(01) jantar surpresa
Niki acordou naquela manhã com uma sensação de peso no peito, como se tivesse carregado o mundo durante a noite inteira. O dia no trabalho não parecia promissor. Desde cedo, ele já sabia que a rotina seria difícil. A pressão para fechar negócios estava mais forte do que nunca, e a sensação de que nada estava dando certo tomava conta de seus pensamentos. As negociações estavam emperradas, e as metas pareciam sempre mais distantes.
Para complicar ainda mais, Niki estava competindo com Keeho, seu parceiro de equipe, por uma promoção que parecia já estar no bolso de seu colega. Enquanto ele lutava para alcançar os números que o colocariam à frente, Keeho parecia se mover com uma facilidade desconcertante. A competição estava apertada. Niki não conseguia escapar da sensação de estar perdendo terreno, de ser o segundo plano, mesmo quando se esforçava tanto.
No meio de toda essa pressão, Niki decidiu sair um pouco do ambiente abafado do escritório. Durante o intervalo para o café, ele se afastou da agitaçao e foi para um banco na área externa. Só queria um momento para respirar, para tentar organizar a mente que estava um turbilhão. Ele olhou para o horizonte, tentando se desconectar por alguns minutos das demandas incessantes. Mas, mesmo naquele silêncio, algo não saía de sua cabeça: Sunoo. O nome do namorado ressoava em sua mente.
Era difícil admitir, mas ele estava sentindo uma saudade imensa de Sunoo. O relacionamento dos dois, que antes era cheio de risadas, momentos espontâneos e surpresas, havia se perdido nas brechas da rotina. Niki sabia que estava distante, sem tempo, absorvido por sua carreira e pelas suas próprias inseguranças. O que deveria ser uma parceria, algo que os unia, acabara sendo desgastado pela sua ausência. Mas, no fundo, ele sabia que ainda amava Sunoo. E o pior era que ele sentia que talvez já fosse tarde demais para reconquistar o namorado.
O celular vibrando na sua mão o fez perceber que o tempo estava passando mais rápido do que imaginava. Ao olhar a data, ele se deu conta: o Natal estava se aproximando, e no dia 25, completariam três anos de namoro. Três anos. Como o tempo tinha voado. Mas também, como ele havia se afastado.
O trabalho, as inseguranças, as distrações... tudo isso parecia ter vindo em primeiro lugar, enquanto o relacionamento dele e Sunoo ia se desfazendo na falta de atenção e carinho. Niki não queria deixar isso acontecer. Ele não queria perder Sunoo, não queria que o amor deles fosse só uma memória distante.
Com o coração acelerado, ele pegou o celular e começou a digitar, sem saber ao certo como dar o primeiro passo. A ideia de fazer algo especial para o namorado foi surgindo aos poucos. Ele se lembrou de um lugar que sempre sonharam em visitar juntos, o The Ledbury, o restaurante estrelado em Notting Hill, famoso por sua comida refinada. Sempre falavam que, quando as coisas fossem mais tranquilas com a rotina de ambos, iriam lá para celebrar o amor deles. Talvez agora fosse a hora de tornar aquele sonho uma realidade.
Niki procurou no site de reservas e, para sua sorte, havia poucas mesas disponíveis para aquela noite. Ele não pensou duas vezes e fez a reserva para dois. Mas ele sabia que só isso não seria suficiente. Ele queria algo ainda mais marcante, algo que fosse realmente único, que mostrasse para Sunoo que ele ainda se importava e estava disposto a se esforçar para salvar o que tinham.
Com uma ideia em mente, Niki decidiu ligar diretamente para o restaurante. Depois de uma breve pesquisa, conseguiu o número de contato do chef. Niki pediu ao chef que preparasse um menu personalizado, algo que fosse além de uma simples refeição. Ele queria que cada prato fosse inspirado na história deles: lugares que haviam visitado juntos, ingredientes que traziam lembranças especiais, até os momentos mais simples, mas que tinham um valor único para os dois. O chef, interessado e empolgado com a ideia e o cachê que havia sido oferecido, garantiu que criaria uma experiência memorável.
Enquanto o dia seguia, Niki não conseguia parar de pensar na noite que estava por vir. O coração estava acelerado, e a ansiedade tomava conta de cada pensamento. Ele sabia que esse gesto não resolveria todos os problemas, mas, talvez, fosse o primeiro passo para reconquistar o que ele temia estar perdendo.
Ele não sabia o que o futuro reservava, mas estava decidido a fazer o seu melhor para que aquele aniversário de três anos não fosse só mais uma data esquecida, mas o começo de uma nova fase do casal.
