18 - Culpa

Quando chegamos no casarão, saímos da van, fomos até o salão, e encontramos Christian em pé sorrindo.
Nos aproximamos e fomos recebidos com palmas por ele.

— Muito bem, que bom que todos estão bem, ou melhor vivos! — disse vendo o braço de Valentina. — Aposto que estão cansados, vamos lá para fora! — disse de encaminhando até o jardim.

Tinha uma mesa gigante com frutas, comidas, bebidas e vários petiscos, não sabia se aquilo era algo frequente, ou coisa rara de acontecer, todos com muita fome, foram até a mesa, empolgados pelo banquete que Christian havia providenciado, me deixando a sós com ele, que não parava de me olhar, algo que me incomoda de uma maneira repugnante.

— Espero que fique, para usufruír disso! — disse Christian indo também até a mesa.

— Eu já vou para casa! — digo seria.

— Você vai recusar, Amara, eu insisto! — disse colocando a mão em meu ombro e me guiando até os outros.

— Christian...

— Eu quero que fique Amara! — disse sério.

Sabia que aquilo não era um pedido, e sim a ordem. Eu pego uma maça, para demostrar que havia entendido.

— Muito bem! — disso indo até os outros.

Eu queria ir para casa, estava exausta,  e não tinha mais paciência que aturar ninguém. Me afasto um pouco de todos e vou no limite do jardim, tentando passar o tempo, para que logo pudesse ir para casa, mas sou surpreendida por alguém atrás de mim...

— Que susto Lorenzo! — digo a ele, que rir da situação.

— Estava pensando? — pergunta.

— Estou exausta, fisicamente e psicológicamente! — digo dando uma mordida na maça.

— Amara! — disse Lorenzo tomando minha atenção.

— O que foi?

— É a primeira vez que você faz algo do tipo, não é? — disse.

— Porque acha isso? — pergunto.

— Vi sua reação, em todo o decorrer da missão, você tem pulso, é firme, corajosa, mas sei que nunca fez isso antes! — afirma.

Fico sem palavras.

— Você me mostrou que não é como eu pensei! — completa.

— Em que sentido?

— Mimada, fraca, indiferente...

— Menos Lorenzo! — digo me virando.

Mas sou pega pelo braço.

— Espera! — disse firme. — Eu estava enganado, você por mais que tenha atirado naquele homem, se importou com ele...

— O que importa, ele já deve está morto...

— Obrigado! — disse me surpreendendo. — Por ter, feito o que fez!

Eu o encaro, o olhar de Lorenzo era intimidador.

— Você também me surpreendeu! — digo a ele.

Nessa hora Valentina aparece. Eu imediatamente tiro meu braço das mãos de Lorenzo.

— Valentina! — disse Lorenzo. — Como está o seu braço? — pergunta tentando disfarçar.

O braço de Valentina já estava com curativos.

— Já me ajudaram com ele, vou ficar bem! — disse me olhando. — Christian quer falar com agente! — termina.

— Tudo bem, já estamos indo! — disse.

Mas Valentina continuou ali, então eu tomei inicia de ir, fui até a mesa, e já não havia mais ninguém, então segui para o escritório de Christian. Quando bati na porta, ele mandou, entrar, estava apenas Renan sentado...

— Onde está Lorenzo? — pergunta Christian.

Antes mesmo de eu responder, Lorenzo aparece atrás de mim, seguido de Valentina.

— O que estavam? — pergunta Christian.

— Nada de mais! — responde Valentina.

— Sentem-se! — ordenou ele.

Digo e feito, dentre alguns segundos, todos já estavam sentados.

— Acabei de receber uma notícia, que talvez possa colocar tudo a perde! — começou.

— O que aconteceu Christian? — pergunta Lorenzo curioso.

— Por que não fui informado sobre o ferido? — prosseguiu, conseguia ver a indignação nos olhos de Christian.

Todos ficamos em silêncio, como se tentássemos encontras as palavras certas para se explicar, mas estava óbvio que Christian não iria esperar por nossa iniciativa.

