Capítulo 39 - Viver de Aparências
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-Artur, obrigada por tudo. - ela estava profundamente feliz e ao olhar para os seus olhos que combinavam perfeitamente com a paisagem quente de verão, tudo fazia com que Oceana derrete-se por dentro.
-Não precisa de agradecer, Oceana. Aproveitei para rever a minha mãe.
-Foi mesmo?
-Sim. - um sim suspirante e que apenas fez com que Oceana procurasse consolar Artur pegou-lhe na sua mão enquanto desciam a pequena escadaria do palácio que dava para o jardim exterior. - Ela está feliz, claro que queria estar comigo mas tal não é possível visto que se dá com o seu tio. Peço desculpa se a ofendo, mas não gosto mesmo daquele homem.
-Não me ofende nada, Artur. Aliás, ele nem é meu tio. - Oceana sorriu para ele deixando-o confuso enquanto seguia com o passo vagaroso até Hefesto.
-Como assim não é seu tio?
-Existe uma história que ninguém sabe e que eu lhe vou contar.
-Mais um dos muitos segredos de Oceana, suponho. - ele sorriu entre dentes e ela afirmou com a cabeça dando-lhe um ligeiro encontrão em jeito de brincadeira.
-Exatamente, Artur. Está a ficar mesmo bom a decifrar-me.
-Isso quer dizer que a já a decifrei antes. - estavam ambos de pé junto a Hefesto olhando de frente um para o outro. Perante as palavras sorridentes de Artur, pelo seu sorriso seguro e pela instabilidade em que deixava a pobre princesa, ela percebeu que tinha caído no seu próprio engodo. Acontecia sempre com Artur. Ela queria esconder, queria ser egoísta, queria ser sedutora e oportunista, mas nada disso lhe fazia sentido quando estava com Artur.
-Possivelmente.
-Então não nega.
-Também não o afirmo. - Oceana sorriu para ele desta vez provocadoramente e divertidamente, resolveu não pensar e ser feliz pelo menos por uma vez. Até regressarem ao palácio tinha tempo e porquê estar a desperdiça-lo restringindo-se a não poder ser quem ela queria com aquele homem extraordinário?
-Vou contar a sua resposta como que tenho de fazer melhor da próxima vez.
-Não vai haver próxima vez, Lorde Artur. - apesar da sua afirmação, ela não conseguiu esconder o sorriso e o arquear das suas sobrancelhas que fazia com que os seus olhos ficassem mais abertos para procurar os de Artur e tiravam todo o poder ás palavras que proferia.
-Nesse caso vou apenas procurar fazer melhor. Não tem de ser consigo. O Lorde Artur também tem os seus segredos. - nesse momento sim, as palavras acertaram-lhe no coração como facas. O que era aquilo? Ela nunca tinha experimentado aquele sentimento. Nem era bem um sentimento, era uma sensação, um calor insuportável e um vazio inesgotável. Dor.
-Não precisa de melhorar a perfeição. - os seus olhos não se largavam, nesse momento Artur tinha-a elevado para o dorso de Hefesto, mas ficou consigo pairada no ar, apenas segurada pela firmeza e força dos seus braços musculados. O ar começou a faltar nos seus pulmões de sereia, e apenas um antídoto podia curá-la. Em menos de segundos recebeu-o, o antídoto proibido.
Artur acariciava o seu lábio inferior como que se pedindo permissão para a poder ter. O que ele não sabia era que ele já a tinha, desde o primeiro momento em que ela o vira que Oceana sabia bem no fundo do seu coração que lhe pertencia. A tentação de sentir os seus lábios nos dela foi forte de mais e ela mesmo continuou o que o destino tinha citado. Os seus lábios mergulharam nos dele e perderam-se no labirinto que, para ela, nunca teria saída. Os braços dele tinham-se contraído fazendo com que os seus pés quase alcançassem o chão, ao mesmo tempo que os seus peitos se tocavam. Foi nesse momento que ela percebeu a frase que tinha acabado de dizer.
