Capítulo 30 - Algo Está Errado
https://youtu.be/qGvAfJJEVgM
-Já chega, Ariana! - a voz do Liam fez com que a minha hipnose com o anel luminescente parasse. Quando percebi onde estava e com quem estava havia tanta confusão que eu só me queria esconder ainda mais. A sua mão tinha pegado na minha para ver o meu anel. O toque dele dava-me nervos, o anel estava cada vez mais brilhante.
Ele olhou-me nos olhos em busca de uma resposta que eu não tinha. Tirou-me o anel do dedo indicador e no exato momento em que o anel perdeu o contacto com a minha pele ele parou de brilhar.
-O que é isto? - os nossos olhos estavam bem abertos e abriram ainda mais quando o Liam voltou a colocar o anel no meu dedo e ele brilhou novamente.
-Quem te deu este anel? - uma onda de recordações percorreu-me a mente em segundos. Milhões de informações e imagens por segundo para eu analisar e extrair aquelas que envolvessem um anel. Aquele anel. Uma imagem veio. Um nome surgiu. Mãe.
-Já te disse que o anel é da minha mãe.
-Tens de falar com ela. - assenti com a cabeça e voltei a encarar aquele anel de diamantes tão reluzentes como o mais puro cristal. - Ariana, o que foi aquilo? - os meus pensamentos voltaram a ter a imagem da Anna e os sentimentos que tive quando os vi.
-O que foi aquilo? Ela estava a atirar-se a ti! - gritei talvez um pouco alto demais vendo a expressão nos seus olhos de choque.
-Eu? Eu estava apenas a falar com ela. Não é por falares com uma pessoa que isso já significa que estejas interessada nela.
-Tu não viste os olhos dela!
-Eu não vi os olhos dela? Ela estava à minha frente, Ariana, como posso não ter visto? Ela estava a olhar-me normalmente.
-Então não viste o que eu vi.
-Ah então o que te afetou não foi o Paul, fui eu. - ele não conseguiu esconder um sorriso. Tu estás com ciúmes. - apesar de eu lhe querer virar as costas, não virei. Apesar de o querer contrariar eu não o fiz. Em vez de falar eu fiquei calada. Os olhos dele consumiam-me naquele momento e eu não via mais nada à minha frente. Eu não sabia que expressão tinha na cara, apenas senti a saudade a ir embora quando os lábios dele tocaram nos meus. Era mágico como ele levava a dor, a mágoa, a raiva, a saudade...
Só nesse momento é que me lembrei do tempo, da chuva que nos envolvia, que nos molhava e que certamente nos ia pôr constipados nos dias seguintes, mas isso não me importava naquele momento. As suas mãos e dedos entrelaçados nos meus, as pequenas gotas de água que eu ia apanhando nos seus lábios enquanto o beijava. Eu sentia algo dentro de mim a tornar-se mais forte, mas não sabia o quê, algo estava a transformar-me e eu desconhecia o quê, estava a dar-me força. Mas foi aí que ele parou de me beijar. E eu também. Instantaneamente. Eu sabia o que ele estava a pensar.
Olhei-o nos olhos e ele acenou com a cabeça. Os nossos olhos encararam o meu anel que nunca tinha brilhado tanto, mas o problema nem era necessariamente esse. Nós não sabíamos nada sobre o anel e por isso nenhuma conclusão podíamos tirar sobre ele. O mesmo não se passava com a chuva. Aquela chuva estava errada.
-Sentiste o mesmo que eu senti? - eu acenei com a cabeça em confirmação e ambos os nossos rostos demonstravam além de outros sentimentos, preocupação.
-A chuva não deve ser salgada. - encarámos as nuvens à espera de um milagre súbito, mas nada aconteceu.
Tudo estava cada vez mais estranho. Eu já não percebia nada. A chuva, o anel, a minha mãe? O que tinha tudo a ver? O que era aquilo?
-Vamos tentar não ligar a isto, está bem? - perguntei tentando abstrair-me daquele assunto. Quando as coisas começavam a preocupar-me eu tentava evitá-las ao máximo, era o terreno desconhecido que me assustava, que me punha indefesa e eu detestava esse sentimento.
-Promete-me que vais falar com a tua mãe.- ele pegou-me nas mãos e sorriu esperando que eu fizesse o mesmo em confirmação. Assenti e ele baixou-se novamente para me beijar os lábios. -Bem, agora não vamos ficar aqui. Já chega de chuva por hoje.
