Capítulo 27 - Pai
https://youtu.be/kzQTc0-iBX8
Os tempos passaram-se, a vida mudou. É o ciclo da vida, nunca para e é inesperado. Nós nascemos, crescemos e morremos. É assim para toda a gente, ninguém escapa, ou assim pensava Oceana.
Oceana tinha crescido tanto no seu físico como na sua personalidade. Cabelos loiros e olhos espuma do mar faziam dela o retrato perfeito da sua mãe, já a pele clara de Alexandre dava-lhe o que faltava do seu pai. Ela crescera na ignorância de que tudo era lindo e perfeito. Estava ciente das suas responsabilidades e deveres e muito sinceramente ela adorava a sua vida. Tudo fazia sentido, tudo estava no lugar certo. No entanto, é na adolescência que acontecem os maiores dramas da nossa vida, não é? Ela não foi a exceção.
Ela tal como o seu pai fora, era agora o símbolo da beleza em Atlântida e tal como o seu pai tinha, agora o legado de arrasadora de corações pertencia à nossa Oceana. Ela era uma romântica incurável e Maré passava dias a tentar convencê-la a ter mais cabeça, a não se entregar a toda a gente, mas Oceana não a ouvia. Foi nessa altura que o seu traço de impulsividade começou a tomar forma. Ela já não era mais a criança meiga e enérgica que brincava com os rapazes de classes sociais inferiores. Ela já não era a pessoa generosa que Maré tinha criado. O perceber do seu estatuto quando começou a ter mais consciência de si mesma foi o seu pecado. Ela percebeu o poder que tinha e depressa quis aproveitar-se disso, aquilo que era como um escape para o seu segredo.
Sim, porque tudo isto tinha uma explicação.
Toda a amargura tem uma explicação.
Normalmente os adolescentes começam a desenvolver estes traços quando algo de forte impacto acontece nas suas vidas, e com ela também não foi diferente. Quando Oceana tinha catorze anos e percebeu que era diferente, quando ela confrontou a mãe com a sua diferença, com a sua imortalidade, tudo mudou.
Oceana tinha a mesma bondade, mas estragava-la por causa da sua impulsividade. Ela era a pessoa mais linda de Atlântida, mas a sua personalidade fazia com que toda essa beleza se perdesse. Mas claro, um adolescente não vê isto. Só querem saber das aparências e da opinião dos outros. Claro que existem exceções, mas por favor...a Oceana era filha da Maré. Se havia um traço que ela tinha herdado dela era o mais óbvio que podemos pensar...a sua teimosia.
Apesar de toda a sua revolta, ela queria saber mais sobre si.
- m -
-Mãe. - Maré estranhou ouvir a voz da filha no seu quarto. Elas tinham-se afastado tanto desde a descoberta de Oceana que era raro falarem em privado. Maré parou de escrever e olhou para ela. - Porque não me contas mais sobre mim?
-Porque é que queres saber mais sobre isso? É tardíssimo, logo falamos depois. - disse ela começando novamente a escrever e esperando que a filha abandonasse o quarto.
-Não. Tu dizes sempre isso.
-Eu digo sempre isto porque não há mais nada para se saber.
-Mãe, a tua vida é um mistério. Às vezes, só às vezes eu gostava de saber um pouco mais sobre a mãe que tenho. - Oceana riu ironicamente e sorriu-lhe tristemente.
-Tu sabes tudo sobre mim.
-Mãe, porque é que não contas a ninguém a tua verdadeira história? - Oceana aproximou-se da sua cama e sentou-se demonstrando que não iria sair dali sem uma resposta que lhe valesse. -Só porque o feitiço que fizeste para conseguir ter filhos te obrigou a dar algo em troca à bruxa, a minha mortalidade, não quer dizer que as pessoas te vão julgar por aquilo que eu sou.
Mas naquele momento Oceana cresceu outra vez. Em vez dos olhos que lhe sempre tinham parecido sinceros, no rosto de Maré ela finalmente percebeu que ela estava a mentir. Oceana percebeu, mesmo sem ela falar que aquela falta de comunicação não era porque Maré sentia vergonha do que se tinha passado nem era por medo, era mesmo mentira. E agora Oceana ia descobrir a verdade.
