Capítulo 10

Caio já esperava por nós duas em frente à clínica. Kimi foi a última a chegar e depois entramos.
- Por favor, queremos saber sobre uma paciente? - Kimi falou com a atendente.
- Nome da paciente, por favor?
- Brenda Louise... É só o que eu sei. - Falei.
- Só um minuto. - A moça olhou no computador durante alguns segundos. - Encontrei. - Demos nossa identidade a ela para fazer o registro. - Só pode
entrar duas pessoas ao mesmo tempo, depois outra entra. - Ela nos entregou
dois cartões que dava acesso ao quarto da Brenda.
- Vai você primeiro Alex. - Caio apressou-se em dizer.
Entrei com Kimi e parei na porta.
- Vai primeiro e prepara ela, qualquer coisa eu nem entro. - Falei.
Kimi entrou e demorou alguns minutos, logo a porta abriu e Kimi mandou
que eu entrasse.
A primeira sensação que tive ao ver Brenda sentada naquela cama foi
não reconhecê-la imediatamente. Seu olhar ainda parecia meio longe e ela
estava um pouco dopada. Brenda me olhou e deu um sorriso, um sorriso longe dos que ela geralmente me dava.
Sentei na cama e a abracei.
- Como você está? - Perguntei.
- Melhor agora que você está aqui. - Ela ainda me abraçava.
Ficamos em silêncio durante um tempo.
- Eu sei que assustei vocês, me desculpa. - Brenda falou.
- Não precisa pedir desculpa Brenda. Ficamos preocupados com você. - Kimi
falou por mim.
- Alex... Me desculpa? Eu acabei misturando tudo. - Brenda me olhou triste.
- Está tudo bem, Brenda. - Sorri. - Já passou. O importante é que você está
bem e logo vai sair daqui. - Brenda sorriu.
- Temos que ir, você precisa descansar. - Kimi falou.
Abracei Brenda novamente e ela escondeu o rosto no meu pescoço.
- Eu nunca havia me sentido tão protegida com alguém antes como me sinto perto de você, Alex. - Brenda disse baixinho no meu pescoço.
- Que bom que você se sente assim. - Sorri.
- Uma das pessoas que eu mais confiava me machucou muito e ainda me
machuca. - Brenda falou mais alto.
Fiz com que ela me olhasse e vi que seu olhar já estava longe, como se
lembrasse de coisas longínquas.
- Brenda? Olha pra mim. - Tentei trazê-la de volta. Brenda me olhou.
- Alex? É você? - Olhei para Kimi.
- Alex, é melhor irmos antes que ela tenha outra recaída. - Kimi se apressou
a dizer.
- Brenda? - Brenda focou o olhar em mim, me reconhecendo. - Quero que
preste atenção ao que vou dizer, pode fazer isso? - Brenda confirmou.
Eu tirei meu colar favorito do pescoço que tem uma cruz azul com um Pai Nosso escrito em espanhol.
- Quero que fique com isso. - A olhei. - Quando as lembranças ruins vierem,
você vai segurar essa cruz bem forte e vai pedir para as lembranças irem embora, está bem?
- E elas vão embora? - Brenda perguntou, ela parecia bastante cansada.
- Sim, elas vão.
- E os pesadelos? - Brenda se arrepiou ao mencionar os pesadelos.
- Eles também vão embora. - Coloquei o colar em seu pescoço e a cruz por
dentro da blusa dela. - Eles provavelmente não deixam você ficar com nada aqui, mas tenho certeza que você vai cuidar muito bem desse colar, não é? - Brenda confirmou com a cabeça.
Kimi se despediu de Brenda com um abraço e eu também, dando um beijo na cabeça dela em seguida. Do lado de fora do quarto, topamos com seus pais, que estavam prontos para entrar.
- Vocês devem ser amigas da Brenda, suponho. - A mãe dela disse com um
sorriso.
- Sim, somos. - Kimi falou. - Essa é a Alex e eu sou a Kimi. - A mãe de Brenda deteve seu olhar em mim.
- Alex... - O pai de Brenda repetiu meu nome. - É por sua causa que a minha filha está assim. - Ele me acusou quase gritando.
- O senhor está enganado. - Kimi tentou intervir.
