Capítulo 13
Assim que cheguei na sala de aula, Kimi me abordou.
— Bom dia Alex! E aí, você contou pra sua mãe sobre o marido da professora?
— Contei em partes. Só falei que bati nele.
— Ela brigou muito?
— Um pouco.
Ficamos conversando amenidades e o tempo foi passando, Caio chegou e se juntou a nós duas.
— Caramba Alex, você tá péssima hoje. – Ele comentou.
— É, eu também reparei, mas não falei nada. – Kimi falou e deu um sorriso sem graça.
— Eu tive uma noite ruim, só isso.
Minutos depois Lígia entrou na sala, parecia tão mal quanto eu.
— Acho que você não foi a única que teve a noite ruim, pelo visto. – Caio sussurrou.
Lígia estava com olheiras e parecia estar aérea.
— Bom dia! – Lígia deu um bom dia desanimado e se sentou para fazer a
chamada. Depois da chamada, começou a aula. Parecia estar no piloto automático, se perdia nas falas e às vezes falava coisas repetidas. Sem contar o fato de parar no meio da explicação e ficar me encarando, eu reparava é claro, mas desviava o olhar. Ainda estava bastante magoada com ela.
— Vocês brigaram? – Kimi perguntou.
— Nós terminamos o que nem tínhamos começado. – Falei derrotada.
Kimi não perguntou mais nada, talvez não quisesse se meter nessa história.
A aula da Lígia demorou uma eternidade, ao contrário das outras vezes que passava voando, essa passou que nem uma tartaruga. O pessoal foi saindo da sala e percebi que Lígia estava enrolando um pouco, provavelmente
queria falar comigo. Foi dito e certo, ela perguntou se podia falar comigo, mas
fui fria e disse que não tínhamos mais nada para conversar. Lígia tentou insistir em falar comigo, mas não dei chance e assim ela saiu da sala com o semblante abatido e eu... completamente destruída por dentro por ter sido tão dura com ela.
Ao final da última aula, fomos visitar Brenda. Assim como eu havia previsto, minha entrada foi proibida pelos pais dela. Fiquei esperando Kimi e Caio voltarem.
— E aí, alguma novidade da Brenda? – Perguntei.
— Sim. Eu falei com a mãe dela agorinha e ela não deu certeza, mas parece
que hoje o doutor vai fazer uma visita pra Brenda e estudar o caso dela, se
tudo estiver certo ela terá alta.
— Sério? – Fiquei feliz. — Vai ser bom se ela sair daqui. Esse lugar não é nada
legal.
O lugar que Brenda estava era de dar dó, um lugar triste. Muitas pessoas que estavam ali, já haviam tido surto como ela e muitos dos casos pareciam ser irreversíveis. Aqui eles sempre deixam os casos mais extremos separados. Muitos casos são de pessoas com abstinência de drogas, esses são os piores em minha opinião, esses pacientes se tornam agressivos com os outros ao redor.
Enquanto eu esperava os meninos voltarem, todos os pacientes ali
estavam em uma espécie de “banho de sol”, é claro que nem todos se
encontravam do lado de fora. Brenda, por exemplo, optou por ficar em seu
quarto que dividia com mais duas outras mulheres consideradas casos leves.
Esses “banhos de sol”, como eu chamo, são do lado de fora, sendo escolha do paciente se quer sair do quarto ou não, de um lado os casos leves e do outro os mais graves. As visitas acabam passando em um corredor pelo meio dos dois, é claro que é fechado, mas mesmo assim temos contato com eles. Assim que passamos para ir até a recepção, alguns homens falaram obscenidades, o que deixou Kimi completamente assustada. Outros nos perguntavam se possuíamos algum cigarro ou baseado. Descobri um pouco depois pelo guardinha de lá, que puxou assunto comigo enquanto eu esperava os meninos, que esses pacientes são os que estão em abstinência de drogas e os mais agressivos da clínica, e que falam besteiras para qualquer um que chegue lá. Aquilo me incomodou de certa forma, pois eles estavam lá para
serem tratados, não deveriam ser deixados onde as visitas passam, podendo atrapalhar o tratamento deles.
É claro que cada caso é um caso, mas talvez muitos dos que estavam lá não queriam ser ajudados. E muitos não têm com quem contar, nem sequer um
familiar. Alguns foram até abandonados ali, com a esperança de serem cuidados melhor do que seriam nas ruas.
— Verdade, esse lugar é muito triste. – Kimi ficou séria de repente. — Já pensou na conversa que você terá com ela sobre aquele assunto?
— Ainda não. – Respondi.
