༺XXVII༻

ஜீ፝͜͜͡͡Admirava o céu negro da noite.

As estrelas cintilavam adornando a imensidão celeste, além da lua que estava em seu ápice, expandindo todo o seu brilho noturno. O vento frio soprava em alguns momentos, deixando um clima bastante satisfatório para mim, já que gostava de um clima mais gelado.

Me encontrava no parapeito do terraço olhando todo o quintal abaixo e a vastidão de terras verdes pertencentes a mim. A floresta ia mais além até que começasse a se ver mais frequências de casas e logo mais o centro da cidade.

Os grilos cantavam ao redor não deixando que o silêncio ali fosse completamente ensurdecedor. Outros sons de animais noturnos ecoavam pela floresta, quase como se a natureza formasse uma orquestra em louvor à mãe natureza. Cada qual cantava algo na sua própria frequência, mas juntos pareciam um verdadeiro coral com tons altamente perceptíveis.

Pude ouvir passos se aproximando e levei meu olhar na mesma direção, vendo aqueles mesmos fios avermelhados dos quais era praticamente impossível não notar. Dorian usava uma roupa simples. Uma calça jeans clara e uma camisa de algodão vermelha com a manga longa. Ele acenou em cumprimento e eu fiz o mesmo para ele, liberando um sorriso amigável, dando a deixa para ele se aproximar e assim ele fez.

Ele se posicionou bem ao meu lado de maneira que nossos braços ficaram à poucos centímetros de distância, mas eu rompi esse limite, encostando meu braço no seu como um leve empurrão, enquanto ria, fazendo com que ele devolvesse o gesto na mesma intensidade com uma risadinha homogênea.

Depois que aquela brincadeirinha cessou, Dorian olhou para o horizonte em total silêncio. O vento frívolo encontrou nossa pele como um beijo aplicado, mas não me incomodava tanto quanto à Dorian, pois ele pareceu bem mais afetado. O rapaz passava as mãos pelos seus braços, mesmo que estivesse com uma camisa de manga longa, mas ainda sim o frio alcançava sua pele frágil. O ar que saia pela sua respiração era notório. Tirei meu sobretudo e o coloquei ao redor dele que agradeceu pelo meu gesto com um sorriso singelo.

Ficamos mais algum tempo em silêncio olhando para além da escuridão das terras. Aquele silêncio não era desconfortável como das outras vezes. Já me sentia a vontade suficientemente com ele ao meu lado, sem ter a necessidade de estar o tempo todo falando. Seu coração batia no compasso, sem nenhum sinal de nervosismo, o que mostrava que ele estava tão confortável quanto eu.

― Sabe de uma coisa? ― pronunciou Dorian finalmente nos tirando daquele silêncio. ― Às vezes fico imaginando como estaria sendo a minha vida caso toda essa virada repentina não tivesse acontecido e eu não estivesse aqui com você e Blair.

Olhei para ele quase que imediatamente, sentindo a curiosidade aflorar dentro do meu peito como uma flor se abrindo em um dia primaveril.

― E como imagina que poderia ser? ― indaguei quase que imediatamente.

― Não sei, talvez estivesse concluindo o ensino médio e ainda estivesse cego com o Ethan à caminho do baile de formatura! ― disse ele dando de ombros. ― Talvez eu tivesse descoberto a traição dele e nem saberia mais na casa de quem estaria. Talvez tivesse alugado algum lugar ou morasse na casa de algum amigo da galeria que se comparecesse da minha história.

― Isso seria bem triste, acho que você não mereceria uma vida tão ruim assim. Você é uma pessoa boa demais para um destino tão medíocre como esse.

― Infelizmente coisas ruins acontecem às pessoas boas Sebastian ― retorquiu Dorian meneando a caneca com um suspiro pesado, parecendo inconformado com aquilo assim como eu me sentia naquele momento também. ― O mundo é composto por grande parte de pessoas que ferem outras pessoas por atitudes egoístas e se você for sincero demais pode ser magoado facilmente.

― Isso é terrível! ― expressei toda a minha indignação com aquela afirmação.

