Lírida

As sombras se projetam pelos vitrais embaçados da sala do trono no frio castelo do Reino Sombrio, como os insetos pelaguianos o apelidaram. Não me recordo do tempo em que temi as trevas; há anos não me aflijo com o que se esconde no vazio. Na verdade, abracei a escuridão como uma segunda natureza.

Uma parte muito distante de mim ainda sussurra que talvez nada disso esteja correto, mas eu a esmago com a certeza de que a evolução precisa chegar a todas as populações de indivíduos. Não sou um carrasco ou homicida, apenas um instrumento do destino forjado pela dor de evolver. Nada de odiar o pobre mensageiro, não é mesmo?

Ou você não passa de uma simples mulher com o coração partido por um grande amor, continua a sussurrar a voz irritante que se assemelha demais com a da minha detestável irmã emprestada Siena. Amor. Meus pais morreram por conta dessa maldita praga que corrói o seu interior vagarosamente. Todos os seres seriam mais resilientes se não possuíssem emoções. Elas os tornam fracos e, por isso, desliguei quaisquer sentimentos que poderiam me arruinar.

Esse é o ensinamento mais precioso que tentei ensinar a minha pequena sobrinha ao acabar com sua patética tentativa de romance com o príncipe de Pélagus. Assim como seu pai, aquele garoto idiota não conseguiu resistir ao carisma de uma Venatrix.

No entanto, esse laço somente atrasaria seu crescimento e o desenvolvimento do seu poder. No fim, os homens se tornam meras marionetes nas mãos do destino para nos levar a atingir nosso maior potencial genético. Afeto nada mais é do que uma mentira para estagnar seu processo de ascensão.

-Rainha, as novas cobaias chegaram da cidade do Carbo. -Volcurt avisa, retirando-me da minha contemplação.

-Não preciso lhe dizer o que fazer com elas, não é mesmo? -Respondo com irritação sem desviar meu olhar das janelas que mostram meu reino frígido.

-Não, Majestade. -Ele se acovarda e deixa a sala.

Rio ironicamente para o nada. O medo é muito mais eficaz para manipular as peças em um tabuleiro do que o respeito, esse foi um dos principais preceitos que apliquei ao criar meus belos soldados sombras. A raiva e o ódio são os melhores combustíveis para gerar uma metamorfose, as únicas emoções úteis.

Anos de experiências fracassadas me levaram ao aprimoramento da magia obscura e ao protótipo perfeito de um exército obediente e que não hesita em se sacrificar em detrimento do cumprimento das minhas ordens. O exército que me levará ao controle desse mundo.

Com uma última carícia no crânio proveniente de um mestiço que fracassou na transição adornando meu trono, começo a caminhada até o laboratório de testes. Os gritos chegam aos meus ouvidos ao ecoarem pelas paredes úmidas, uma doce e encantadora sinfonia. Em breve, possuirei o último elemento para completar esse quebra-cabeça, minha querida Scarlett.

Olááááá, faz tempo, mas estamos de volta! 

Sem fazer promessa, mas tentarei postar novos capítulos todos os DOMINGOS! Então fica ligadinho por aqui e também lá no IG @escritorajenniferkepler. Avisarei por lá quando houver mais capítulos :)

Tenha um excelente começo de semana. Cuide-se e use máscara! Beijão.