Artur não precisava de melhorar a perfeição que todo ele a fazia sentir. Ficaram assim por longos momentos, numa dimensão apenas deles, num labirinto em que apenas ele podia ditar a saída porque ela, oh ela, não queria sair daquele conforto que Artur lhe dava.
-Espero que não partilhe a sua perfeição com muitas mulheres, Lorde Artur. - a voz de Oceana ainda era ofegante e os seus olhos bem abertos e expressivos ao olhar para o rosto dele. As mãos de Artur ainda faziam pequenas caricias na sua face fazendo com que o coração dela não conseguisse abrandar ao ritmo normal por completo.
-A perfeição que tenho só é possível pelos encantos de uma mulher.
-Uma?
-Apenas uma. - Oceana afundou os seus braços no aconchego dos braços de Artur e controlou o choro que queria partilhar com o lugar onde nascera, com o mar.
- m -
Uma vez chegando, o palácio parecia desconhecido aos olhos de Oceana. Depois de tantas noites a dormir envolta pelos braços fortes de Artur, de tanto tempo que a tinha feito habituar-se á sua presença, ao seu doce cheiro característico, ao seu toque e ao facto fascinante de não acordar durante a noite quando dormia a seu lado.
Todas aquelas semanas, apenas eles os dois, todos aqueles dias, apenas conhecendo-o, todas aquelas horas, apenas decifrando-o e todos aqueles segundos apenas olhando-o, tinham na feito mudar. Por muito que ela quisesse ignorar a sua mudança, não podia, ela existia e era tão visível como o sentimento que nutria por ele.
Conseguira resistir á sua tentação de sentir os seus lábios novamente, não porque quisesse, mas porque a culpa que nunca antes sentira, assombrava-a assim que se lembrava de Ricardo. Ela importava-se com Artur, mais do que todas as certezas da sua vida, mais do que o suficiente para que se o bem dele fosse sem ela, assim o deixaria.
Ao dar o primeiro passo pela porta do palácio tudo o que lhe antes parecera maravilhoso, perfeitamente organizado, mágico até, estava agora confuso, as cores sumptuosamente tristes e o ardor ao ver Ricardo a aproximar-se fez com que finalmente caísse na realidade. Oceana e Artur cortaram rapidamente o transe em que os seus olhares estavam e largaram as mãos tentando parecer o mais normais possível.
Ricardo deve ter notado, Oceana não tinha talento nenhum para esconder os seus sentimentos. Ela podia ser fria, ter um coração gelado, característica reservada por ser imortal, mas nunca tivera de o ser e agora aquilo podia tramá-la. Não a si, pensou, a Artur. Ele já tinha problemas demais com que se preocupar, quanto mais ter de levar com a sua presença destabilizadora.
Oceana sabia que tinha de sair dali, ela já não queria ficar com Ricardo, de todo, pela primeira vez na sua vida ela não pensava no amor como uma mera diversão que se podia ter a qualquer altura, nem nele como algo materialista e oportunista. A antiga Oceana sim, mas a Oceana depois de conhecer Artur não. Ela não suportava a ideia de ficar com Ricardo e ter de ver Artur todos os dias sem o poder beijar. Nem podia.
Oceana sabia que sendo uma Trava, de certo que, mais tarde ou mais cedo seria descoberta e toda a sua relação, mesmo com Ricardo, seria arruinada...e mesmo sendo imortal, ninguém o sabia. Ter-se-ia de esconder até uma nova geração reinar nas terras do Condado Portucalense, ou em que demais lugar fosse. Além disso, ela tinha outros motivos para não poder ficar.
Ricardo segurava uma carta na sua mão direita que estendeu a Oceana. O sorriso dele era orgulhoso e ela encenou o melhor que podia para demonstrar a sua paixão por ele, mas o facto é que só faltava Artur rir mais alto para denunciar a sua má interpretação, os seus sentimentos.