— Vocês não entendem, que o que fizeram pode colocar tudo a perde? Ficaram loucos? — indagou ele. — Mais ainda temos uma chance, o cara que caio do caminhão entrou em coma, os médicos não deram esperança de sua recuperação o caso dele é grave! — disse amenizando a situação.

— Christian, ele não caiu, ele mesmo se jogou do caminhão! — Lorenzo se manifestou. — Mas o que pensa em fazer?

— Vamos ter que nos livrar dele!

Suas palavras soaram frias.

— Você disse que ele pode não sobreviver, então não acha melhor espera que as coisas se acertem, antes de tomar qualquer atitude precipitada? — não consegui desvia meus olhos do chão, não queriam que percebesse o que eu realmente estava pensando. Mas quando voltei a encará-lo, ele parecia analisar com cuidado, cada palavra que eu havia dito

— Não posso correr o risco! — disse sério.

— Então vamos fazer o seguinte, se ele escapa dessa... — respiro fundo. — Eu mesma cuido dele! — disse convicta, infelizmente eu me sentia culpada pelo o ocorrido, eu sabia que ele poderia ter alguma chance.

Todos me olharam com curiosidade, como se tentassem encontrar um motivo concreto de eu ter tomado aquela atitude.

— Tem certeza? — pergunta cauteloso.

— Tenho! — disse agora o encarando.

Ele analisou por um bom tempo, minha expressão, tentando decifrar, como todos naquela sala, o porque de eu ter feito isso. Passou alguns segundos até ele começar a falar novamente.

— Eu quero todos aqui essa noite! — disse sério. — Vou comunicar a todos que o plano deu certo! — comentou empolgado.

Se antes já não queria ter que ficar aqui, imagine agora, ainda teria que encarar rostos desconhecidos no final do dia. Mas eu faria valer a pena essa noite, nada iria ser atoa.

Christian terminou de nos elogiar o resto do tempo, o fato do Homem ter sobrevivido pareceu não abalar sua empolgação, ele talvez confiasse no que eu havia dito, ou era algo que eu devia desconfiar.
Ele nos liberou e antes mesmo de alguém sair, eu já estava do lado de fora do casarão, não vendo a hora de ir para casa.

Quando cheguei, depois de alguns minutos que pareceram uma eternidade, só pensava em ir descansar, apenas tomei um banho, e sem pensa muito na fome em que eu estava, me atirei na cama, fazendo meu corpo transbordar cansaço, e louca para poder tirar toda a culpa que eu sentia, na verdade não sabia qual era meus limites, mas sabia que eles poderiam chegar se eu continuasse a lidar com vidas, então teria que resolver isso o mais rápido que eu conseguisse, não podia cólica tudo a perde, não agora.

• • • •

Eu só conseguia ver uma sombra, de um homem talvez, pela sua postura e altura, vindo em minha direção com passos curtos e cautelosos, mas mesmo de acordo com que ele ia se aproximando, seu rosto ainda era irreconhecível, eu tentava me aproximar em uma maneira de tentar descobrir de quem era aquele rosto, mas então eu percebo que seus passos se tornam rápidos e firmes, fazendo com que eu comece a recuar e antes que eu percebesse, já estava correndo, de uma maneira desesperadora e desajeitada, fazendo com que eu  tropece em meus próprios pés, em seguida sento alguém se aproximar muito rápido, quando me viro para saber quem é, vejo que aquele desconhecido estava armado, com um tipo de faca vindo para cima de mim e por reflexo eu coloco minha mão na frente, provocando um barulho alto e agudo...

Apenas sinto meu corpo se levantando da cama de uma maneira agitada, sem entender exatamente o que havia acontecido, só conseguia percebe que eu estava muito suada e com a respiração acelerada, até cair a ficha que eu havia tido um pesadelo, escuto alguém bater na porta, me causando novamente um susto.

