Capítulo 33

David Cooper 


Quase um mês se passou desde o escândalo das fotos. O restaurante desde então esteve com o movimento menor do que antes e isso era inevitável.

Jason foi felizmente preso. Quando eu disse para usarmos as mesmas cartas que ele não era brincadeira. Austin moveu céu e terra para conseguir tal feito. Ainda que ele tenha sido afastado por algum tempo de seu cargo por socar o desgraçado.

Kiera e eu estamos bem, como deveriamos estar. Após toda a polêmica, ela ficou aflita ao pensar que Policatro pudesse voltar atrás com sua proposta mas foi totalmente ao contrário. Ele permanecia firme e forte na ideia e fico feliz que ele tenha visto nela o mesmo que eu.

Hoje por consequência é o último dia de Kiera em Atlanta. Amanhã ela embarca para Maceió, no Brasil.

Estaria mentindo se dissesse que eu não estou triste, Kiera é o barulho que faltava na minha vida silenciosa. Após meses me acostumando com sua animação, falação e desastre vai ser difícil voltar a viver aquela vida monótona que eu vivia antes.

É por volta das dez e meia da noite, o restaurante está fechado e os funcionários estão se despedindo de Kiera antes de ir embora. Todos muito sensíveis pois têm muito carinho por ela.

— Por favor, se divirta muito. – Victor quem diz. — Não faça o que eu faria. – os dois riram.

— Eu provavelmente farei, mas não se preocupe. Pensarei em você quando me divertir. – ela respondeu e os dois se abraçaram.

Selena se aproxima enxugando uma lágrima.

— Eu vou sentir muito a sua falta, você é simplesmente incrível. Arrase no Brasil. – as duas se abraçaram.

— Vou sim, pode deixar. – sorriu.

Por último, Mônica se aproximou com um sorriso nos lábios.

— Nunca em toda a minha vida no German Royalty vi uma estagiária evoluir tanto quanto você, Kiera. Você chegou aqui com habilidades que confesso, duvidosas. Mas que trabalhou duramente e hoje é simplesmente uma das melhores chefs de cozinha que eu já vi. Tudo o que você faz, você faz com muito amor e dedicação e fico extremamente feliz em saber que eu não sou a única a ver isso. Você merece muito essa oportunidade, estou muito feliz por você. Foi uma honra trabalhar com você, Kiera. Aprendi muito com você também. – a lágrimas Kiera a envolve em um forte abraço.

— Eu aprendi muito com você, Mônica. Obrigada por todo o apoio que me deu todo o tempo, você é incrível! – ela diz.

As duas desfazem o abraço e se encaram enquanto seguram as mãos uma na outra. Mas então desistem e se abraçam de novo me fazendo sorrir.

— Abraço em grupo, pessoal! – Victor exclama e todos resolvemos abraça-las.

Um momento que aquece meu coração de uma forma indescritível.

Após as últimas despedidas, todos se vão me deixando com Kiera para trás. Ela ainda enxuga as lágrimas quando me encara.

— Calma, a Maria já está indo embora. Eu disse que ela é sensível. – ela diz me fazendo rir. Me aproximo e a envolvo em um abraço.

— Kiera, não tem nada de errado chorar. Você não é fraca por isso, muito pelo contrário. Para de chorar e colocar a culpa na pobre da Maria. – ela me empurra.

— Está defendendo ela, vai ficar com ela então! – diz enxugando as lágrimas e me fazendo revirar os olhos.

— Você sabe que vocês duas são a mesma pessoa, certo? – perguntei.

Desde que me abriu sobre essa coisa de Maria e Kiera serem duas pessoas diferentes, Kiera achou um modo de me tirar do sério e ficar se referindo a Maria como se ela realmente fosse outra pessoa.

— Não somos não. – ela nega e sorri. — Ai, vou sentir tanta falta em te provocar. – diz com uma tristeza fingida. — Te tirar do sério faz dos meus dias os melhores.

— E você pensa que eu não sei disso? Me tira do sério desde que nos conhecemos naquele metrô. – ela ri.

— Não me culpe. – ela diz e a envolvo novamente. — Você com aquele rostinho de santo inofensivo poderia muito bem passar a mão na minha bunda.

— Desconfiou de mim com o meu rostinho inofensivo mas acreditou num cara tirando catota. Você é incrível Kiera. – digo a fazendo rir e enlaçar seus braços ao redor do meu pescoço.

— Eu sei, eu sou incrível mesmo. Mas se estivesse no meu lugar, entenderia. – sorriu e me beijou os lábios. — Vou pegar minha bolsa. – tenta sair mas a impesso.

— Na verdade, eu tenho outros planos para nós. – ela me olha sem entender. Então enlaço minha mão na sua e caminhamos para o restaurante onde há uma mesa preparada especialmente para nós dois a luz de velas. Kiera me olha surpresa e depois sorri.

