estrofe 11
Brian chegou exatos vinte minutos depois, quando a poeira já tinha baixado. Jisung estava mais calmo, bebia um pouco de água na varanda, observando o dia ensolarado lá fora. Changbin ficou no quarto, sentado na cama ao lado da sua, olhando vez ou outra para Christopher, checando se ele estava bem, ainda muito preocupado. Brian entrou no quarto assim que Jisung abriu, ele parecia cansado e muito preocupado, ele correu até a cama de Christopher, mexeu um pouco no lençol que o cobria e decidiu deixá-lo dormir.
Num aceno de cabeça, Brian os chamou até a varanda. Lá, ele puxou as portas de arraste e respirou fundo cansado, como se tivesse corrido uma maratona. Jisung ofereceu a ele seu copo de água gelada, e sem pensar muito Younghyun aceitou, bebendo tudo num gole.
— Temos muito o que conversar. — Ele disse, devolvendo o copo vazio a Jisung.
A dupla de cantores escutou toda a história, ou tudo que Brian sabia sobre Christopher e a vida dele em Sydney. Ele contou sobre a família Bang, contou o que Chan já tinha falado algumas vezes, em como se sentia rejeitado por todos ao redor dele quando era pequeno, em como Lucy — sua avó por parte de mãe — o acolheu quando criança, praticamente o criando como filho, já que seus pais eram distantes. Como Christopher sempre fez o possível para tentar salvar sua avó do câncer, apesar de que no fundo ele sempre soube que era tudo em vão, o câncer de mama foi descoberto em um estágio muito avançado, era impossível salvá-la, apenas a deu mais alguns anos de vida. Os contou tudo isso porque via nos olhos dos dois a mais genuína preocupação, até mesmo Changbin que sempre pareceu indiferente estava preocupado.
Contou também sobre como muito provavelmente Christopher recebeu a notícia por algum noticiário na internet, já que a família dele era reclusa, praticamente o excluia de tudo.
— Por que eles são desse jeito? — Jisung indagou indignado. — Por que fazem isso com ele?
— Não sei, Han. A família do Chan é complicada. Eles são desse jeito. — Younghyun deu de ombros, como se também não soubesse. Christopher não falava muito sobre seus outros parentes, sabia apenas um pouco sobre os pais dele e sua avó.
— Isso tudo é uma merda. — Chan manifestou em um canto, encostado no parapeito da varanda. — Eles são tudo uns filhos da puta, como podem fazer isso?
— Sei que essa situação toda é uma merda, mas não vamos ficar agitados, Christopher já está sofrendo o suficiente. — Younghyun interviu Changbin. — Preciso pensar no que vou fazer agora, ele não tem condição de continuar aqui. — Ele pressionou a área entre as sobrancelhas, fechando os olhos um pouco para ponderar.
— Ele precisa ir para a Austrália. — Jisung disse. — Seria desumano prender ele aqui e não deixar ele ir se despedir da avó. — Ele olhou para Changbin, como se pedisse ajuda para convencer o manager que aquilo seria a ideia mais consciente.
— Eu concordo com você, Jisung. — Brian coçou a cabeça, meio irritado com alguma coisa. — Mas quem sou eu naquela empresa? Um mísero assessor. Não posso fazer muito.
— Então você não vai fazer nada? — Changbin tomou a frente. — Você vai deixar que seu amigo não tenha nem a oportunidade de ver pela última vez a única pessoa que amou ele naquele inferno de lugar? Vai deixar que ele sofra com um luto insuportável enquanto morre de trabalhar? — Ele bateu no peito de Brian com um dedo. — Que merda de amigo você é!? — Changbin levantou a voz, mais irritado do que deveria.
— Hyung, calma, brigar não vai adiantar. — Jisung entrou na frente, empurrando Changbin para trás. — Não é assim que se resolve as coisas, nós vamos pensar em algo.
— Vou fazer o que posso, Changbin, mas não sou dono daquela porcaria de empresa. — Younghyun se exaltou também. — Se fosse por mim ele já estaria na merda de um avião indo pra Austrália nesse exato momento, mas não posso fazer muito sem a decisão do CEO. As coisas são bem mais complicadas do que você acha, nem tudo se resolve gritando e esperneando como uma criança!
— Então faça alguma coisa! — Changbin gritou de volta, sendo segurado por Jisung. — Ou eu faço!
— Changbin, chega! — Jisung o segurou pelos ombros, chacoalhando ele numa tentativa de acalmá-lo. — Brigar agora não vai mudar porra nenhuma na nossa situação. Deixa o Younghyun hyung resolver, ele quem tem mais contato direto com o CEO, ele é quem pode fazer alguma coisa por nós.
