༺XLIII༻
ஜீ፝͜͜͡͡Seguimos todos juntos até à sala.
Um garoto jovem, parecia ter a idade de Dorian mais ou menos de pele clara com olhos extremamente azuis estava ali com um olhar distante. Seu cabelo tão escuro quanto o céu naquela noite caindo em um de seus olhos e ele mal piscava, olhando para um ponto paralelo diante de si que apenas ele parecia enxergar. Aquele garoto não parecia estar em um estado mental normal. Sentia que poderia estar hipnotizado assim como Dorian no primeiro dia em que o vi naquela vida ao lado de Victoria. Sabia bem que poderia ter feito aquilo com aquele pobre rapaz, já que vidas efêmeras não significavam muito para ela.
Eu fui em direção ao garoto me agachando em sua frente, então seus olhos finalmente me encontraram, mas ainda permaneciam tão vazios quanto antes, como se não houvesse ninguém ali de fato. Sua mão agarrou o meu braço, apertando-o de uma maneira um pouco agressiva, de maneira que tentei tirar, mas não consegui. Aquele garoto tinha uma força que não teria se estivesse lúcido, pois os efêmeros não possuíam tamanha força em seus limitados corpos mortais.
― Sebastian? ― perguntou o petiz num tom monótono. ― Eu tenho uma mensagem para Sebastian Ettore!
Ele sabia o meu nome e tinha uma mensagem para mim. Aquilo fazia com que eu temesse o porvir. O que quer que fosse sair da boca daquele párvulo, não me parecia bom. Podia sentir todos os meus pelos se eriçarem, enquanto meus ombros ficavam tensos, ainda sentindo o toque firme dele em meu braço.
― Sou eu! ― disse por fim um tanto preocupado. ― Qual é a mensagem?
― Eu estou com uma irmã vampira recém-criada que deve estar completamente faminta apenas esperando eu dar o comando para beber até a última gota do sangue da pobre mamãe efêmera e indefesa. Suponho que eu não precise assinar esse bilhete, já que você pode imaginar com todo amor e carinho de quem seja, portanto até breve meu caro, afinal sinto que nos veremos logo, logo.
O garoto deu uma risada um tanto frenética e eu quase podia escutar Victoria do outro lado rindo com a mesma intensidade. Ela enviara o garoto, pois sabia que nenhum de sangue mágico poderia ultrapassar o domo posto pela magia de Blair para proteger toda a minha mansão de qualquer investida dela. Ela era astuta o suficiente para mandar uma mensagem por um adolescente qualquer que deveria estar em uma noite qualquer com seus amigos aproveitando toda sua juventude.
― E agora o que vamos fazer? ― interpelou Dorian tomado pelo impulso. ― Por mais que minha mãe e irmã tenham me magoado, mas eu ainda as amo e não quero que nada de mal aconteça à elas.
― Dorian, se acalme vai ficar tudo bem ― falei da maneira mais branda que consegui naquele momento, tentando passar o máximo de calma possível.
― Eu nem sei o que fazer se acontecer alguma coisa com elas.
― Eu mesmo vou me assegurar de que Victoria não fará nada à sua mãe e a sua irmã! ― disse lhe envolvendo em um abraço, enquanto meus lábios tocavam suavemente a sua testa.
O garoto finalmente saiu do transe e nos olhou completamente assustado, acordando para a realidade. Seus olhos oceânicos buscavam algo ali de que tivesse familiaridade, mas não encontrou. Sua respiração era ofegante e dava para ver o seu estado de confusão, se tornando cada vez mais acentuado.
― Onde eu estou? ― perguntou ele desnorteado.
Lembrei exatamente do dia em que Dorian acordou do mesmo jeito em meu sofá depois de ter ficado em transe na noite em que Victoria o deu a cura imortal. Ele estava tão perdido quanto aquele pobre infante, amordaçado em seus medos e incertezas. Sentia que estava passando por tudo outra vez, quase como que em um déjà vu.
― Você está em minha casa, ainda na Pensilvânia.
― Quem é você? ― indagou com a voz vacilante. ― Vocês são reais ou apenas fruto da minha imaginação?
― Reais ― respondi como se fosse óbvio.
― Ele deve estar sob o efeito de entorpecentes ― relatou Dorian.
― Entorpecentes? ― perguntei emaranhado.
― Maconha ― disse o moço sentado em meu sofá colocando uma de suas mãos no bolso do moletom azul marinho. ― E das boas. Querem um pouco?
Fizemos que não com a cabeça.
― Bem, sendo assim, é bom que sobra mais para mim! ― disse ele satisfeito colocando o saco de volta no bolso.
― O que vamos fazer com ele? ― questionou Dorian tocando o meu ombro.
