falso entusiasmo.

- É, - murmurou ela – também acho que foi bem legal.

Ficamos em silêncio por alguns minutos enquanto caminhávamos. A verdade é que eu não conseguia prestar atenção em nada, e nem estava com vontade de ir a lugar algum.

- Você está a fim de ir a algum lugar? – ouvi as palavras saírem da minha boca, mal podia reconhecer a minha voz.

- Mas já estamos indo a algum lugar – ela respondeu, um sorrisinho pendendo nos lábios.

- Quero dizer, - comecei, tentando não parecer tão confuso – outro lugar. Onde podemos ficar a sós.

Ela não disse nada, apenas parou e me encarou por um momento.

- Tem certeza? – perguntou por fim.

Não! – era o que eu queria dizer.

Eu não tinha certeza de nada. Incapaz de confiar em mim mesmo para dizer algo, assenti.

Ela voltou a pegar a minha mão e disse:

- Eu não moro muito longe.

O convite estava feito, e eu não havia brechas para fugir.

*************

- Tem certeza de que você está bem? – ela volta a perguntar.

Eu levanto a cabeça da pia, encarando meu reflexo manchado. Meu rosto estava avermelhado, e senti mais uma onde de náusea subir pela minha garganta.

- Sinto muito que isso tenha acontecido – respondo limpando a boca com as costas da mão e a encaro pela pequena abertura da porta do banheiro.

- Não precisa ficar envergonhado – ela diz, e se espreguiça na cama – eu te falei para você não comer aquele burrito no almoço. – completa e solta uma risadinha.

Eu não respondo.

Me inclino novamente sobre a pia e lavo o rosto com água fria. Saio do banheiro.

- Acho que preciso ir – murmuro e sento ao seu lado na cama.

Ela assente.

- Tirando a ultima meia hora, eu me diverti muito. – ela fala.

- É, eu também – concordo, mesmo não sendo verdade.

- Tem certeza de que você está bem? – ela pergunta uma ultima vez. Faço que sim com a cabeça.

Me inclino na cama e deposito um beijo em seus lábios. Não sinto nada.

Calço os tênis, visto a camisa e vou embora.

Já tenho caminhado algumas quadras, quando avisto a casa dela.

Tão perto e ao mesmo tempo tão distante – penso.

Não paro, não olho para trás, apenas sigo em frente. 

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