Capítulo 17
Ficamos namorando um pouco dentro do carro, no estacionamento do prédio.
— E quanto ao divórcio? Já começou a agilizar a papelada? – Perguntei enquanto passava a mão em seus cabelos.
— Já falei com o meu advogado, ele vai dar entrada nos papéis o mais rápido possível. Só espero que não tenhamos que partir para o divórcio litigioso.
— Pelo andar da carruagem, acho que vai ser litigioso sim. – Fiz uma careta.
— É, eu também estou achando isso.
— Mas porque você não será sua própria advogada nesse caso? – Perguntei.
— Não quero me desgastar com essa história, prefiro outra pessoa lidando com o Júlio. Nossa convivência em casa está cada vez pior.
— Mas quanto tempo vai demorar pra que você se livre dele de vez?
— Ainda que seja litigioso, não deve demorar mais do que três meses.
— E quanto à partilha de bens? Como vai ficar? – Questionei.
— Quando foi para me casar com o Júlio, ele quase fez um escândalo porque queria que fosse Comunhão universal de bens, ou seja, eu teria que dividir tudo que já possuía até então, somado ao que fosse adquirido por nós dois após a união, inclusive dívidas. Eu estranhei muito, é claro, mas não o fiz. Decidi por Separação total de bens.
— Será se não foi uma jogada dele? Pensando que iria ganhar alguma coisa se separasse de você?
— Não sei, pode ser que sim. Confesso que achei muito estranho o jeito dele na hora. Ele ficou com muita raiva quando optei pela separação total de bens. Ele não teve escolha a não ser aceitar, mas que ele não gostou... disso eu tenho certeza.
— Então ele não leva nada quando vocês se separarem? – Perguntei feliz já imaginando a cara do Júlio indo embora com uma mão na frente e outra atrás.
— Não. Ele só levaria alguma coisa se o imóvel ou o que quer que seja estivesse registrado no nome de ambos. Como eu não comprei nada com ele e nem passei nada para o nome dele, então ele não leva nada. – Lígia sorriu.
— Mas e esse apartamento? É seu?
— Sim, tenho desde os meus dezoito anos. Meu pai e minha mãe me deram de aniversário, e está no meu nome. Imagina, eu teria que vender tudo... carro, apartamento, a casa que eu tenho também em Florianópolis... Ia ser um prejuízo e tanto. A cada dia que passava eu conhecia mais um pouco da Lígia.
— Humm, Florianópolis é? – Sorri.
— Aham. É em Ribeirão da Ilha e de frente para o mar. – Lígia também sorriu.
— Mas mudando de assunto... Quando eu vou conhecer seus pais? – Perguntei.
— Devagar mocinha. Deixa eu me livrar do Júlio primeiro, depois pensamos nisso.
— Ok. Mas eles moram aqui?
— Não, em Florianópolis. – Lígia suspirou.
— Depois que conheci o Júlio, quase não os vejo mais. Ele sempre cria um jeito de frustrar com os meus planos de ir vê-los.
— Porque será? – Perguntei.
— Não sei. Minha mãe vive me cobrando uma visita, mas agora com as aulas está complicado. Nem peguei muitos casos também. Lígia também era advogada, mas ultimamente estava dando mais preferência nas aulas.
— E eles sempre moraram lá? – Perguntei.
— Não, eles moravam aqui. Eles ficaram encantados com Florianópolis depois de uma viagem que fizemos para lá, e de acordo com que a violência ia crescendo aqui, eles decidiram que já era hora de se mudarem. Eu que optei por ficar aqui, já estava com dezoito anos também. Então meu pai vendeu o nosso antigo apartamento e comprou uma casa em Florianópolis e me deu esse de presente.
— É, lá deve ser legal de morar. Não conheço, mas espero conhecer em breve.
— E você vai. – Lígia sorriu. — Minha mãe vai adorar você.
— Será?
