Capítulo 16
29 de setembro de 2012, sábado
Na Perdição ― boate dos pecadores ―, o montante de seres voltara ao seu habitual: com corpos grudados e espremidos um ao outro, os suores se misturando. O barulho vazava pelas paredes e inundava a rua em frente, mas havia um lugar por onde o barulho não se infiltrava: o escritório secreto na parte de trás.
Asafe tinha seus dedos das mãos entrelaçados no colo, enquanto sentava na poltrona atrás da escrivaninha com gárgulas no lugar dos pés, um laptop moderno à sua frente.
― O que podemos fazer? Infelizmente, possuímos mais teorias de base do que fatos. ― a voz vinda das caixas de som soou. ― Como andam as visões do livro sagrado?
Na tela do laptop, um rosto anguloso se mostrava, absurdamente bonito, de pele reluzente em tons amarelados e cabelos sedosos em tons de verde-musgo. Embora nas fotos retratadas nos livros ele sempre usasse roupas majestosas e com pedrarias, naquele momento, uma camiseta branca cobria seu torso e ao fundo era possível ver um cômodo com decoração humana.
Hyuris passava muito tempo na Terra, isso porque ele era representante oficial da dimensão das fadas. Claro, haviam mais algumas questões de vigilância envolvidas, mas no geral, ele andava disfarçado.
Asafe o conhecia há muitos anos, e por causa do tempo no Reino das Fadas correr de uma maneira diferente, certamente o envelhecimento de Hyuris era muito mais lento que o de humanos comuns, ademais, ele tinha assumido o trono muito jovem.
De vários representantes dimensionais, Hyuris era um dos mais confiáveis. Senão o mais.
― Houve uma situação recentemente. A escolhida viu algo difícil no livro. Só não sabemos bem sobre o conteúdo, aparentemente ela não conseguiu decifrar tudo ainda. Porém, conseguimos algumas coisas. ― Asafe o respondeu, pegando então as anotações que ele tinha feito naquele dia. Ele recitou-as para Hyuris, que o ouviu com atenção. ― Depois disso houve um pouco de comoção, mas conseguimos acalmá-la.
Hyuris, do outro lado da tela, recostou-se na cadeira de sua própria escrivaninha ― esta mais humilde que a de Asafe ― e mirou os olhos na direção do outro homem na tela, os seus obscuros.
― Ela falou em desistir novamente? ― Asafe concordou com a cabeça. ― Você não acha estranho ela ter hesitado tanto no início?
― Já falamos sobre as dificuldades que ela possui.
― Também falamos sobre ela saber sobre a existência dos Invisíveis antes dos ataques recentes e sobre o próprio poder. O que garante que ela não esteja escondendo mais nada? ― ele voltou a se inclinar na direção da tela, seu rosto ficando mais evidente. ― Asafe, eu sei que você quer acreditar nela por ser a única que talvez possa quebrar a maldição, mas não fique cego para as coisas que se mostram.
Asafe suspirou.
― Não acredito que ela esteja mentindo.
― Pois passe a acreditar. ― Hyuris disse diretamente, sua voz suave ao ponto de parecer um sussurro no pé do ouvido, mas nada ingênua. ― Eu não a conheço, mas pelo que ouvi, talvez ela esteja escondendo, por razões próprias, e não a fim de causar algum mal. Você devia saber tão bem quanto eu que alguns atos ingênuos podem ser catastróficos.
Asafe deixou seus ombros caírem. Ele sabia que Hyuris tinha razão e, nem mesmo ele, sabia o que havia acontecido com ele mesmo. Asafe não costumava ser do tipo que confiava cegamente em alguém, haviam muito poucos que ocupavam esse cargo. Como Hyuris, por exemplo, e uma antiga amiga do Cinzaral que aparecia, às vezes, em corpos diferentes.
Era estranho até mesmo para ele, de alguma forma, alguém estranho aparecer e o fazer agir daquele jeito.
― Você vai conhecê-la logo. Então, teremos esta conversa novamente. ― foi tudo o que ele disse. Hyuris franziu a testa para ele. ― Mas eu considerarei suas palavras. Irei prestar mais atenção, não se preocupe.
Hyuris bufou e abriu um sorriso, mostrando seus dentes de marfim e dois pequenos caninos.
― Não estou preocupado com você. Seria um problema enorme se de repente algo acontecesse e não pudéssemos lidar com isso por causa de uma informação não passada.
Asafe apenas concordou com a cabeça, sabendo que o outro estava certo.