— Não vou deixar que o Christopher vá sozinho para a Austrália. — Disse, pegando Jisung de surpresa. — Ninguém merece passar por um luto sozinho, não vou deixar que ele passe por isso sem apoio. — Changbin manteve a voz séria. — Se você — Apontou para Younghyun, que os observava. — Não resolver, eu resolvo. Vou tirar ele daqui com ou sem permissão, com meu próprio dinheiro se possível, mas ele vai pra aquele inferno de país ver a avó dele pela última vez. — Tirou as mãos de Jisung dos seus ombros, sem olhá-lo, saindo do apartamento sem olhar para trás.
— Jisung. — Brian impediu que ele fosse atrás de Changbin, segurando o braço dele. — Fica com o Chan, vou ligar para lá, conversar com todo mundo e ver o que posso fazer. — Explicou. — Changbin vai voltar, ele não deve ir muito longe. Só fica aqui, cuida do Chan e eu volto a noite com respostas.
Jisung ficou obedeceu, vendo Brian sair do quarto também. Ele olhou para Christopher dormindo, e se perguntou o que precisava fazer para ajudá-lo. Ele deveria ir também com Changbin? Parecia uma ideia tão precipitada. O que aconteceria com seu emprego? O que seu chefe falaria disso? Sentiu medo. Medo de perder tudo. Mas, olhando de novo para a expressão tranquila de Christopher, para suas bochechas rosadas pelo choro e os lábios espremidos, pensou que talvez valesse a pena. Ele se tornou alguém importante para Jisung, antes o via apenas como seu ídolo e colega de trabalho, agora… Talvez fosse algo mais. Algo mais íntimo, perigoso e inebriante.
Lembrou de quando o beijou na madrugada do primeiro show deles, lembrou da sensação, da euforia e do medo de estar fazendo aquilo. E lembrou de como precisou fazer isso para confirmar seus próprios sentimentos, mesmo sabendo que poderia não acabar muito bem para nenhum dos dois. Para nenhum dos três. Porque, apesar de ser a primeira vez, Jisung se sentiu atraído por alguém. Ou por mais de uma pessoa. Ainda era um pouco diferente, mas podia se acostumar. Tinha certeza que podia mesmo se acostumar com essas sensações quando os viu conversando sem brigar pela primeira vez, quando viu a paixão deles pela música, como eles pareciam se completar quando a questão era trabalhar. Eles eram apaixonados pelo trabalho. Jisung também era, amava ser um cantor, gostava de ser paparicado pelas pessoas ao ter o trabalho reconhecido. Gostava disso tudo, da fama, dos holofotes, de ser uma estrela.
Jisung foi até a cama mais próxima, se sentando para ficar de frente para Christopher. Deu uma olhadinha na direção do corredor que levava até a porta de saída, sem sinal de Changbin. Ficou preocupado com o que ele tinha ido fazer, Changbin sempre era impulsivo. Às vezes tinha medo do que ele poderia fazer quando se tornava assim, mas sentia que podia confiar nele. Nele e em Christopher. Por isso, ficou sentado esperando pela volta dele e por Christopher acordar. Ficaria ali até ele despertar, em alerta, como Brian pediu. Estava um pouco preocupado sobre o que o manager faria em relação a todos os lugares que eles precisariam ir hoje, tinham uma longa agenda para cumprir, mas depois de tudo que aconteceu, era quase impossível pensar em trabalho. Jisung deitou de lado, ainda de olho em qualquer movimento do produtor.
Sentiu os olhos pesados, a cabeça ficando leve demais. Ele sempre foi muito sonolento. Resolveu mexer no celular, e finalmente viu todos os tweets e páginas na internet falando sobre a morte da avó de Christopher, viu algumas pessoas usando sua foto de perfil no twitter mandando mensagens de apoio para o artista, e alguns fãs subindo tag. Sorriu feliz por saber que Christopher estava recebendo tanto apoio, e pensou que se algum dia no futuro, quando eles estiverem juntos — como namorados, não como colegas de trabalho — receberiam tanto apoio como hoje.
—— 🎶 ——
Changbin abriu a porta do quarto onde estava hospedado, era quase noite, o céu lá fora estava alaranjado e o clima era um pouco frio, talvez fosse chover novamente. Ele entrou com as mãos ocupadas, seguindo até as camas. Tentou não se assustar muito nem aparentar isso quando percebeu que Christopher estava acordado, sentado na cama onde Jisung dormia, acariciando o cabelo dele. Quando ele finalmente o notou ali de pé com duas sacolas de comida na mão, Christopher ficou de pé. Ele ainda estava vestido com a roupa que eles usariam durante o dia, calça jeans folgadas e uma camiseta vinho de gola alta. Ele foi na direção de Changbin em passos lentos, como se estivesse calculando o que iria fazer. Changbin deu um passo para trás, olhando para o homem loiro e um pouco maior com certo receio.