— Com certeza. Acho que ela preferia me ver com qualquer outra pessoa que não fosse o Júlio. Ela e meu pai o odiavam. Acho que eles sempre tiveram razão quando disseram que o Júlio não era a pessoa certa para mim. Vão fazer a maior festa quando eu disser que me separei dele.
— E você já contou pra eles sobre o divórcio? – Perguntei.
— Não, quero fazer uma surpresa a eles.
— Sabe amor, eu acho que o Júlio só queria se dar bem com você. – Falei mudando de assunto e quando olhei para Lígia, vi que ela estava sorrindo.
— O que foi?
— Você me chamou de amor. Foi tão espontâneo como se já me chamasse há tanto tempo. – Fique sem graça.
— Você não gostou?
— Pelo contrário, quero que você me chame mais vezes assim. – Ela sorriu e me deu um beijo. — Mas o que você estava falando antes?
— Que eu acho que o Júlio só queria se dar bem com você, ele pode até gostar de você... de uma maneira errada, mas acho que ele sempre se interessou mais pelo seu dinheiro.
— Às vezes isso me passa pela cabeça também. É uma pena ter gente que só se interessa pelo dinheiro dos outros. Mas uma coisa é estranho, eu nem sou rica... se eu até fosse rica seria outra história, mas não sou.
— Você é sim. Lígia, olha o apartamento que você mora! Nem em sonhos eu me imagino comprando um carro igual ao seu também... Qual é mesmo ele?
— Um Audi A5.
— Caramba, olha só. Deve ter custado uma fortuna né?
— Quase isso. – Ela riu. — Alex, eu trabalho desde muito nova. Sempre economizei para comprar as minhas coisas. Não vou negar que sobra bastante no final do mês, mas eu guardo tudo na conta. Não fico esbanjando riqueza por aí e nem mostrando que eu tenho isso.
— É eu sei. – Sorri. — Mas agora mudando de assunto... Sobre o DVD, eu acho que sei quem mandou. Mas é só uma suspeita.
— Quem? – Lígia ficou séria de repente.
— Eu não vou falar ainda. Como eu disse, é só uma desconfiança. A Kimi e o Caio vão me ajudar a descobrir isso.
— Alex... por favor, não se meta em confusão.
— Eu não vou, prometo. – Dei um sorriso amarelo.
— E eu devo acreditar nisso?
— Claro que deve. – Dei um beijo nela. — E o que faremos se descobrirmos quem nos filmou? – Perguntei.
— Não sei, mas o correto é entregar nas mãos da polícia. Alex, filmar os outros sem consentimento, é crime. Não importa quem filme, é crime.
— É, eu sei.
Ficamos mais um pouco dentro do carro até subirmos. Assim que cheguei em casa, almocei e me tranquei no quarto. Umas cinco da tarde, Maria bateu na porta do meu quarto, me entregando uma encomenda. Eu já imaginava do que se tratava. Era outro DVD, com a mesma letra.
Tranquei a porta do quarto e fui assistir. Eu estava certa, era uma filmagem minha e da Lígia ontem no estacionamento da faculdade, dentro do carro dela, antes de irmos para o motel. A pessoa que filmava, que eu tinha agora quase certeza de ser o Flávio, não falava, não mostrava o rosto e nem sequer uma parte do corpo. O que mais me assustou e me deixou arrepiada foi que a tal pessoa conseguiu filmar dentro do carro sem o vermos. Confesso que não vi ninguém no vidro da frente do carro. Como será que ela ou ele conseguiu essa proeza? Está certo que eu estava bastante ocupada naquela hora, tinha um corpo escultural ao alcance das minhas mãos e boca... Mas mesmo assim, qualquer um que se aproximasse do vidro, nós o veríamos, não é?
Essa pessoa era inescrupulosa e estava brincando com a gente. Eu teria que pegar o celular do Flávio imediatamente e descartar se era ele ou não.
