XXIII- Meu segredo
Vânia
Olhar para Pedro com aquela cara de cínico, me causa ânsia de vômito, odeio esse cara com todas as minhas forças, mas com certeza tenho que agradecer a ele e aos outros canalhas que me colocaram neste lugar, principalmente por terem me dado a chance de conhecer o Gustavo e agora o Marcelo. Que hoje posso dizer são minha tábua de salvação para não enlouquecer de vez. Quando estou ao lado deles consigo desviar um pouco do meu sofrimento, da minha dor e saudade.
Sei que talves meu fim esteje muito próximo, mas desta vez eu não vou deixar que ninguém machuque o garoto de novo. Sei que preciso ser forte, sei que preciso recuperar o que tiraram de mim e sei que preciso ser corajosa para dizer toda a verdade.
Sei que é um grande risco eu contar a verdade e com isso posso estar pondo em perigo não só a mim, mas também ao meu serzinho, mas eu preciso me livrar desse peso, eu sinto que se eu contar eles vão me ajudar a recuperar minha vida de volta.
Olho para o Marcelo e sei que a partir de hoje a tarde ele pode passar a me odiar, mas prefiro isso a continuar escondendo essa informação deles, preciso protegê-lo e a minha família. Preciso tentar evitar que ele sofra outro atentado vindo daquele louco.
As horas parecem não passar e a cada minuto me sinto ainda mais vigiada, não sei se é impressão minha, mas preciso ficar alerta, já que todos resolveram ficar loucos depois que dona Bárbara levou o garoto embora, aliás loucos eles já são, mas agora está dando medo. O dia todo senti olhares de alertas sobre mim, sei que eles estão se sentindo ameaçados, estão apavorados com o fato do Gustavo e da Bárbara não abrirem mão do Marcelo, eles estão vendo o cerco se fechar em torno deles. Mas já ouviram aquele ditado que diz que a corda sempre arrebenta pro lado do mais fraco? Pois é, esse lado sou eu e não sei até que ponto eles podem armar para mim, sinto pânico só de tentar imaginar.
Olho para o relógio e me sinto aliviada, faltam pouco mais de meia hora para que eu largue plantão. Caminho até o vestiário sabendo que ao sair daqui hoje estarei assinando minha sentença, mas eu não estou suportando mais. Tomo um susto ao passar pela porta, lá está ele parado me olhando como se eu fosse o ser desprezível ali dentro.
— Olá Vânia, que bom que te encontrei sozinha não é? — Ele fala e eu me sinto totalmente desamparada.
— Só vim deixar um pequeno aviso, não precisa tremer tanto. Não se esqueça de manter a boca fechada sobre nosso segredinho, você sabe o que está em risco, então não faça nenhuma besteira. Você sabe bem que eu não trocarei de roupa para ferir um determinado alguém. — Ouço o traste do Pedro me ameaçar e um medo enorme cresce em meu peito, mas eu preciso arriscar.
— Olha Pedro, eu já passei por todos os tipos de ameaças com você, estou cansada de saber todos os riscos que corro, vocês já me tiraram tudo, sei bem do que vocês são capazes de fazer, então não se preocupe, por que assim como não falei nada nos últimos cinco anos, continuarei sem falar nada. — Digo e dou graças a Deus por não gaguejar, pois ele sabe quando estou blefando.
— Você acha que sou otário de acreditar nesse seu teatrinho de que não farei nada? Você acha mesmo que eu não te vi hoje com o infeliz do Gustavo conversando? — Ele fala e meu coração gela, pois sinto minha esperança morrer ali.
— Lógico que você viu, eu sou enfermeira dos pacientes dele e preciso relatar as coisas. — Falo e no mesmo instante sinto duas mãos circularem meu pescoço e me prender na parede, me debato, mas quanto mais força eu faço mais sufocada me sinto. Ele me olha nos olhos e posso ver ali uma mistura de muitas coisas, mas não de arrependimento, ele vai me matar eu fazendo ou não o que eles mandam.
— Eu não estou brincando sua vadia, então faça a merda que você foi mandada fazer e não abra o bico, lembre-se que você tem algo mais importante que sua vida a perder. — Ele fala e lágrimas escorrem por meu rosto, é triste você saber que não tem uma saída fácil para determinadas coisas. Então apenas confirmo com dificuldade e ele vai afrouxando seu aperto. Ele se vira e sai como se nada estivesse acontecido e eu? Estou aqui em pânico, porém mais decidida que nunca, já é hora de me livrar das amarras apesar de tudo.
Tem coisas na vida que se pudesse voltar atrás agente com toda certeza voltaria, no meu caso seria ter conhecido o Pedro, queria nunca ter me deixado levar pela lábia desse monstro, mas infelizmente não adianta chorar pelo leite derramado. Antes da porta se fechar totalmente ouço mais uma vez suas ameaças.
