(12) Cativado.
Oi😁
Perdão pela demora!
Aviso: o capítulo está grande e cheio de informações importantes! Quase 10K de palavras!
Aproveitem o capítulo! Não esqueçam de votar e comentar bastante, tudo bem? Sério, eu preciso saber se vocês gostam do que está acontecendo na fanfic e a maneira mais fácil é por comentários e votinhos, fiquem a vontade para expressar todo o ódio/felicidade no decorrer do capítulo!
#FadasNoCoração
Boa leitura! 🤴
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J I M I N
Hoje é quarta feira.
E eu gosto de dizer que quarta feira é meu dia favorito na semana todinha. É, eu realmente gosto de quarta feira, porque posso ver o sorrisão que Jungkook me recebe sempre que vou buscá-lo. Ele sempre me recebe com sorrisos pequenos, mas na quarta seu sorriso é radiante.
Sim. O dia do docinho de Jungkook.
E também, o dia de sua ida ao psicólogo. Mas ele prefere não falar sobre isso.
Os meus pesadelo continuam, essa semana tive somente dois. E eu não contei para minha mãe, mesmo com insistência de Taehyung, decidi que não a preocuparia com isso. Nós nos falamos todos os dias antes de eu ir pra faculdade, é o horário que aquele homem está no banho ou até mesmo já tenha saído e ela tem tempo para falar comigo antes de ir trabalhar.
E sobre meu tratamento que iniciei ontem, senti falta do Senhor Kang, que descobri ser tio de Namjoon. Mas o Kim é tão simpático, calmo e envolvente que eu nem notei o tempo passar! Quando vi, já estava chorando e desabafando algumas coisas que aconteceram no tempo que fiquei sem terapia.
Falei sobre Jungkook, e como ele e sua família tem me deixado mais relaxado nos últimos dias, já que com o salário que recebo na livraria, minhas preocupações sobre contas e meu futuro financeiro estão quase nulas.
E eu já fui avisado que terei que acompanhar Jungkook na sua ida ao psicólogo também, já que senhor Jung-hee irá ficar na livraria e Junghyun trabalha o dia todo…
Porque eu não fico na livraria? Eu também não sei, Jung-hee quem me pediu para acompanhar Jungkook e eu não vejo problema nisso.
Agora, saindo um pouquinho desse “recapitulando os últimos dias” vamos voltar para o presente : Já são 13:05 da tarde e estou indo pegar Jungkook na escola para irmos a sua casa, ele troca de roupa, almoçamos e então iremos ao consultório de Namjoon. Ele também é seu Psicólogo, eu particularmente acho isso legal.
Tipo, nós dois temos o mesmo psicólogo e nem sabíamos!
Ah! Minha relação com Jungkook melhorou de domingo para cá, quando tivemos aquela conversinha observando as estrelas e ele falou que bem, hahaha, eu sou alguém para ele. Mesmo sem saber, ele me deixou mais tranquilo comigo mesmo.
Ele confessou que eu não tinha o acordado com meus gritos enquanto tinha mais um pesadelo — deixo claro que não foram gritos, Jungkook falou que eu apenas murmurei algumas palavras que ele pouco entendeu, ainda bem. Ele não dorme quando diz que vai dormir, fica acordado até realmente ficar com sono e seus olhinhos se fecharem sem ele ao menos perceber, Jungkook confessou que tem problemas para dormir e que antigamente sua mãe ficava em seu quarto até ele cair em um sono profundo.
Ele também falou que isso acontecia rapidinho já que ela dava um copo de água para ele tomar antes de dormir, foi daí que saiu seu "vício" de tomar água antes de subir para seu quarto. Eu fiquei bem confuso quando Jungkook me contou esse negócio de sua mãe lhe dar água para ele antes dele dormir é meio suspeito, já que ele contou que tem problemas para dormir justamente depois que ela morreu.
Isso me preocupa, pensar que esse a mulher drogou Jungkook para ele poder dormir, me deixa muito aflito.
Eu sequer sei como ele agia antes de conhecê-lo, mas tenho certeza que ela fez algo, disso eu não tenhoais dúvidas.
Preciso conversar sobre isso com Junghyun, porque se minhas suspeitas estiverem corretas e ela realmente dopava Jungkook para dormir, algum problema aquela mulher tinha e isso precisa ser descoberto. Mesmo que eu não tenha ideia de como começar essa pequena "investigação".
Saindo um pouquinho desse assunto pesado, para ajudar Jungkook a dormir mais rápido, agora eu fico com ele em seu quarto e só saio de lá quando vejo que ele está realmente em sono pesado. Jungkook gosta de companhia, eu já notei que ficar sozinho é uma das coisas que ele odeia e estou fazendo o possível para ficar com ele o tempo todo. E isso não é, nem de longe, um trabalho ruim.
Mesmo que tenha aqueles momentos que ele prefira ficar calado e reservado em seu cantinho, eu fico lá com ele.
Na verdade, é uma das melhores coisas desde quando o conheci. Enquanto ele dorme, eu fico lá quietinho terminando minhas atividades da faculdade, vez ou outra observando seu rostinho amassado enquanto ele dorme todo bonitinho em sua cama.
Meu Deus, eu acabei de falar a coisa menos heterossexual da minha vida.
Certo, voltando ao presente…
E hoje, quarta-feira, eu sei que ele vai ficar mais animado por causa de sua " surpresa " de todas as quartas.
— Hyung! — Me assustei quando ouvi sua voz, sorri ao vê-lo correr meio desengonçadinho da porta da escola até onde eu estava, do outro lado do portão.— Demorou?
— Você? — Ele concordou. — Um monte, me deixou abandonado aqui!— Tapei o rosto com as mãos, fingindo uma expressão triste. Olhei pelos espacinhos dos meus dedos, notando quando seu sorriso diminuiu e ele fez uma carinha triste. Soltei uma risada baixa, mesmo estando chateado comigo mesmo por fazer isso. — É brincadeira, bobo, você não demorou nadinha. Estou feliz em te ver.
— N-não faz mais isso. — Ele me repreendeu, dando um tapinha em meu ombro — O h-hyung sabe que eu demoro para entender, bobo. — Abaixou a cabeça, abraçando sua mochila com mais força. Suspirei, concordando com a cabeça e sorrindo.
— Mas você aprende rápido, Jungkook. — Quando eu iria falar, o professor de Jungkook falou primeiro. — Já disse que você é muito inteligente, não disse? Jimin que não entende que não pode ficar fazendo brincadeirinhas bobas como essas.
Olha aqui-
Droga, não sei o que dizer.
— Não briga com hyung, p-pofessor.— Jungkook falou baixinho, aproximando-se ainda mais de mim.
Ele me defendeu?
— Mas, Jungkook…
— O h-hyung só queria brincar, não fica assim, pofessor. — Ele completou, me fazendo rir baixinho.
Sério, ele me defendendo mesmo quando estou errado, é muito fofo.
— Mas Jimin não pode…
— Você não vai ao terapeuta hoje, Jungkook? Se demorar mais, vai se atrasar, hein? — Dahyun interrompeu o Kim, puxando o chatão para se afastar de mim e Jungkook — Até amanhã, docinho. Se cuida!
Olhei rapidamente pro professor, notando que ele não havia gostado nadinha da atitude da colega de trabalho. Não gostei disso.
— Hyung…— Jungkook chamou, cutucando meu ombro. O encarei — O h-hyung vai com eu?
— Comigo, Jungkook lembra do que Hoseok ensinou? — Ele balançou a cabeça, concordando — Se diz "Comigo". Você vai comigo? — Corrigi sua frase, ele fez um barulhinho engraçado e balançou a cabeça, todo emburradinho.
— M-mas Hobi-hyung também...t-também disse "eu" — Ele retrucou, empinando o nariz. Sorri.
— Olha…—— Respirei fundo, negando com a cabeça. Ele é uma graça.— Respondendo sua pergunta, vou sim com você, mas não sei se vou entrar na sala quando a sessão começar, tudo bem?
— Tudo bem, sou um homenzinho adulto j-já. — Quando ele falou isso, eu tive bastante vontade de sorrir de sua fala. Não tem como levar ele a sério quando ele fala assim! — Q-quase adulto, eu… eu acho.
Ele ficou bem conformado quando Junghyun falou que havia achado um novo terapeuta para ele. Jungkook fazia terapia quando era menor, mas parou por algum motivo que também envolve sua mãe. Ele ficou bem animado com a ideia de iniciar a terapia mais uma vez, o que me deixou bastante surpreso, porque eu jurei que ele ficaria um pouco incomodado ou até mesmo não aceitaria.
E Jungkook me surpreende mais uma vez.
