XXXVII - Antes do Recomeço

                                   Gustavo

       Outro dia sendo acordado por um ser muito pequeno, mas muito, muito exigente que gosta do café da manhã todos os dias pontualmente as oito horas.

       Se passaram dois meses desde o dia em que nossas famílias decidiram que era hora de ir embora, que era hora de uma mudança drástica em nossas vidas. Tudo está sendo organizado para que possamos nos libertar de fato do que nos prende aqui nesta cidade.

       — Pai anda logo, estou com fome. — Sou tirado dos meu pensamentos por uma bela princesa sem paciência.

       — O papai ainda está dormindo não grita. — Falo e ela se encolhe colocando a mãozinha na boca.

       — Desculpa, mas é sério estou com fome. E daqui a pouco a vovó vem me buscar. — Ela diz e eu sei que de fato precisamos nos levantar.

       — Ok, ok! Vamos comer e arrumar sua mochila. — Falo e ela se levanta rápido indo em direção à porta.

       Me levanto e deixo um beijo no meu noivo preguiçoso e sigo meu caminho até a cozinha, agora já consigo mexer nas coisas sem deixá-las cair, mas isso não significa que meus pulsos estão melhorando porque não estão.

       Eu sei que quando aquele maldito amarrou minhas mãos ele sabia bem o que estava fazendo, e eu sabia exatamente o que aconteceria se eu forçasse como fiz, mas ali o desespero de talvez perder Matheus falou mais alto que qualquer outra coisa, então estou tranquilo apesar de saber que jamais poderia operar um cérebro na minha vida.

       Sirvo Mel e ela come feito uma draguinha, nunca vi uma criança com tanta fome nesta vida. Mel está bem adaptada graças a Deus, não perguntou muito sobre Natália, mas em alguns momentos noto ela olhar para a foto da mãe que colocamos na parede do seu quarto. Todos os dias depois do Natal minha mãe resolveu que ela e Mel passeariam, ela queria que minha princesa não pensasse nas coisas que haviam acontecido, aliás todos nós tentamos fingir perto dela que tudo estava bem.

       Ouço a campainha tocar e sei que é minha mãe e ainda não sei porque ela toca se tem a chave. Vou em direção a sala e assim que abro a porta fico surpreso ao ver além da minha mãe um senhor com alguns papéis na mão.

       — Olá! O que está acontecendo mãe? — Pergunto e ela passa por mim me dando um tapinha nas costas.

       — Senhor Gustavo, sou um oficial de justiça e estou aqui para intimá-lo. Assine aqui por favor. — Ele diz e assim que eu termino de assinar ele me entrega uma folha e sai sem dizer mais nada.

       Olho o papel em minhas mãos e leio atentamente, não fico surpreso ao saber que é sobre a denúncia do Concelho sobre eu manter um relacionamento com um paciente.

       Volto para a cozinha e vejo minha mãe com a Mel toda organizada e pronta para sair.

       — Sobre o que é a intimação?
— Minha mãe pergunta enquanto acaba de colocar a mochila nas costas de Mel.

       — Sobre a acusação de quebra de conduta médica. — Falo e vejo ela travar o maxilar, já que ultimamente minha carreira tem sido um assunto tabu na minha frente ou de Matheus.

       — Calma mãe, de qualquer maneira isso nem importa tanto mais. — Falo mostrando meus pulsos.

      — Calma? Como vou ter calma, estou a ponto de matar todos aqueles merdas que acham que o hospital é deles agora, se não fosse por seu pai eu já tinha acabado com essa palhaçada de concelho. Eles estão tentando mudar as coisas por lá, mas não vão, o hospital é seu e se tudo der certo vamos ficar com a parte do João em breve aí eu quero ver a cara deles quando eu pessoalmente colocá-los na rua. — Ela fala irritada e não tiro sua razão, já que fui banido do hospital por três dos quatro membros restantes até a justiça resolver as acusações feitas.

       — Mãe, vamos deixar isso nas mãos do papai. Ele sabe o que faz e pelo que vejo tudo vainse resolver antes do que imaginamos. — Falo e ela concorda comigo.

       — Vamos mudar da assunto.
— Ela diz e eu concordo mais que depressa.

       — Vocês vão a clínica de reabilitação hoje? — Ela pergunta curiosa e eu afirmo, já que é graças àquele lugar que tanto Matheus quanto eu estamos bem melhor. Matheus já está bem mais forte, conseguindo até andar pequenas distâncias sem suas moletase e eu já não sinto tanta dor como antes.