- Enganado nada, por causa dessa fulana, nossa Brenda está em um lugar
para loucos. - Ele já estava totalmente alterado, falando alto.
- Tem certeza disso? - Me peguei falando e encarando-o.
- É cla... - Não deixei que ele falasse.
- Pois eu tenho certeza de que ela está aqui por outra coisa. - Ele se
surpreendeu com o meu tom e ficou calado. Me aproximei e fiquei a
centímetros de seu rosto. - Porque será que a Brenda tem tanto pavor do
senhor? - Ele parecia assustado, mas se mantinha calado.
- Alex? - Lígia me chamou, mas mesmo assim eu não me afastei nenhum
milímetro. Nem vi a hora que ela havia chegado.
Senti alguém me puxando para trás, quebrando o contato visual entre o
pai de Brenda e eu. Tanto o pai quanto a mãe de Brenda acenaram para Lígia
e entraram no quarto rapidamente.
- Qual o seu problema Alex? - Lígia perguntou. Ela estava usando óculos de
sol lá dentro da clínica e eu estranhei. - Já está arranjando confusão?
- Não... Eu... - Olhei para Kimi e perguntei. - Você ainda acha que ele não tem nada a ver com esse surto?
- Alex, eu ainda não sei.
- Dá para vocês me explicarem o que estava acontecendo? - Lígia pediu.
- Alex acha que o pai da Brenda tem alguma coisa a ver com ela ter vindo
parar aqui. - Kimi respondeu e Lígia me olhou esperando mais explicações.
- Eu tenho certeza de que ele é o culpado da Brenda ter tido aquele surto. - Declarei.
- E como você tem tanta certeza, Alex? - Lígia questionou.
- Porque eu sei, eu vi nos olhos dele que ele esconde alguma coisa.
- Alex, esquece isso. - Kimi pediu. - Vamos só rezar para que a Brenda se
recupere e saia logo daqui.
- Eu não vou esquecer isso Kimi. Tem algo acontecendo e eu vou descobrir. -
Lígia suspirou e depois me puxou para longe da Kimi.
- Alex, o que você pretende? Quer que o pai dela proíba a sua visita aqui? -
Neguei com a cabeça. - Pois é isso o que você vai conseguir se ficar
confrontando ele. E eu tenho certeza de que você ainda quer visitar a Brenda,
não é? - Concordei. - Então para de fazer besteira. - Concordei novamente.
- O que faz aqui? - Perguntei.
- Vim ver a Brenda. Depois a gente conversa, ok? - Lígia ia se afastar, mas
eu a puxei.
- Porque está de óculos aqui dentro?
- Se eu quiser ficar de óculos é problema meu, Alex. - Lígia tentou se afastar novamente, mas segurei seu braço com delicadeza e a virei para mim. Levantei seus óculos e vi que ao redor do olho havia uma marca roxa, um pouco fraca.
Lígia abaixou a cabeça.
- Ele fez isso? - Perguntei.
- Eu caí.
- Tá mentindo pra mim na cara dura? - A olhei com tristeza. - Ainda tem
coragem de mentir pra mim, Lígia?
- Foi ele sim.
- Porque ele fez isso? - Já estava com um ódio tremendo do Júlio.
Lígia puxou o braço que eu segurava.
- O que esperava que ele fizesse depois de você ter me marcado inteira, Alex? - A voz dela era dura, fria.
- Isso não vai ficar assim. - Declarei.
- Você só vai piorar as coisas, Alex. Deixe tudo como está. - Lígia suspirou e passou a mão nos cabelos, jogando-os para trás. - Eu não falei que foi você
que fez isso.
- Ah, que bom. - Falei irônica. - E você quer que eu fique tranquila sabendo
que ele te bateu? Eu não tenho medo dele, Lígia. Por mim você pode falar que
fui eu que fiz todas essas marcas e que te comi como ele e nenhum outro cara
nunca fez antes. - Lígia deu um breve sorriso e logo ficou seria.
- Ele é mais forte que você. - Ela estava começando a se irritar.
- E qual o problema? - Me aproximei dela e fiz carinho em seu rosto. -
Escuta bem Lígia, homem nenhum vai encostar a mão na minha mulher. - Me
virei e saí de lá.