Deixei de citar que suas aulas com Hoseok também se iniciaram ontem, eu não pude estar presente já que tinha que trabalhar e também fui ao psicólogo ontem a tarde. Yoongi tirou um tempinho do hospital e ficou com Jungkook enquanto sua aula começava. E sim, Taehyung pediu folga na floricultura só para espionar Jungkook enquanto ele estudava.
Em sua defesa, meu melhor amigo falou que precisava ajudar Jungkook a usar o Twitter e outras funções no celular. Fiquei meio confuso quando vi milhões de mensagens em meu próprio celular e adivinha? Era Jungkook e sua fixação em usar emojis.
Ele disse que gostou, falou que era muito engraçado as "carinhas amarelinhas". Só não gostou que as carinhas amarelinhas eram amarelas.
Ele não gosta muito de amarelo. Mas disse que gosta do meu cabelo, mesmo que ele não seja exatamente amarelo.
E eu fiquei sorrindo igual um idiota ao ouvir isso. Ele também havia dito que eu era uma exceção, já que sou o único amarelo que ele gosta.
— Taehyung perguntou se você quer ir à floricultura depois da terapia — Eu disse, Jungkook sorriu e acenou com a cabeça.
Ele nunca havia ido à floricultura e não foi por falta de convite, Taehyung sempre o chamava. Uma das coisas que aproximaram Tae e Jungkook, foram as plantinhas.
— Trouxe, hyung? — Jungkook perguntou, quando já estávamos chegando em sua casa. Balancei a cabeça, sabendo exatamente do que ele falava.
— Acha que eu esqueço sua tortinha?
— Não?
— Jamais.— Abri o portão, vendo ele correr como uma criança feliz até a porta de entrada.
Nós fomos recebidos novamente por um abraço do senhor Jeon, eu me sinto em casa toda vez que entro aqui.
E, bem, o resto da tarde correu como eu esperava. Os clientes da livraria estavam aumentando cada vez mais e eu estava feliz com isso, mesmo que às vezes um ou outro atrapalhasse meu momento de literatura com Jungkook.
Logo após o almoço, Jungkook pediu por sua tortinha, e subiu para tomar um banho, já que a sessão com Namjoon estava marcada para às três da tarde. Ele tem comido bastante também, Yoongi falou que é efeito de uma vitamina que receitaram para Jungkook, digo com toda certeza que essa vitamina tem funcionado.
É bom vê-lo comer bem.
— Hyung! — Ele chamou lá de cima, a velocidade que eu corri até lá foi tanta que eu até havia me esquecido de fechar o caixa da livraria, já que um cliente havia acabado de sair.
— O que foi? — Bati na porta de seu quarto.— Está tudo bem? Posso entrar?
— P-Pode.
Quando eu abri a porta tive uma imensa vontade de dar risada. Jungkook estava sobre sua cama com os braços enrolados em um suéter azul bebê, com claras dificuldades de colocar a peça de roupa em seu próprio corpo.
— O que aconteceu aqui? — Perguntei me aproximando. Segurando a risada.
— Prendeu.— Ele riu, tentando se levantar — Ajuda? Jungkookie não consegue s-sozinho — Ele falou, e juro que não consigo manter minha expressão séria quando ele fala assim.
Me aproximei mais ainda de onde ele estava, segurando suas mãos enroladas no tecido do suéter e o puxei para cima, o colocando de pé na minha frente.
— Prontinho. — Disse quando ele estava completamente vestido, então descemos as escadas juntos.
— Está tudo bem Jimin ir com você hoje, meu bem? — Senhor Jeon perguntou, parando em nossa frente.
— Sim, vovô! — Ele disse, sorrindo. — E… Obrigado.
O olhei confuso, tentando entender pelo que ele estava agradecendo. O Senhor Jeon teve a mesma reação.
— Pelo o que, Goo? — Meu chefe perguntou, mas Jungkook não respondeu.
Aproveitando a falta de resposta dele, eu me coloquei a falar.
— Senhor, Taehyung convidou Jungkook para ir na floricultura que ele trabalha, tem algum problema a gente ir depois que Jungkook sair do consultório? — Perguntei, mordendo o lábio inferior. — Sabe, o Senhor vai ficar um tempo sozinho aqui na livraria e-
— Claro que não! — Ele me interrompeu — E não se preocupe com isso, você sempre fica aqui sozinho na livraria. E mesmo que seja meu funcionário, não vejo problema você sair pra se divertir um pouco com meu neto.
Eu fiquei sem reação, não estava esperando por essa resposta!
Quando Jungkook já estava bem agasalhado — Porque hoje é um dia frio— Nós saímos de casa, nos despedindo do senhor Jeon e seguindo caminho para o consultório de Namjoon, com um uber que Jung-hee pagou.
— Está tudo bem? — perguntei para Jungkook, já que eu sabia que ele não gostava muito de entrar em carros desconhecidos. Por isso, só por isso, eu segurei em sua mão.
— Sim, o h-hyung está aqui. — Ele sorriu, olhando para os lados.
Sorri, não controlando minhas ações e olhando para nossas mãos juntas mais uma vez. A diferença é gritante, mas é tão confortável.
— Já disse que não vou te deixar sozinho.— Assegurei, apertando com cuidado sua mão.— Vamos? — Perguntei quando chegamos.
Sem falar qualquer outra coisa, Jungkook me seguiu para dentro da clínica e nós sentamos em uma das cadeiras da recepção. Ele se sentou na verdade, eu fui falar com a moça bonita da recepção e explicar que já tínhamos um horário marcado com Namjoon, às três da tarde. Ela disse que só devíamos esperar o paciente que estava na sala sair, para Jungkook entrar. Como era a primeira vez que eu vinha acompanhando ele, não sabia exatamente o que fazer.
Quando fomos chamados, Jungkook apertou minha mão com força.
Fiquei intrigado, não era a primeira vez dele aqui com Namjoon.
— Tá tudo bem — Sorri, andando com ele até a porta da sala — Vou tá aqui fora te esperando, não se esqueça, tá bom? Não vou sair. Só quando pedir.
E ele pediu.
Ok, ele não pediu, pediu de verdade, foi só a recepcionista que me disse para esperá-lo na recepção porque Namjoon estava lhe chamando
Eu queria ficar, mas Jungkook assegurou que ficaria bem e Namjoon deixou claro que se Jungkook se sentisse incomodado ou iniciasse uma crise ali, me chamaria. Eu quis falar que não saberia o que fazer, já que nunca presenciei uma das crises de Jungkook.
Foram os cinquenta minutos mais longos da minha vida.
No final, Namjoon me chamou e pediu para Jungkook esperar lá fora, eu fiquei meio receoso porque quando ele saiu, ele parecia meio estranho. Quieto, diferente de quando entrou.
— Então esse é o seu Jungkook? — O Kim perguntou, o encarei.
Que?
Que psicólogo meio louco.
— Não entendi?
Ele fez a graça de rir da minha cara. Olha aqui, você…
— Então, é esse o Jungkook que você tanto falou ontem. Não achei que seria o Jungkook que faz tratamento comigo, fiquei surpreso.
— Isso é bom?
— Lerdinho, lerdinho. — Ele sorriu novamente.
Ué.
— Você é responsável por ele?
Porque todos fazem essa pergunta? Sinceramente…
— Não sou, estou só acompanhando ele nas sessões… Como eu disse, sou apenas o atendente do seu avô na livraria.
— Eu acho que você é um pouco mais que isso…— Soltou, me deixando confuso.
— Que?
— Lerdinho, lerdinho. — Ele voltou a repetir, o encarei confuso novamente.
Ele só pode estar de brincadeira com a minha cara.
Namjoon ficou em silêncio e apenas anotou algumas coisas em seu computador, antes de olhar para mim mais uma vez.
— Ele fala muito de você. Sempre que eu fazia alguma pergunta sobre o que ele faz durante o dia, seu nome estava no meio.
Essa é a segunda sessão de Jungkook com Namjoon, isso me faz pensar que realmente sou alguém para ele. Estou feliz.
— Sério?
— Bem, ele não disse muita coisa. Respondeu algumas perguntas, disse uma coisa ali e outra ali. Mas, sim, ele mencionou você algumas vezes. Quando falava, era sobre você.
Oh…
— Ele costuma ser bem tímido mesmo. Acho que com o início de seu tratamento, Jungkook vai melhorar com o passar do tempo.
— É, acredito que sim. — Ele disse, concordando. — Ele está apenas em uma bolha, a que sua mãe colocou sobre ele. Ele não está doente, mas algo ainda o prende.
Bolha?