-Concordo. - disse soltando a primeira gargalhada daquele dia. - Eu vou andando então, vemo-nos amanhã. - as minhas mãos soltaram-se das suas e quando me virei vi-o novamente à minha frente, ele tinha corrido e eu tinha chocado contra o seu peito, o que me fez rir. - O que estás a fazer, Liam?
-Achas mesmo que te vou deixar ir para casa naquela bicicleta? - mal ele acabou de pronunciar aquelas palavras eu já sabia a resposta. Claro que não. Era o Liam. Ele era querido demais para deixar quem quer que fosse ir para casa numa bicicleta sem abrigo num dia chuvoso. Mas eu não era qualquer pessoa, eu era a Ariana. Será que isso era diferente de ter outro nome?
Ele agarrou-me na mão e corremos até ao parque de estacionamento onde estava o carro dele. Ao chegarmos perto do carro ele tirou a pequena chave do bolso e eu com um sorriso malicioso cumpri o que a minha mente me levou naquele momento. Tirei-lhe as chaves da mão e comecei a correr em volta dos carros e do parque em si. O Liam na tentativa de me apanhar procurava atalhos que eu conseguia evitar. Estava a ficar boa a fugir ao Liam. Ele tinha de se esforçar mais. Ah. Os nossos risos enchiam o parque e os meus collants já estavam bastante rasgadas com os desvios que eu fazia e raspava nas pedras. O Liam tinha a t-shirt cheia de lama e as suas calças estavam salpicadas de castanho até aos joelhos. O meu vestido não devia estar muito diferente.
Eu supostamente já devia estar cansada, mas a chuva estranhamente fortalecia a energia que eu possuía a cada gota de água que eu sentia. O Liam por outro lado gritava o meu nome e tentava defender-se com as poças de água em que chapinhava para me atrapalhar.
Finalmente eu perdi, olhando para ele estava mesmo atrás de mim e não calculei a distância no salto que tinha de dar para evitar o arbusto e a poça de água à minha frente e caí na água. O Liam ia caindo, mas conseguiu evitar, por momentos. Assim que me sentei e vi o riso de gozo e brincadeira na sua cara ri-me maliciosamente para ele e dei-lhe um pontapé amigável nas pernas ao mesmo tempo que puxei o seu braço fazendo-o cair em cima de mim e rebolarmos na poça de água. Quem nos visse...ai ai.
Beijei-o nos lábios e entreguei-lhe rendida a sua chave finalmente.
***
O que o Liam não tinha mencionado era que nós não íamos para minha casa. Eu devia ter calculado, mas não calculei. Era escusado barafustar e tentar mudar as ideias dele porque quanto mais eu resmungava mais ele acelerava o carro noutra direção que eu desconhecia, mas que tinha um pressentimento de saber onde era. Ele estava a levar-me para sua casa.
Quando ele finalmente rodou as chaves e parou o carro, os seus olhos fixaram os meus num misto de dúvida e contentamento. Estávamos em frente a um grande prédio, branco limpo e devia ter uns sete andares. Não era muito longe de minha casa nem da nossa escola.
-O que foi? - perguntei quando passaram mais de cinco segundos que ele olhava para mim sem nada dizer apenas sorrindo.
-Nada. - ele fez um sinal para eu abrir a porta e dirigimo-nos para a entrada do prédio.
Parámos no terceiro andar e ele abriu a porta à nossa frente. A casa dele tinha um cheiro a doces e comida acabada de fazer, havia música jazz a tocar e se eu não soubesse que aquilo tinha sido uma coincidência até ia dizer que ele tinha preparado aquilo para mim.
Ele fechou a porta atrás de mim e pousou as chaves na mesa ao lado da porta onde havia um grande espelho. Olhando finalmente para o meu reflexo percebi porque é que ele se ria provavelmente ria. Dos meus olhos escorriam traços pretos do lápis que eu usava e o resto da minha cara apenas tinha partes que se tinham safado da lama. Os meus cabelos estavam bagunçados e ainda molhados e a lama na minha pele começava a querer secar. Olhando para o Liam ele não estava muito diferente.
Ele sorriu-me e fez-me sinal para que eu o seguisse. Percorremos o corredor e ele abriu a última porta, o seu quarto. A decoração era composta por medalhas e camisolas de várias equipas de andebol, com aquela realidade finalmente veio-me à mente de que o Liam fazia parte da equipa nacional e uma onde de ternura invadiu-me. Apesar do quarto decorado com todas aquelas coisas desportistas e masculinas não deixei de reparar nas fotografias espalhadas por aqui e por ali. Todas elas tinham um L.D assinado na parte branca que as envolvia. Tinham sido todas tiradas por ele. Cada uma daquelas fotografias tinha um significado para o Liam e naquele momento eu percebi que ele apenas queria saber mais sobre mim, mas eu ainda não sabia quase nada sobre ele. Assim que eu lhe perguntava ou ele tentava contar-me eu desviava sempre o assunto para mim outra vez, senti-me mal por isso. Por pouco tempo porque depois a voz dele sobressaiu aos meus pensamentos.
