< 17 >

2 meses depois

– OLIVIA! Acorda! – Gabriela sacudia a amiga que dormia.

– Me deixa, Gabriela. – Olivia puxava o edredom branco e amassado até rosto – Tô sem saco até pra você hoje.

Gabriela havia passado o sábado com a amiga, tentando animá-la. Sabia que o dia de hoje seria difícil. 

1 ano. Há um ano surgia um sentimento de amor que logo cresceria e se expandiria. Exatamente um ano atrás ela fora pedida em namoro por Tom.

E não iriam comemorar.

Tom já havia pensado na data e iria começar a planejar, levaria Olivia até a London Eye e continuaria a declarar seu amor por ela ali, dando-lhe um anel de família. Já Olivia, quando pegou-se pensando nisso, queria aprofundar-se mais: iria dar a chave do seu apartamento a ele, uma espécie de convite para que morassem juntos, mesmo que direta-indiretamente.

Após a noite de "despedida" com Tom, Gabriela percebeu que a amiga mudara um tanto quanto seu comportamento.
Não que ela tenha saído pelas ruas e gritado aos quatro cantos o quanto ela sentia falta dele, mesmo que a vontade fosse grande.

A amiga parecia que estava se amargando aos poucos. Talvez pelo fato dela não conseguir pôr seus sentimentos para fora e ficar remoendo isso em seu peito.

E ela a entendia. Conversou muito com Olivia e percebeu que essa estava de mãos atadas: queria com toda força que Tom ficasse junto dela, mas não podia deixá-lo perder uma oportunidade tremenda que ele sempre mereceu. Queria poder ir junto dele, mas sua vida profissional estava finalmente se iniciando da forma que ela planejava e não podia perder a oportunidade.

Estava na corda bamba. E nem o começo ou o fim dessa corda iria romper, mas sim, o meio. Com ela de um lado e Tom do outro.

Tom sempre fora um homem de poucos amigos. Quer dizer, amigos ele até tinha um número considerável, mas que ele realmente se sentia a vontade de desabafar era pouquíssimo. Um dos professores havia lhe chamado para um bar a noite, e ele estava considerando ir.

Assim como Olivia, Tom sabia o que o dia de hoje representava. Logo no domingo, seu dia de folga.
Logo no dia que eu estou livre para ficar remoendo isso. Que irônia. Que irônia! O homem pensava.

»»»««« 

» Olivia

– Olivia, vou gritar com você pela última vez, na próxima é porrada na certa. – Ouvi Gabriela me atazanar. Droga, da pra entender que eu só quero curtir minha bad?

Afasto o lençol do eu rosto e a encaro.

– Por que você não vai ver Anna? Ela deve estar com saudades de você. Poupe sua mão comigo e vá atrás dela. – digo e bufo em seguida.

– Finalmente, flor. Vamos, levante. E, para sua informação – ela para o que estava falando – eu esqueci o que ia dizer.

Me levanto e dou uma risada.

– Faremos assim, chamo Anna para cá e nós vemos um filme, ok?

– Como quiser. – digo indo ao banheiro.

Após me arrumar, vou para sala e encontro Gabriela sentada no sofá.

– Ei, o que vamos almoçar amanhã?

– Eu acabei de acordar e você já está pensando no almoço de amanhã? – solto uma risada – Você não existe. – Vou a cozinha e pego uma caneca de café. – E, aliás, almoçar comigo amanhã? Achei que você trabalhasse até às 17h. – digo quando volto.

– Meu bem, em que mundo você tem andado ultimamente? – ela me encara – Amanhã é feriado. Amanhã e terça.

Que?

– Celebração da vida da Rainha e na terça algo do trabalho.

– Nossa, eu realmente não lembrava. – dou um gole no meu café – Capaz de acordar amanhã e ir trabalhar, se você não tivesse me falado. Enfim, que horas Anna vem?

– Ela disse que já havia saído de casa. Ela cozinhará para nós hoje.

Sorte a nossa. Minha comida é horrível.

[...]

O segundo filme já iria começar, Gabriela estava sentada numa ponta com Anna reencostada dela e eu na outra, agarrada a minha almofada de girassóis.

Eram 17h e já havíamos assistido Pretty Woman e agora estávamos vendo Her. Esse filme me lembra Tom, assistimos juntos logo no início do nosso namoro. Havíamos combinado de sair nesse dia, mas ele acabou ficando gripado e não deu certo. Ficamos em casa e viramos a madrugada vendo filme no sofá dele agarrados e cobertos, e o último que assistimos foi exatamente Her.

Não foi minha primeira vez assistindo, mas foi a mais especial das vezes as quais eu vi.

Quando me dou conta estou enxugando uma lágrima que caía, respiro fundo e saio da sala antes que as meninas percebessem. Vou para o banheiro e choro baixinho lá.

Eu sei que o tempo cura tudo, mas porra, da pra passar mais rápido? Não aguento mais sofrer. Minha dor não diminuiu nem um pouco, só aumentou. Tive tentado ignorar algumas mensagens e ligações de Tom, e isso me deixava ainda mais atordoada. Sempre voltava a o responder, nem que fosse o mais curta possível. 

