estrofe 01

      Como esperado, Ameya chegou uma hora antes do horário marcado para o embarque. E não ficou surpresa quando Christopher abriu a porta e revelou o caos que estava, o rosto amassado com marca do travesseiro, os olhos sujos e o pijama do Snoopy. Ameya questionou sozinha se seu trabalho a pagava o suficiente para no fim do dia acabar sendo babá de um marmanjo daquele tamanho.

— Você tá horrível. — Ela manifestou com sua melhor cara de desgosto, entrando no apartamento do outro australiano.

— Muito obrigado. — Christopher coçou um dos olhos, com muito sono para conseguir pensar corretamente.

— Some logo da minha frente. — Ameya empurrou ele até às escadas que levavam a única suíte da residência. E se arrastando como uma criança malcriada, ele subiu as escadas a contragosto. — E depois venha aqui com esse rosto lavado! — Gritou Ameya, se sentando no sofá para esperá-lo.

Minutos depois, Christopher já estava sentado em um puff preto em frente ao grande espelho que preenchia uma parede inteira da sua sala de estar com Ameya de pé na sua frente, usando com maestria um pincel cor de rosa que sempre carregava dentro da bolsa, junto com o kit de maquiagem de primeiro socorros, tentando a todo custo cobrir aquelas bolsas de água enormes que Christopher tinha por conta da insônia. Ela mexia pra lá e para cá, passando o pincel com cuidado enquanto ele esperava de olhos fechados.

— Arrumou a mala? — Indagou a mulher, muito concentrada.

— Sim, senhora.

— Certeza que não tá esquecendo nada?

— Tenho, mãe. — Ameya revirou os olhos exageradamente, mesmo que o outro não estivesse vendo.

Após alguns minutos trabalhando duramente para que Christopher pudesse sair na rua e não assustar a população com seu semblante cansado, eles pegaram as malas no andar de cima e saíram sem perder tempo.

—— 🎶 ——

O que Changbin poderia dizer? Não estava nem um pouco a fim de ir ao aeroporto buscar a estrelinha do mundo da produção. Sendo honesto, ele tentou MUITO não comparecer a essa palhaçada, mas após uns puxões de orelha ele decidiu entrar naquela van e ficar quieto o restante da viagem. Ignorando até mesmo quando fizeram uma parada para buscar o menino revelação que a mídia adorava bajular.

A ideia de ter que dividir o mesmo espaço com o australiano era sufocante, estressante e tinha quase certeza que fazia mal pra sua pressão arterial, tanto que mal conseguia prestar atenção no celular e ignorar o jeito que Jisung — era esse seu nome? — o encarava. Ele não tinha problemas em trabalhar com o garoto, o real problema era Christopher. Nem o próprio SpearB sabia da onde surgiu toda essa implicância com o outro rapaz, mas a ideia de trabalhar com ele era tão ruim que sua boca tinha um gosto amargo pela ideia.

Tentou pensar pelo lado bom desta situação, iria conhecer J.One. Já tinha visto o garoto em algumas premiações na qual participou, e tinha vontade de trocar algumas ideias com o menino pelo tanto que falavam bem dele por onde passava. Talvez se tentasse apenas prestar atenção a sua pequena empolgação em ter contato com J.One e esquecesse que Cb97 um dia existiu, sua dor de cabeça passasse um pouco até chegar no aeroporto e ter que lidar com o problema frente a frente.

—— 🎶 ——

Jisung cantarolava baixinho uma música que tinha acabado de inventar na cabeça enquanto esperava a van vir buscá-lo. Estava muito empolgado para conhecer seus parceiros de trabalho. Afinal, iria conhecer seus ídolos de adolescência, não tinha como não ficar empolgado.