Kimi me deixou a par da situação: Brenda estava bem, não havia delirado e parecia sã o tempo todo. Estava reagindo bem aos medicamentos e tinha esperanças de ganhar alta quando o médico passasse hoje à tarde. Kimi
ainda me transmitiu o recado de Brenda: de que estava morrendo de saudades
de mim e que estava cuidando bem do meu colar.
Depois da visita, até fiquei um pouco mais feliz por saber que Brenda
estava se recuperando e assim como ela, eu também torcia para que saísse da
clínica o mais rápido possível.
Cheguei em casa e fui logo almoçar. A fome veio com tudo, comi um prato de comida como eu nunca havia comido antes e até a Dona Maria ficou me olhando assustada.
— Estava amarrada Alex? – Dona Maria perguntou.
— Não. Só com fome mesmo. – Sorri.
— E o que eu não entendo é como você ainda tem esse corpinho?
— Muita sorte, eu acho.
Depois que almocei, fiquei no meu quarto durante a tarde e à noite desci
para correr na praia mesmo desanimada, estava triste com toda a situação com
a Lígia e ficar longe dela estava me deixando maluca, eu estava morrendo de
saudades.
Quando voltava para casa, depois da corrida, encontrei com mamãe na
portaria do prédio, ela havia ido ao mercado.
Enquanto esperávamos o elevador, Júlio apareceu todo sorridente e com o olho ainda roxo por conta do soco que lhe dei.
— Ora ora, olha só quem eu estou vendo. Alex, como vai? – Júlio falou. Não o
respondi. — Espero que tenha gostado do presente que te enviei... o DVD. –
Júlio debochou.
Respirei fundo e serrei meus punhos com força, a minha paciência tinha
ido embora no momento em que avistei o Júlio.
— Como vai Dona Ângela? – Ele perguntou para minha mãe.
— Vou bem, Júlio. E você? – Percebi que mamãe foi um pouco fria, mas educada.
— Estou ótimo. – Ele riu.
O elevador chegou e entramos, fiquei ao lado da minha mãe e de frente
para o Júlio.
— Ah Alex, a Lígia te mandou um beijo. – Ele piscou para mim, me provocando.
— Cretino. – Falei entre dentes encarando-o com raiva.
— Alex! – Mamãe bradou.
— Não vai mesmo me dizer o que achou do DVD? A Lígia estava divina, não é? Ela gosta daquele jeito, se é que me entende. – Ele estava com um sorrisinho cínico na cara.
Não aguentei e avancei sobre ele enquanto xingava-o a plenos pulmões.
Mamãe se assustou e deu um gritinho tentando se manter afastada. Mandei
um gancho de direita e dessa vez aceitei-o bem no nariz. Acho que consegui quebrar porque sangrava bastante.
— Go fuck yourself, you son of a bitch. Your sucker, scoundrel, stupid… –
Tentava acertá-lo de todas as formas, com chutes e mais socos.
Mamãe conseguiu me tirar de cima do Júlio com dificuldade.
— Alex, para! Já chega. Ficou maluca? – Mamãe berrava.
O elevador parou no sétimo andar e Júlio saiu tropeçando nas pernas e com a mão no nariz, ainda segurou a porta e disse:
— Pensou na proposta que eu fiz, Alex? Eu, você e a Lígia? – Aquilo me subiu
o sangue novamente e tentei me desvencilhar para avançar em Júlio outra vez, mas mamãe me segurava firmemente. — Eu sei muito bem do que a Alex precisa, Dona Ângela... Ser domada. – Ele falou olhando meu corpo com um brilho maníaco no olhar que me arrepiou.
— Sai daqui ou vou chamar a polícia, Júlio. – Mamãe gritou e Júlio deixou a
porta do elevador fechar.
Mamãe me soltou, ela parecia bem nervosa.
— Agora minha filha virou uma delinquente que vive batendo nos outros? – Ela falava enquanto íamos para o apartamento. — O que foi aquilo tudo, Alex? – Mamãe perguntou falando alto e fechando a porta da sala.
— O que houve? – Papai apareceu na sala preocupado. Dylan apareceu logo em seguida.
— A Alex se atracou com o Júlio dentro do elevador. – Mamãe estava possessa agora.
— Que isso, Alex? Ficou maluca? – Papai perguntou.
— Porque todo mundo fica me chamando de maluca? – Indaguei.
— Alex... – Mamãe respirou fundo. — Eu não estou de brincadeira. Ele estava
te provocando lá no elevador, que DVD é esse que ele falou?
— Dylan vai para o quarto. – Papai mandou e Dylan saiu rapidamente.