       — Ótimo! Vamos fazer o seguinte: — Eu vou sair com Vânia e as meninas, vamos ver os móveis para a casa nova dela e vamos ao shopping comprar umas coisas que vamos precisar para o aniversário de Marcus, então quando for umas dezesseis horas nos encontramos para assinar os papéis das casas que ficaram prontas. — Ela fala e sou pego de surpresa de novo.

       — Por que sou sempre o último a saber das coisas nesaa família? — Pergunto indignado e ela ri da minha cara, fazendo Mel revirar os olhos.

      — Depois eu que sou a dramática. — Mel fala e sai andando, como um ser tão pequeno pode ser tão irritante as vezes?

       — Filho você olhou seu e-mail ontem? Tenho certeza que enviei para você a copia do contrato para você ler. — Ela diz e me sinto envergonhado por não ter olhado.

       — Eu não olhei, ontem foi dia de cinema. Você tem noção da bagunça que Mel e Matheus fizeram? — Digo tentando justificar o injustificável.

       — Não tem problema meu amor, só esteja pronto para o advogado as dezesseis. — Ela diz e me dá um beijo na bochecha antes de sair levando minha filha para a vida de futilidades.

       Subo para o quarto e encontro Matheus já de banho tomado e totalmente pronto para sair, o que me lembra que demorei demais conversando.

       — Me dê dois minutos que fico pronto para irmos. — Falo dando um beijo em sua testa.

       — Estarei lá embaixo tomando café. — Ele diz enquanto sigo para o banheiro.

       Quase meia hora depois entramos na clínica de reabilitação e cada um vai para sua sala, minha sessão dura em torno de duas horas é quando estou quase saindo sinto meu celular ligar e peço licença para atender o número que desconheço de quem seja.

       Assim que atendo uma voz masculina já vai direto ao assunto querendo saber se fala comigo ou com Matheus, a medida que ele fala minhas lágrimas se formam em meua olhos e não posso deixar de ficar muito triste com a notícia que acabei de receber. Não sei quanto tempo fico estático, mas ouço Matheus me chamar e saio do meu ostracismo dando lhe um sorriso triste.

       — O que aconteceu amor? — Ele pergunta e novamente lá estão as lágrimas.

       — Fala Gustavo, você está me assutando. — Ele diz me abraçando.

       — Acabei de receber uma ligação de Boston. — Assim que eu digo o nome da cidade Matheus endurece dentro do meu abraço.

       — E o que falaram? Não mente para mim, eu preciso estar preparado para nossa princesa. — Ele diz e eu sei que é verdade, já que o laço que eles criaram é muito forte.

       — O hospital acabou de comunicar o falecimento de Natália. Eles queriam saber se vamos querer trazê-la ao Brasil ou se iríamos para lá enterrá-la. — Digo e Matheus chora de forma compulsiva, e eu sei que é pela Mel, ele em momento nenhum deixou de lembrá-la de sua mãe, e dar essa notícia será muito difícil.

       — Como vamos falar isso pra ela amor? Ela é tão pequena, já aconteceram tantas coisas nesses últimos meses, minha bebê nem se recuperou do susto que passamos. — Ela começa a falar sem parar e fico muito preocupado agora.

       — Então o que você quer fazer? — Pergunto e ele me olha e só por esse olhar já sei  que ele não vai contar.

       — Você vai ligar para Boston e vai dizer que vamos trazê-la, vamos enterrá-la no Maranhão, que é para onde estamos indo. Eu, você, sua mãe e seu pai, essas serão as pessoas que vão saber disso, minha filha não vai saber agora que a Natália se foi. — Ele fala cada palavra mostrando que não haveria discução e depois de pensar estou de acordo, quando minha princesa crescer mais um pouco contamos e levamos ate onde Natália vai estar enterrada.

        — Ok! Vou pedir para meu pai resolver as coisas do traslado do corpo enquanto eu olho as casas funerárias do Maranhão. — Falo e sei que será tudo muito difícil por esses dias.

       — Agora vamos porque ainda temos um encontro com o advogado que está com o contrato das casas. — Digo e ele concorda.

       Seguimos até nossa casa em silêncio, mas quando entramos vejo os papéis da intimação e me lembro que não contei a ele sobre isso. Conto e tudo que ele me diz é que vai dar certo, sua tristeza é evidente, então o deixo digerir tudo no tempo dele.

        Converso com meu pai e explico tudo, nosso dia foi extremamente cheio até o momento de ficar cara a cara com nossa princesa. Matheus só lhe deu um abraço apertado e depois fingiu que nada havia acontecido, ele só nos olhou e todos entendemos e não questionamos.