Han admirava o trabalho de Christopher desde que entrou de cabeça no mundo da música, e para o cantor, Cb97 tinha um talento impressionante na produção, talvez quando estivessem um pouco mais próximos pedisse dicas, ele não parecia o tipo de cara que negaria isso de maneira rude, só precisava de coragem. Sobre Changbin, gostava do diferencial das suas músicas, o toque sério e suas melodias dramáticas e ríspidas, mesmo se a letra da música em si falasse sobre vivências pessoais ou até de terceiros. Se sentia representado pelas letras do rapper. SpearB enfrentava o mundo e Jisung gostava disso, queria ter a mesma coragem que ele tinha de ir contra normas e regras que a sociedade empunha.

A van o buscou rapidamente, e ele tentou muito ocultar seu lado fã quando a presença marcante de SpearB preencheu todo o espaço detrás da van, ele tentou muito mesmo. Sentou num banco que não ficasse muito na frente dele porque se conhecia o suficiente para saber que o encheria de perguntas, e ficou quieto. Às vezes o olhando de cantinho, ansioso para iniciar um diálogo, mas Changbin parecia não querer conversar, ele não seria indelicado para importuná-lo.

A van parou em frente ao aeroporto de Seul algumas horas depois e eles já podiam escutar a gritaria dos fãs à espera de seu ídolo. Jisung abriu um pouco o vidro do automóvel e observou o aglomerado de pessoas na entrada do aeroporto, estava impressionante com o tanto de gente que tinha ali à espera do australiano. Torcia para que a agência dele não fosse como a sua, e os seguranças fizessem bem o trabalho para conseguir salvá-lo daquela multidão fanática.

— Tem muita gente lá fora. — Jisung falou por alto, não esperando uma resposta de Changbin, mas se surpreendeu quando ele resolveu falar pela primeira vez na noite.

— Tomara que o voo dele esteja atrasado e ele não possa vir mais. — Viu de relance o manager do rapper beliscar o braço dele por cima do moletom que vestia, o repreendendo com um olhar feio.

Changbin revirou os olhos, cruzando os braços, o rosto virado numa expressão de descaso. Jisung voltou a encarar a janela assim que ouviu o alvoroço lá fora se tornar ainda mais alto. E por cima daquela multidão de pessoas ansiosas e eufóricas, ele viu uma cabeleira loira e óculos escuros. Era Christopher. Ele tinha chegado.

Não fora necessário muito tempo para que os seguranças do artista o colocasse dentro da van onde estava Jisung e Changbin. Christopher entrou rapidamente com uma mulher ruiva em seu encalço, o estardalhaço lá fora sendo abafada quando um dos rapazes da segurança fechou a porta do carro num empurrão bruto.

O ambiente dentro da van foi preenchido por um silêncio constrangedor enquanto Christopher colocava a mochila que carregava em um dos assentos, finalmente encarando os rapazes com quem iria trabalhar pelos próximos dias. Ele olhou para o que parecia ser o mais novo, e pelo que Ameya tinha passado para ele na noite anterior, ele era Han Jisung, um cantor novato com um futuro promissor. Ele tinha uma aparência jovem e aquele olhar sonhador que Christopher conhecia muito bem. E alguns assentos atrás, estava Changbin. O conhecia há um tempo, tinha um tipo de rixa, ou algo parecido, mas reconhecia que ele era muito esforçado quando o assunto era trabalho.

— Olá, sou-

— A gente sabe quem é você. — Changbin disse, impaciente. Seungkwan novamente o beliscou. — O que? — Encarou seu agente, coçando o local beliscado pela segunda vez.

— Me desculpe pela arrogância do Changbin, Christopher. — Seungkwan abaixou a cabeça ligeiramente, em respeito, enquanto dava uma rápida encarada no Seo, o repreendendo mais uma vez.

— Não se preocupe. — Christopher tentou sorrir, mesmo constrangido.

Se remexeu na cadeira atrás de uma posição confortável, olhando para Ameya de relance como se pedisse ajuda. Aquela seria uma longa viagem.

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