Christopher ainda era dono de grandes olheiras, apesar de que agora seu rosto estava somente inchado pelo choro e pelo sono. Ele dormiu várias horas, mais do que de costume, o que era bom na concepção de Changbin. Ele nunca dormia direito. Ele continuou vindo em silêncio, quieto e perigosamente bonito. Mas parou antes de chegar perto demais de Changbin, como se soubesse que ele não gostava da sua presença.
— Obrigado por mais cedo. — Ele agradeceu com um meio sorriso. — Eu não devia ter ficado daquele jeito na frente de vocês dois. Desculpa por isso.
Changbin tomou postura, girando os ombros um pouco e respirando normalmente. Ele olhou para Christopher, com aqueles olhos miúdos e pidões, e apenas deu um empurrãozinho no ombro dele, sem realmente afastá-lo, um silencioso está tudo bem. Desta vez, Christopher realmente sorriu, ainda fraquinho, mas ainda era um sorriso.
— Trouxe comida pra gente. — Ergueu as sacolas com as marmitas. — Vamos comer.
Jisung acordou eventualmente com o cheiro de comida, e se juntou a eles. Comeram ali mesmo, na cama do meio, Jisung sentado em cima do colchão com uma das marmitas no colo e um copo de suco de laranja na mão. Changbin comeu na cama onde Christopher estava dormindo, um pouco mais afastado deles dois que dividiam a cama do meio. Pouco tempo depois, Brian retornou com a cara de quem tinha notícias boas e ruins para o trio de rapazes. Ele foi recepcionado por Jisung como mais cedo, que o levou até as camas, pedindo para ele se sentar onde quisesse, mas preferiu ficar de pé de frente para os três homens. Changbin foi o único que ficou mais no canto, perto da cabeceira de uma das camas de solteirão, apenas observando em silêncio.
— Como você está? — Younghyun indagou para Christopher.
— Melhor. — Respondeu seco.
— Sinto muito pela Lucy. — Chris apenas sacudiu um pouco a cabeça, como se realmente não quisesse prosseguir com esse assunto por agora. — Bem, eu consegui falar com o pessoal em Seul. — Changbin o olhou lá do canto. Jisung também começou a prestar atenção no homem mais velho na frente que carregava um tablet em mãos e uma bolsa no ombro. — Tive que insistir muito para conseguir que eles te deixassem ficar na Austrália por duas semanas, o previsto era somente você viajar amanhã e voltar no dia seguinte, mas seria injusto com você. Sei que você vai precisar de um tempo para colocar a cabeça de volta no lugar. — Brian apertou o ombro de Christopher, que abaixou a cabeça, sem ter muito o que dizer. — Você viaja amanhã de manhã, vou te levar até o aeroporto no comecinho da manhã e te deixar lá. Ameya já foi informada sobre seu retorno, então de lá ela quem vai te orientar sobre o restante dos processos que a empresa pediu para te repassar.
— Espera. — Changbin ficou de pé, chamando a atenção do manager. — E a gente? Como ficamos nessa situação? — Younghyun coçou a cabeça, como se soubesse que era para eles a notícia ruim que trazia.
— Eu fiz o possível. — Changbin franziu as sobrancelhas, descrente do que tinha acabado de ouvir. — Infelizmente, vocês vão continuar com a agenda normal a partir de amanhã. Ainda temos muito o que fazer em Busan antes de retornar a Seul, e-
— E você quer que a gente aja normalmente na frente das pessoas como se nosso companheiro não tivesse saído do país simplesmente do nada. — Jisung também ficou de pé, indignado e um pouco impaciente. — Como vocês querem que a gente fale com o pessoal que perguntar sobre ele? “O Chan entrou numa coletânea de férias repentina gente, vamos manter daqui” Por Deus, isso nem faz sentido! Eu não vou fazer isso. — Cruzou os braços, decidido que iria contra a empresa se fosse necessário, mas não faria parte daquele teatrinho.
— A gente vai com ele — Changbin ficou na frente de Younghyun. — Você e aquela merda de empresa queiram ou não.
Brian olhou para Changbin na sua frente e para Jisung ao lado dele, praticamente formando uma barreira entre ele e o australiano, e deu um longo suspiro cansado. Caçou na bolsa as passagens, mostrando três, uma para cada um deles.