— Não quis dizer nesse sentido, doutor Kim.. Só acho que ele vai se sentir ainda mais seguro quando for falar, entende? As vezes eu sinto que ele tem medo de falar algumas palavras. Medo de errar.
— Eu não sei se senhor Jeon lhe contou, mas não se inicia um tratamento para pessoas autistas com a idade de Jungkook. O tratamento que estou fazendo com Jungkook, é mais para desenvolver e entender o pouco as coisas que passam em sua cabeça.
Que?!
— Como assim?
— Quando uma criança é diagnosticada com autismo, é recomendado que inicia-se o tratamento desta criança o mais rápido possível, para que ela não tenha as dificuldades que jungkook tem agora, entende? Não sei quais foram os motivos que o Senhor Jeon e sua esposa tiveram para não fazerem nada em relação a isso, criando o menino em casa. Mas, acho que eles tiveram algum motivo.
É necessário dizer que eu estava em choque?
— Então Jungkook…Ele não tem-
— Cada caso é um caso. — Ele me interrompeu. — Nenhum autista é igual ao outro e eu tenho certeza que Jungkook vai melhorar sua comunicação. Ele é autista e o grau de dependência ou suporte que ele precisa, é leve, vamos dizer assim, mas a criação que ele teve o ajudou a dificultar sua fala e outras coisas. Mas como eu disse, com a ajuda necessária e o esforço que ele tem, Jungkook vai longe.
Não existem limites.
Eu deveria ter pesquisado mais sobre isso, já tinha percebido que em nenhuma das minhas pesquisas falava sobre tratamento para autistas adolescentes ou adultos. É uma surpresa, confesso, mas também é uma motivação.
Na faculdade, aprendi que para para a dificuldade passar só existe uma solução, persistir e buscar entender.
Se essa teoria for levada a prática, serve para muitas e muitas coisas a mais do que somente para a psicologia.
— Era só isso que o senhor tinha a me dizer? — Perguntei me levantando. Namjoon acenou com a cabeça e sorriu.
— Não se esqueça da nossa próxima sessão, Jimin. — Foi a última coisa que eu ouvi antes de fechar a porta e caminhar de volta para a recepção. Eu já estava começando a ficar preocupado com Jungkook tanto tempo sozinho assim.
Ele não estava sozinho.Tem a recepcionista mas acho que eles não trocaram mais que um "Boa tarde" E nada mais.
— Hyung! — Ele pareceu feliz ao me ver, ficando de pé e andando com seu jeitinho engraçado até onde eu estava — T-tudo bem? não estou do-doente, não é?
— Você está ótimo. — Toquei em seu cabelo meio comprido, bagunçando um pouquinho — O que o seu terapeuta falou? Ele fez perguntas difíceis?
Jungkook sorriu, então, olhou para os lados e se e colocou as mãos ao lado da boca, se aproximou de mim, sussurrando como se fosse me confessar algo:
— É s-segredo, hyung. — E se afastou novamente, olhando para tudo que não fosse eu.
Ora, seu espertinho sem vergonha.
— Vamos embora, seu bobo. — Sorri, saindo primeiro. Ele logo me acompanhou e então estávamos indo em direção a floricultura que Taehyung trabalhava, estava tudo tranquilo.
Até ele lentamente segura minha mão. Eu senti os pelos de minha nuca se arrepiarem e meu coração acelerar.
Ele não hesitava mais em pegar minha mão ou dar abraços. Sempre que eu vou buscá-lo na escola, sou recebido por um abraço seu. Ele gosta de abraços, de verdade! E desde que desejei abraçá-lo pela primeira vez, e então fui abraçado por ele, passei a gostar de seus abraços também.
E isso me deixava ainda mais confuso. Eu me sentia como um adolecente, mesmo que tenha praticamente acabado de sair da adolescência.
— Hum… Vamos para sua casa. — Sorri, me esquecendo completamente do que iríamos realmente fazer.
— P-para casa não, hyung — Jungkook falou baixinho.— Visitar Tae hyung, lembra?
Sim, eu tinha esquecido disso.
Como não ficava muito longe do consultório de Namjoon, nós fomos a pé. E eu sequer me importei com os olhares maldosos que recebemos vez ou outra. Estávamos de mãos dadas, e possivelmente pensariam que somos um casal. E com isso, vem o preconceito.
E com o preconceito, vem o sentimento de inferioridade e traumas passados.
Mas, eu não me importei novamente com esses olhares preconceituosos. Eu não me importei. Também não me importei se pensarem que somos um casal, e isso fez meu coração acelerar também.
Quando chegamos no lugarzinho bonito no centro de Seul, Jungkook ficou impressionado.
— É l-lindo, hyung! o-olha! — Apontou para uma florzinha na vitrine da floricultura, correndo até lá, todo felizinho.
É, Jungkook. É lindo mesmo.
— Que surpresa! — Tae apareceu na porta, com um sorriso enorme estampado no rosto — Vocês estão aqui!
Não diga.
— O-oi,Tae-hyung — Jungkook saiu de onde estava e acenou com uma mão para meu melhor amigo.
— Oi, bonitinho. Você tá bem? Dormiu bem ontem?
Jungkook apenas balançou a cabeça para todas as perguntas.
— Podemos entrar? Ou você deixa todos os seus clientes na porta da loja?
— Mal humorados não entram em minha floricultura, venha Jungkookie, deixe esse bobão aí fora — Entrelaçou seu braço com o de Jungkook, o puxou para dentro.
E Jungkook nem relutou! Só sorriu e seguiu Taehyung para dentro, me abandonando! Sabia que deixar esse menino muito tempo com Taehyung não seria uma boa ideia.
Quando eu estava para entrar na floricultura, uma florzinha na vitrine me chamou a atenção. Ela era completamente azul, menos seu caule e folha, óbvio. Mas, eu lembrei de Jungkook quando eu a vi, ele gosta de azul — Mesmo que prefira lilás — E em seu jardim não tem nenhuma florzinha azul.
Ok, melhor eu entrar.
— ...Então você aperta aqui e...Pronto! Você pode ver o vídeo que quiser! — Foi o que eu ouvi quando entrei na loja e encontrei Taehyung com o celular de Jungkook na mão.
Não entendi.
—O que você está fazendo? — Me aproximei dos dois.
— Ensinando Jungkook a usar o YouTube, ele disse que estava com vergonha de pedir para você, então eu ensinei. Parece que ele não sabe muita coisa sobre tecnologia, sabe? — Juntei as sobrancelhas, confuso. — O YouTube não estava logado, por isso a dificuldade para entrar.
Jungkook conhece Taehyung há menos de um mês e não tem vergonha dele, porque teria de mim?
— Hyung! — Jungkook o repreendeu baixinho, bem, ele acha que foi baixinho.— Disse para não c-contar.
— Tá tudo bem, Jungkook. — Forcei um sorriso, encarando seu rosto.
— A-agora...Podemos ver vi-videos de fadas, heróis e c-conteudo de livros j-juntos, hyung! — Ele falou animado, andando até mim.— Olha, bonito, não é?
Sério.
— É lindo.— Respondi, me segurando para não sorrir. É impossível ficar chateado com ele, Jungkook é inacreditável.
E não tem motivo algum para eu ficar chateado. Foi bobagem minha.
Na tela de seu celular passava o vídeo de algum documentário sobre seres elementais, ele olhava tão intensamente para aquilo que eu passei a gostar mais da mitologia sobre as criaturinhas voadoras.
Passamos cerca de três horas com Taehyung, e mesmo assim, Jungkook não queria ir embora. Ele e Taehyung fizeram uma tour pela lojinha e a cada plantinha que o menino via, ele queria levar para casa. O melhor de tudo foi quando meu melhor amigo mostrou as plantinhas artificiais para Jungkook, ele ficou completamente maravilhado quando viu as flores artificiais.
Ele disse que já tinha visto antes, mas não eram tão reais quanto às que a floricultura que Taehyung trabalhava, vendia.
"Elas morrem e congelam, hyung?" Ele perguntou, fazendo uma expressão engraçadinha. Eu ri um pouco, confesso.
Eu e Taehyung explicamos com cuidado como as flores de plástico eram feitas. No final de tudo, sua maior dúvida era para que as flores mortas serviam.
"Para usarem em velórios" Foi Taehyung respondeu isso. Sério.
Ele não estava errado, a maioria das pessoas usam as flores artificiais em velórios. Mas o que me deixou intrigado foi a reação de Jungkook ao saber disso, ele disse que quando sua mãe faleceu... Ele não foi ao velório.
Eu quis abraçá-lo.