       Os dias se passaram rápido e hoje é o dia da bendita acariação sobre os fatos que levaram a acusação de falta de conduta ética. Estamos todos aqui em uma sala apertada esperando para que eu seje chamado, meu advogado me aconselhou a negar o envolvimento com Matheus enquanto ele esteve no hospital, mas juntos eu e nossas famílias resolvemos que vou falar a verdade, se a justiça decidir que devevo perder meu CRM que assim seja.

       — Doutor Gustavo Lasmar. — Ouço meu nome ser dito por um homem que deduzo ser um oficial, olho para todos ali e me levanto sem dizer nada, por que eu sei o que quero e tudo que fiz para que eu pudesse ter Matheus comigo e não mudaria nada se isso fosse me tirar ele.

       — Espera amor! — Matheus fala e eu me viro para vê-lo se aproximar de mim.

       — Se lembre que eu amo você e que você ainda pode fazer o que o advogado sugeriu, isso não vai mudar nada. — Ele diz e só por essa atitude eu sei que nunca mentira sobre o que sinto por esse homem. Meu homem!

       — Eu amo você também, mas não se preocupe com o que vai acontecer lá dentro. Se preocupe com o que vai acontecer daqui pra frente, na nossa nova vida e no nosso casamento, eu sei que tudo vai dar certo. — Digo e dou um selinho em sua boca, olho meus pais e saio da sala indo em direção ao homem que me chamou.

       Assim que adentrei a sala me faltou surpresa ao ver um dos conselheiros lá, me observando com um sorriso de escárnio nos lábios.

       — Bom dia meretíssimo. — Digo e ele me indica a cadeira à sua frente para me sentar.

       — Bom dia senhores! Me chamo Frederico de Alencar e serei o juíz responsável pelo caso de falta de conduta ética e apartir de agora tudo que vocês falarem irá para registro. Aquele ali será o escrivão que trascreverá seus depoimentos. — Ele diz e concordamos.

       — Então vamos aos fatos: — Doutor Gustavo o senhor está sendo acusado de manter um relacionamento com um paciente durante sua longa internação no hospital onde também é acionista. Isso procede? — Ele pergunta e sou interrompido antes mesmo de abrir a boca.

       — Claro que é verdade, Se não não estaríamos aqui. — O imbecil fala olhando diretamente para mim na tentativa de me intimidar, o que não vai acontecer.

       — Se o senhor interferir novamente serei obrigado a pedir que se retire e não vou ouví-lo. — Doutor Frederico fala e vejo o babaca engolir seco e afirmar.

       — Prossiga doutor Gustavo. — Ele fala e então o respondo.

       — Em termos isso é uma verdade, meu relacionamento não foi longo, já que meu noivo acordou tem poucos meses de um coma de cinco anos, onde ele foi brutalmente estuprado e espancado. — Digo e vejo ele arregalar os olhos.

       — E porque esse fato não consta nos autos? — Ele pergunta olhando para o denunciante que dá de ombros.

       — Porque era um fato irrelevante, já que ele nunca deixou que outro médico cuidasse do viadinho enquanto esteve internado. — Ele fala e meu sangue ferve pelo modo como ele se referiu ao Matheus, mas a resposta não vem de mim.

       — Meça suas palavras dentro desse gabinete senhor. Homofobia não será tolerada e saiba que só por ter dito essas palavras diante de um juíz você poderia ser preso. — Ele fala e só então o canalha se dá conta do que acabou de falar.

       — Agora voltando ao caso, eu decido o que é relevante e esse fato é muito relevante já que a sua acusação você afirma que houve um relacionamento longo entre eles e pelo que vejo não é uma verdade, o que nos leva a outra falta grave, porque isso se enquadra em falso testemunho, passível de cadeia. — O juíz fala e posso sentir meu corpo relaxar, porque a verdade está vindo atona sem eu precisar fazer muito esforço.

       — Prossiga Doutor. — Ele fala e eu respiro fundo sabendo que a partir do que contar agora vai depender minha vida de Téo da medicina.

       — Bom, sim eu nutri uma paixão por um paciente em coma, eu nunca pensei que ele pudesse acordar, eu pessoalmente cuidei dele e seus exames me diziam que seu cérebro estava quase morto, então quando ele despertou eu não tive dúvidas que se ele me quisesse eu estaria com ele. Então descobrimos que ele também me queria e sim decidimos que não perderíamos mais tempo e iniciamos um namoro. Muitas coisas aconteceram depois disso, inclusive descobrir que o outro dono do hospital era o agressor de Matheus e nos vigiou o tempo todo. — Falo e vejo ele fazer sinal para que eu esperasse.