Me levanto ainda cambaleando pelo ocorrido, vou em passos bem lentos pelo corredor, e quando chego na porta a abro bem devagar, tentando ver quem ali estava antes de a escancarar, soltei um ar que nem ao menos sabia que estava segurando de alívio.

— Liam! — anunciei com os olhos fechados.

— Você está bem? — ele pergunta preocupado.

— Estou... Faz tempo que está batendo? — pergunto.

— Não muito, mas pensei que havia saído! — comenta.

— Faz pouco tempo que voltei! — digo fazendo gesto para que ele entre.

— Sério? — pergunta surpreso. — Que horas chegou?

— 12h ou 13h, eu acho! — digo fechando a porta.

Então escuto Liam sorrindo.

— O que tem de engraçado? — digo curiosa.

— São quase 6 horas Amara! — disse em meio aos risos.

De forma surpresa olho em direção ao relogio da cozinha, eu fiquei sem palavras por não ter percebido que havia dormido por muito tempo, olho em direção a janela e o dia já estava sem o sol, eu não podia acreditar em todas as horas que haviam se passado.

— Amara? — disse Liam chamando minha atenção.

— É... — paro um pouco para retoma o ar. — Estou bem, só não tinha percebido que já está tarde!

— Eu também fiquei o dia todo no trabalho! — comenta despreocupado. — Roubaram um caminhão hoje de manhã, estou exausto.

Meus olhos correram imediatamente em sua direção.

— O que? — pergunto incrédula.

— Eu entrei em um caso! — disse calmante.

Minha respiração voltou a acelerar, eu pensava se aquele era realmente possível, tantas pessoas que podiam está cuidando disso, porque tinha que ser justo Liam.

— Do que se trata? — tentei parecer despreocupada.

— Um caminhão foi roubado, teve um ferido, e ainda não encontramos nada! — disse se sentando no sofá. Parecia preocupado.

— Vocês suspeitam de alguém? — digo me sentando aos seu lado.

— Na verdade não, o caminhão pegou fogo, ou seja, sem pistas — disse jogando a cabeça para tráz.

— Só isso?

— Não sabia que você se interessava tanto por esses assuntos Amara! — disse brincando.

— Na verdade sim! — desvio meu olhar. — Quer dizer, gosto de assuntos que contenha assunto polícia! — digo serena.

Ele solta uma pequena risada. Eu tento acompanhar o seu bom humor.

— Nossa única esperança é um homem que foi ferido no roubo, ele está em coma, mas para ser sincero, as chances dele sair dessa, são mínimas!

Então novamente minha consciência pesa, aquele sentimento de culpa volta.

— Acha que ele pode não sobreviver? — pergunto.

— Para ser sincero, acho que ele não vai escapa dessa! — disse sério.

Eu ainda sim, tentava procurar o mínimo de esperança no olhar de Liam, mas a cada palavra, sabia que poderia ser em vão.

— Que coisa horrível! — digo o encarando novamente.

— Pior que isso, é saber que as pessoas que fizeram isso ,estão por aí, e estão bem melhor que esse cara! — agora consegiu ver a indignação em seu olhar. — Mas eles vão pagar, eu vou fazer de tudo para que eles pagem pelo o que fizeram!

Eu ficava triste com cada palavra vindo de Liam, ainda mais quando aquelas pessoas que ele se referia, era eu. Sabia que Liam nunca mais podia me perdoa se soubesse de toda a verdade e aquilo de certa forma me machucava.

— Pense que talvez essas pessoas tenham um motivo para fazer o que fazem! — tento amenizar a situação.

— Amara, tem coisas que são imperdoáveis! — ele disse convicto.

— Depende de quem perdoa! — digo seria.

Ele pareceu refleti sobre minhas palavras, mas aquilo ainda era algo irredutível para falar com ele.

— Está defendendo eles? — pergunta incrédulo.

— Não! — digo me levantando. — Só acho que não vem a nós julgar ninguém!

— Eu sou policial, eu deve julgar, eu trabalho com justiça! — disse sério.

