Capítulo 12
Enquanto mamãe esperava por uma resposta, eu pensava freneticamente no que dizer. Se eu optasse por mentir, ela poderia descobrir eseria bem pior para mim.
— Não ouse mentir para mim, mocinha. – Ela estava me encarando.
— Eu... Olha, foi até engraçado se você parar para pensar, sabe? – Ri de nervoso.
— Alex...
— Está bem. – Suspirei. — Eu meio que escorreguei a minha mão no olho do
Júlio. – Dei um sorrisinho amarelo.
— Explique melhor. – Mamãe cruzou os braços.
— Eu soquei o Júlio e acertei um vaso nele, foi isso.
— Você ficou maluca? – Mamãe gritou.
— Bem, ainda não.
— Alex, eu não estou de brincadeira. Por um acaso esse Júlio não seria o marido da Lígia, seria?
— Sim, é ele mesmo. Mas...
— Essa mulher é o seu carma, só pode. – Mamãe suspirou e foi até a janela.
— Porque bateu nele?
— Ele bateu na Lígia, mãe. A senhora sabe que eu odeio homens que batem
em mulheres. – Olhei para a minha mão, nem estava tão ruim assim, mas estava bastante dolorida. — E não vou permitir que ele bata novamente na mulher que eu amo. – Mamãe me encarou. — Vou fazer isso quantas vezes forem necessárias.
— Então é isso? Está disposta a arriscar tudo por ela?
— Sim, estou.
— Ok. A única coisa que posso fazer é pedir para que tome cuidado com esse
cara. – Recebi um carinho no rosto e sorri.
— Eu sei me cuidar, não se preocupe.
— Isso é só o que uma mãe faz... Se preocupar com os filhos. – Mamãe fez
careta. — Você vai entender quando tiver os seus.
— Bom, se a Lígia quiser... Na minha lista já tem cinco filhos. – Sorri.
— Cinco? – Recebi um olhar assustado. — Você acha que uma mulher com o
corpão que ela tem, vai querer ter cinco filhos? É ruim hein. – Mamãe gargalhou.
— É claro que vai. Podemos adotar um.
— Claro que podem. E os outros quatro? Ela que engravida?
— Pode ser. – Dei de ombros.
— Sei... Vou para o meu quarto. – Recebi um beijo na cabeça e logo mamãe saiu do meu quarto.
O domingo amanheceu calmo, mas logo ia piorar.
— Bom dia, filha. – Mamãe entrou no meu quarto.
— Bom dia. – Respondi ainda sonolenta.
— Alguém deixou uma encomenda para você. – Mamãe chegou perto e colocou-a em cima da mesa do computador.
Assim que vi, despertei de uma vez e levantei imediatamente indo até a
encomenda. Era igual a primeira que recebi com o DVD, só possuía meu nome e mais nada, mas a letra era diferente.
— Algum problema? – Esqueci que mamãe ainda estava no quarto e que agora me observava atentamente.
— É... não... nenhum.
— OK. Vai tomar café antes que fique tarde. – Mamãe disse e saiu.
Abri a encomenda e assim como eu suspeitava, era outro DVD. Tranquei
a porta do quarto e liguei o aparelho de DVD, colocando a mídia para rodar.
A cena mostrava um quarto e uma cama, mas eu não sabia de onde poderia ser esse quarto. Logo o Júlio passava pela câmera só de cueca e um
pouco depois a Lígia aparecia em cena de sutiã e calcinha. O restante do DVD foi quase um borrão, eu assistia como se estivesse paralisada, não conseguia
desviar meus olhos. Meu estômago já estava revirando.
Lígia e Júlio transavam naquela cama que parecia ser no quarto da Lígia. Júlio dominava Lígia de um modo bruto... Selvagem, dava-lhe tapas e mordidas, machucando-a.
Assim que o DVD acabou, corri para o banheiro e vomitei. As cenas se repetiam na minha mente sem que eu conseguisse mandá-las para longe.
Será se tinha sido o Júlio que me mandou esse DVD? Com certeza foi ele querendo me dar uma lição por eu o ter socado. Mas isso não ia ficar assim, se ele queria guerra, ele teria guerra.
Me arrumei e fui até o apartamento dele, não tomei café com medo de vomitar de novo. Lígia abriu a porta e me olhou surpresa.
— Cadê o Júlio? – Perguntei deixando transparecer a raiva.
— Bom dia para você também, Alex. – Lígia disse de forma irônica. — O Júlio
saiu, por quê?
— Ah, então você pode me dizer quando que foi feito essa filmagem? – Entreguei o DVD a ela.
Lígia prontamente colocou a mídia para rodar no aparelho e assistiu a tudo atônita. Enquanto ela assistia a filmagem, fui observando o corpo dela.
Lígia possuía alguns hematomas nos braços e provavelmente em outras partes do corpo que não estavam visíveis, confirmando as cenas do DVD. Depois que acabou ela me olhou sem acreditar.
— Como isso foi parar em suas mãos?
— Eu recebi. Mas isso não é a questão, quando foi isso?
— Alex... Eu...
— Fala Lígia. – Pedi.
— Foi ontem.
— O quê? – Fiquei sem palavras.
— Alex...
— Eu venho aqui te defender e no mesmo dia você vai pra cama com ele? –
Eu a olhava com tristeza e ao mesmo tempo indignação. — Ele te bateu Lígia!
Como pode ter ido pra cama com um monstro daquele?
— O que queria que eu fizesse? – Lígia falou e abaixou a cabeça. — Ele te
ameaçou. Eu não tive esco... – Não deixei que terminasse.