― Apesar de tudo, fico feliz que o livro que eu te dei tenha servido para algum propósito. ― Hyuris continuou. ― Embora o ancião tenha dito que eu deveria manter o livro comigo. Que sentido haveria em guardar algo se não há dono presente?
Asafe mostrou um pequeno sorriso também.
― Mas eu não sou o dono.
― Você não é. Mas com certeza era o único capaz de encontrar o dono. E eu estava certo. ― Asafe apenas concordou em silêncio. ― Agora, sobre o caso de Selana...
― Ela respondeu a você? Ou a algum dos outros representantes?
― É claro que não. Mas conseguimos interceptar um dos informantes dela. Parece que Sombria a procurou apenas em busca de ajuda para chegar ao mundo mortal, então, Selana veio atrás de energia espiritual humana.
Asafe demonstrou um pouco de confusão.
― Não faz muito sentido. Para que Sombria venha até aqui, três pessoas deveriam ser suficientes, mas Selana comandou um ataque direto.
― Este é o problema. Sombria pediu por uma coisa, mas Selana aparentemente tomou essa oportunidade para agir livremente sob alguma desculpa.
Asafe pensou um pouco mais, sua raiva crescendo lentamente ao pensar sobre a governante.
― E então, chegamos ao ponto: o que Selana procura com tudo isso? ― Hyuris continuou, encolhendo os ombros. ― Apesar de ser improvável que ela possua alguém de confiança com quem possa ter falado sobre o seu plano, ainda pode ser que haja alguém.
― Mas quem? ― Asafe questionou.
Selana não possuía amizades, tudo o que ela sabia fazer era rir à custa dos outros e desprezar qualquer existência, fosse inferior a ela ou superior.
Asafe lembrava sobre a época em que os antigos governantes do Reino Doce haviam morrido ― os pais de Selana ―, e as coisas ficaram macabras. Os governantes haviam morrido de forma natural, mas seus velórios foram proibidos e Selana, que fora coroada logo após as mortes, apenas exigiu que os corpos fossem mantidos em seu próprio quarto por um tempo. Quando começaram a apodrecer, ela pediu à alguém da cozinha que os cortassem em pedaços. A carne foi para o seu próprio banquete de coroação e servida aos convidados, os ossos foram talhados em joias que ela passou a esbanjar desde então.
Algumas fofocas haviam se espalhado sobre os dias em que ela passara no quarto com os cadáveres, mas era, talvez, ruim o suficiente para escolherem apenas ignorar e tentar não descobrir.
― Bem, uma hora iremos descobrir. Ela não é tão inteligente, afinal. ― Asafe disse.
― Hm. ― Hyuris apenas murmurou, seu rosto pensativo por um momento. Ele divagou sozinho por alguns segundos antes de dizer:
― Sabe, eu tenho pensado. Os ataques se resumiram apenas a Nevoeiro, mas parece que a pessoa que Sombria procura sequer está aqui. Então, por que Selana atacaria diretamente onde há uma Central de Bons Mestiços tão forte?
Asafe realmente pensou sobre.
― É quase como se ela estivesse montando uma distração.
Hyuris balançou a cabeça, ainda pensativo.
― Sim, de fato. ― ele voltou os olhos para a tela, dois dedos segurando o próprio queixo. ― É possível que Selana saiba sobre a escolhida? Eu aposto que ela ficaria muito feliz se a profecia não se realizasse.
― Não é impossível.
― Você sabe o que ainda me deixa curioso? ― Hyuris perguntou retoricamente. ― Aqueles docendentes haviam falado sobre um espelho que pode ver o mundo humano. Tal artefato não existe em lugar nenhum do universo, então, como uma rainha tão indisciplinada poderia ter conseguido aquilo?
3 de outubro de 2012, quarta-feira
A sala de espera da Unidade Básica de Saúde estava lotada. Eram oito da manhã, certamente o horário mais movimentado para marcação de consulta.
Mourana tinha vindo acompanhar Evelyn para marcar com o obstetra, a amiga da escolhida tinha tirado o dia de folga unicamente para aquilo. Evelyn estava com aproximadamente três meses de gestação e já havia adiado demais esta consulta.
Era hora de cuidar da vidinha crescendo ali.
Para Mourana, ainda era um fato que parecia muito abstrato. Evelyn ainda não possuía barriga e não havia mudança visível em sua aparência. Nada. Talvez ela só passaria a acreditar quando pegasse a criança em seu próprio colo.
― Será que dá pra ver o sexo do bebê? ― Evelyn sussurrou na direção de Mourana, seus olhos brilhantes.