― Blair? ― olhei na direção dela.
Blair tocou na testa do rapaz e logo ele caiu em sono profundo.
― Acho que isso responde parte da sua pergunta ― alfinetou ela com um sorriso divertido em meio à sua expressão. ― Bem, agora apagamos a memória dele e o soltamos em um beco qualquer da cidade para quando ele acordar achar que foi o efeito da maconha que o desnorteou e ele não se lembrará de nada que aconteceu aqui, está bem?
Dorian e eu concordamos com a cabeça e ela logo conjurou o feitiço para apagar a memória daquele momento da cabeça dele e ainda implantou o sonho de um beco em sua mente para que o feitiço de teletransporte fosse feito com excelência, já que todos precisavam estar pensando no mesmo lugar para que não ficasse preso em um limbo entre as realidades. Assim que estava feito, peguei o dorminhoco em meus braços e por fim nos teletransportamos, primeiramente para um beco qualquer para depositar o garoto e depois finalmente para a casa de Dorian.
Paramos em frente à uma casa feita de madeira com paredes brancas, telhados acinzentados, janelas de vidro por todo o lado, enquanto a porta de entrada também feita de madeira pintada de vermelho. Havia um cercado branco de madeira com uma pequena porta de entrada que dava para um caminho feito de pedra até a varanda mais na frente. Era uma casa bastante bem proporcionada e aparentemente bastante confortável.
Os olhos de Dorian brilhavam nostálgicos ao olhar para aquele lugar. Quase podia ver as lembranças de uma vida passando diante de si naquele momento. Podia ouvir as batidas frenéticas de seu coração dentro da sua caixa torácica e sabia que estava extremamente nervoso e ansioso ao voltar ali, depois daqueles dias longe pensando que nunca mais estaria ali outras vez.
Não poderíamos perder mais tempo ali, podia ouvir lamentos vindo dali de dentro e tinha que ser o mais rápido possível se quisesse chegar à tempo para salvar a mãe e irmã de Dorian das garras alucinantes de Victoria Morgeinstein.
― E então vamos entrar? ― perguntei por fim.
― Vamos sim ― respondeu ele colocando a mão no bolso e tirando seu celular. ― Mas antes tenho que mandar a mensagem.
Concordei com um gesto de cabeça esperando ele terminar de digitar habilmente a mensagem. Assim que terminou de enviar, corremos até o interior da casa e seguimos o barulho das vozes até chegarmos à cozinha, onde Victoria com suas vestes vermelhas me olhava com um sorriso triunfante em seu semblante crente de que já havia vencido aquela rodada. Não deveria estar tão confiante. Aquilo só fez com que eu sentisse um frio na espinha, afinal de contas poderia haver mais alguma peça em seu jogo que não estava enxergando nesse momento.
Dorian tentou se aproximar da mãe e irmã, mas foi impedido por uma parede invisível que estava posta ali pelos poderes malignos de Victoria para evitar que pudéssemos salvá-las. Dorian deu um passo para trás e ela fez gesticulou com o dedo em negativa, enquanto estalava sua língua no céu da boca.
Victoria sempre acabava estando à um passo à frente de nós, pois ela conseguia prever todos os nossos movimentos. Era quase se pudesse ler nossos pensamentos. Temia que aquilo pudesse acabar da pior forma possível. Ela estava claramente brincando conosco. Fazendo o famoso jogo de gato e rato no que era muito boa e fazer. Ela queria aproveitar o máximo de tempo nos torturando psicologicamente tentando achar uma solução para aquele problema diante de nossos olhos.
Uma delas estava sentada em uma cadeira de madeira amordaçada, enquanto a outra estava atrás dela parada, não movendo um músculo sequer, parecendo estar em pausa. A única coisa que se movia era os olhos que piscavam para se lubrificarem, enquanto Victoria se divertia com tudo aquilo. Ela realmente tinha uma mente perversa.
Podia ver nos olhos de ambas o pavor por estarem naquela situação, prestes à provar da morte certa. Ela havia deixado elas conscientes, o que era ainda mais desprezível, pois viviam aquele momento intensamente. Lágrimas escorriam pelas laterais dos olhos da mãe e por mais que gritasse, o mordaça abafava a voz desesperada dela, talvez nem mesmo os vizinhos pudessem ouvir o que estava acontecendo ali naquele momento, vivendo suas vidas normalmente.
― Olá Sebastian, um passarinho me contou que você e Dorian estão juntos agora ― disse ela com certo deboche em seu falar. ― Nunca esperei por isso. Pelo visto sua mente retrógrada estava mais disposta a evoluir do que eu pensava que estaria, afinal de contas na sua época um homem não poderia amar outro homem.