— Eu já saquei. – Dei um sorriso irônico. Estava tão cega e provavelmente surda, que nem escutei o que ela havia falado. — Você estava fazendo joguinho esse tempo todo, né?
— Alex... Não é... – Interrompi-a.
— Eu falei que te amava. – Relembrei. — Mas pelo visto você só queria outra
pessoa pra dormir com você. Quando você se cansava do Júlio aí tinha a Alex? É isso? – Eu estava irritada ao extremo agora. Comecei a andar pela sala dela.
— Não é verdade e você sabe disso.
— Sei? Você em nenhum momento disse que ia se divorciar dele, já tinha tudo
pronto não é? Quando se cansasse de mim ia procurar outro idiota pra enganar e fazer o seu joguinho de que não está a fim. Pois é, eu caí direitinho.
— Alex me escuta, por favor? – Lígia se aproximou de mim, mas me afastei.
— Eu sabia que você era casada e eu até tolerava, mas isso? – Apontei para o
DVD. — Sabe Lígia, é como se a ficha tivesse caído... de que você jamais será
minha.
— Alex, eu nunca te prometi nada.
— Mais uma confirmação de que você só queria brincar comigo. Que droga Lígia!
— Fica calma. – Lígia tentava chegar perto de mim.
— Calma? Eu... – Respirei fundo. — Tirando as aulas que eu tenho com você, não quero mais contato, Lígia. Pra mim acabou.
— Alex, isso é exagero. Se você me deixar explicar...
— Explicar o quê? Eu não quero mais saber. – Me afastei dela com medo de
cair em tentação. — Toda vez que eu ver você, vou me lembrar desse DVD
asqueroso.
— E você quer que eu faça o quê? Me ajoelhe e peça desculpas? Eu faço... –
Ela agarrou a minha mão e me puxou para ela. — Mas, por favor, não se afasta de mim. – Ela pediu com a voz mansa e lágrimas nos olhos.
Isso é jogo baixo, uma mulher como a Lígia falando desse jeito... É de deixar qualquer um desarmado.
— Acabou Lígia. – Puxei minha mão da dela e saí do apartamento.
Foi só chegar ao meu quarto que eu desabei a chorar.
— Filha, o que aconteceu? Você entrou que nem uma bala. – Mamãe entrou no
meu quarto. — Alex? – Ela se sentou na minha cama e começou a passar a
mão em meus cabelos escutando meu choro.
— Acabou. – Falei com a voz embargada. — Eu terminei tudo com a Lígia. – Voltei a chorar.
— Mas por quê? Achei que você a amava?
— E amo. Mas eu percebi que vai ter sempre alguém pra me lembrar de que
ela nunca vai ser minha.
— Está falando do Júlio? – Concordei com a cabeça. — Ele te fez alguma coisa? – Neguei. Não ia contar para minha mãe sobre o DVD.
— Eu quero ficar sozinha, mãe.
— Tudo bem, filha. Quando quiser conversar é só me chamar. – Mamãe me deu um beijo e saiu.
Passei o resto do domingo trancada no meu quarto. Mantive-me acordada durante a madrugada inteira, não tinha sono. Minha mente insistia em passar e repassar as cenas do maldito DVD, e para piorar eu ainda me perguntava o que Lígia poderia estar fazendo naquele exato momento. Será se estava tão mal quanto eu? Será se ela estava pensando em mim? Ou será se estava transando com aquele imbecil do Júlio?
O meu despertador tocou e como eu já estava acordada, desliguei-o e fui tomar banho. Durante o período em que estávamos à mesa, tomando café da manhã, me mantive calada e não comi nada.
— Não quer conversar mesmo? – Mamãe perguntou, se sentando ao meu lado
no sofá enquanto eu esperava por eles para sairmos.
— Não, eu estou bem. – Dei um sorriso forçado.
— Alex, você já se olhou no espelho hoje? Nem dormiu a noite, né?
— Não. – Abaixei a cabeça.
— Olha, se é para ver você assim pelos cantos, toda cabisbaixa... eu então
prefiro ver você em pé de guerra com a Lígia novamente porque pelo menos
você não era esse zumbi que está na minha frente agora. – Mamãe suspirou.
— Alex, você não comeu nada ontem e nem hoje, não dormiu... Reage filha!
— Eu não estou com fome, mãe.
— E vai fazer greve de fome até quando?
— Eu vou ficar bem.
— Tudo bem. – Mamãe levantou e saiu derrotada.
— Ei princesa, o que houve? Sua mãe me mandou vir falar com você. — Papai
apareceu na sala minutos depois e se abaixou na minha frente, me encarando.
— Não é nada.
— Minha princesa está crescendo. – Papai falou enquanto apertava meu
queixo de leve. — Problemas com a Lígia?
— É.
— Mulheres são complicadas, my darling. – Sorri. — Mas tudo vai se resolver.
— Eu terminei com ela, acho que não tem volta.
— Sabe, não deixe que as pessoas te façam desistir daquilo que você mais
quer na vida. Acredite. Lute. Conquiste. Eu sei que essa história ainda não
acabou.
— Como sabe? – Perguntei.
— Apenas sei. Não desista, e jamais deixe de sorrir. Você é mais forte do que
pensa e será mais feliz do que imagina. – Papai me deu um beijo e levantou.
— Alex? – Olhei e vi que papai estava parado perto do corredor. — If at first
you don’t succeed, try, try again. – Depois ele se virou e entrou no corredor, me
deixando sozinha.
Essa foi uma conversa bem estranha para falar a verdade, nunca havia
conversado assim com meu pai antes.
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