[📚🧚🏻♂️🍓]
Eu costumo dizer que sextas-feiras são dias legais, mesmo que o de hoje não tenha sido o melhor dia da minha vida. Jungkook teve outra crise e eu fiquei confuso quando Jung-hee me disse que foi no meio da noite, durante o sono.
E não foi uma crise... Normal. Eu sei que não.
Tenho medo de minhas suspeitas estarem certas e Jungkook ter tido uma crise de pânico durante um pesadelo.
— Jimin, pode acompanhar Jungkook até o quarto dele? Daqui a pouco vai chegar uns amigos de Junghyun e eles são muito barulhentos, sabe? — Senhor Jung-hee disse assim que terminamos o jantar, e Jungkook logo se levantou.
— Claro, senhor!
— Já disse que pode me chamar de tio ou apenas de Jung-hee, Jimin-ah. — Ele repreendeu, me fazendo rir.
— Certo, Jung-hee! — Repeti e sorri, acompanhando Jungkook.
Não sabia que Junghyun traria amigos hoje, eu sequer sei se vou poder cumprimenta-los… Acho que não sou muito apresentável para falar com pessoas de seus níveis.
Se bem que quando eles chegarem, eu vou estar muito bem acompanhado de Jungkook, lendo qualquer livro que ele queira ou assistindo algo.
Jungkook estava quieto e isso me deixava preocupado sem saber o motivo. Ele normalmente é mais falante quanto está com seu avô e pai, mas hoje ele estava alheio e meio aéreo.
— Hyung?— Ele chamou quando chegamos no andar de cima, olhei para ele. —Po-pode ver filme?
—Você quer ver um filme antes de dormir?— Ele concordou, sorrindo. Quase não vi seu sorriso hoje. — Então vamos ver um filme antes de dormir. — Virei o corredor e fui para sala, sendo acompanhado por ele. — Qual você quer ver?
Ele me olhou por poucos segundos antes de virar o rosto para o lado e ficar pensativo.
— O Pequeno Príncipe.
Ele quer me fazer chorar hoje?
— Mas terminamos de ler o livro ontem! — Sorri. Nervoso. — Já está com saudades?
— Aham.
O que dizer desse filme? Uma garotinha sem amigos que fica intrigada pelo seu vizinho maluquinho e que tem uma linda história para contar. Duas histórias contadas em um único filme, emoção total. Vários ensinamentos.
Eu nem preciso dizer que chorei, até Jungkook chorou e riu de mim quando derramei suco na minha perna. Em minha defesa, eu estava com os olhos embaçados com as poucas lágrimas que ainda estavam neles.
Seus olhos brilhavam como estrelas e suas bochechas estavam tão coradas quanto seu nariz avermelhado, ele sorria sem esforço enquanto assistia as últimas cenas do filme. Eu simplesmente não conseguia tirar meus olhos do seu rosto. De repente, veio a imagem de seus lábios naquela noite em que ficamos até tarde olhando as estrelas. Paralisei.
Jungkook é tão… Hipnotizante, qualquer coisa que ele faça, é único e me deixa paralisado. Ele é tão… Único. Tão cativante.
"Tu te tornas eternamente responsavel pelo que te cativas"
[📚🧚🏻♂️🍓]
Havia se passado mais uma semana e Jungkook passou a comer menos. Ele ficou assim depois de quarta-feira. E ele teve outra crise ontem, na sexta.
Foi na escola, Junghyun disse que Jungkook acordou estressado e sem vontade alguma de comer — coisa que não era comum depois que Yoongi receitou aquela vitamina. Eu fiquei bem preocupado depois, tentei falar com o professor Kim para saber o que ele estava fazendo antes de tudo. Mas ele não me disse muita coisa, só que Jungkook estava inquieto e chateado com algo.
Ficamos o dia todo fazendo coisas que ele gosta para tentar anima-lo um tantinho, e quando algum cliente aparecia na livraria, coisa que sempre acontece, ele ficava em umas das mesinhas espalhadas por ali, me esperando. E toda vez que eu olhava para o band-aid em sua testa, eu me sentia estranho. Sempre me sinto assim quando isso acontece com ele, é um sentimento um pouco ruim.
E hoje é sábado.
Sábado, a festa de Sohui que eu jurei não ir.
—Você vai mesmo nessa festa? —Taehyung perguntou sentando na minha cama, o encarei — Você sabe muito bem o que ela está fazendo e mesmo assim vai cair no joguinho dela, Jimin, você disse que ficaria longe!
— Para, não vai acontecer nada de ruim.
— Não diz algo que você mesmo não pode ter certeza.
— Tae…
— Você pelo menos dormiu bem essa noite? — Perguntou de repente.
Eu estou melhor, meus pesadelos estão se tornando quase que costumeiros para mim, então é fácil não me assustar tanto como ficava no início. Namjoon tem me ajudado bastante.
— Dormi perfeitamente bem. — Pode ser que eu tenha omitido alguma informação, mas depois eu digo direitinho para ele.
— Não usa essa festa para tentar esquecer as coisas de novo, Ji… — Taehyung falou, visivelmente preocupado, senti meu coração acelerar.
— Tae…
— Essa menina é louca e aquele irmão dela é um psicopata.
—Eu sei, Tae. Mas eu preciso de alguma coisa para me desestressar nesses últimos dias, e se ela tentar algo comigo, é só eu me afastar. — Disse, suspirando baixo— Não vou ficar alimentando sentimentos que eu nunca vou sentir por ela, não sou criança, Taehyung.
—Sei…
Quando ele fala isso, eu sei que ele não acreditou.
—Olha, Tae, eu juro que não vou fazer nada essa noite. Só estou indo para me divertir um pouquinho, sabe? Se você quiser ir, podemos ir juntos. O que acha? Faz tempo que não saímos juntos.
—Nem a pau que eu piso novamente na casa de Sohui, você ainda lembra o que eu fiz da última vez?
E como lembro.
Taehyung, eu e Yoongi fomos chamados para uma das festas que Sohui dava em sua casa. Naquela noite nós três combinamos as roupas e, por algum motivo, eu e Yoongi ficamos bastantes parecidos — coisa que eu discordo muito— Sohui fez a graça de flertar com Yoongi e sua recompensa foi um copo de cerveja na cabeça e o rosto completamente sujo de bolo. Foi engraçado, confesso.
Taehyung é bem assustador quando está bravo, mesmo que ele seja calmo na maior parte do tempo. E ele não a agrediu, só estragou a 'make dela.
—Prefiro ficar de chamego com meu gatinho do que sair para festas barulhentas.
— Disse o maior festeiro de toda Seul.—Dei risada, terminando de me arrumar.
—Isso é passado. Cala a boca.
Sorri novamente, negando com a cabeça.
— To saindo, até mais tarde.
— Você vem dormir em casa?
Parei na porta, virando para Taehyung e sorrindo.
— Se eu não encontrar alguém para me fazer companhia hoje, sim.— Sorri sugestivo.
— Eca, sai daqui!
E eu sai, rindo da maneira engraçada que ele me olhou depois que eu falei aquilo. A verdade é que não estou indo para essa festa para transar ou algo do tipo, mesmo que eu não tenha mais os "amigos" que tinha antes de trancar a faculdade, ainda é possível me divertir sem incluir isso.
Mesmo estando a tanto tempo sem ter qualquer relação sexual, eu não sinto atração por ninguém que conheci nesses últimos mêses. Coisa que não é muito comum. Quero dizer… eu tive uma vida sexual bem ativa a alguns meses atrás.
Não entendo isso, eu sempre gostei de transar e ultimamente a única coisa que gosto é de estar na livraria dos Jeons ou em casa.
Chamei um uber para me levar até a casa de Sohui, não demorou muito e eu já estava no local. Agradeci o moço do carro entregando o dinheiro, pagando pela corrida e caminhei até a porta de entrada. A música lá dentro estava alta e não consigo entender como Sohui ouviu a campainha tocar mesmo assim.
Eu sequer sei porque toquei a campainha.
—Jimin-ssi! — Me cumprimentou com um abraço, se afastando rapidamente. — Que bom que veio, estava te esperando!— Falou um pouco alto por conta da música, sorri em resposta.
— É bom te ver também, Sohui — Forcei um sorriso, olhando em volta. Tinha muitas pessoas aqui.
Sentia um sentimento de nostalgia, pode parecer bobagem mas eu realmente gostava de festas antigamente. Ainda gosto, mesmo não frequentando elas. Agora, eu tenho responsabilidades.
Instantaneamente, Jungkook meio a minha cabeça.
Caraca, eu nem estou bêbado.
—Quer beber alguma coisa? Hyeon comprou várias bebidas, estão todas na cozinha e…
— Um refrigerante está bom, Sohui. Pretendo não me embebedar hoje. — Toquei em seu ombro, sorrindo e me afastando logo depois. Como diria Taehyung se estivesse aqui: me infiltrando na galera.