Mourana sorriu para ela.
― Eu acho que ainda não. ― ela gesticulou para a amiga.
Evelyn balançou a cabeça, sua perna subindo e descendo em nervosismo. Mourana colocou a mão no braço da amiga, chamando-a.
― Acalme-se. ― ela gesticulou, um pouco divertida. ― Tudo vai correr bem. Você é saudável, e o bebê vai estar também.
Evelyn sorriu para Mourana, agradecendo silenciosamente o apoio.
― Você contou para o pai? ― Mourana perguntou, ignorando os olhares estranhos lançados na sua direção. Evelyn negou com a cabeça. ― Eu achei que você confiasse nele. Não está demorando muito?
Evelyn olhou um pouco ao redor da sala, mordendo os lábios, e respondeu Mourana, também em libras:
― Eu confio nele. Mas acho que está muito cedo, a gente não se conhece há muito tempo. Quando eu tiver certeza de que o bebê vai vingar, eu conto pra ele.
Mourana franziu o cenho na direção dela. Era uma desculpa fraca, mas havia um fundo de verdade também. De fato, a gestação estava apenas no início e possuía uma possibilidade de não ser levada adiante. Ainda assim, Mourana não pôde evitar de se sentir estranha sobre aquilo.
Ela suspirou.
― Evelyn... Você está com medo? ― Mourana perguntou.
― É claro que eu estou com medo. Ele não mudou em nada comigo, até está mais próximo, mas eu tenho medo de afastar ele assim. Não sei...
Evelyn também suspirou. No fim das contas, não era uma situação tão simples. Mourana também não podia forçá-la a fazer algo que ela não estava confortável em fazer ainda.
― Eu entendo. De qualquer forma, eu ainda estarei aqui.
Evelyn sorriu para ela.
― Eu sei. ― ela disse, apertando a mão da amiga.
Levou mais algumas horas até que elas, enfim, fossem atendidas e a consulta foi marcada para a semana seguinte.
Ao saírem da UBS, elas foram almoçar em um restaurante próximo ao centro da cidade. Por um tempo, elas ficaram daquele jeito, apenas curtindo a presença uma da outra, como não faziam há muito tempo.
Evelyn seguiu outro caminho para encontrar seu Rafael, enquanto Mourana apenas esperou no restaurante. Não demorou até que Asafe aparecesse, sua figura muito alta e impressionante, naturalmente chamando atenção.
Mourana saiu do restaurante para encontrá-lo na porta. Ela sorriu em saudação e seguiu o homem para alguma direção.
― Boa tarde, senhorita. ― Asafe a saudou.
Mourana acenou com a cabeça para ele, visivelmente em um humor leve.
― Você parece bem. ― Asafe comentou. ― Como estão as coisas com sua madrasta?
Mourana suspirou.
Sombra tinha realmente colocado alguns dos seus para vigiar Elisa por um tempo. Não demorou uma semana até que se descobrisse que os avós de Mourana haviam morrido há anos, mas Elisa barrou o funeral e o enterro para que a aposentadoria deles não parasse de vir.
Mourana tinha chorado por alguns dias, mas seria impossível consertar aquilo. Então, ela tentou apenas se consolar e não pensar muito no quanto ela tinha sido feita de idiota e aproveitada por tanto tempo.
Ela arranjaria uma maneira de fazer Elisa pagar, só precisava saber como.
Mourana forçou um pequeno sorriso para Asafe.
― Eu bloqueei o número dela e espero que ela apenas esqueça da minha existência. Não temos nenhuma ligação de sangue nem assuntos a tratar. Espero só poder esquecer tudo sobre isso. ― ela pensou.
Os dois caminharam pelas ruas, passando por algumas pessoas aqui e ali. Não havia muitos carros fora das rodovias de Nevoeiro, e dentro dos bairros ficava bem pouco movimentado. Para quem não gostava de barulho era uma coisa boa.
O clima havia mudado também da noite para o dia. A neblina ainda cobria os telhados durante as manhãs e madrugadas, mas isso era devido à altitude elevada do Estado. As tardes e noites, agora eram frescas e úmidas, com ventos soprando. Infelizmente, o sol ainda se recusava a pintar os céus em cores mais vívidas. Mourana sentia saudades de ver um céu azul ou a explosão de cores ao entardecer.
― A viagem está cada vez mais próxima, a senhorita não está nervosa?
Mourana pensou um pouco sobre isso.
― Um pouco. Eu não tenho certeza se vou ser capaz de fazer o que preciso. Felizmente, Sombra e Vermelha estarão lá comigo. ― ela gesticulou desta vez.
