Capítulo 1.1

002
Medo

Os irmãos não sabiam dizer qual a sensação mais angustiante, o fato de já estarem andando a mais de meia hora e ainda estarem perdidos ou a incômoda impressão de estar sendo seguidos, embora nada fosse visível sempre que os jovens viravam de costas.

Um repentino uivo cortou o silencioso ar noturno.
Na luz da lua a face dos irmãos ficava estranhamente assustadora.

"O que foi isso?" Perguntou Clara se aproximando do irmão.

"Um lobo talvez" disse o irmão também se aproximando da irmã.

"Não estou gostando nada disso" disse a menina.

Theo olhava para todas as direções a todo momento, esperando talvez um ataque surpresa.
De tempos em tempos misteriosos passos eram escutados em suas costas porém nada nunca aparecia, apenas mais e mais solidão e neblina.
Clara andava na frente segurando a lanterna junto ao corpo, a barra de sua capa e suas botas estavam enlameadas.
Inesperadamente a garota parou.

"Aí" xingou Theo quando ambos corpos se chocaram "o que foi que aconteceu?"

A garota tentou falar mas nada saía de sua boca, ela então apenas levantou seus dedos na direção do caminho da direita.
Theo teve que forçar sua vista para entender a situação com mais clareza.

"O quê?" Exclamou o garoto.

A boca de ambos irmãos estavam abertas, seus corpos estavam paralisados.
Clara apontou a lanterna para a escuridão e então os irmãos a viram.

Era enorme.
Suas patas mediam no mínimo um metro e meio de comprimento, provavelmente pesava uns 15 quilos pensou Theo em sua mente.
A criatura começou a caminhar lentamente na direção dos jovens, suas enormes patas faziam um barulho estranho quando se mexiam.

"Theo.." começou Clara porém sua voz sumiu antes que conseguisse terminar a frase.

O garoto estava paralisado de choque, seus olhos vidrados no monstro.

"Clara, corre" disse ele com dificuldade.

"Quando?" Cochichou a garota o mais baixo possível tentando não chamar a atenção da coisa.

O garoto esperou por alguns segundos, seu olhar encara as oito pupilas dilatadas.

"Agora!" Gritou Theo.

Nesse momento uma explosão de acontecimentos ocorreu.
Com a inesperada corrida, a aranha levou alguns poucos segundos para raciocinar seu próximo movimento.

A vantagem dos irmãos porém pouco durou e rapidamente a criatura se aproximou deles abrindo e fechando suas pinças, um líquido roxo vazava de vez em quando de sua boca.

Os irmãos tropeçavam e se cortavam em pequenos arbustos e galhos enquanto corriam desesperadamente por suas vidas.

Um repentino caminho surgiu do lado esquerdo da rota de fuga dos jovens, eles se entreolharam e fizeram um movimento breve com a cabeça para confirmar o plano.

Porém, para o desespero deles, a passagem começou a se fechar rapidamente.

Desesperados ambos apressaram ainda mais seus passos, rasgando suas roupas e ralando mais ainda seus corpos durante o processo.
Com sorte os dois conseguiram passar antes que o caminho se fechasse por completo.
Um barulho de pinças furiosas atingiu o ar durante alguns segundos.

"Por favor, que esse arbusto aguente", implorou Clara.

Depois de um tempo as inúteis tentativas de ataques da aranha pararam e o silêncio retornou.
Os irmãos se entreolharam, suados e ofegantes.

"Onde nós viemos parar?" Resmungou a garota.

O irmão ficou em silêncio, ele não possuía respostas.

"Vamos sair daqui" alertou Theo.

Os jovens caminharam com tranquilidade durante o que pareceu 15 minutos, a vigilância porém agora estava ainda mais forte.

Outra escolha de caminhos apareceu, Theo foi pela direita enquanto Clara esperava pelas instruções do irmão.
Nenhuma aranha ou qualquer outro bicho apareceu durante a pequena exploração do jovem.

"Clara" chamou "pode vir"

Porém, quando se virou, Theo percebeu.

O caminho havia se fechado.

Os olhos do garoto se arregalaram.

"Droga" gritou "Clara!"

"Clara!" Berrou com toda a força que tinha.

Caminhando sozinha, Clara estava entrando em pânico.

"Theo! Isso não tem graça" gritou com raiva.

"Theo?" Chamou a garota uma última vez, sua voz estava esganiçada e assustada.

Um estalo de um galho sendo quebrado em suas costas chamou a atenção da garota, Clara se virou rapidamente.
Sua expressão era de pavor puro, suor molhava suas roupas e sua respiração estava visivelmente mais pesada.
Clara corria o olhar pelo labirinto sombrio, implorando mentalmente que seu irmão aparecesse, mas ninguém veio.

Um congelante frio cortou o ar sombrio do lugar, a névoa tampava praticamente toda a visão da jovem.
Ela se ajoelha e se encolhe, colocando as mãos em seu rosto, ela soluçava.

"Clara" uma voz de menino a chamou.
A garota imediatamente levantou o rosto, sua expressão era de uma tremenda e desesperada felicidade genuína.

Agachado em sua frente porém estava uma figura encapuzada, apenas metade de seu rosto era visível, um olho preto estava vidrado no rosto da garota de uma maneira assustadora, algumas mechas de cabelos pretos bagunçados e sujos saiam do capuz.

A garota reconheceu a figura.

Seu maior medo. Ela mesmo.

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