— Já imaginei que seria desse jeito então me adiantei. Aqui. — Entregou as três a Jisung, que pegou confuso. — O voo de vocês é às oito da manhã, vou chegar aqui bem cedo, então estejam acordados e de malas prontas, não vou aturar atrasinho. Entendeu, Christopher? — Virou a cabeça para o homem lá atrás, sentado na beira da cama ainda mais confuso que os dois na sua frente. Brian respirou fundo, guardando o tablet que carregava com algumas anotações e fechou a bolsa, pronto para ir. Eles tinham muito o que conversar, não ficaria ali segurando vela para aqueles três. — Tô indo, qualquer coisa liguem.
Ele saiu e num instante eles se viram sozinhos, rodeados por uma névoa de dúvidas e incertezas. As passagens ainda estavam nas mãos de Jisung, que segurava sem realmente checar se era verdade. Mas Younghyun não faria uma pegadinha com eles, faria? Jisung olhou os papéis, e não tinha nada estranho além do voo absurdamente cedo. Ele virou para Changbin e depois para Christopher, e sorriu. Era sua primeira viagem internacional, apesar do motivo da ida ser horrível, não conseguia esconder o quão animado parecia. Ele nunca tinha viajado para fora do país, já tinha feito uma pequena tour pelo país, coisa de semanas rodando cidades e redondezas, mas nada muito grande. Seu CEO dizia que ele ainda não estava pronto. E agora, ele estava mesmo indo para um país estrangeiro com eles, com seus ídolos, com os caras que gostava, como não podia ficar animado? Estava quase tremendo de ansiedade.
— Então, vamos fazer as malas? — Jisung indagou, tentando ser neutro.
— Espera, espera. Calma lá. — Christopher ficou de pé no meio deles, embora Changbin já estivesse indo ao banheiro para pegar seus produtos de higiene pessoal. — Como assim vocês vão comigo? Desde quando? — Ele olhou para Jisung que já estava ocupado com suas próprias coisas, separando os produtos de skincare numa bolsinha e indo até a cama para guardar na mala. Do outro lado, Changbin voltou do banheiro com uma escova de dentes amarela, creme dental, loção para o rosto e um protetor solar. — Gente? Vocês podem me responder?
— Foi ideia do Changbin. — Jisung apontou para o rapaz do outro lado do quarto.
— Valeu por explanar, boca de sacola. — Jogou uma camiseta no menino, que pegou e jogou de volta. Christopher olhou para Changbin, a testa enrugada e com uma interrogação acima da cabeça, como se quisesse entender porque ele faria algo assim. O Changbin que achou conhecer não faria isso, ou faria? — Tá olhando o que?
— Por que?
— Porque eu quis. — Ficou de costas para ele, dobrando algumas roupas que tirou da mala nos últimos dias. — Sei como é ruim perder alguém que amamos, e quando foi minha vez, ninguém estava lá por mim. Você não tem porque passar por isso também. — Changbin falou meio baixo, as orelhas queimando em timidez, como se fosse difícil admitir isso e falar sobre esse assunto. Christopher ficou quieto, reconhecendo a dor na voz do parceiro, mesmo sem saber o que exatamente tinha acontecido ou quem ele chegou a perder.
— Só queremos ficar com você. — Jisung falou de um canto, e enrubesceu quando percebeu o que tinha dito. — Ficar com você no sentido de estar lá com você, naquele momento difícil, entendeu? Não ficar com você, no sentido de ficar, ficar. — Ele começou a mexer as mãos, gesticulando sem parar como se não soubesse explicar. — A não ser que-
— Ele já entendeu, Han Jisung! — Changbin interviu antes que ele falasse o que não devia. — Ele entendeu. — Repetiu desta vez mais baixo, ainda tímido. — Só se apressa para arrumar suas coisas também, amanhã temos um longo dia. — Não olhou para Christopher enquanto dizia isso, mesmo que eles estivessem a poucos metros de distância. O quarto era relativamente pequeno. — Odeio viagens longas de avião. — Resmungou, voltando ao banheiro para buscar o restante dos produtos que levaria.
Christopher olhou para eles se desdobrando em se organizar para o dia seguinte e sentiu os olhos enchendo de lágrimas, emotivo como nunca estivera antes. Ele quis chorar por se sentir importante pela primeira vez desde que voou de Sydney até aqui, pelo sentimento que carregava por eles, por se sentir especial, mesmo que fosse apenas sua imaginação dizendo que ele era especial para aqueles dois homens. Mas Christopher se segurou, e foi até a mala e a bolsa que trouxe da capital, arrumando os pertences enquanto mordia a boca para não começar a chorar novamente, sem saber o motivo ao certo.
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