Eu sabia o que ela estava tentando fazer. Foi assim que transamos da última vez; Fiquei bêbado, ela me levou para um quarto é, bem, o resto já dá para imaginar.
Eu não me lembro muito do que aconteceu naquele dia, apenas de seus gemidos um pouco agudos e seus toques suaves. Não posso dizer muita coisa, já que me falta memória sempre que tento lembrar de algo. E isso me deixa muito assustado.
Apesar de dizer que isso não me afeta, eu minto, pois me afeta mais do que eu consigo imaginar.
Fui para a cozinha da casa e procurei por alguma bebida não alcoólica nos freezers daqui, foi difícil, mas no fundo um deles, tinha um engradado de coca-cola, para minha sorte.
—Falei que não queria você aqui.
Me assustei ao ouvir a voz do irmão babaca de Sohui, revirei os olhos e suspirei. Havia esquecido que ele também mora aqui.
—Pena que eu não ligo para o que você diz. — Tentei me afastar, mas fui impedido por sua mão segurando meu pulso.
—Certeza? Você pareceu bem afetado da última vez que nos vimos — Riu, suspirei novamente, tentando controlar meus nervos.
Você veio para se divertir, Jimin. Não deixe esse cara acabar com sua noite.
—Sai da minha frente, cara, não to afim de brigar hoje — Puxei meu braço e soltei-me dele, respirando fundo. — Qual o seu problema comigo?
—Cara? — Ele repetiu com um tom travesso, me olhando com um sorriso estranho— Sou seu hyung, garoto. Sua mãe não te deu educação?
— Lave sua boca para falar da minha mãe!— Apontei para seu rosto, lutando contra todas as minhas forças para não socá-lo aqui e agora.
"No momento em que você está praticando a violência contra quem te fez mal, poderá ser gratificante ver esse indivíduo sendo ferido. Mas, depois de tudo, as consequências de seus atos vieram à tona" Foi isso que Namjoon me disse quando contei a ele sobre esse Hyeon e Woojin.
Sua família é bem conhecida aqui, seu pai e mãe trabalham em uma empresa que eu não me lembro muito bem o nome e bem, Namjoon estava certo. Se eu agredir esse garoto agora, ele pode me denunciar de agressão em sua própria casa e eu seria levado para delegacia mais uma vez, coisa que eu não quero.
— E ela me deu sim educação, diferente da sua, que aparentemente não te criou com a devida atenção que você merece. — Falei, e então eu pude ver de novo aquela mesma expressão que vi em seu rosto na última vez, um pequeno vacilo em sua expressão tão potente.
— Seu nojento de merda. — Foi a única coisa que ele conseguiu falar.
—Me esquece. —Falei antes de me afastar e sair daquele lugar.
Tirando o incidente que eu tive com aquele garoto dentro da cozinha, minha noite estava sendo bastante legal, eu diria. Beijei, e como beijei. Não encontrei com Sohui ou seu irmão babaquinha depois daquele momento. Sai com algumas pessoas que mal me recordo o nome agora, só sei que foram maravilhosos.
Confesso que senti falta de me sentir aceito mais uma vez, depois de toda aquela merda que Woojin fez e que quase me ferrou, não tive coragem de falar com mais ninguém já que todos me olhavam de maneira estranha.
Agora, percebo que o trauma que aquilo me causou, foi mais intenso do que eu havia notado.
Hoje, me senti com o Jimin de dezessete anos, antes de tudo mudar.
Mudar…
Mudanças. Nos últimos cinco meses, minha vida teve muitas mudanças. As melhores mudanças que eu poderia imaginar.
Jungkook, Jungkook e Jungkook. Volta e meia ele voltava para minha cabeça. Acho que bebi demais.
— Jiminie Oppa, volta aqui! — Uma das garotas que eu estava me chamou em meio a gargalhadas quando eu estava saindo do meio daquele cheiro de álcool e cigarro. Levantei minha mão e com um tchauzinho, me afastei daquele quarto, andando até a cozinha e pegando mais uma bebida.
Aquela história de refrigerante não durou muito tempo também.
Eu sequer sabia que horas eram. Duas ou três da manhã, por aí.
— Ai, droga!— Ouvi um grito assim que adentrei a cozinha, virando meu rosto na direção que a voz vinha e encontrando um rapaz na pia, de costas para mim — Que grande merda!
Sua voz era chorosa, quase engasgada. E, quando ele virou-se para mim, vi seus olhos marejados mesmo pela pouca luz presente aqui, balançando a mão direita onde um pouco de sangue escorria de um corte em sua mão.
—Meu Deus! Que susto, cara!—Levou uma das mãos até o peito, sorri.
—Desculpa, desculpa.— Me aproximei.—Tá tudo bem aí?
—Tá, eu só cortei a mão com uma garrafa quebrada — Lamentou, limpando os olhos com a mão não cortada — Nada demais.
—Parece que foi bem fundo.— Hesitei ao tocar sua mão ferida, mas como ele não esboçou qualquer reação negativa, eu apenas prossegui.
O corte em sua mão era bem profundo, como eu já havia notado, tinha alguns arranhões em sua mão também e um corte um pouco maior em sua palma
— Se meteu em briga?
— O que? não, não!—Riu, negando com a cabeça.— Você ouviu alguma briga?
— Eu estava lá em cima, não dava para ouvir muita coisa — Soltei sua mão, caminhando até o armário e procurando por algum curativo aqui.
— O que você tá fazendo?
— Procurando por alguns curativos, Sohui costumava guardá-los aqui.
— A-ah...Não precisa, eu estou bem.
— Esse corte não vai te tirar a vida, mas vai fazer você perder um tantinho de sangue. — Voltei a pegar sua mão —Posso? —Encarei seu rosto, molhando um paninho com água e levando até seu corte — Vai fazer parar de sangrar.
Ele acenou com a cabeça, me dando permissão para cuidar daquele machucado. Com cuidado, eu comecei a passar o paninho em seu dedão e na palma de sua mão, ele fez um murmúrio engraçado, um gemidinho de dor.
— Não lembrava que ardia tanto.— Falou com uma expressão de dor no rosto, soltei uma risada fraca.
— É só água! — Dei risada, terminando de limpar o machucado e colocando o curativo ali — Prontinho.
— Nossa, muito obrigado. — Olhou para sua mão e depois para mim, pela pouca luz presente no local eu pude notar seus olhos ainda vermelhos e meio úmidos.
— Tome mais cuidado com garrafas.— Sorri novamente, me afastando dele.
—M-meu Deus, você cuidou da minha mão e eu nem me apresentei — Mudou de assunto.— Sou Jackson, Jackson Wang — Estendeu a mão que não estava machucada em minha direção, a apertei com um sorriso no rosto.
— Eu sou Park Jimin.
— Park Jimin? O namorado de Sohui?
Como é que é?
— Não, não! Quem foi que te contou uma mentira dessas? — Sorri passando a mão no cabelo e negando com a cabeça, estou a dois passo de tirar satisfações com Sohui, mas resolvi deixar isso para depois. — Sou Park Jimin solteiro, sem namorada ou namorado algum. — Suspirei.
Jackson ficou em silêncio, olhei para seu rosto novamente e.... Minha nossa. Não havia notado que ele era tão bonito.
— Porque você tava chorando? — Resolvi arriscar e perguntar, tentando não ser muito invasivo.
— Sério que de tantas coisas para você perguntar, você pergunta isso? — Ele riu, mas não era um sorriso humorado, era quase irônico. — Nenhum " E aí, novinho, solteiro?"
Eu ri, ele era um carinha engraçado. Mas sua pergunta era claramente uma crítica.
— Desculpa, mas quando eu entrei aqui você estava choramingando e reclamando de dor, acho que o corte doeu mais do que eu imaginei…
— Não estava chorando pela dor do corte. — Ele me interrompeu — Estava chorando por uma pessoa, nada demais. Coisa de jovem apaixonado, entende?
Apaixonado...Jungkook.
Oh, droga.
Acho que realmente exagerei na bebida.
— Bem, na verdade não. — Ele me olhou de uma forma engraçada, como se não acreditasse no que eu dizia — Eu nunca me apaixonei de verdade por alguém. Na verdade, a última vez que eu achei que estava gostando de uma pessoa de verdade, fui roubado e quase preso. — Sorri novamente, Jackson soltou um suspiro surpreso.
— Minha história é menos complicada que a sua! — Se aproximou mais de mim, encostando o quadril no balcão onde eu estava — Me desculpa atrapalhar sua diversão, não era minha intenção — Voltou a mudar de assunto.