― Não se trata de amar outro homem e quando eu finalmente entendi isso, minha mente se libertou. Se trata de amar a mesma pessoa não importa quantos corpos ela tenha ou quantas vidas viva.
― Acho que eu subestimei você ― disse ela num tom ríspido semicerrando os olhos. ― Mas já que tudo deu errado, resolvi vir até aqui me divertir um pouco. Antes eu só queria te atingir Sebastian, mas agora que você se rendeu ao amor, resolvi fazer Dorian sofrer, porque sabia que atingindo ele, atingiria você também.
Ela soltou uma risada.
Por um tempo fiquei ali assombrado com tamanha maldade pensada exclusivamente pela mente de Victoria. Ainda não conseguia entender como um coração ferido poderia fazer alguém se tornar daquele jeito. Sua alma parecia não existir mais, fazendo com que suas emoções boas fossem suprimidas e tudo o que ela sentia fosse ódio correndo por suas veias.
― Solte elas por favor Victoria ― pediu Dorian com lágrima nos olhos. ― Elas não fizeram nada à você. Deixem elas fora disso.
― Por que se importa com elas? ― demandou um pouco curiosa. ― Afinal, sua mãe te rejeitou quando você revelou-se, as piores lágrimas da sua vida foram por causa dela. E o que falar da sua irmã incompetente? Ela não fez nada quando sua mãe disse que você era uma decepção. Apenas se escondeu atrás da barra da saia da mamãe como uma covarde estúpida que é.
― Elas erraram sim e me machucaram profundamente, mas não é por isso que elas tem que morrer dessa forma.
Victoria rangeu os dentes e revirou os olhos aparentemente decepcionada por Dorian não ter entrado no jogo dela. Ela queria usar a mágoa que ele sentia pelas atitudes rudes da sua mãe e irmã adotivas contra ele.
― Que tolice! ― Victoria praticamente cuspiu aquelas palavras. ― Vocês todos são uns idiotas. É por isso que eu os tenho nas palmas de minhas mãos. Todos vocês. E acho melhor não tentarem nada sequer ou farei a irmãzinha matar a própria mãe, já que a transformei em uma vampira só para este momento e Você mais que ninguém sabe o quanto vampiros recém-nascidos podem ser sedentos, não é mesmo Sebastian?
Aquelas palavras me atingiam em cheio. Mesmo que a família não fosse minha, mas eram vidas inocentes e além de tudo eram parentes do grande e único amor da minha vida. Qualquer passo em falso que eu desse ali poderia comprometer a vida das pessoas mais importantes para Dorian naquela encarnação. Não queria falhar com ele daquele jeito. Não podia.
― Bem, com apenas um estalar de dedos eu posso trazer a minha mais nova criação vampira à realidade, fazendo com que ela morda o pescoço cheio de sangue da mamãe, sugando até a última gota na frente de vocês e não poderão fazer nada para impedirem.
― Você é uma maldita! ― disse Dorian batendo com suas mãos cerradas na parede invisível que expandia em ondas similares, como acontece na água quando uma gota cai diretamente. ― Maldita!
Victoria riu parecendo não se incomodar com os nomes que Dorian a chamou. Meus ombros ficavam cada vez mais tensos tentando imaginar o que poderia se passar naquela mente perturbada.
― Para vocês não dizerem que eu sou má ― voltou a falar parecendo disposta à uma trégua. ― Quero fazer uma troca simbólica.
Dorian parou de chorar e voltou a encarar além da parede transparente como vidro.
― Eu troco a pedra Ônix pela sua família adotiva.
Olhei para Dorian e vi que os olhos dele se iluminaram com aquela proposta, mas não achava seguro, pois poderia ser mais um dos truques de Victoria para pôr a vida dele em risco, afinal, sem a padre Ônix, ele estaria vulnerável podendo ser um alvo fácil da maldade dela.
― Eu troco! ― disse Dorian sem ao menos pensar, mas segurei o seu braço, fazendo com que ele olhasse para mim um tanto confuso.
― Como podemos saber que isso não é um truque sujo seu? ― questionei com os olhos semicerrados.
― Ora que pena, o mundo já não é o mesmo não é mesmo? ― debochou ela enquanto olhava as suas belas unhas pintadas em um tom bem escuro que se assemelhava ao preto. ― Para onde vão as pessoas se continuarem assim sem poder confiar umas nas outras?
Victoria riu.
― Quais são as condições? ― insisti um tanto alerta à qualquer que fosse o jogo dela naquele momento.
― Sem condições Sebastian. Sou uma mulher de palavra. A única coisa que tem a fazer é me entregar o colar com a pedra Ônix e deixarei a família dele ir.