— O que é tudo isso? – perguntou. Puxei a cadeira para que ela se sentasse e ela o fez.

— Bem, nós dois nunca tivemos um encontro do tipo. Achei que esse seria o momento certo. – me sento na cadeira a sua frente.

— Acho que é por isso que eu te amo.

— Semana passada você disse que era por causa do meu físico incrível. – provoquei enquanto abria a garrafa de vinho.

— Assim como ontem eu disse que era pelo seu rosto incrivelmente lindo. – ela diz me abrindo um sorriso. Sirvo as duas taças com vinho. — Resumindo: eu amo tudo em você. – lhe sorri.

— E eu amo tudo em você, até mesmo suas crises de dupla personalidade inexistente. – ela faz uma careta e encara as velas.

— Você sabe que isso é um perigo, certo?

— Relaxa, são de LED. Acha mesmo que eu seria louco de colocar velas reais com fogo perto de você? – ela me abre um sorriso.

— Você me conhece tão bem. – rio e nego com a cabeça.

— Um brinde a você e a essa nova fase da sua vida. – estendo a taça.

— A minha nova fase da vida. – tocamos as taças e tomamos um gole cada um. — Não que eu esteja reclamando mas, não vamos comer não? – abro um sorriso e sem que eu respondesse, Felícia surge com dois pratos e nos serve. Com os olhos arregalados Kiera a encara. — De onde você surgiu?

— Estive aqui todo o tempo. – Felícia responde com um sorriso. — Bem, já fiz a minha parte. Bom jantar e, Kiera... boa sorte. – lhe sorriu.

— Obrigado, Felícia. – agradeço e assim ela se afasta. Kiera me olha espantada.

— Como é que você... uau! Você realmente me surpreende.

— Essa é a intenção. – lhe sorrio. — Come.

— Com prazer. Estou jantando pela primeira vez no German Royalty e de graça, invejosos dirão que eu estou dormindo com o dono. – brincou antes de começar a comer e a mim também.

Tudo em Kiera me fascina, desde que ela esteja falando, ou comendo, até mesmo quando está xingando. Tudo nela me fascina de uma maneira que eu nunca me senti por ninguém.

— Acha que vamos sobreviver com a distância? – não pude evitar perguntar. — Não que eu esteja duvidando do nosso amor, mas você sabe que a distância é complicada. – Kiera toma um gole de vinho antes de responder.

— Sendo sincera, só o tempo dirá e eu não quero pensar nisso. Mas qual é, eu sobrevivi anos apaixonada por você sem nunca te-lo visto. Isso aqui é fichinha. – a olhei sem reação.

— Como é?

— Quando publicou seu livro a alguns anos atrás, eu li e aquilo me inspirou a ser quem eu sou hoje. A correr atrás dos meus sonhos e não desistir deles. – diz fazendo uma pausa para o vinho. — Eu me apaixonei pelo seu trabalho, pelo modo como colocou as palavras no papel, na sua paixão pela culinária e pela cultura Alemã. Quando Austin disse aquela vez que eu era sua fã, era disso que ele falava. Faz muito tempo que te acompanho, David. A muito tempo você me inspira. – a olho completamente espantado.

Fico sem fala por um longo momento.

— Eu não sei nem o que te dizer além de o mesmo. Você me inspira a muito tempo, Maria Kiera. – ela franziu o cenho.

— O que? – sorrio.

— A quase vinte anos atrás, em uma das minhas idas e vindas no orfanato, eu conheci uma garotinha. Eu estava morrendo de medo de nunca mais ver Louis e Rose. Então, uma linda garotinha se aproximou e me entregou isso. – coloquei a mão dentro do meu bolso e tirei de lá o tecido cor de rosa e a estendi. Seus olhos se arreagalaram. — Ela me disse que esse paninho era da sorte e que eu não precisava sentir medo pois meus pais me levariam. – as lágrimas invadem os olhos dela. — Você sabe o que aconteceu? – ela negou. — Eu, pela primeira vez consegui dormir sem medo aquela noite. E como ela bem disse, no dia seguinte Rose e Louis me levaram para casa. – sorrio sentindo as lágrimas arderem meus olhos. — Foi você, Kiera. Você quem me deu esperanças e naquela noite eu não senti medo.

Ela me olha estupefata enquanto as lágrimas caem.

— Aquele menino bravinho? – perguntou sorrindo.

— O próprio. – ela se coloca de pé e caminha até mim e se sentar em meu colo me envolvendo em um abraço.

— Eu lembro de você, o garotinho revoltadinho com os cabelos cobrindo os olhos. – se afastou alguns segundos para me fitar. — Eu não acredito que o destino fez isso com nós dois. – sorrio e enxugo suas lágrimas.