—Não estava tão divertido assim — Sorrindo o tranquilizei — Quer ir para um lugar mais reservado?
— O que? Ah, não. Não, não mesmo!— Balançou as mãos em frente ao corpo, negando rapidamente com a cabeça.
Ele acha que eu quero…?
—Que cabecinha depravada! —Acusei, rindo de seu desespero — Eu só quero conversar, ok? Essa música alta atrapalha um pouco e eu acho que você precisa desabafar um pouquinho. Se você quiser, é claro. — Toquei em seu ombro, ele me olhou desconfiado e depois olhou para o curativo em sua mão, suavizando sua expressão.
— Eu quero sim.
[📚🧚🏻♂️🍓]
Jackson Wang, Chines e um amigo de Hyeon — fiquei meio receoso depois que ele me contou isso, mas deixei passar — Vinte e quatro anos, fazendo faculdade de direito e está nessa festa para "afogar as mágoas" digamos que conversamos por algumas horinhas. Ele me contou que gosta de um cara, e esse cara e professor em uma escola que ele não recordava o nome.
— E ele só sabe falar desse tal aluno especial, que ele é isso, que ele é aquilo... — Lamentou mais uma vez, enxugando uma lágrima que caiu — As vezes eu até penso em falar para ele, sabe? Confessar que estou apaixonado. Mas ele começa a falar desse aluno mais uma vez e eu desisto.
— E porque ainda não fez? Talvez, se você contasse, ele poderia pensar em você de um jeito diferente.
—Diferente?
—Mais que um amigo.— Jackson suspirou, negando com a cabeça.
—Tenho medo. Medo de ser rejeitado ou talvez trocado por um aluno.— Suspirou, dando outro gole na garrafa de cerveja em sua mão.
— Isso não é errado? Digo…Um professor interessado por um aluno? Quantos anos seu amigo tem? — Perguntei preocupado, eu realmente espero estar errado, mas se não estiver, isso é um caso para se denunciar…Certo?
— Oh. Não, não! Ele terminou sua faculdade a poucos meses, começou como professor esse ano mesmo! — Sorriu, suspirando — Ele tem apenas vinte e dois anos, e o aluno eu já não sei, só sei que o garoto é do…terceiro ano do Ensino Médio e já é maior de idade, eu acho.
— Ah sim, que complicado isso...— Suspirei, mordendo o lábio inferior. — O que você já disse a ele?
— Juro que já tentei confessar meus sentimentos, mas todas as vezes acaba em nada. —Choramingou, encostando sua cabeça em meu ombro.
—Já pensou em dizer, mas não com as palavras óbvias?
—Como assim? — Levantou o rosto de cenho franzido, me encarando confuso.
—Música. Pode parecer bobagem, mas as músicas podem dizer coisas que você não tem coragem.
A música fez eu me aproximar de Jungkook. Eu sei que sim.
—Está me dizendo que eu preciso mandar indiretas para ele por trás das músicas?
—Talvez. Eu não chamo de indireta, chamo de uma pequena ajuda, entende? Às vezes, as músicas dizem mais do que nós mesmos queremos dizer.
— Você é maduro demais para alguém com vinte anos — Ele riu, voltando a se deitar na cama _
—Trabalha com o que? Eu passei a maior parte do tempo falando sobre mim e lamentando meu amor platônico que você não teve tempo de me contar mais sobre sua vida.
—Eu trabalho como atendente de uma livraria e costumo passar um tempinho ajudando o neto do meu chefe, um menino autista.—Jackson arregalou os olhos e me encarou ainda mais surpreso. Sorri.
—Você é uma caixinha de surpresas, não é Park Jimin? Não consigo imaginar você cuidando de uma criança.
Nem eu.
— Bobo.— Neguei com a cabeça, bebericando minha bebida — Ele é um garoto autista —Jackson me olhou, sorrindo pequeno.— Ele tem dezoito anos e...É uma graça, inteligente pra caramba e tem um talento enorme para desenhar. Adivinha qual é sua maior paixão?
— Você? Porque se eu tivesse alguém como você, falando do jeito que esta falando. Com certeza eu-
O que?
— Não! — O interrompi. — Fadas, ele é apaixonado por fadas. Seres mitológicos em geral. — Voltei a sorrir, me encostando na cabeceira da cama — E flores, ele também adora flores.
—Esse garoto é um clichezinho completo —Riu, dei de ombros —Yugyeom adoraria conhecê-lo.
— Seu quase namorado?
— Kim Yugyeom, eu poderia até ligar para ele agora, mas ele só iria me chamar de bêbado e me mandaria dormir — Soltei uma risada baixa, concordando com a cabeça — Ele sempre acorda no horário de sempre, antes das seis porque precisa tomar o café para ir a escola até às sete da manhã. Ele trabalha tanto e toda vez que eu vou falar com ele, ele diz "Espera um pouquinho, Jack, meu aluno favorito está precisando de ajuda" Não com essas palavras já que ele diz que jamais teria um aluno favorito. Mas é quase isso.
— Não coloque a culpa no aluno.— Baguncei seus cabelos, me deitando ao seu lado — Ele nem deve saber dessa admiração que esse Yugyeom tem por ele.
Jackson concordou, terminando de tomar sua cerveja e levantou a cabeça, me olhando.
— O que foi? — Sorri, fechando os olhos.
—Nada, eu só sei agora porque Sohui quer tanto namorar você.
— Como...Como assim?
—Nao seja idiota e sonso, Park Jimin. — Deu uma risada baixar.— Voce é incrivel, educado e sabe dar otimos conselho. Se eu não amasse tanto Yugyeom, ficaria com você não só uma, mais quantas vezes você quisesse.
Meu Deus, se eu não tivesse um pouquinho alterado pelo álcool, com certeza teria ficado muito constrangido.
— A-ah Obrigado? Eu não sei nem o que dizer agora, só…Obrigado.— Mordi meu lábio, tentando não olhar para ele.
—E você ainda fica fofo quando está com vergonha! — Ele ainda disse isso, aumentando meu constrangimento. —Você é uma pessoa legal, Jimin. Se fosse qualquer outro jovem ou adolencente que está nesta festa, tudo que eles iriam querer comigo seria um sexo casual. Mas você me ajudou, cuidou do meu corte e ainda me ouviu falar baboseira por horas —Voltou a sorrir, negando com a cabeça — Você é uma pessoa com um coração enorme, se cinquenta porcento da população de hoje em dia fosse assim, o mundo seria um lugar melhor.
Nem preciso comentar que eu faltei explodir de vergonha ali mesmo. A única coisa que eu consegui falar foi um “obrigado” e nada mais.
Já passava das quatro e meia da manhã quando eu e Jackson nos despedimos e então eu voltei para casa. Decidimos que manteríamos contato, trocamos nossos números e eu saí. Quando cheguei em casa, percebi que Yoongi tinha mesmo vindo para cá por conta de roupas espalhadas pela sala e os dois bocos deitados em um colchão no chão da sala, enrolados em um cobertor grosso.
Eu não entendo, Taehyung tem uma cama e tudo mais, não entendo o porque eles sempre, SEMPRE! sempre mesmo, estão deitados no chão da sala.
Decidi deixar esse questionamento de lado e para finalizar minha noite de diversão, eu me deitei em minha cama e não demorou muito para o sono me pegar. Quando acordei pela manhã, faltavam poucos minutos para meio dia.
Faz tempo que eu não durmo tão tarde quanto ontem ou acordo tão tarde quanto hoje. Tecnicamente eu dormi hoje e acordei hoje, mas não faz diferença.
No domingo tudo correu bem, eu e Taehyung passamos o dia cuidando do nosso apartamento enquanto Yoongi nos ajudava vez ou outra, mas parava de trabalhar a cada segundo e ficava de melação com Taehyung.
Jungkook me ligou e isso me deixou feliz, ele disse que estava sentindo falta da nossa rotina semanal e que se ouvisse minha voz, ficaria mais tranquilo. Eu sorri, feliz e sentindo meu coração acelerar com sua confissão.
Ele gostava da minha companhia.
E na segunda, no caso hoje, eu acordei quase que atrasado. Já estava quase no horário de sair para a faculdade!
E eu corri. Taehyung me chamou de louco quando eu saí do quarto ainda com o cabelo molhado e bagunçado.
— A noite foi boa? — Yoongi perguntou, terminando de tomar seu café.
— Sim.
— Come devagar, Jimin — Taehyung sorriu — Vai engasgar assim.
— Preciso fazer uma ligação antes de ir pra faculdade —Engoli o resto de pão que comia, olhando para Yoongi — A noite foi boa? — Perguntei apontando a marca arroxeada em seu pescoço.