-Bem, o pai pediu para ires falar com ele. Ele está lá em baixo na sala do trono com o avô. - mentira com mentira se paga. Ou não. Mas na cabeça da jovem Oceana, assim era.
-Está bem. Vai deitar-te que eu já lá vou.
Oceana dirigiu-se para a porta do quarto da mãe olhando ligeiramente para trás quando virou no corredor para saber onde a mãe escondia o seu diário. Se havia verdade alguma para descobrir então era certo que ela a descobriria naquele livro. Entrou no seu quarto e quando viu Maré desaparecer no enorme corredor do palácio, esgueirou-se de novo para o quarto da mãe e tirou o pequeno livro do armário que ela tinha debaixo da cama. Apressou-se a ir para o seu quarto e sentando-se na sua cama abriu o livro na primeira página.
Hoje eu beijei o Alex. Hoje eu fui levada. Hoje a maldição caiu em mim. Hoje eu perdi todas as esperanças de poder ficar com o meu Alexandre por um mero beijo de adolescente. Foram apenas segundos, mas eu agora vou ter de pagar com uma vida sem a sua presença. Se eu não aguento sem ir à superfície mais de dois dias seguidos, como vou passar com uma vida de castigo?
Mas, querido diário, isto ainda não acabou, o meu dia está amaldiçoado, só pode! Hoje descobri que a minha mãe não é a minha mãe. Descobri que eu sou a Rapunzel na torre, fechada para nunca saber a verdade de ser a princesa desaparecida de Atlântida. Descobri que vivi uma infância inteira a pensar que os meus pais se chamavam Bryanna e Carlos e agora percebo que se chamam Anfitrite e Poseidon. Mas será mesmo que isto foi uma maldição ou uma bênção?
Eu despertei a maldição de Zeus em mim, mas eu sou uma princesa sereia e posso quebrá-la. Sem essa característica eu nunca a conseguiria quebrar...mas será que eu devo aproveitar esta oportunidade e tentar nadar até aos braços do meu Alex o mais rápido que puder?
Não.
A sua mãe tinha quebrado a maldição de Zeus. A rapariga que a quebrou tinha sido a sua mãe e ninguém sabia. Mas se Maré tinha quebrado a maldição isso queria dizer que ela esteve em tempos apaixonada por um humano. Alex? Ainda estaria?
Tudo estava nublado na sua cabeça naquele momento. Aquela era uma verdade que ela nunca pensara vir a saber, nunca se quer lhe passara pela cabeça tal coisa. A mãe tinha quebrado as leis de Atlântida ao ir à superfície e tinha quebrado as leis do Universo ao apaixonar-se por um ser com pernas.
Oceana reconfortou-se na sua cama e decidiu continuar a ler, algo lhe dizia que ela não iria dormir nada naquela noite. Ela já não queria saber se a sua mãe rompesse no quarto à procura do seu precioso diário... ela já sabia parte da verdade que ela escondia e estava certa de que iria saber o resto.
Folheou mais páginas e viu o nome do Alex em todas elas...voltou ao início e percebeu que tinha de saber quem era este Alexandre.
À medida que a noite avançava e os seus pensamentos mergulhavam na história triste quanto bonita da mãe não havia uma única página em que ela não falasse naquele rapaz, naquele Alexandre. Mas foi no final que ela deu consigo a fazer o que nunca fazia, chorar. Ao perceber quem aquele rapaz era, ao perceber o que realmente lhe tinha acontecido tudo fez sentido ao mesmo tempo.
Ela era filha de Alex, não de Éris. Ela não era imortal por causa de um qualquer castigo de uma bruxa, ela era imortal por uma bênção que correu mal.
A sua mãe guardara aquilo tudo durante aqueles anos para si, mas estava na altura de mudar o destino.
***
E agora? O que é que a Oceana vai fazer? Será que ela vai mesmo mudar tudo o que nós já conhecemos?
Deixem a vossa estrelinha e o vosso comentário se gostaram 😉😆😆
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top