Asafe sorriu suavemente para ela.
― Vai ficar tudo bem. Quando você estiver na Biblioteca Real, quem sabe você não acabe agindo por instinto? Vai dar tudo certo.
Mourana assentiu para ele, aceitando suas palavras de conforto.
― Farei o meu melhor.
Eles caminharam apenas um pouco mais até pararem em frente a uma casa de aparência comum ― geminada, um portão de ferro de duas folhas dando vista para um pequeno terraço, a porta interna de madeira e uma janela com grades ―, o espaço da calçada estava no limite permitido por lei e, depois que Asafe bateu palmas, ambos esperaram que viessem atendê-los.
A porta de madeira abriu e uma senhora idosa saiu, seus olhos passaram por Mourana de cima abaixo antes de pousar em Asafe. Ela o reconheceu rapidamente.
― Senhor Otton. ― ela saudou o homem com um sorriso largo.
― Catarina. ― Asafe a saudou de volta, seu tom amigável.
A senhora abriu o cadeado que trancava uma das folhas do portão, puxou o ferrolho e o abriu, dando passagem para os dois visitantes. Asafe entrou diretamente pela porta de madeira como se estivesse muito familiarizado com o lugar.
A sala de estar era pequena, com um sofá de dois lugares, uma TV de tubo sobre uma mesinha velha e uma estante ao lado com fotos em molduras que não combinavam entre si. Asafe passou pela sala e entrou por uma porta. Mourana observava a tudo com atenção, olhando para trás para ver Catarina seguindo aos dois com um sorriso gentil no rosto.
No cômodo a seguir, o cenário mudou drasticamente.
O piso não era mais de azulejos, mas em mármore claro e reluzente. As paredes não eram mais em reboco puro e baixas, mas altas e cobertas por papéis de parede com arabescos dourados. Do teto, entrava feixes de luz de pequenas claraboias colocadas em todas as arestas do cômodo.
Era claro, parecia vívido e ensolarado, sendo como um lugar completamente fora de Nevoeiro. No meio do salão, havia algumas ― não muitas ―, araras com saias longas e médias. Manequins com vestidos e tecidos brilhosos.
Mourana olhou ao redor encantada.
As roupas eram coloridas, bordadas, com pregas e repletas de pedrarias. Os tecidos eram leves, alguns transparentes, outros com camadas e camadas.
Ela não via roupas com cores daquele jeito havia muito tempo...
― A senhorita parece ter gostado do estilo da Catarina. ― Asafe sorriu para a visão da mulher estupefata.
Ele e Catarina trocaram um olhar de diversão. Para alguém que tinha passado tanto tempo vendo apenas as cores na paleta de cinza de Nevoeiro, Mourana certamente estava tendo uma reação já esperada.
Mourana assoprou uma risada constrangida. Ela olhou para Asafe, e Catarina que a encaravam.
― Eu não posso dizer que não gostei. ― ela gesticulou.
Asafe sorriu e pousou uma mão em seu ombro. Mourana ficou levemente surpresa, mas não odiou o ato.
― Vamos dar uma olhada no que podemos conseguir pra você.
― Para uma pessoa que sempre viveu na Terra, algo mais simples pode ser mais confortável. ― Catarina disse, olhando entre as araras com olhos de águia.
Mourana a viu se mexer para cá e para lá, seu corpo mais forte do que aparentava. Catarina era uma mulher de cabelos já grisalhos, crespos e cortados bem curtos. Seus olhos eram doces e seu sorriso caloroso. Ela se perguntou como Asafe poderia tê-la encontrado. Teria sido por causa de conexões?
― Quando eu a conheci, ela era só uma menina. ― Asafe contou, como se pudesse ler a mente de Mourana. Ele passou ao lado da mulher mais baixa e passou a mão por um dos tecidos à frente. ― O pai dela era um dos alfaiates que faziam roupas voltadas para o estilo das fadas. Há alguns assim espalhados pela Terra, vendendo roupas para que você não destoe tanto quando viajar para a outra dimensão. Quando ela ficou mais velha, decidiu seguir a mesma carreira que o pai.
― Ela já foi até a Terra das Fadas? ― Mourana não resistiu perguntar.
― O pai dela era mestiço. ― Asafe explicou. ― Em uma das viagens dele até lá, ela conheceu o marido. Então, sim. Ela esteve algumas vezes lá.
Mourana deixou seus dedos tocarem na seda à sua frente, sentindo a suavidade do tecido.
― É tão fácil ir e vir?