― Mas é o que o mundo se tornou hoje em dia ― completou com um tom de desesperança. ― Quem encontra o amor hoje em dia é a pessoa mais sortuda do mundo, pois está cada vez mais escasso, quase se tornando uma lenda.

― Então o que faz a vida valer à pena para os efêmeros se praticamente não existe mais o amor? ― questionei estupefato.

― Se torna uma busca incessante por sexo ― confessou ele fazendo uma careta de leve. ― A segunda melhor coisa depois do amor verdadeiro. O amor e o gozo andavam intensivamente interligados, todavia agora que um está praticamente se apagando restou o outro que é um pouco mais fácil de se ter acesso sem burocracias. É por isso que as pessoas sentem um vazio imenso depois do orgasmo, porque o espaço que preencheria esse vazio é o amor, mas como praticamente não existe mais, as pessoas tentam se convencer de que isso é perfeitamente normal, por mais que seu inconsciente saiba que a resposta sincera à isso é um belo "NÃO".

― Fico triste pela sua geração Dorian ― disse num tom lastimoso com a mão sobre o peito, enquanto encarava seus olhos negros bem de perto com aquele brilho irradiante. ― Sinto muito de verdade.

― Eu também sinto muito! ― externou ele num tom pesaroso, colocando o ar para fora pela boca, virando seu olhar para o céu novamente, fazendo com que eu fizesse o mesmo e o silêncio voltou a pairar sobre nós por mais algum tempo.

Fiquei em silêncio o fitando. Ele olhava para o horizonte escuro. Seus olhos pareciam tão vazios naquele momento que chegou a doer em meu peito. Eu estava prestes a dividir um abraço com ele quando um sorriso singelo foi tomando forma entre seus lábios rubros.

― Você mencionou um baile anteriormente ― falei com uma certa curiosidade aparente manifestada em meu tom. ― Vocês ainda têm isso por aqui?

― Sim! ― relatou Dorian com um gesto afirmativo de cabeça e um sorriso se abrindo de ponta a ponta. ― Tem todo ano na escola e eles elegem o rei e a rainha do baile, mas esse ano talvez fosse um pouco diferente, já que Ethan e eu estávamos competindo como um casal. Seria o rei e o rei do baile.

― E como isso funciona exatamente? ― questionei um pouco confuso, já que na minha época os reis sempre vinham de uma linhagem real. As pessoas nunca escolhiam seus líderes, sempre eram obrigadas à aceitar quem viesse na próxima linhagem e torcer para que fosse um bom governante.

Dorian riu.

― Bem, eu dou o meu nome para as pessoas que fazem parte do comitê do baile para poder concorrer, então as pessoas votam em qual dos casais concorridos elas mais querem que vençam.

― Isso parece me parece bem justo!

Dorian meneou a cabeça fazendo uma careta.

― Mas no fim das contas acho que se pudesse escolher um desses destinos para viver, ainda sim eu escolheria esse aqui! ― revelou Dorian por fim. ― Por mais que tenha parecido uma bagunça no começo, isso ajudou a concertar algumas coisas que eu nem mesmo sabia que estavam tão caóticas.

Sorri por vê-lo tão contente. Apesar de tudo, sentia algo especial pelo Dorian. Um carinho que não saberia como explicar. Aprendi durante esse tempo a não querer nenhum mal para ele e proteger aquela versão de Daynna. Parecia ser a última que me restara e eu tentaria não deixar escapar de mim. Ter ele aqui junto à mim, estava sendo bastante reconfortante, pois a energia de seu ser parecia me contagiar de uma forma que não conseguiria explicar. Sentia a mesma empolgação em meu peito como há muito tempo atrás eu já parecia ter esquecido. Com Daynna eu sempre podia ser eu mesmo e conversar sobre qualquer assunto. Com Dorian aquilo não era diferente e aquilo de certa forma preenchia o espaço vazio em meu peito.

― Acho que eu tive uma ideia! ― comuniquei por fim depois de alguns segundos, ganhando a atenção de Dorian imediatamente para mim. ― E se déssemos um baile aqui na mansão, assim como os bailes antigos que eu costumava ir antigamente?