— Eu sei que você não fará nada de idiota, já que você sabe as consequências e como não vou estar mais aqui para te vigiar só quis deixar meu aviso docinho. — Ele fala e sinto repulsa pela forma que ele ne chama, mas preciso manter minha postura até o final.
— Pedro eu já sei de tudo isso, no último minuto você repetiu a mesma coisa muitas vezes e ao longo desses anos também, mas você tem que entender que eu preciso continuar a fazer meu trabalho, mesmo que o garoto não esteje mais aqui. Digo e ele pensa alguns segundos e como se concordasse ele simplesmente deixa a porta finalmente se fechar.
Deixo meu corpo cair no chão e as lágrimas descessem junto com um turbilhão de emoções. Choro mais alguns minutos mas sei que preciso fazer o que for e agora é a hora, me troco o mais rápido que consigo e saio em direção ao estacionamento onde sei que Gustavo vai estar me esperando.
Gustavo
Estou uma pilha de nervos desde hoje pela manhã quando o inescrupuloso do Pedro tentou fazer do meu anjo o vilão e ele a vítima para Minha mãe. Não sei o quanto ele está envolvido nessa história toda, mas sei que de alguma forma tem o dedo podre ele em tudo isso, mas eu não deixarei isso barato e assim que eu obter provas ele vai pagar caro.
Mas de tudo isso uma coisa boa saiu e ver minha mãe defendendo o Marcelo como uma mãe leoa faz me deixou muito feliz, ver que ela realmente nos aceita é de longe a melhor coisa que vivi nos ultimos tempos. Sei que ela o conhecer em sua antiga vida ajuda na aceitação, mas não diminui o fato de que ela o defenderá de todos e se ela o fizer meu pai faz também, então meu anjo terá uma linha de defesa muito sólida.
Estou muito ansioso para chegar em casa e ver como meu anjo está se sentido com todas as mudanças e estou ainda mais ansioso para poder lhe contar tudo que descobrimos, sei que ele não terá a memória daquelas pessoas, porém ele saberá que não está mais sozinho, que ele tem pessoas que se importam realmente e o amam acima de tudo.
E ainda tem esse tal segredo que a Vânia vai nos contar, e só de pensar Bom que possa ser fico ainda mais ansioso. Olho para os lados e vejo ela sair pela porta lateral do hospital, ela está estranha, olhando para todos os lados como se tentasse não ser vista. Ela caminha em minha direção e começo a ficar preocupado porque agora posso ver marcas em seu pescoço que não estavam ali na parte da manhã. Assim que ela para ao lado do carro não tenho nem a chance de lhe perguntar como aquele roxo chegou ali.
— Vamos sair daqui Gustavo — Assim que ela fecha a boca eu sei que minhas desconfianças estão certas, ela parece apavorada, então abro a porta do carro e ela entra sem fazer cerimônia. Assim que entro no carro me viro para olhá-la e há terror neles.
— Não precisa ter medo de seja lá o que for, a pessoa que fez isso com você, não fará novamente. — Falo e vejo ela levar as mãos ao pescoço e tentar cubrí-lo, mas falha miseravelmente já que a marca é muito maior que suas mãos pequenas.
— Nós vamos dar um jeito em tudo, seja lá o que for, vamos resolver. Eu te prometo! — Falo e vejo suas lágrimas cairem e isso corta meu coração.
— Não sei o que o futuro nos reserva, mas vamos concertar tudo que está errado, e mesmo que eu ainda não sabia o que está acontecendo com você, quero que saiba que não abandono amigos. — Termino de falar e vejo seu corpo relaxar então me viro para frente e sigo nosso caminho até a casa dos meus pais. O caminho é feito em um silêncio sepulcral, mas eu sei que ela precisa de espaço e quando estiver pronta ela vai falar.
— Gustavo quem vai estar na sua casa hoje? — Ela pergunta quando percebe que já estamos chegando.
— Não muitas. Eu, você, meus pais e os pais do Marcelo. Ela me olha e respira fundo.
— Quando chegarmos la gostaria de ser a primeira a me explicar, assim todos ficam sabendo de uma única vez, antes mesmo dele ficar sabendo quem são seus pais. Pode ser? — Ela pergunta e não tenho como negar vendo toda a angustia estampada em seu rosto.
Estaciono na entrada da casa dos meus pais e vejo que nossos convidados já estão aqui. Posso imaginar a ansiedade de todos la dentro.
Marcelo/Matheus
Sair daquele hospital foi a melhor coisa que me aconteceu hoje, aquele lugar não me trás boas vibrações, claro hospital nenhum trás, mas não sei como explicar. É como se ali eu estivesse sempre em um reality show, era como se eu estivesse sendo vigiado vinte quatro horas e essa sensação só piorou nos últimos dois dias.