Troquei olhares com Dorian naquele momento sentindo que não deveria confiar em Victoria, mas mesmo assim assenti para que fosse feito. Se havia uma chance de salvar a vida da família adotiva dele assim eu faria, redobrando a minha atenção aos movimentos da minha ex noiva maléfica. Dorian tirou o colar e estendeu em direção à parede, onde um pequeno espaço se abriu redondo, então ele esticou seu braço até o outro lado, onde Victoria pegou o colar com uma expressão de êxito tendo o seu propósito concluído naquela noite.
A parede fechou-se de repente.
― Agora solte minha mãe e minha irmã.
― Você não confia em mim jovem Dorian?
― Só vou saber quando minha mãe e minha irmã estiverem seguras comigo desse lado.
― Bem, como prometido vou soltar sua família, mas ― ela disse remexendo todos os dedos de sua mão, portando uma expressão de mistério. ― se eu soltar as duas, algo muito ruim poderia acontecer, não acha? A filhinha mataria a mamãe sem dó só para ter o precioso sangue dela em seu corpo.
― Solte elas agora Victoria! ― intervi irritado. ― Mulher diabólica!
Ela deu mais uma risada.
― Calma. Deixem-me falar. Só quero que o Dorian escolha uma das duas para viver.
Ela bateu palmas empolgada.
― Você está louca? ― berrei.
― Eu não vou escolher entre minha mãe e minha irmã.
― Mesmo não escolhendo estará selando o destino das duas queridinho, afinal de contas se soltar sua irmãzinha ela matará sua mamãe! ― disse ela dissimulando um bico de tristeza.
― Solte elas Victoria. Por favor.
― Por mais que adore ver você rastejando aos meus pés Dorian, o jogo precisa seguir ou escolhe uma ou morre a outra.
Dorian só chorava ajoelhado no chão sem saber o que fazer.
― Bem, vamos ouvir o que sua mamãe tem à falar sobre isso.
Victoria se aproximou dela e tirou de sua boca a mordaça que a impedia de falar claramente, revelando a voz aguda e chorosas por medo da morte.
― Socorro filho, me ajude! ― disse a mãe desesperadamente com as lágrimas banhando o seu rosto assustado.
― Você ouviu a mamãe! ― disse Victoria jubilante como se tivesse visto o paraíso.
― Filho me perdoa por tudo! ― falou a mãe dele e dava para ver em seu tom a sinceridade que rondava a sua voz esganiçada.
― Já chega! ― proferiu Victoria com certo desprezo em seu tom de voz, voltando a colocar a mordaça na boca dela. ― Acho que você já foi apelativa o suficiente sua efêmera estúpida.
― Victoria, por favor, solte elas ― pede Dorian mais uma vez completamente tomado pelo desespero.
― Você acha que vai ser fácil assim brotinho? ― questiona Victoria erguendo uma de suas sobrancelhas deixando sua expressão ainda mais diabólica. ― Acha que é só chegar aqui e me exigir alguma coisa que vou atender vocês? Talvez sejam mais imbecis do que eu pensava.
― Victoria você perdeu totalmente o senso, nós podemos recomeçar, podemos nos perdoar e viver em paz ― apelei.
― Nunca Sebastian ― vociferou ela com tanto ódio em seu tom de voz que poderia ver uma raiz profunda em seu coração apodrecendo tudo como um parasita. ― Eu jamais vou te dar o poder de me magoar novamente. Jamais serei feita de boba mais uma vez. Você nunca mais vai magoar mais ninguém e eu vou me assegurar disso. Você vai pagar por cada segundo de dor que me fez sentir. Cada lágrima que eu desperdicei. Não vou te deixar esquecer nenhum segundo sequer o monstro que você é.
― Você tenta punir um monstro se tornando um monstro ainda pior? ― contestei tentando fazê-la enxergar o quanto aquilo tudo era completamente extremo.
― Alguns sacrifícios precisam ser feitos para um bem maior.
― É nisso que acredita?
― Eu acredito em vingança e não vou parar até que minha vingança esteja completa.
Olhei na direção de Dorian que não conseguia fazer nada além de chorar vendo sua família naquele estado. Não havia mais o que eu pudesse fazer naquele momento, apenas talvez ganhar mais algum tempo até que nosso melhor plano viesse ao nosso encontro.
― E então caro Dorian? ― a voz de Victoria voltou a ser ouvida, mas dessa vez parecia bem mais tranquila que antes, enquanto um sorriso malicioso voltava a circundar sua expressão. ― Vai escolher ou não?
Os momentos ali ficavam cada vez mais tensos e dava para ver no olhar de Dorian mesmo por entre todas as lágrimas que anuviavam seus olhos, que ele estava completamente perdido sem saber ao certo o que faria naquele momento de pura agonia em seu ser.
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