Dorian parecia processar a informação com bastante cuidado.

― Imagina só! ― eu prossegui disposto a dar argumentos suficientes para que Dorian aceitasse de imediato aquela ideia, afinal o baile só poderia funcionar se tivesse público para dançar. ― Nós vestidos todos com aquelas roupas chiques de época com bastante elegância, as meninas com seus belos vestidos longos como verdadeiras princesas, música de verdade tocada em instrumentos clássicos e aqueles rostos felizes rodopiando pelo salão. Não acha que isso é um quadro maravilhoso?

― Bem, seria como um baile à fantasia! ― disse Dorian parecendo agora mais empolgado que anteriormente. ― Acho que seria muito legal.

― Bem, poderíamos chamar algumas pessoas que conhecemos ― pronunciei alegre com a recepção dele. ― Podemos chamar o Enzo, que já vai estar melhor daqui para lá e Blair também tem uma amiga bruxa que eu ainda não conheci, mas seria a chance perfeita para conhecê-la, enfim, podemos fazer alguns convites chiques, assim como os convites que nos enviavam antigamente. Seria uma verdadeira viagem no tempo.

Dorian riu.

― Acho que seria maravilhoso, estamos mesmo precisando de uma festinha para animar as coisas por aqui.

― Então é isso o que faremos ― proferi animado balançando os ombros de Dorian, que se contraiu rindo divertidamente. ― Em uma semana faremos esse baile acontecer, mas primeiro preciso arranjar os convites, vou escrever todos eles à mão e colar com um pouco de cera vermelha que eu ainda tenho e selar com meu anel de família dos Ettore.

― Me parece que você sabe como dar uma verdadeira festa! ― exprimiu Dorian com uma risada divertida.

― Bem, mas não vou fazer isso tudo sozinho! ― revelei. ― Vou precisar da sua ajuda e de Blair para não deixar nada muito exagerado.

― Pode contar comigo para que precisar.

***

Alguns dias se passaram e a organização para a baile estava indo muito bem. Havia ido na cidade comprar tudo o que precisava para deixar a festa ainda melhor. Dorian se encontrava cada vez mais empolgado por esse fim de semana no qual a festa finalmente viria à acontecer. Havia contratado três costureiras para ajustar algumas roupas antigas minhas, tanto para mim, quanto para Dorian e também para Blair. No fundo sabia que alguma daquelas roupas antigas de Daynna acabariam servindo para alguma coisa importante no fim das contas. Por mais que tivesse as tirado do guarda-roupa de Dorian quando comprei roupas novas para ele, eu realmente nunca me desfiz delas, guardando em um baú nos meus aposentos. Agora servia de base para um modelo que Blair havia escolhido para o baile.

Os convites que eu havia escrito com as minhas próprias mãos, já haviam sido enviados para Enzo e Fayola a mentora de Blair, cuja havia uma amizade muito forte devido à tantos anos aprendendo juntas os feitiços. Foi Fayola quem tornou a vida de Blair menos solitária quando eu me pus em hibernação, mas até aquele momento nunca tinha conhecido diretamente a mentora da minha melhor amiga, apenas ouvido falar dela em um momento ou outro quando Blair e eu conversávamos. Segundo Blair, Fayola não via a hora de participar desse baile e reviver os velhos tempos.

Agora estava ao lado de Dorian levando-o para ver o salão de festas que havia ali naquela mansão, mas eu nunca tinha usado antes, afinal de contas desde que assumi aquela mansão, não havia muitos motivos para dar uma festa. Sempre havia sido Blair e eu para tudo. Todos os amigos que eu conhecia em vida estavam mortos e dentro do mundo sobrenatural não conseguia ver muitas boas opções, além de Blair. Os vampiros costumavam ser seres sozinhos devido à toda à sua selvageria e os que andavam em clã geralmente era porque eram uma família, cujo um deles teria transformado os seus respectivos seguidores, tornando-se imediatamente leais aos seus criadores.