-Onde andou nas últimas semanas, com o meu irmão Artur? - ele tinha uma expressão sorridente demais para o seu gosto, mas Oceana também percebeu a tensão que havia entre irmãos.
-Fui ver meu pai, Lorde Ricardo.
-Foi ver quem? Seu pai? Mas eu pensei que iríamos juntos.
-Lamento, mas Lorde Artur conhece meu pai em pessoa e as saudades falaram mais alto.
-Não compreendo, Maria Helena - ai como aquele nome soava estranho aos seus ouvidos já habituados a ouvir Oceana na voz magnânima de Artur - a menina afirma que foi ver seu pai, mas a carta que mandei só chegou hoje com a confirmação.
-Nesse caso fomos mais rápidos do que o carteiro. - Artur interpela tentando anuviar a tensão que Ricardo colocava visivelmente em Oceana.
Ricardo apenas sorriu para Artur e de seguida para si, mas aquele sorriso transbordava tanta falsidade que o ar sufocava se não tomassem medidas rapidamente.
-Maria Helena e eu estamos cansados da longa viagem, se não se importa vamos subir para o nosso aposento.
-Desculpe irmão, nosso? - naquele momento Ricardo não estava a fazer por esconder a sua inveja e raiva - Maria Helena dormirá como sempre nos meus aposentos.
-Será uma decisão de Maria Helena. - Artur disse aquelas palavras com um tom tão suplicante que ela quase o viu ajoelhar-se como anteriormente nos seus pensamentos. Aquela decisão ditaria o seu futuro. O futuro deles. Oceana podia ser egoísta e saciar por momentos os seus desejos e os de Artur ou então ser forte e deixá-lo esquecê-la e quando pudesse Oceana desapareceria da sua vida. Se fosse egoísta ela teria a felicidade que o seu pai e a sua mãe nunca tiveram, ela tinha essa chance na sua mão e de certeza que se ela fosse a antiga Oceana a requisitaria sem dó e sem pensar. Só os seus desejos importavam. No entanto, ela já não era mais essa pessoa... e Artur tinha tanto a perder se ela o escolhesse. Se as coisas tivessem sido diferentes talvez, mas ela agora estava a pagar pelos seus atos... com o amor da sua vida. Ela não sabia quanto tempo tinha demorado a responder, mas o facto é que conseguiu conter as lágrimas enquanto o fez.
-Não seja parvo Lorde Artur, é claro que me deitarei onde pertenço. - o calor e o frio desconfortáveis alastravam-se por cada célula de si e nesse momento Oceana sentiu-se como uma verdadeira mortal, vulnerável a cada ato que lhe fizessem e o pior, ela sabia que não podia morrer, mas ela tinha a certeza que morreria a cada dia em que não pudesse ter Artur como seu.
Assim que ela acordou dos seus pensamentos, subindo a escadaria com Ricardo a seu lado, olhou para Artur, com a expressão de cachorrinho abandonado que tanto a abalava e sentiu que tomava sempre as decisões erradas. Tinha ela errado mais uma vez? Mesmo quando pela primeira vez ela escolheu por Artur, não por si mesma?
-Maria Helena, confesso que não a gosto de ver tanto tempo com o meu irmão. - Ricardo fechou a porta do grande quarto e dirigiu-se para perto de si pegando-lhe nas mãos. A claridade da janela intersetava-lhe o rosto como sempre e proprocionava-lhe traços mais definidos à sua face jovem. Ele era muito mais jovem do que Artur, aparentemente da sua idade, mas ela nem sabia porque pensava nisso. Onde ela já ia para desculpar a presença de Artur nos seus pensamentos.
-Não aconteceu nada entre nós, eu juro. - Oceana falava num tom neutro e pensava ter convencido Ricardo com as suas palavras.