— Ele fez, nos uniu da melhor forma possível. E eu acredito fielmente na teoria de que não importa onde vamos, vamos acabar nos encontrando.

— Sim, iremos. – sorriu antes de colar seus lábios nos meus em um beijo terno. — Nosso amor é forte e bonito.

— Sempre que eu sentia medo, eu segurava esse paninho. Ele me dava forças. – ela ainda chora e esconde o rosto na curva do meu pescoço. — Eu iria te contar isso naquela noite desastrosa, mas então Policatro surgiu com sua proposta e o pânico me tomou. Fui a São Francisco para ter certeza de que era você. – ela se afasta e me encara.

— Você foi até o orfanato? – confirmo.

— Aquela diretora me deu as informações.

— E passou todo esse tempo sem me contar?

— Você estava toda agitada com a história da viagem e eu queria contar em um momento mais tranquilo. Esse pareceu o momento certo. – ela sorri e me abraça novamente.

— Mas que desgraça de homem perfeito, eu não aguento mais você David! – exclama antes de me dar um leve soco no peito. — Para de ser assim, insuportável! – riu.

— É assim que você gosta de mim.

— Não gosto, eu amo! – disse antes de segurar meu rosto em suas mãos e me beijar levemente os lábios. Depois de desfazer o beijo, me olha com os olhos intensos. — Eu nunca acreditei em destino, achei que era uma bobagem. Mas agora eu acho que quebrei a minha cara. Eu jamais iria imaginar que nos encontraríamos de novo. – soluçou. — Eu te dei aquilo pois sempre foi o meu amuleto da sorte, sempre abraçava ele quando sentia medo. Quando eu te vi todo tristinho eu senti que deveria dividir com você. Não que eu lembre de muita coisa, mas o sentimento daquele dia ainda está aqui. – colocou a mão sobre o peito. — É bom te ver de novo, David.

— É bom te ver de novo, Maria. – sorrimos novamente com os olhos um no outro. O brilho nos olhos dela me emociona e ao mesmo tempo me aquece o coração.

— Vamos para casa, eu preciso fazer amor com você a noite toda até esquecer meu nome. – lhe sorrio antes de beija-la.

— Vamos para casa. – respondo.

Após fechar todo o restaurante, Kiera olha pela última vez e sorri.

— Sentirei sua falta. – disse ainda encarando o letreiro com um olhar de carinho.

(...)

Como dito na noite anterior, Kiera e eu passamos a noite fazendo amor. Como tinha que ser, juntos tentando cobrir o buraco que vai ser dentro dois dois com a distância.

Por volta das sete e meia acordamos, tomamos café e logo em seguida fomos diretamente para o aeroporto. Com as mãos enlaçadas nas minhas, Kiera encarava tudo ao sei redor como se estivesse tentando memorizar cada parte desse lugar.

— Deveriam colocar uma placa de cenário histórico naquele lugar. – ela diz apontando para o outro lado da rua.

— Ali? Por que?

— Porque foi onde eu bati no seu carro e coloquei a culpa em você. – respondeu com obviedade. Sorrio me lembrando do dia do ocorrido.

— Realmente, memorável. – comento.

A chegada ao aeroporto não é demorada, e isso me deixa mais triste ainda. Está tão perto dela ir, tão próximos de sua partida e tudo o que quero é chorar como um garotinho de seis anos.

Ajudo-a com as bagagens, check-in e tudo mais. Aproveitamos alguns minutos a mais para ficarmos juntos até que sua família chegasse. Bárbara estava chorosa, como já era de se esperar. William e Austin não estavam muito diferentes e muito menos Gerluza.

Foi quando a voz da atendente avisando que o vôo para São Paulo já iria sair soou, que todo mundo desabou.

Bárbara e William envolveram Kiera em um forte abraço.

— Não imagina o quão orgulhosa estou de você, minha princesa. – Bárbara diz a olhando com os olhos marejados. — Nem parece aquela criaturinha de meio metro tentando atirar uma panelinha de brinquedo no seu irmão. – Kiera ri.

— Sabe que eu atiraria uma de verdade se pudesse.

— Sim, eu sei. – Bárbara sorriu. — Se cuide, tudo bem? Se precisar de algo, ligue imediatamente para a mamãe que ela vai correndo te ajudar.

— Farei isso, mamãe. – se abraçaram mais uma vez. Quando se afastaram, Kiera encarou William e já o abraçou.

— Uma vez, uma cartomante me disse que eu encontraria uma jóia rara. A mais linda de todas e que eu deveria cuidar muito bem dela com todo o meu coração. – William diz. — Bem, uma semana depois nós a vimos Kiera. Uma menina pequena e falante. Encrenqueira também, e foi quando bati os olhos em você que eu percebi que havia encontrado a jóia rara. – os dois se separaram. — Agora, a minha jóia rara vai brilhar sozinha e mostrar a todos porque ela é tão rara. Papai está orgulhoso. – beijou-a na testa. — Vá até lá e mostre para que veio.