Eu nunca tivera coragem de transformar ninguém em vampiro até o presente momento, pois sentia que era uma punição muito grande para qualquer ser vivo sentir aquela sede descomunal por sangue. Não desejaria quilo nem para o meu pior inimigo, mas provavelmente em algum lugar do mundo deveria ter algum efêmero que sonhava em ser imortal e aceitaria qualquer tipo de risco para ter o que tanto almejava.

Segui com Dorian até uma parte da casa que ele nunca havia estado antes. A porta do salão estava trancada, mas eu estava com a chave em minhas mãos, pronto para abrir, mas parei em frente a porta e enfiei na fechadura, girando para o lado, rangendo como uma fechadura velha, que era exatamente o que ela era. Assim que empurrei à porta, ela fez um barulho estridente, fazendo Dorian fazer uma careta, enquanto eu acabei caindo na gargalhada.

Fiz sinal para que ele entrasse primeiro e assim ele fez, enquanto o seguia logo atrás. Estava meio escuro ali e o cheiro de mofo era bem saliente, então por fim com a minha velocidade vampira arranquei todas as cortinas velhas cobertas pela poeira de tanto tempo trancafiadas e as grandes janelas puderam trazer a passagem do sol, iluminando todo o recinto que esteve apagado pelo esquecimento.

Joguei as cortinas empoeirados em um canto do salão, Dorian acabou soltando um espirro com a poeira que subiu tão próximo ao seu nariz. Ele passou a mão pelo ar, tentando afastar ao máximo que conseguiu qualquer resquício de pó que pudesse incomodar novamente as suas narinas tão sensíveis.

― Bem, seja bem-vinda ao salão de festas ― disse como um locutor apontando para aquele espaço aberto.

Dorian parecia admirado com as janelas que enormes de vidro por todos os lados, além do grande piso xadrez que parecia se expandir como o espaço. No teto havia um grande lustre de cristal, que só deixava tudo ainda mais refinado, assim como a pintura no teto do céu à noite, cheio de estrelas com nuvens como algodões se desfazendo com o vento.

― Sebastian, esse lugar é incrível! ― declarou Dorian descendo as escadas da entrada e caminhando pelo piso liso, olhando para o teto tendo uma noção de dimensão com os braços abertos e um sorriso empolgado tomando sua expressão. Parecia realmente encantado com tudo que seus olhos podiam ver. ― É como realmente estar em um conto de fadas.

― E nessa noite seremos como príncipes e princesas ― afirmei me deixando levar pela empolgação dele.

― Cada dia que passo aqui é como viver em um sonho do qual eu não acordo ― relatou ele dando um giro pelo salão tomado pela animação.

― Bem, só vai precisar de uma limpeza, mas quando tudo estiver pronto vai ser como um sonho sim e tomara que ele dure bastante.

Dorian fez uma pose de dança, então começou a dançar no meio do salão como se idealizasse aquela noite tanto quanto eu, o que fez um sorriso surgir em meio aos meus lábios finos. Dorian era tão espontâneo às vezes que era quase impossível não se pegar rindo com ele. Quando ele finalmente parou de dançar e girar ele voltou o seu olhar para mim, me encarando.

― Mal posso esperar para dançar novamente por esse salão aquelas músicas medievais ― expressei quase sonhando acordado, imaginando-me outra vez naquela linda época da qual eu sentia tanta saudade.

― Como eram as danças de antigamente? ― questionou Dorian franzindo a testa com a curiosidade estampada em seu olhar.

― Algumas eram animadas, mas outras eram um pouco mais lentas entre os casais.

― Posso te confessar uma coisa? ― indagou ele encolhendo os ombros fazendo uma leve careta.

Fiz que sim com a cabeça.

― Eu não sei dançar! ― confessou ela parecendo um tanto envergonhado com aquela confissão juntando as mãos em meios as suas pernas.

― Isso é serio? ― interpelei erguendo uma de minhas sobrancelhas ainda incrédulo com o que ele tinha me falado. Ele confirmou com um gesto de cabeça, enquanto eu ria quase que de uma forma involuntária. ― Então como esperava dançar no baile da sua escola?