Era como se estivéssemos em uma balança que nunca conseguia se
equilibrar. Parecia que Lígia e eu jamais conseguiríamos nos acertar, sempre
vinha algo e estragava.
- E então? Como ela está? - Caio perguntou ao nos aproximarmos, mas eu passei por ele sem responder.
- Mais ou menos. - Escutei Kimi responder. - Alex, aonde você vai?
- Eu vou acertar as contas com uma certa pessoa. - Falei alto para que ela
me escutasse.
- Então nós vamos com você. - Caio apareceu do meu lado esquerdo e Kimi
no direito.
- Sabem que não precisam vir comigo, não sabem? - Perguntei, enquanto
andava rápido.
- Sim, nós sabemos. - Kimi sorriu.
- De quem é essa raiva toda que você está? - Caio perguntou.
- Vocês vão ver.
Depois que descemos do ônibus, caminhamos rapidamente ao meu
prédio. Pegamos o elevador e fomos até o andar da Lígia. Toquei a campainha
e esperei que Júlio abrisse a porta.
- Alex? O que faz... - Não deixei Júlio terminar de falar.
Coloquei o máximo de força no meu punho e o soquei, ainda tentei
acertá-lo no olho e por sorte consegui. Júlio cambaleou para trás com a mão no olho, mas não caiu. Cheguei mais perto dele e chutei suas partes íntimas, ele
se dobrou de dor indo dessa vez ao chão.
- Ui, essa doeu. - Caio falou atrás de mim. - Senti até em mim.
Júlio estava gemendo de dor e com as mãos protegendo suas partes
íntimas, com medo de que eu o chutasse novamente. Abaixei-me ao seu lado e
segurei seu cabelo com força, fazendo-o me olhar.
- Se você encostar um dedo na Lígia novamente, eu vou acabar com você.
- Foi você, não foi? - Júlio perguntou sorrindo.
- Você se refere ao quê exatamente? - Falei irônica e dando um sorriso
maldoso. - As marcas? - Fingi que estava pensando. - É, fui eu que fiz
aquelas marcas nela. - Sorri. - E nossa... Aquela mulher gemendo é simplesmente... Uau. Não tenho nem palavras pra descrever.
Ainda segurava o cabelo dele com força, provocando dor.
- Nunca mais, entendeu? Nunca mais encoste um dedo nela. - Soltei seu
cabelo fazendo com que batesse a cabeça no chão.
Quando eu já estava quase saindo pela porta, Júlio começou a rir.
- Quer dizer que é você que está comendo a minha mulher? - Ele ainda ria.
Olhei para Caio e Kimi, os dois pareciam bem envergonhados pelo o que Júlio havia dito. Então firmei meu olhar em Júlio.
- Sim, por quê? - Sorri. - Fiz o que você nunca fez esse tempo todo... Dei prazer a ela.
- Podemos juntar o útil ao agradável, que tal? - Ele tentava levantar.
- O que você quer dizer com isso? - Perguntei desconfiada.
- Qual é Alex? Você é linda e gostosa... Podemos ser um trio. - Júlio sorriu
maldoso e depois olhou Caio e Kimi. - Quem sabe os seus amiguinhos não
queiram entrar na festa?
Não acreditava que ele tinha proposto isso. A raiva já me consumia.
- Son of a bitch! - Gritei.
Olhei ao redor e peguei um vaso de porcelana, parecia bem caro, mas eu não ligava para isso no momento, só queria quebrar esse vaso na cabeça do Júlio.
Arremessei o vaso e Júlio se abaixou a tempo de não ser acertado, assim que levantou ele olhou para trás para ver o estrago que eu tinha feito.
- Mais um pouco e você me...
Enquanto Júlio olhava para trás e falava, o acertei em cheio com outro vaso. Júlio caiu no chão atordoado, não foi o suficiente para apagá-lo de vez, mas já me dava um prazer enorme em ver que consegui descontar a minha raiva nele.
Quando dei um passo para ir até o Júlio, Caio segurou meu braço.
- Já não acha que é o suficiente?
- Tem razão. - Falei alto para que Júlio escutasse. - Isso foi só um aviso.
Saí de lá sendo seguida por Caio e Kimi em direção ao elevador.

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