— Vai se ferrar.
— Onde você vai? — Tae perguntou.
— Não vou fazer nada de muito interessante. Tchauzinho.
Peguei meu celular e procurei pelo número de Jungkook enquanto o elevador não chegava na portaria, só não sabia que ele me atenderia tão rápido.
Ontem me lembrei de uma conversa que tive com o estranho que conheci na festa de Sohui, o Jackson.
Eu não posso estar louco.
— Hyung! — Ele disse animado, sorri — Bom d-dia!
— Bom dia, como você está?
— B-bem. E o hyung ?
— "E você, hyung" — Ouvi a voz de Junghyun corrigindo Jungkook, soltei uma risada baixa quando o ouvi soltar resmunguinhos curtos
— T-to bem, papai — Foi o que ele respondeu — E Jungkook não é seu hyung, papai. — E ainda completou.
Sorri, embasbacado por sua doçura.
— Você está nervoso? — Perguntei meio preocupado. Ele não costumava "errar" mais a forma que chamava a si mesmo quando estava nervoso, como ele mesmo já havia me dito.
— N-não… — Soltei um riso curto, me atentando quando atravessei a calçada para o outro lado da rua.
— Certeza?
— T-talvez um pouquinho, Jimin-hyung. — Sorri com sua confissão, caminhando com mais pressa.
— Não fique nervoso, hoje será um dia legal, ok? — Disse, mesmo não sabendo qual o motivo de seu nervosismo.
— Está bem t-também, hyung? — Mudou de assunto.
— Eu também estou bem, Jungkook. — Sorri, acenando para a moça que me entregava a tortinha de Jungkook todas as quartas.
A cafeteria que ela trabalha também fica próxima a minha faculdade.
— Ta indo para escola?
— S-sim. O hyung e-esta indo para...Facul...Fa-
— Faculdade. — Junghyun completou.
— Isso. — Jungkook concordou. Sorri.
— Sim, estou indo sim — Mordi meu lábio inferior, desistindo de fazer o que queria.
Eu queria saber o nome completo do Professor Kim.
Yugyeom, Kim Yugyeom. Professor Kim Yugyeom fala demais de um aluno especial. Jungkook é especial. Não só por ser autista mas também por muitos outros motivos. Certo, o professor Kim dá aulas para vários alunos "iguais" a Jungkook, mas, ainda sim...
Por que eu me importo tanto? Porque eu me importo tanto que Kim Yugyeom possa ser o professor de Jungkook e o aluno que ele tanto admira possa ser o meu Jungkook? É tão confuso.
Meu Jungkook não, o… Porra! deu pra entender!
— Hyung? — Jungkook chamou, me chamando a atenção mais uma vez.— O que aconteceu?
Então, eu decidi deixar isso de lado. É bobagem.
— Nada...— Respondi em um suspiro — Só liguei para saber se você está bem. —Isso é uma meia verdade — Até daqui cinco horas, Jungkook!
— Cinco h-horas!— Ele repetiu — T-tchauzinho, Hyung! Boa Fadade!
Oh, meu Deus, eu ainda vou explodir.
— Boa escola para você também! — Sorri, encerrando a ligação.
E então, meu dia começou oficialmente.
E assim foram seguindo dia após dia, aquela dúvida sobre o tal Kim ainda rondava a minha cabeça. Mas eu não tinha coragem de perguntar.
Era bobagem minha. Se um dia eles fossem ter algo… Eu não deveria me intrometer. Mas a ideia desse tal Kim se interessar e ter segundas intenções com Jungkook, me deixava… Me deixava estranho.
Mais uma semana se passou, Jungkook estava cada vez mais empolgado com suas aulas com Hoseok e minha mãe parou de ligar todos os dias. Ela falou que ele estava desconfiando, então decidiu que ligaria uma vez por semana, era ruim não falar com ela todos os dias, mas era melhor do que ficar sem falar com ela pelo resto da vida.
— E o que você sente em relação a isso?
Era terça e eu estava em mais uma vez com Namjoon, conversando sobre Jungkook e sua última crise de ontem a noite.
— Incapacidade.
—Se sente incapaz de ajudar? Porque?
—Nunca aconteceu comigo perto, entende? Eu ainda não sei o que é uma crise de Jungkook, mas...Eu tenho medo… É, acho que é isso.
—Medo de Jungkook? — O olhei surpreso.
—Não! Dele não. Medo de... Não sei. Um medo bobo.
—Medo de não saber como agir quando ele colapsar na sua frente? Não saber como ajudar? Atrapalhar?
Abaixei a cabeça, concordando.
— Eu nunca fui bom em alguma coisa, por isso me esforço tanto para algo dar certo… Mas às vezes sinto que não estou me esforçando o suficiente para que eu e Jungkook… Para que a gente dê certo.
— "Dê certo" No que, necessariamente? — Aquela pergunta me pegou de surpresa.
No que? No que…
— Eu quero ser um bom amigo para ele, Hyung. Às vezes acho que estou deixando alguma coisa passar, mas minha cabeça não detecta o que é. — Suspirei, sentindo meus olhos arderem novamente.
— Você vai conseguir descobrir, Jimin. — Ele me encorajou, me deixando mais tranquilo. — Mas, vamos recapitular sua última colocação. Como sabe que nunca foi bom em algo?
— Tudo o que eu fiz, tudo o que eu tento fazer, sempre dá errado. Eu não sirvo para ser um bom amigo porque, ao meu ver, não… Não me esforço o suficiente para fazer aquela pessoa querer ser meu amigo, faço um trabalho meia boca e, possivelmente, meu chefe é gentil comigo apenas por pena. Jungkook é a única certeza que eu tenho que fiz algo que deu certo. Bom, está dando certo. — Sem perceber, acabei desabafando, chorando.
Nas terças, já tinha certeza que choraria ao desabafar com meu psicólogo. Mas, apesar de tudo, ver o sorriso reconfortante de Namjoon sempre me ajudava, além de seus conselhos e puxões de orelha.
— Não diga que não é capaz, Jimin. — Ele falou, negando com a cabeça. — Você sabe que é capaz, mas algo em si lhe impede de seguir em frente e conquistar aquilo que tanto anseia, se você parar no meio do caminho, não vai conseguir ver a luz no final de toda a escuridão que te rodeia. E, tudo aquilo que sua cabeça diz, é refutado por você mesmo, já que na última semana você fez tudo o que acabou de dizer que não faria.
O encarei em silêncio, tentando raciocinar.
— Sempre temos desafios nessa vida, mas você não é ruim em tudo. Há dificuldades, isso é inegável, mas dizer que é ruim em tudo o que faz, é uma maneira muito ruim de se autodepreciar. Você se esforça mais do que o suficiente para algo, isso é indiscutível e, se pensa realmente que seu chefe trata você tão bem, por pena, deve rever esse pensamento e também a maneira que ele realmente te trata. — Deu uma pausa, me olhando. — Você é capaz, Jimin, apenas deve dar um tempo para esses pensamentos negativos.
Ele começou a escrever algo em seu computador, me deixando meio apreensivo.
— Eu… Eu não sei o que dizer.
— Não precisa dizer nada, apenas reflita sobre isso e, na próxima semana, me diga como se saiu.
— Certo.
— Agora vamos voltar para o ponto anterior. Você sabe o que é uma crise autista, Jimin?
—Sei, já pesquisei muitas vezes como agir ou o que fazer quando ele tiver uma e eu estiver lá — Mordi meu lábio inferior, olhando para Namjoon, nervoso — Mas, ainda assim... Eu sinto como se eu não estivesse pronto.
—Ninguém nunca está pronto para essas coisas — Ele disse, anotando algumas coisas em seu computador — Quando chegar a hora, você apenas tem que saber de uma coisa: Acalmá-lo, não deixar objetos que podem machucar muito perto e o essencial, deixá-lo confortável.
E é exatamente isso que eu tenho medo, não saber acalmar Jungkook.
—Quantas crises ele teve nesses cinco meses que você o conhece?—Me olhou.
— Com a última, são oito.
Oito. Oito colapsos que eu não pude fazer absolutamente nada para ajudar...E isso tem piorado no último mês.
Bem, são oito crises que eu sei. Agora, se contar as que eu possivelmente não sei, é impossível saber o total correto.
—Junghyun falou que era pior antigamente, praticamente todos os dias. Era como se ele explodisse depois de qualquer coisa, ele estava sempre desconfortável… Isso me preocupa, de verdade.
—Quando a mãe ainda estava viva, certo? —Namjoon voltou a me encarar, fiquei confuso.