― Na verdade, nem todo mundo que está lá realmente sabe dançar, então não seria tão vergonhoso assim para mim. Seríamos só um bando de jovens mexendo os esqueletos. As danças que você mencionou parecem mais organizadas.

― Bem, de fato elas são sim, aprendíamos a dançar desde cedo ― assumi meneando a cabeça. ―, mas posso te ensinar a dançar se você quiser.

― Eu aceito se não for te atrapalhar! ― falou ele com um sorriso empolgado dominando seus lábios rosados.

― Não atrapalha em nada, já podemos aproveitar este salão para treinar alguns passos de dança como se já fosse à noite do baile, mas antes deixa eu iluminar melhor esse lugar.

Usei a minha velocidade vampira para ir até a grande porta de de metal com vidros transpassados que dava numa varanda para o jardim. Abria-a deixando o máximo de luz possível entrar naquele local, assim como a leve brisa daquela manhã calorosa entrando, deixando aquele lugar um pouco mais arejado. Em seguida voltei num piscar de olhos a estar ao lado de Dorian novamente que parecia ainda não ter se acostumado com os meus poderes ainda se impressionando com eles sempre que me via usá-los.

― Bem, para o primeiro passo da nossa aula, preciso que observe tudo o que eu fizer.

Dorian concordou, então lhe ensinei alguns passos e como conduzir alguém que ele fosse dançar. Expliquei que geralmente o homem sempre quem conduzia a dança, caso ele fosse dançar com alguma mulher ele precisaria conduzir. Posicionei a mão no ar como se dançasse com um corpo invisível em minha frente e ele me seguiu, então comecei a dar alguns passos para frente e para trás, depois de um lado para o outro, depois girando pelo salão, enquanto ele seguia tudo o que eu ditava.

Ele parecia estar aprendendo rápido o que eu estava lhe ensinando, então logo meu trabalho estaria por encerrado com ele. Não sabia que era tão bom professor assim, mas talvez ele quem fosse um aluno excepcional de inteligência abundante.

― Bem, acho que está na hora de você me conduzir em uma dança ― revelei após algum tempo fazendo-o dançar com o ar.

Me posicionei na frente dele, então ele passou uma de suas mãos pela minha cintura, me trazendo para um pouco mais perto dele, olhando profundamente em meus olhos, o que fez com que eu sentisse uma pontada gélida em meu coração e nem sabia ao certo porque aquilo estava acontecendo. A outra mão dele encontrou a minha suspensa no ar, fazendo com que eu apoiasse a minha outra mão em seu ombro, então ele começou a me conduzir pelo salão devagar.

― Pode ir com um pouco mais de vontade ― aconselhei com assentindo com a cabeça.

Ele concordou, então começou a se empenhar mais dando passos mais largos na dança, me conduzindo de um lado para o outro. Nunca havia sido conduzido em uma dança antes por ninguém e não sei se conseguiria me acostumar com aquilo. Era uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo tinha um certo conforto e apenas seguir sem me preocupar em estar o tempo todo com a cabeça em alerta para a dança. Me senti quase como se fosse Daynna por um momento.

Dorian por um momento tentou me girar, então quando foi me puxar de volta e se desequilibrou, mas antes que ele atingisse o chão, eu usei minha velocidade para agarrá-lo pelo cintura e o tomasse em meus braços, deixando-o deitado, enquanto ele segurava em meu pescoço com a respiração ofegante.

Por um momento tudo ficou em silêncio. Tudo o que eu conseguia ouvir era o coração dele disparado dentro da sua caixa torácica. Seus olhos negros sempre vibrantes me olhavam profundamente e eu conseguia ver toda a sua fragilidade naquele momento. Estava completamente hipnotizado e por um segundo olhei para os seus lábios que estavam entre abertos com a pontinha dos seus dois dentes da frente aparecendo. Voltei o meu olhar para o dele, até que pigarreei e o levantei de volta colocando-o de pé em minha frente e afastando os meus braços dele.

― Me desculpa por isso! ― disse ele por fim, voltando o seu olhar para o chão, parecendo meio envergonhado.