E para piorar, escutei a voz do Júlio vindo da sala. Dona Maria bateu na porta do meu quarto em desespero, me chamando.
— Alex. Tem um moço lá na sala furioso, disse que quer falar com você. E que se você não aparecer, vai quebrar tudo. Faz alguma coisa, por favor? – Suspirei sabendo que viria uma bomba pela frente.
Dona Maria parecia que ia ter um ataque de tão nervosa que estava. Fui até a sala e vi o Júlio de costas para mim, olhando uma foto minha e do Dylan em um porta retrato.
— Posso saber que escândalo é esse? – Perguntei e Júlio colocou o porta retrato no lugar se virando em seguida.
— Eu quero saber que pouca vergonha é essa? – Ele jogou um envelope na minha direção.
— Não sei do que está falando.
— Abra e veja. – Júlio estava com a voz baixa e ameaçadora. Dava para ver que se controlava muito para não cometer uma loucura. Peguei o envelope e vi que o destinatário constava nada mais do que: "Ao marido da Lígia". Era a mesma letra que estava na minha encomenda com o DVD.
Abri e vi que dentro tinha várias fotos, peguei-as e olhei cada uma delas. Eram as imagens do mesmo DVD que recebi agora à tarde.
— Ah, isso? – Perguntei indiferente. — É o que você está vendo aqui, simples assim.
— Eu não vou permitir que a Lígia fique com você. Me recuso a aceitar que uma garotinha a roube de mim. – Ele se aproximou de mim. — Fique longe dela.
— E o que você vai fazer comigo? – Perguntei desafiando-o.
— Não me provoque Alex!
— Porque não deixa a Lígia em paz de uma vez? Ela não te ama.
Foi tudo tão rápido, só percebi quando eu já estava no sofá. Júlio me jogou no sofá e começou a me estrangular. As fotos que estavam na minha mão, foram parar todas no chão. Eu me debatia e tentava arranhá-lo ao mesmo tempo em que tentava puxar o ar que não vinha. A força dele era o triplo da minha e achei até que meu pescoço fosse quebrar, tamanha era a força com que ele o apertava.
— VOCÊ NÃO VAI FICAR COM ELA! – Ele gritava ao mesmo tempo em que me enforcava. — NEM QUE PRA ISSO EU TENHA QUE TE MATAR, ALEX.
Minha vista começou a ficar turva e eu já estava sem ar. Eu sabia que se não fizesse alguma coisa, morreria bem ali, no sofá da minha casa. Escutei um barulho e senti o aperto em minha garganta afrouxar, vi Júlio tombar para o lado ao mesmo tempo em que comecei a tossir e a puxar o ar com força de volta para meus pulmões.
Meu herói estava parado, olhando para Júlio com os olhos arregalados. Dylan segurava uma panela pelo cabo e a deixou cair, fazendo um grande estardalhaço.
— Vo... Você está bem? – Dylan me perguntou, ainda assustado e com os olhos cravados em Júlio.
— Sim. – Falei com a voz rouca. — Obrigada.
Dona Maria olhava tudo atônita, acho que ela estava em choque e se Dylan não estivesse lá, acho que ela teria me deixado morrer. Não a culpo, em alguns casos a pessoa fica em choque e nem consegue se mexer.
A campainha tocou e eu fui atender. Assim que abri a porta, Lígia olhou meu pescoço vermelho.
— O que aconteceu, Alex? – Ela se preocupou e passou a mão carinhosamente em meu pescoço.
Apontei para o Júlio, que estava desmaiado no chão.
— Esse imbecil tentou me enforcar. – Minha garganta ardia não só por fora, onde Júlio apertou com as mãos, como por dentro.
Lígia o olhou e depois viu todas as fotos espalhadas pelo chão.
— Alex, eu acho que você já pode colocar seu plano em prática e descobrir quem é que está mandando esses DVDs... Eu recebi um agora à tarde. – Ela me encarou.
— Eu também recebi. – Encarei-a de volta.
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