— Eu te amo, papai. – disse ela antes de abraça-lo forte mais uma vez.

— Também te amo, minha filha. – beijou seus cabelos. É definitivamente uma cena linda e emocionante.

Kiera se aproxima de Austin enxugando as lágrimas.

— Se eu for presa lá, vai me tirar, certo? – perguntou ela.

— Provavelmente mamãe e papai irão me obrigar a fazer alguma coisa embora eu não seja advogado. – ele revirou os olhos mas depois sorriu. — Claro que vou, você é a louca da minha irmã. É minha obrigação te tirar de enrascadas. – ela sorri. — Se cuida, tente não se encrencar e me dê mais orgulho.

— Vou sim. Por favor, continue mandando os bandidos para a prisão. – ele afirmou e com isso os dois se abraçaram. Quando Kiera chegou em Gerluza, esta estava enxugando as lagrimas com um lenço. — Own, é a primeira vez que vejo a velha cascavel chorar. – provocou.

— Menina impossível! – Gerluza exclamou. — Eu não acho uma boa ideia deixar essa menina sozinha lá. Eu deveria ir junto, e se ela coloca fogo na casa? Eu deveria ir!

— Eu vou ficar bem, eu prometo. E você já está muito velha para ficar viajando desse jeito. – provocou novamente dessa vez levando um tapa no braço. — Ai! Austin, faça com que ela seja presa por agressão.

— Que presa o que. Você que não se alimente direito para ver, eu saio daqui nem que seja andando só para de dar uns bons cascudos! – exclamou e Kiera sorriu.

— Como quiser, querida. Vou me cuidar. – a envolveu em um abraço. — Se cuide também, para me bater precisa se manter saudável.

— Garota insolente. – resmungou a fazendo rir. E então Kiera finalmente chega até mim e meu coração erra algumas batidas.

— Eu não vou fazer um textão, não precisamos disso. – ela começa. — Nada vai mudar, porque nosso amor é forte o suficiente para aguentar isso. Eu acredito. Vou poder finalmente realizar o meu sonho de fazer sexo por telefone! – sorriu.

— Kiera! – a repreendo e seu sorriso se alarga.

— Eu precisava que me repreendesse ao menos mais uma vez. – disse antes de mexer no bolso e me estender um lenço vermelho. — Vamos reforçar nossos "votos". Fique com isso, irá te confortar enquanto eu estiver longe, ai você vai se lembrar de mim. Aquele paninho já está velhinho, precisávamos de outro. – sorriu. — Como você bem disse, não importa onde vamos, vamos acabar nos encontrando de novo. Eu te amo e isso é tudo.

— Bem, também tenho algo. – enfio a mão no bolso e retiro a caixinha com o anel que comprei a um mês atrás. Os olhos dela se arregalam.

— Você nem ouse fazer uma coisa dessas! – apontou.

— Não estou te pedindo em casamento, ainda. – retiro o anel de dentro e pego sua mão direita. — Comprei naquela fatídica noite. – revirei os olhos. — É seu, por favor use para não se esquecer de mim. – beijo sua mão. Ela encara o anel emocionada.

— Ele é lindo! – sorri. — Não vou tira-lo por nada. – abracei-a sentindo seu perfume doce e marcante. — Vou sentir sua falta.

— Fique aqui e aproveite sendo o número um no hanking de melhor restaurante. – se afasta. — Quando eu voltar, eu vou te massacrar, David Cooper. Quem pegou pegou, quem não pegou, não pega mais.

— Isso é o que vamos ver! – mais uma vez a voz da atendente soa. — Se cuida.

— Irei. E é melhor que não deixe certa ruiva tatuada com a mesma inicial que eu chegar muito perto ou você é um homem morto. – me ameaçou.

— Não se preocupe, ciumenta. Agora a chamarei de "Ruiva do andar de cima" para não correr o risco de confundir. – provoquei.

— Como vou saber que não está falando por códigos?

— Kiera! – exclamo impaciente a fazendo sorrir. Ela acena e está prestes a ir quando retorna e me beija os lábios.

— Te amo.

— Te amo mais. – e com isso ela nos deu as costas e se foi.

Bárbara cai no choro enquanto assiste a filha atravessar o portão de embarque. Uma pequena lágrima desce pelo meu rosto, um lado do meu peito dói e o outro aquecido.

Kiera se foi. Isso me deixa satisfeito embora doa de uma maneira que nunca imaginei ser possível doer.

Encaro o lenço vermelho em minha mão.

Esse com certeza não é o fim.

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