- ☃️ -
A noite estava fria e silenciosa, com a neve caindo suavemente pelas ruas de Londres. O cenário fora do restaurante era um quadro perfeito de inverno: flocos brancos flutuando no ar e se acumulando nas calçadas e nos carros. Porém, dentro, o ambiente era acolhedor. As luzes baixas, a música suave e o aroma de comida recém-preparada criavam uma atmosfera intima, quase mágica. O aquecedor trabalhava em harmonia com o calor da conversa de todos, mas, apesar disso, havia um desconforto entre Niki e Sunoo.
Eles estavam sentados à mesa, em um canto discreto, o único som vindo das conversas distantes e dos talheres delicadamente tocando os pratos. Niki vestia um suéter preto e uma jaqueta de lã, suas mãos, uma nervosa, brincando com o guardanapo sobre a mesa. Sunoo, por sua vez, usava uma camisa de gola alta branca e uma jaqueta cinza, seus olhos perdidos em algum ponto do restaurante, distante e frio.
── Eu sei que tudo o que fiz, ou melhor, o que não fiz, foi errado... - começou Niki, quebrando o silêncio, sua voz suave, mas carregada de uma sinceridade que ecoava no coração de Sunoo. Ele estava tentando, desesperadamente, encontrar uma maneira de reacender algo que, para ele, ainda era forte. ── Eu não percebi o quanto te deixei de lado. O quanto o trabalho me fez esquecer o que realmente importa. E... eu sinto muito por isso, querido.
Sunoo levantou os olhos para Niki, mas não respondeu de imediato. O olhar dele era de dor, mas também de uma saudade silenciosa. Ele se mexeu na cadeira, ajustando a posição, como se a distância entre eles fosse mais do que física.
── Niki... - Sunoo começou, a voz quebrada ── Você estava tão focado em tudo, menos em mim. Eu senti que você... se perdeu de mim. E eu? Eu fiquei aqui, esperando por ti.
Niki engoliu em seco, sentindo o peso das palavras de Sunoo. Ele esticou a mão para tocar a dele, mas hesitou, como se temesse que um gesto fosse demais, um gesto que talvez não fosse mais bem-vindo.
── Eu nunca quis te perder. - disse, com os olhos cheios de arrependimento. ── Acho que estava tentando provar algo, ou talvez fugir de algo. Mas, se há algo que aprendi, é que não quero continuar vivendo sem te dar a atenção que você merece.
── Eu sinto falta - ele sussurrou, mais para si mesmo do que para Niki. ── Sinto falta da nossa conexão, das pequenas coisas. Dos momentos em que você realmente estava comigo.
── Eu sei. E não quero mais perder isso. Não quero mais nos perder. - Niki, tocado, segurou a mão dele com firmeza agora, os dedos entrelaçados com cuidado, como se fosse o último gesto de confiança. Sunoo olhou para a mão de Niki, e por um momento, não havia mais palavras. Só havia o calor de um sentimento silencioso que os envolvia, algo que nem o tempo e nem a distância poderiam apagar completamente.
O jantar continuou em um clima mais ameno, mas a conversa já havia sido dita, as palavras de ambos no ar. Quando terminaram a refeição, a neve do lado de fora parecia ter coberto a cidade inteira com um manto branco. Eles se levantaram e saíram do restaurante, ambos envoltos em seus casacos quentes, mas, de alguma forma, mais leves. O frio da noite parecia menos cortante agora, e as mãos entrelaçadas de Niki e Sunoo trouxeram uma sensação reconfortante para ambos.
── Vamos brincar na neve? - Sunoo perguntou com um sorriso tímido tentando quebrar o gelo, como se fosse uma forma de curar o que estava quebrado entre eles. Niki riu, aliviado pela leveza do momento.
── Claro. Mas quem vai cair primeiro? Aposto que é você.
Sunoo correu na frente, saltando pela neve como se fosse uma criança, enquanto Niki o seguia, tentando alcançar, mas se deixando cair de vez em quando, rindo. Eles se pararam por um momento, ofegantes, os olhos brilhando, e as mãos ainda unidas. O mundo parecia ter desacelerado, os dois ali, no meio da neve, vivendo um momento de alegria simples, mas cheia de significado para eles, já que não viviam um momento tão simples como esse há meses. Era como se a noite, a conversa, e até a neve estivessem oferecendo uma segunda chance.
E, pela primeira vez em muito tempo, Niki sentiu que o relacionamento que ele quase perdeu poderia, talvez, ser reconstruído - passo a passo, sorriso a sorriso.
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