― Não precisa se desculpar por quase ter caído no chão ― contrapus com tranquilidade e um meio sorriso. ― Você aprendeu bem rápido. estou impressionado com a sua desenvoltura. Eu mesmo só apreendi à dançar depois de várias aulas, sempre tropeçava ou pisava no pé do meu par que na época ainda era Victoria. Tínhamos por volta de doze anos de idade.

― Então quer dizer que você e Victoria eram amigos de infância? ― Dorian pareceu impressionado com aquela informação.

― Sim! ― admiti com um gesto afirmativo de cabeça. ― Crescemos juntos, nossos pais eram muito amigos e ela nutria sentimentos por mim desde cedo, mas eu sempre a vi como a minha irmã caçula.

― E o que fez tantos anos de amizade virarem aquele ódio mortal que eu presenciei naquela boate? ― ele parecia bastante confuso com aquilo.

― Bem, nós estávamos noivos antes de eu me apaixonar por Daynna, casamento arranjado pelos nosso pais, afinal o pai de Victoria era um homem bem de vida seria um ótimo negócio para a família e o fato da gente já se conhecer desde crianças, poderia facilitar ainda mais tudo, mas eu nunca a vi desse jeito.

― E o que fez você se apaixonar por Daynna? ― demandou Dorian com curiosidade.

― Além da beleza rara dela, meu coração sentiu que já a conhecia, não sei bem como explicar, como se já tivéssemos nos conhecido em outra vida. Uma vez ouvi uma lenda que falava sobre almas gêmeas. Os efêmeros tinham sido criados com o seu par dividindo o mesmo corpo e eles se sentiam completos, mas os deuses vendo que estavam sendo esquecidos e ninguém mais fazia preces à eles, resolveram separar todos, fazendo com que as almas gêmeas se perdessem em meio à multidão. As almas que tinham sorte de se encontrar novamente eram verdadeiramente sortudas. Assim que olhei para Daynna eu sabia que ela era a minha alma gêmea e à medida que eu ia a desvendando eu tinha a certeza de que aquilo era real.

― Mas mesmo assim ainda não consigo entender como Victoria se tornou tão sedenta por vingança.

― A verdade é que eu também não sei ainda, pois passamos algum tempo distantes. Eu feliz com Daynna e Victoria sabe Deus o que estava fazendo. Até que ela finalmente voltou com seu plano de vingança e desde então nunca mais parou.

― No fundo eu tenho pena dela ― assumiu Dorian com o olhar vagueando pelo piso do salão. ― O amor pode ser muito doloroso quando não é correspondido. Talvez tudo o que ela faça seja uma fuga para escapar dessa dor.

― Eu não sei, mas o que sei é que já tentei inúmeras vezes tentar apaziguá-la, mas ela não me dá nenhuma brecha. Ela endureceu o coração dela de uma forma que eu nunca imaginei que poderia ser possível.

― Infelizmente a única pessoa que pode salvá-la disso agora seria ela mesma.

Respirei fundo concordando com a sua afirmação.

― O que acha de treinar um pouco mais hein? ― perguntei com um sorriso caloroso, estendendo a mão para ele.

Dorian riu de volta, então pegou a minha mão e administrando os paços novamente enquanto eu me deixava ser conduzido por ele. Fiz menção a balançar um vestido imaginário e ele soltou uma gargalhada divertida. Fazia bastante tempo que não o via tão feliz comigo desde que chegara aqui e isso aquecia meu coração de uma forma única. Seguimos dançando pelo salão como se já estivéssemos na noite do baile. Dorian arriscou um giro simples em mim, acertando de maneira magistral. Lancei à ele uma expressão impressionada, enquanto ele ria e revirava os olhos.

Era bom estar com ele quase sempre, mas nesses últimos dias era como se tudo tivesse se intensificado ainda mais. Estar com Doriana acendia em mim uma velha chama que há tempos eu não presenciava e achava que nunca mais a veria novamente dentro de mim. Me encontrava sorrindo novamente para ele e desta vez não havia nenhuma gracinha envolvida. Era apenas um sorriso genuíno de felicidade por estar exatamente com quem eu queria estar.

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