— A encomenda que eu recebi ontem, lembra? – Perguntei e mamãe concordou. — Era um DVD. O Júlio filmou ele a Lígia... transando... e me
mandou a filmagem. – Mamãe colocou a mão na boca em surpresa.
— E porque ele faria isso? Você queria ver eles dois... Você sabe...? – Papai
perguntou.
— É claro que não! – Explodi de raiva.
— Baixa o seu tom, mocinha! – Mamãe brigou.
Resolvi contar de uma vez o que aconteceu, desde o primeiro DVD que
eu recebi até a proposta indecente do Júlio de fazer um ménage comigo e a
Lígia, terminei contando o que aconteceu no elevador e o arrepio que senti ao
vê-lo com aquele brilho nos olhos quando disse para minha mãe de que eu precisava ser domada.
— Meu Deus, Alex! Porque não nos contou? – Papai perguntou perplexo. —
Ele pode ser um maníaco, psicopata... estuprador.
— Eu não sei. Achei que ele só queria me provocar. – Falei andando de um lado a outro.
— Então na primeira vez que bateu nele, foi só porque ele bateu na Lígia? – Papai perguntou.
— Sim. Vocês sabem que eu odeio homem que bate em mulher e não ia deixa-lo machucá-la de novo. O Júlio precisava saber que tem alguém capaz de enfrentá-lo.
— Isso que você fez hoje foi imprudente, ele poderia ter batido em você também... ou pior. – Mamãe falou.
— Eu não pensei com clareza, a raiva me dominou. Só queria apagar aquele
sorrisinho da cara dele e depois que ele falou da Lígia... Eu perdi a cabeça de
vez.
A campainha tocou e papai foi abrir a porta. Lígia nem esperou que papai a convidasse para entrar, assim que ela me viu, veio que nem um foguete e me abraçou preocupada.
— Você está bem? – Ela colocou as mãos em meu rosto, verificando se havia
algum machucado.
— Aham. – Falei meio hipnótica sentindo o perfume maravilhoso e vendo a imagem dela tão bela na minha frente. — O que faz aqui? – Perguntei saindo
do transe.
— Eu fiquei preocupada com você. O Júlio chegou com a cara toda
arrebentada e disse que tinha sido você que fez aquilo. Vim ver se ele não
havia te machucado. – Lígia passou a mão na minha bochecha, me fazendo
carinho.
— É, seu maridinho andou provocando a Alex no elevador. Eu diria até que foi
bem merecido o soco que ele levou... mais uma vez, não é? – Mamãe falou
enquanto encarava Lígia.
— Você contou para eles? – Lígia me perguntou em voz baixa e eu concordei.
— Lígia, porque você não o denuncia? – Mamãe perguntou. — É a primeira
vez que ele te bate? – Vi Lígia engolir em seco.
— Sim, foi a primeira vez. – Ela falou suspirando e abaixou a cabeça.
— Mas isso precisa acabar. – Mamãe falou. — Eu realmente não entendo...
Quando vemos um caso de agressão contra a mulher, sempre falamos que
denunciaremos... mas quando realmente acontece conosco, não fazemos
nada. Temos que lutar contra isso, Lígia. Você merece alguém que te trate
como uma rainha.
— Eu sei Dona Ângela. – Lígia suspirou. — A única pessoa que me trata como
uma rainha... – Lígia me olhou. — Não quer mais falar comigo.
— Se você sabe que essa pessoa te trata como rainha, porque não tenta fazer
a coisa certa agora? Porque ainda fica com esse cara que te maltrata? –
Mamãe inquiriu.
— Eu... Eu não posso.
— O quê? – Falei sem perceber. — Mas é claro... Você nunca pensou em se
divorciar, pra falar a verdade. – Sorri com desdém e me afastei de Lígia.
— Alex me escuta, por favor? – Lígia pediu triste.
— Lígia, você já deixou mais claro ainda... cristalino, pra falar a verdade... de que não vai e não pode se separar do Júlio. Eu entendi errado ou o quê? –
Perguntei. — Se você não vai se separar dele, não precisa se preocupar mais
comigo. É ele quem está com a cara toda quebrada e não eu, porque não vai lá
cuidar dele? – Saí da sala vendo lágrimas caírem dos olhos da Lígia. E mais
uma vez me senti completamente destruída por ter falado da forma que falei com ela e por fazê-la chorar.
Cheguei ao meu quarto e o que eu via pela frente eu tacava na parede.
Meu celular foi um dos que se esborrachou no chão todo quebrado, tamanha foi a força com que o joguei. Chorei muito e acabei pegando no sono.
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