-As suas juras não me servem de nada quando eu sei que não são verdade. - fez uma pausa suspirando e apertando mais as suas mãos nas suas. - Maria Helena, deixe-me dar-lhe a oportunidade de viver uma vida a meu lado feliz. Em nenhum momento na minha vida pensei conhecer uma mulher com tantos encantos como Helena. Case comigo. - Ricardo ajoelhou-se fazendo com que a luz ofuscante ainda o iluminasse mais. Era um pedido imenso e ela sabia no que se iria meter se dissesse que sim. De qualquer das maneiras ela fugiria a tempo, mas não foi isso que Oceana pensou naquele momento.
-Não. - Oceana largou as suas mãos, correu para a porta e abriu-a o mais depressa que pôde, apressou-se em direção à escadaria e desceu-a o mais depressa que pôde. Ela só queria correr para os braços de Artur e que ele lhe dissesse que iria ficar tudo bem, como sempre o fazia. Ela não podia, sendo assim só podia correr. No entanto, mal pisou o último degrau os seus olhos cruzaram-se com os de Artur, mas ele não estava sozinho.
Ele estava virado na sua direção e por isso os seus olhos fixavam-se num misto de significados. A seu lado estava um homem que Oceana conhecia por ser o seu concelheiro principal. O homem tinha uma espécie de papel que pelo seu aspeto parecia ser importante.
O seu monóculo acentuava ainda mais a seriedade do assunto que tratavam. Este homem estava a olhar então para a razão da falta de ar no seu espírito, para uma mulher, uma donzela de vestidos mais sumptuosos que os seus, de cabelos mais aprontados que os seus, com jóias mais raras que as suas, com poder superior ao seu. Estava a olhar para a ladra do amor da sua vida.
-Maria Helena, apresento-lhe Madalena de Sabóia, a futura esposa de Artur. - a voz de Ricardo atrás de si era orgulhosa e poderosa, como que se tivesse sido ele a preparar tudo aquilo. Se não fora ao menos tinha agora o que pretendia, a prisão do seu amor e do de Artur.
Oceana fez a melhor vénia que conseguiu como toda a sua vida treinara e não falhou. Interpretou o melhor ar orgulhoso e sedutor que podia ao lado de Ricardo e não falhou. Olhou para Artur, proferiu "Parabéns" silenciosos e não falhou. Disse que não o amava ao seu coração e todo o seu sistema se desligou. Por momentos. Falhou.
-Eu e Ricardo vinha-mos apressados por estarmos mais felizes do que nunca. - a confusão devia estar expressa no rosto de Ricardo, qual a presente no rosto de Artur, mas isso não a importava naquele momento. A rapariga de olhos convencidos, caracóis longos e castanhos mais bem delineados que ela alguma vez vira só fazia com que os seus instintos de sereia primitiva, de uma Oceana primitiva se quisessem despertar. Ela sentia tanta raiva a consumi-la dentro de si que era difícil respirar, quanto mais manter a postura, falar e representar. - Vamos casar.
As suas palavras cortaram definitivamente o ar na sala, a todos menos a Ricardo que Oceana quase que sentia o cheiro medonho da sua vitória a entranhar-se dentro de si e a apoderar-se de tudo o que era seu, da sua liberdade. Oceana sabia que tinha atingido Artur no coração, sabia que ele nutria o mesmo sentimento que Oceana tinha por ele, mas a ferida acabaria por passar. Afinal de contas ela tinha-lhe dado parte da sua imortalidade, ou assim Oceana o esperava.
- m -
E agora? Mais uma história de amor a acabar mal ou o significado que ela nos traz é que conta? Ideias para quem é Marina? Qual é o segredo dela? O que se passa nesta história? Já algum de vocês descobriu? Ainda continuam a achar que ela é a Oceana (se achavam antes)?
<3 Não se esqueçam que há muitas personagens na história. <3
<3 Muitos mistérios a serem desvendados. <3
<3 Muitos pormenores a serem ignorados. ;) XD :) <3
Se gostaram não se esqueçam de deixar a vossa estrelinha para me fazerem crescer, o vosso comentário, de me seguir e, claro, de me continuar a acompanhar nesta história de encantar. :D
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