Capítulo 1.7
008
Mil e um Traumas
Olhos vermelhos da cor de sangue começaram a se aproximar com velocidade.
Theo levanta Clara com força e tenta fugir correndo, o labirinto parecia um ser vivo, um ser vivo com raiva dos irmãos.
Raízes e galhos começaram a surgir do nada na tentativa de atrasar o avanço dos jovens.
O monstro caminhava sorrindo atrás deles, sem pressa.
Clara ainda estava visivelmente abalada mas Theo não pensou muito nisso, havia situações mais urgentes no momento.
Chegando em um beco sem saída os irmãos decidiram abrir caminho com as próprias mãos, os arbustos eram extremamente duros porém a adrenalina e o medo contribuíram para Theo e Clara conseguirem uma pequena brecha para passar pro outro lado.
Um segundo depois de atravessarem uma mão magra e pálida tentou segurar a ponta da capa de chuva da menina, que imediatamente soltou um grito.
Theo não conseguiu evitar de soltar um pequeno sorriso, ao menos sua irmã ainda conseguia gritar.
O rápido sentimento de felicidade logo se esvaiu quando ao invés de apenas um braço um tronco inteiro começou a avançar contra os garotos.
A cena era um pouco estranha, pensou os irmãos.
Vendo de perto a silhueta não parecia muito diferente de um ser humano.
Com exceção dos membros que eram bastante finos e longos e da estranha cor pálida de sua pele.
Os olhos da criatura se chocaram com o de Clara que paralisou imediatamente.
Theo percebeu alguns segundos depois apenas quando a menina desabou e começou a se contorcer.
"O que?" Gritou
"Clara!" Chamava o garoto mas a irmã estava com o olhar vazio e desfocado.
"O que você fez?" Gritou se virando, mas algo no fundo da sua mente fez o garoto não encarar o monstro.
Uma luz vermelha iluminou o labirinto escuro, a cabeça de Theo girou, mas ele não perdeu a consciência.
Ele então notou, não poderia olhar diretamente para a coisa.
O garoto correu apressado na direção de sua irmã e tentou levantá-la, porém uma coisa estranha aconteceu.
Ele já havia levantado Clara várias vezes antes enquanto brincavam, mas naquele momento a garota pesava aproximadamente 500 quilos.
Nada que Theo tentou conseguiu mover a garota do lugar.
"Ah, o peso da culpa" disse calmamente a criatura que agora assumiu a forma de uma pequena garota de Maria Chiquinha.
"Ficou adorável nesse corpo" disse Theo.
"Ela já caminhou por esse labirinto uma vez" começou a dizer "não foi tão longe quanto vocês".
Theo nem quis imaginar o que poderia ter acontecido com a menina e se preocupou somente em não se tornar mais uma vítima.
"Solta ela", mandou o garoto.
"Direto ao ponto, interessante" disse a pequena menina.
Theo percebeu algo pousar pelo canto do olho, era novamente o corvo.
"A menos que possa ajudar, sugiro que não fique fazendo esses grunhidos estranhos" xingou o garoto.
A menina olhou do menino para o corvo e do corvo para o menino.
"Eu não pediria ajuda dele", aconselhou.
"Como se você quisesse que eu pedisse ajuda a alguém" disse Theo.
A menina pensa por alguns segundos e sorri, os olhos vermelhos sombrios tornavam o semblante da garota assustador.
"É justo"
Nesse momento um grito cortou o silêncio, o corvo se assustou e saiu voando.
Clara começou a se debater e a gritar com bastante violência.
O jovem correu novamente na direção dela e tentou acalmá-la mas novamente nada aconteceu.
"O que está acontecendo com ela?" Berrou
A menina deu de ombros.
"Vai saber" disse sem preocupação.
Theo pega uma pedra próxima e arremessa contra a jovem, talvez a coisa não esperasse ou não conseguia ser tão rápida na forma de uma garotinha pequena e frágil.
Antes que a criatura conseguisse desviar a pedra a acertou na lateral da testa, um líquido preto começou a vazar.
"Ah" a menina levou dois dedos até a testa e sentiu o líquido "que droga".
"O que você é?" Theo perguntou assustado.
A menina começa a enrolar os cabelos pensativa.
"Você não entenderia" disse por fim.
Dentro da mente de Clara a tempestade de pensamentos retornou.
Era como ver um filme na velocidade 5x.
Cenas e mais cenas apareciam e desapareciam de uma só vez.
O turbilhão de pensamentos desgastavam a consciência da menina, suas lembranças estavam ficando instáveis, algumas até inabitáveis.
Clara se perguntava "qual a razão?".
O que a garota fez para merecer estar passando por aquilo?
De vez em quando a garota conseguia presenciar pequenos resquícios do mundo real, ela viu seu irmão tentando sacudi-la e até mesmo acertar uma pedra em uma garotinha.
Seu pulso começou a arder, aquela estranha marca estava ficando cada vez mais escura, como se estivessem a queimando.
A menina continuava a gritar e se debater quando Theo decide uma investida kamikaze.
O garoto arremessa a mochila de sua irmã no rosto da menina que novamente não consegue desviar.
Theo salta sobre a menina e a empurra com força contra as paredes do labirinto.
A garota no entanto segura Theo pelo colarinho e o arremessa com uma força assustadora.
Ao cair no chão o garoto bate a cabeça e sua visão embaça, de relance ele consegue perceber a sombra da garota mudando.
Braços finos e longos surgiram.
Quase inconsciente, Theo sentiu seu corpo virar de frente para o monstro.
Ele tentou manter seus olhos fechados mas seu cérebro já não o obedecia por completo.
Cansado de tudo que estava passando, ele decide se entregar. O menino desiste.
Nesse momento um grito rouco e assustador trás à tona uma nova adrenalina pro corpo do garoto.
Com receio, ele abre os olhos calmamente a tempo de presenciar a cena.
O corvo estava mordendo os olhos do monstro, que berrava furioso.
"Não! Interferência direta" ele gritava.
Theo estava sem forças demais para conseguir entender sobre o que ele estava falando.
Após terminar o serviço, o animal sobrevoou o garoto e soltou um grito agudo, talvez um "de nada palhaço".
Com suas últimas forças Theo correu até Clara, para sua felicidade a garota havia parado de se debater e tinha voltado ao seu peso original.
"Vem, vamos sair daqui" disse o garoto com a voz falhando e pálpebras quase fechando.
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