-Tu não vais dizer nada? - perguntou ele olhando para mim com um sorriso, enquanto procurava alguma coisa na sua cómoda.
-Também tenho os meus momentos de silêncio, menino Liam. - sorri-lhe e ele começou a caminhar na minha direção encurtando o ar entre nós e deixando em mim aquela sensação que eu tinha sempre que ele fazia aquilo.
-Tu não vais ficar assim, Ariana.
-Assim como?
-Estás toda molhada, se não te mudares vais apanhar uma constipação não tarda. - sorri perante a preocupação, mas depois percebi aonde ele queria chegar.
-E tu também.
-Vais ter de tomar um banho. - a sua frase soou declarativa e imperativa ao mesmo tempo. -Aquela porta ao fundo é uma suite, podes tomar banho lá. - Eu não sabia o que fazer. Ele estava ali à minha frente a dizer para eu tomar um banho. Algo que soava tão normal como assustador naquele momento. Tomar um banho não era apenas água, iria implicar que as minhas roupas se descolassem do meu corpo. Perante o meu silêncio as covinhas dos lábios do Liam subiram ligeiramente e ele fechou a porta atrás de mim ficando de frente para mim. Ele beijou-me e finalmente senti a claustrofobia a encher os meus pulmões, naquele momento eu queria a água e o seu poder outra vez. Mas porquê?
-Podes ir tu e eu, ou apenas tu.- disse quando os nossos lábios se separaram. O que devia eu dizer? E se estivesse mais alguém em casa dele? Eu sabia tão pouco sobre ele que ainda me assustava, mas a vontade que eu tinha era inegável também.
-Não me deixes ir sozinha.- eu respondi com um pedido? O que era aquilo? Onde estava a Ariana de há uns meses atrás?
O Liam sorriu e os meus lábios retribuíram de volta com um sorriso e um beijo apaixonado. Eu gostava tanto dele. Porquê? Caminhámos para a suite e ele abriu a porta acendendo a luz enquanto me segurava com o seu outro braço. Eu tirei-lhe a t-shirt e ele tirou-me o meu vestido. Despi os meus collants rasgados que anotei que tinha de deitar urgentemente para o lixo mais tarde para não correr o risco que alguém as visse e pensasse outras coisas.
O Liam envolveu-me noutro beijo e entrámos no duche. Ele abriu a torneira e encostei-me ao seu peito com o choque térmico inicial entre a água e o meu corpo. Senti os nervos do corpo dele a fazer o mesmo e uni-os aos meus quando o beijei novamente e a água se ia tornando cada vez mais quente no nosso corpo. Era estranhamente reconfortante estar sob a água quente do duche com outra pessoa. Com o Liam. Tudo me era estranho e novo para mim naquele momento. Aquela água, aquela temperatura acrescentada ao calor que ele provocava na minha barriga naturalmente só com os seus encantos, os sentimentos que ele despertava em mim, tudo o que ele me dava e eu nem merecia metade. Era único e eu nunca me tinha sentido tão feliz na minha vida.
Estar assim encostada a ele sem nada a cobrir-me fazia-me sentir nervosa, mas o facto de ser ele afastava todo o medo que eu tinha. Olhando-o nos olhos eu já não via apenas o rapaz que era meu colega e que tentava desvendar o segredo da nossa professora. Olhando para ele eu via algo mais agora...eu via o destino que me esperava no seu olhar.
Ele.
Eu.
O mundo.
E mais ninguém além das águas do oceano que nos juntaram.
***
Depois deste capítulo mais longo que os outros, é verdade, como se sentem? Eu estou num misto de emoções que tenho de tentar organizar também na minha cabeça. <3 <3 <3 Só para saberem, esta cena não era para ser escrita desde modo, a história deles não era para ser desta maneira, mas algo dentro de mim, lá bem no fundinho de mim, me disse que eles mereciam ter esta história, porque eles merecem...ahhh e para vos confundir também meus meninos! <3 <3 <3
O que vocês ficaram a pensar depois disto tudo? Parece que não mas aqui também estão tantos detalhes escondidos! Tenho aqui leitores detetives de mistério e detetives de amor <3 para isso? XD XD XD
Deixem a vossa estrelinha e o vosso comentário que eu tanto adoro e já sabem! Vemo-nos na próxima maré!
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