Olho o lindo quarto onde minha sogra me colocou e sou realmente grato por essa família ter me acolhido, sei que não os conheço ainda, mas uma coisa em meu coração me diz que serei muito feliz vivendo ao lado deles aqui nesta imensa casa.
O senhor Hector é um homem extremamente gentil e junto com a dona Bárbara são meu ideal de vida com o Gustavo. Em poucas horas que estou aqui ficou em evidência toda a cumplicidade que eles compartilham, em cada pequeno gesto eles deixam claro o amor que sentem um pelo outro.
E o que falar dos amigos de dona Bárbara? Eles são pessoas que também me ganharam um pouquinho, foram de um cuidado comigo desde que cheguei que não tenho como como agradecer. Me senti tão acolhido pelo senhor Patrício e todas as vezes em que olhei em sua direção seus olhos estavam cheios de lágrimas não derramadas. Tive muita vontade de perguntar o por quê de tanta emoção, mas achei que seria deselegante, então fiquei só na curiosidade.
Finalmente está quase na hora da tal recepção que minha querida sogra está organizando para mim, mas o que quero mesmo é que meu doutor chegue logo em casa, estou com tanta saudade que chega a incomodar. Ouço uma batida na porta e como ainda não consigo andar deve ser alguém para me buscar, já que dona Cláudia me avisou que já estava quase na hora de descer.
— Entre! — Digo e vejo o senhor Patrício passar pela porta. Assim como eu ele não se move muito bem por causa de um derrame que ele teve dois anos atrás. Quando ele me contou isso me senti tão mal, com um sentimento de impotência, mas mesmo assim ele me disse que hoje era um dia muito especial para eles e que nada mais importava.
— Oi filho, a Bárbara pediu para eu ajudá-lo a descer para a recepção. Você já está pronto? — Ele pergunta e eu confirmo, mas seu nervosismo me incomoda e dessa vez eu não me contenho.
— Estou sim, mas posso lhe fazer uma pergunta? — Ele concorda e eu não perco tempo.
— Por que o dia todo senti como se quisesse falar alguma coisa, mas se continha? — Pergunto e vejo seu semblante mudar e ele abaixa a cabeça enquanto me respondia.
— Não é nada, e vamos logo antes que a Bárbara mande o exército atrás de nós dois. — Ele fala tentando fazer graça, mas falha miseravelmente ao tentsr mudar de assunto, o que me deixa ainda mais curioso. Ele me ajuda com um pouco de dificuldade passar para a cadeira e seguimos devagar para o andar de baixo.
Quando chegamos ao topo da escada vejo Hector vindo em nossa direção e sem muita cerimônia ele me pega nos braços descendo comigo das escada e me colocando no sofá. Levanto meus olhos para olhar as pessoas que ali estão presentes e me surpreendo ao ver minha amiga sentanda ao lado do Gustavo que assim que me vê acomodado abre um enorme sorriso e se senta ao meu lado, fazendo meu coração se acalmar no mesmo instante.
Vânia vem até mim e me dá um daqueles abraços de urso que quase me parte ao meio, mas não posso evitar abrir um enorme sorriso para sua atitude.
— Calma mulher, assim você acaba de quebrar o resto. — Digo e ela se afasta de mim deixando um beijo em minha testa antes de se sentar novamente.
Todos a nossa volta estão nos olhando e acabo por me sentir constrangido novamente. Com isso sinto a mão do meu namorado muito lindo e gostoso se juntar a minha, me dando força. Olho em sua direção e nossos olhos se cruzam e tenho muita vontade de beijá-lo, mas temos uma plateia enorme nos observando, então ele apenas me da um sorriso reconfortante. Dou um beijo em sua mão que está entrelaçada a minha e ele acaba por repetir o mesmo gesto, fazendo com que todos sorrissem. Sinto meu rosto queimar de vergonha, mas realmente não me importo em demonstrar meu amor por ele, então que olhem.
Ouço Hector chamar nossa atenção e me desconecto do nosso momento bolha me viro para meus convidados e seus olhares dizem muito do que estão pensando, mas em nenhum deles vejo repulsa ou reprovação.
Em cada um ali vejo algo, em alguns vejo alívio, como em Gustavo e Bárbara. Em outros como Vânia, Cláudia e Patrício vejo aprienção, medo até, mas não sei o porquê e isso está começando a me deixar preocupado. Alguns minutos se passam e vejo Vânia se endireitar no sofá e mudar sua postura e sei que agora é o momento que eu venho esperando, minha amiga tem um segredo e sinto que agora ela vai dizer, e o que me faz ter certeza é o enorme hematoma que há em seu pescoço.
2488 palavras
Olá moranguinhos 😍😍
E aí? Estão apreensivos com o tal segredo da Vânia? Eu estou 🙈.
Beijos StramberyBlack💕💕
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