       — Você é o mesmo Gustavo que foi sequestrado alguns meses atrás? — Ele pergunta e nesse momento ele não diz mais nada, só se levanta e sai, voltando minutos depois com muitos papéis em sua mão. Ele joga os papéis encima de sua mesa e me olha e se volta para o homem ao meu lado.

       — Vejamos, eu sabia que seus nomes não me eram estranhos e para ser sincero até gostei da notícia, fica muito mais fácil para eu decidir qual será o veredito, não que eu tivesse alguma dúvida, mas agora minha base é muito mais sólida ao dizer que estou liberando o doutor Gustavo Lasmar de toda e qualquer acusação feita por esse concelho inconsequente. — Ele diz e meu coração da um enorme sobressalto, a surpresa me pega e não posso deixar de me sentir muito aliviado, mesmo que eu nunca mais possa operar.

       — Isso é um absurdo, ele quebrou as regras e sairá em pune? Quanto seu papaizinho pagou para comprá-lo? — Esse sem noção fala e posso vê-lo ser algemado por desacato sem ao menos ouvir uma palavra do Juíz.

       — Sabe por que está sendo preso meu caro senhor? — Ele pergunta, mas não é uma pergunta que ele queira saber a resposta.

       — Estou lhe prendendo não só pelo desacato, mas porque você fez um favor a polícia ao vir diretamente a nós. Ontem saiu as ordens judiciais para que você é mais seis pessoas fossem presas por causa desse processo. — Ele fala colocando a mão sobre as pastas que ele acabou de pegar.

        — Não é possivel! Não tenho nada a ver com essa confusão toda. — Ele fala mais alto que o normal.

       — Não é o que os computadores do seu escritório me disse. Lá haviam muitos contratos, muitas conversas e muitas, muitas provas de que você sabia que era João. — Ele fala e como eu já suspeitava não fiquei surpreso.

       — Pode levá-lo policial. — Ele fala e observo até que a porta é novamente fechada. Me viro para o juíz que me observa expeculativo.

       — Doutor pode ficar tranquilo, as acusações já seriam retiradas. Eu li e reli esses relatórios muitas vezes e não conseguia enxergar o motivo de tanto alvorosso por causa de um relacionamento entre paciente e médico, existem tantos outros por aí e nunca foram denunciados quando é de comum acordo. — Ele fala e só posso concordar e ficar aliviado.

       — Obrigado por pensar dessa forma, meu anjo sofreu demais e não queria que ele se ssntisse culpado por perder o CRM. — Digo e ele apenas concorda, mas preciso saber como anda o outro processo.

       — Vocês já tem tudo contra eles? Contra o João? — Pergunto e sei que agi de forma desrespeitosa, mas não vou voltar atrás na minha pergunta.

       — Sim. Em breve seus advogados receberão as intimações, mas não posso falar mais nada. Eu espero que o garoto esteja bem agora, quando eu li fiquei muito impressionado com a força dele, e eu espero que o júri pense da mesma forma. — Ele diz e um frio percorre minha espinha.

       — Vamos esperar que sim. Obrigado mais uma vez meretíssimo. — Digo e saio após assinar o meu depoimento.

       Assim que passo pela porta dou de cara com um Matheus muito ansioso, olho para cada um ali e sorrio dando-lhes uma resposta silenciosa. Meu corpo quase vai ao chão quando sou abraçado por meu anjo que não se importa com todos que estão nos observando e sela nossas bocas em um beijo cheio de significados e promessas.

       Seguimos para casa e conto tudo o que aconteceu e tudo que o juíz me falou, meu advogado ficou surpreso ao ouvir e me disse que talvez isso fosse bom para o caso, já que o doutor Frederico de Alencar nunca é agradável com ninguém dentro do tribunal. Ele nos contou que sua fama precede suas sentenças, e nunca um culpado sai em pune quando ele está presidindo um julgamento. Meu pai confirmou tudo após dar uma olhada na internet e ver sobre esse enigma dos tribunais.

                                 2980 palavras

    Olá moranguinhos!

  Como foram as festas de fim de ano? E a virada? A minha foi trabalhando 😭😭

   Bom, eu havia dito que seriam mais dois capítulos para o final, porém os capítulos finais ficaram muito grandes e eu acho cansativo e acabei por dividí-los. Então teremos ainda mais uns três 😬...

  Beijos StramberyBlack💕💕

PS: AVISO IMPORTANTE😎

   O vídeo é o teaser dos nossos bebês 😍😍😍😍😍 apreciem porque foi feito pela deusa do Wattpad no que diz respeito, a minha linda e muito querida tania_almeida. A capa nova também foi um mimo dela. 💕💕💕💕

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