A mãe dele. Eu não sei o que sentir quando ela aparece no meio dos assuntos.
— Ele te falou alguma coisa sobre essa mulher, Hyung? — Perguntei com esperança que ele me respondesse.
—Desculpe Jimin, mas eu não posso contar o que meus pacientes me contam —Sorriu, revelando sua covinha fofa na bochecha. É,eu sei disso. — Mas deixo claro que não foi muita coisa, como eu disse, ele pouco fala, apenas concorda ou nega quando eu faço perguntas.
Pouco tempo depois, nossa sessão foi encerrada e outra foi marcada para semana que vem. Eu voltei para casa de Jungkook e ele estava molhando suas plantinhas com hoseok, todo sorridente e animadinho.
Nem parece aquele garoto sonolento e cansado de ontem.
— Hyung! — Ele se aproximou, esfregando as mãos sujas de terra em seu avental que usa sempre que vem cuidar de seu jardim.
— Posso te abraçar? — Eu perguntei, mordendo o lábio inferior. Eu ficava muito abalado, digamos assim, depois de uma sessão com Namjoon. Mas era bom, as coisas estavam começando a se encaixar aqui na minha cabeça.
Um abraço me tranquilizava. Ainda mais o abraço dele.
— P-pode, hyung. — Ele sorriu pequeno, abrindo os braços e me abrigando ali. Enquanto eu repousava minha cabeça em seu ombro e o abraçava pela cintura. Enquanto ele me sujava com terra também.
E eu gosto quando ele me suja de terra.
— Boa tarde, hyung! — Acenei para Hoseok, que terminava de molhar a plantinha azul que comprei para Jungkook naquele dia.
Era uma hortênsia, eu só soube a espécie depois que Jungkook me contou detalhadamente todas as variedades dela e também as cores.
— Quase noite, não é? — Sorriu, abandonando o regador.
— Onde está Jung-hee?
— No andar de cima, organizando algumas coisas sobre a livraria. — Balancei a cabeça, entendendo.
—Como foi a aula de hoje? — Me afastei de Jungkook, colocando a franja de seu cabelo atrás da orelha.
Ele também precisa cortar o cabelo, estava quase cobrindo seus olhos.
— F-foi ótima — Sorriu — H-hobi hyung ensinou Jung- Me ensinou muito — Sorri com uma pitada de orgulho, as aulas de Hoseok estavam sendo maravilhosas.
Um Fonoaudiólogo era exatamente o essencial para Jungkook.
— Estão com fome? —Perguntei para os dois, que acenaram juntos — Comprei comida.—E entramos para jantar.
A noite Jungkook pediu para lermos o livro do Pequeno Príncipe enquanto ouvíamos sua música favorita, deitamos em sua cama e, pouco tempo depois de começarmos a leitura, ele já estava praticamente dormindo em meu ombro.
— Boa noite Jungkook.— O cobri com seu cobertor para o proteger do frio, estávamos no começo de Junho e é um mês quente, mas a noite faz bastante frio. E então me afastei dele, deixando um beijo em sua testa — Bons sonhos.
Desci as escadas em direção a cozinha, onde meu chefe estava organizando as vasilhas que sujamos no jantar. Me aproximei, esperando pela mesma coisa que ele fazia quando eu estava indo embora. Um abraço seu.
— Boa noite, Jung-hee! — Me despedi, me afastando de seu abraço e seguindo caminho para minha casa.
Meus pensamentos estavam turbulentos.
Apesar de tudo, eu dormi bem. Melhor do que eu esperava, pelo visto aqueles remedinhos que Namjoon receitou para que eu dormisse sem nenhum incômodo, funcionou bem.
E hoje é quarta feira, dia do docinho da fruta vermelha e uma prova importante que eu tenho que fazer. Isso me prendeu na faculdade mais do que eu imaginei.
Eram quase duas horas quando eu saí da universidade e corri até a cafeteria de sempre para comprar a bendita tortinha de morango.
— Atrasou hoje, Jimin.— A atendente simpática de todas as quartas sorriu, já pegando meu pedido.
Joo-hyun é filha da dona dessa cafeteria, ela trabalha aqui por meio período para poder pagar a faculdade com seu próprio dinheiro. Fizemos meio que uma amizade nesses cinco meses que eu venho aqui para comprar a tortinha favorita de Jungkook.
— Tive prova hoje. — Suspirei, pegando a embalagem com minha torta— Obrigado!
— Fala pro garoto que eu desejei um bom dia!— Disse com um sorriso bonito.
Ela também sabe sobre Jungkook, que eu compro essas tortinhas para ele e tudo mais. Ela até brincou dizendo que se não fossem suas tortinhas, Jungkook certamente não saberia como é comer a melhor torta de morango da cidade.
— Certo!— Acenei com a mão, me despedindo — Até quarta que vem.
E voltei a correr em direção a escola de Jungkook. Pouco me importando se as pessoas me achavam um louco ou um fugitivo da polícia por correr tão depressa assim pelas ruas de Seul. Eu tinha coisas mais importantes para lidar.
Quando cheguei até o portãozinho de ferro tão familiar para mim, suspirei aliviado.
Mas comecei a me desesperar novamente quando não vi Jungkook ali.
— Kim! — Chamei o professor, chamando a atenção de outros funcionários do local, ele suspirou e andou até mim. — Onde está Jungkook?
— Junghyun não te ligou? —Ele juntou as sobrancelhas confuso, peguei meu celular o mais rápido possível e me desesperei quando vi mais de cinco ligações do Jeon.
Jungkook, onde está Jungkook?!
—O que aconteceu com ele? — Levantei o rosto, encarando o homem à minha frente. A minha preocupação era explícita.
— Jungkook sem querer derrubou um livro velho que estava em cima da prateleira da sala de leituras e isso irritou sua rinite, ele foi levado até o pai.
— Ao hospital? — Perguntei preocupado, encarando o homem à minha frente.
— Se Junghyn está lá, então sim. Jungkook foi ao hospital.
— Ele está bem?
— Pelo que o senhor Jeon me contou, sim. Foi só uma crise de alergia. — Sorriu, tocando em meu ombro e o acariciando em forma de apoio.
Uma dúvida rondava a minha mente.
— Quem o levou ao hospital?
—Eu.
Ah...
— Obrigado pelas informações, professor Kim. — Forcei um sorriso, me virando de costas.
— Pode me chamar de Yugyeom, Jimin. Somos amigos. — Tocou em meu ombro, se distanciando de mim.
Somos?
Espera...Essa não.
"E ele só sabe falar desse tal aluno especial, que ele é isso que ele é aquilo…”
“Yugyeom adoraria conhecê-lo"
Meu Deus. Meu Deus…
Porra...Porra, é ele!
Minha respiração ficou ainda mais irregular do que já estava, era ele.
— Professor…
Quando eu abri a boca, meu celular tocou, o professorzinho ao menos me olhou.
Quando eu olhei o contato que estava me ligando, meu coração acelerou. Era Jungkook.
— Oi! — Atendi, esperando que ele me respondesse, mas tudo que eu ouvi foi um resmungo fraco vindo de si. — Jungkook? Jungkook, está tudo bem?
— P-Por favor...hyung!
Minha respiração travou.
— Jungkook? M-me diz o que está acontecendo! — Meu coração praticamente entrou com colapso, pulsando forte contra meu peito com a falta de resposta.
Ele ficou em silêncio, e eu voltei a correr. Dessa vez, em sua direção.
Colapsando...chorando, respirando com dificuldade, gritos. Colapsos emocionais. Crises.
Jungkook estava tendo uma crise.
"Fique sempre em calma, se você entrar em desespero, o autista tende a piorar Calma, mantenha a calma."
— Jungkook, por favor, fica onde você tá. O hyung está chegando, ok?
— A-ah! — Ele gritou, alto, dolorido. Choroso. Ele estava chorando.
Eu estava cansado, minhas pernas doiam e meus pulmões ardiam, mas Jungkook precisava de mim. Eu vou cuidar de Jungkook como disse ao meu chefe que faria.
Como eu quero fazer. Ele precisa de mim e eu preciso dele.
Como o Pequeno Príncipe diz: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que te cativas. E eu sou responsável por Jungkook.
Porque ele me cativou.
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Oi! Tudo bem?
Só queria avisar que as atts não demorará como antes! Consegui juntar meu dinheirinho e finalmente comprei outro notebook para mim, minhas filhinhas seram atualizadas constantemente agora. Os dias de glória chegaramKKKKK
É isso, não tenho nada mais o que falar, mas vocês estão ansioses para o próximo capítulo? Hehe, juro que não vou demorar.
Beijinhos e até mais! Se cuidem💜
#Fadasnocoração
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