Asafe a olhou de lado antes de voltar a atenção na arara diante deles.
― Não é tão simples, mas não é difícil também. Muitas fadas vêm para a Terra por causa de algum trabalho de pesquisa ou visitar um parente distante, mas acabam ficando. Acontece de seus filhos quererem ver a cidade natal das fadas, e o Rei não restringe a entrada de mestiços. ― Asafe olhou bem para um vestido, a frente e as costas, antes de tirá-lo da arara. ― Tem sido um pequeno problema, na verdade. Muitas fadas têm migrado para cá sem retorno. Você pode ver que há mais e mais mestiços de fada aqui.
Mourana o olhou.
― A Terra das Fadas é ruim? ― ela perguntou inocentemente.
― Não. É talvez o lugar mais perfeito existente. Acho que o charme humano é mais tentador do que o conforto de lá. ― uma voz envelhecida foi quem a respondeu.
Mourana virou os olhos para Catarina. Ela realmente gostaria de um pouco de conforto naquele momento, o charme humano a espantava mais do que tudo.
― Aqui. Prove este. ― Asafe estendeu para ela o vestido que tinha pego.
Era um vestido longo cor de pêssego. A saia era fluida e simples, a seda fresca; a parte de cima possuía um corpete da cintura para cima. Era simples mas muito sofisticado. Mourana não hesitou em aceitá-lo.
Próximo a alguns sofás ficava uma saleta. Mourana se trocou lá, com a ajuda de Catarina para amarrar a frente do corpete. Quando Mourana se olhou no espelho, ela teve que se impedir de abrir a boca completamente. Haviam duas tiras ― mangas ― pendendo abaixo de seus ombros, deixando o colo completamente nu.
Ela saiu do provador com um sorriso largo e andou até Asafe, mostrando o vestido aqui e ali. Asafe se impediu de rir da maneira como ela brincava com o vestido e dava voltas com os pés descalços. Daquele jeito, ela realmente parecia uma .
― Considerando o clima lá agora, acho que se cortarmos a saia até abaixo dos joelhos ficará perfeito. Quanto mais leve, melhor! ― Catarina disse, medindo a saia com uma fita métrica.
Quando eles saíram da loja, já era noite. Asafe carregava sacolas com vestidos, sapatos e adornos, e Mourana carregava um sorriso.
― Eu não acredito que estou importunando você tanto assim. ― ela gesticulou para Asafe.
Embora ela estivesse alegre ― considerando que há muito tempo ela não comprava roupas novas, ou roupas tão bonitas ―, ainda eram presentes que ela não achava que merecia.
― É um prazer. Hoje pude ver uma amiga e deixar outra contente. Agradeço pela companhia. ― ele curvou-se levemente na direção dela.
Mourana sorriu para ele, também não querendo incomodá-lo. Se ele havia oferecido sua ajuda, nada mais correto do que apenas agradecer e apreciar. Apesar desse pensamento, ela não pôde deixar de sentir que eles tinham feito tanto por ela, e ela não havia de fato feito muito.
― Agora, eu sinto que posso ir até lá e fazer as coisas da maneira certa. Espero poder merecer um pouco de tudo o que você tem feito por mim.
Os dois caminharam lado a lado até chegar a um ponto de táxi. Eles sentaram-se no banco de trás e aproveitaram a corrida rápida até a entrada da área morta.
― Achei que já tínhamos falado sobre isso, senhorita. ― Asafe a respondeu depois de um tempo.
― Ainda assim...
― Você não é uma pessoa passiva nesta situação, mais cedo ou mais tarde você entenderá. Para você, pode ser algo inútil e sem valor, mas poder ler o livro sagrado, por si só, já é mais do que muitos anciões respeitados fizeram nesta vida. ― ele continuou, tentando dar fim àquele assunto. ― Para nós, um pouco da prova divina é mais do que qualquer ação mundana que qualquer um pode realizar com um pouco de treinamento. Qualquer prova divina é mais do que esperávamos.
Mourana o encarou. Aquelas coisas pareciam tão pequenas para ela, mas talvez ela só não entendesse a importância de fato.
― Eu entendo que deve ser complicado aceitar o que fazemos completamente, mas não somos mais estranhos. Não se passaram meses?! Talvez você pense que nosso encontro esteja fadado a um fim, mas temo dizer que não está próximo da realidade. ― Mourana o ouviu atentamente, sem saber como responder àquilo. ― Tudo bem ter um pouco de modéstia consigo, senhorita, mas não deixe que isso faça de você um ser inferior e desmerecedor.
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