— Não quero mais falar sobre isso! — digo me virando e indo até a cozinha, mas conseguia escuta os passos de Liam logo atrás de mim.

— O que você fez hoje? — pergunta casualmente.

— É... Fui resolver algumas coisas! — digo abrindo a geladeira, estava com receio de Liam percebe algo de diferente em minha voz.

Então sinto seus passos se aproximando, quando fecho a geladeira para me virar, ele estava parado em minha frente, limitando meus caminhos.

— Você precisa de alguma coisa? — pergunta docemente.

— Não...

— Tem certeza? — insiste aproximando-se mais ainda de mim, confesso que Liam, podia ser considerado um cara irresistível para muitas mulheres, era alto, tinha um corpo escultural, seu rosto quadrado e sua boca bem desenhada, podia ser a perdição para várias mulheres, ele com certeza podia ter a mulher que quisesse, mas eu ainda me perguntava o porque dele insisti em mim, tinha conciência de seus sentimentos por mim, que apesar de muitas vezes eu repetir não querer um relacionamento, ele sempre está preocupado comigo, queria poder retribuir esse sentimento, mas é algo que parece distante.

— Liam! — o repreendo tentando fugir de seu corpo que estava muito próximo do meu, mas seu braço me impede, sabia o que Liam iria fazer, e esperava muito que ele desistisse, que não fizesse aquilo, mas com alguns segundos conseguia senti sua respiração ainda mais ofegante.

Ele me olhou por longos segundos, como se tivesse dependendo daquilo, ele me olhava com angústia, eu sabia o quão ele estava se sentindo frustado, então de certa forma deixei que aquilo acontecesse, como se me sentisse culpada por ele está assim.
Seus lábios tocam os meus, com calma, fazendo sua mão segura firme minhas costas, minhas mãos ficaram paradas, não conseguia me mexer, então com poucos segundos ele se afastou.

— Desculpe! — disse fechando os olhos com força. Então ele se afasta liberando o espaço que havia entre nós. — Amara, eu não consegui evitar, você não sabe como eu me sinto — disse dando uma pausa. — Esses últimos dias foram terríveis, você me avisou tanto para que não gostasse de você, sempre deixou claro que não sente o mesmo por mim, mas o fato é que eu não paro de pensa em você, isso foi inevitável, sabia que quanto mais eu visse você, mais algo crescia dentro de mim, mas ao mesmo tempo, não consigo ficar longe de você! — passou as mãos em sua cabeça. — Eu sei que não divia ter deixado isso acontecer, tenho consciência disso...

Me veio a lembrança da última vez que eu o vi, eu tinha de certa forma estava causado aquela dor, como pude ser tão egoísta, não tinha pensado no que eu havia feito, estava me sentindo sozinha, e confusa, como estava tão cega a ponto de pensar só em mim.

— A última vez que nos vimos, você disse que gostava de mim, mas não do mesmo jeito...

— Quando eu te beijei, eu estava confusa, agi de um jeito precipitado, me desculpe, Liam! — digo me sentindo a pior pessoa do mundo. — Havia acontecido algumas coisas, e eu pensei...

— Eu sei, você estava se sentindo sozinha! — completa.

Liam fica um tempo calado.

— Vou ter que fazer uma viagem a trabalho para fora da cidade, não sei quanto tempo vai demorar, mas acho que vai ser bom, eu preciso de tempo para pensar! — antes mesmo dele termina de falar, já estava bem longe, não podia deixar as coisas acontecem assim. — Só queria te avisar! — disse preocupado.

— Tudo bem, Liam — afirmo a ele com a voz embargada.

Ele vai até a porta. Eu abro, e ele sai, mas antes de ir, ele se vira.

— Até logo, Amara! — se despede me olhando por um segundo.

— Até, Liam! — digo baixo, quase como um sussurro.

Ele sorri antes de ir embora, eu fiquei com a porta aberta, até ele pega o elevador e sumir por completo de minha vista, eu fechei a porta, ainda com a respiração acelerada, mas dessa vez de tristeza

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