Após um tempo, me recomponho e pego minha bolsa no quarto. Sigo em direção para sala e pego um cachecol, estava começando a ficar frio.

– Meninas, já volto. – digo e saio antes que elas pudessem falar algo.

Saio do prédio e ando pela rua, que estava um pouco cheia. Sigo no caminho do supermercado, preciso comprar chocolates.

Fazendo tudo para não pensar nele.

Entro no supermercado e vou direto para a sessão de doces, a minha preferida.

Pego uma bandejinha e começo a selecionar algumas barras quando ouço derrubarem alguma coisa. Olho em volta e vejo dona Mercedes.

– Dona Mercedes? – vou até ela – Está tudo bem? – me abaixo e pego alguns chocolates que ela havia derrubado.

Dona Mercedes era a senhora que tinha uma floricultura próximo ao mercado.

– Olivia, meu bem! Obrigada. – ela diz enquanto entrego os chocolates caídos – Como você está? E Tom? Que saudade de vocês... Nunca mais apareceram pela loja...

Engulo um seco e sorrio triste para ela.

– Pois é... andei um pouco atarefada, e... eu e Tom não estamos mais juntos – digo e olho para baixo.

– Não! – ela fala alto e triste me pegando de surpresa – Eu já havia combinado na minha cabeça de dar as flores do casamento de vocês... 

Seguro o choro e solto uma tosse seca.

– Querida, me permite perguntar o por que do fim? Eu realmente adorava vocês juntos... Olha, vamos a loja, aproveitamos e tomamos um chá.

A coisa que eu mais queria fazer no momento era chorar, mas dona Mercedes foi um tanto legal e eu acho que talvez falar um pouco não me faria mal...

Chegamos a loja e nos sentamos no lado de fora, nos banquinhos claros. Eu adorava aquele lado.

Após trazer uma xícara de chá, dona Mercedes foi direto ao ponto.

– Sei que vocês não se separaram por traição. Os dois têm um ótimo caráter, posso reconhecer isso de longe. – ela encosta na minha mão.

E eu conto tudo entre lágrimas e soluços.

– Oh minha querida... – ela passa a mão pelo meu rosto – É uma pena esse "desencontro" de vocês, mas... não desista, vá por mim. Não cometa o mesmo erro que eu.

Como assim?

– O que a senhora quer dizer com isso? – eu a olhava com atenção.

– Quando eu tinha a sua idade, também me apaixonei por um homem. Eu me acho parecida com você, Olivia. Infelizmente somos duas inseguras. A história é grande, então irei resumir. 

Eu estava tão atenta que nem tinha percebido que havia parado a xícara de chá no ar ao invés de levá-la a boca.

– Ele se chamava Henry, era filho de uma austríaca com um inglês. Um cavalheiro nato. Ele trabalhava no único cinema da cidade, e eu o vi quando fui a inauguração com minhas amigas e logo me vi interessada – ela riu e levantou as sobrancelhas – então, menina, passei a ir ao cinema com uma grande frequência... as vezes nem sabia qual era o filme... Ele percebeu e veio falar comigo, me chamou para um encontro e nós saímos... Ah, ele era tão divertido, me fazia rir como ninguém. – suspira – Engatamos um namoro e um começo de noivado. Mas aí a guerra veio, levou seu pai embora e ele ficou mais responsável pela casa.

Querida, estou te resumindo tanto... espero um dia poder te contar tudo. – ela sorri carinhosamente – Até que um dia abriu um novo cinema na minha cidade. Maior, mais moderno, com mais atrações... e logo o que ele trabalhava faliu. Foi um tempo difícil, ele não conseguiu emprego aqui... até que a mãe dele teve a ideia de voltar para a Áustria. Numa noite, ele veio até minha casa e me falou isso. Eu fiquei devastada. E ele me chamou para ir com ele. Nos casaríamos lá e iniciaríamos a nossa vida juntos... mas Olivia, eu era tão insegura, mas tão insegura... eu disse que não sabia, eu tinha medo do "novo". – ela suspira e me olha – No dia que ele iria partir, veio a minha casa e se declarou. Ele disse que ainda não havia desistido de mim, e se eu falasse que o amava e pedisse para que ele ficasse, ele ficaria aqui comigo.

Por essa eu não esperava.

– Mas eu não podia fazer isso com a família dele, eles precisavam de Henry lá. E eu também precisava dele aqui, é claro... mas... – suspira – é a vida, meu bem. Preferi que ele priorizasse a família dele e deixei de ir junto por puro medo, medo de me arriscar... eu fui uma covarde, reconheço. – ela faz uma pausa e roda a borda da xícara com os dedos – Olivia, minha história é triste sim – acho que ela percebeu quando eu sequei uma lágrima – e eu te permito usá-la como exemplo. Está na cara que você ainda o ama e sente falta dele. A distância é um tanto incomoda, mas veja, tente, meu bem. Não deixe voar. Ele te ama. 8 horas de viagem de carro ou uma hora de avião, não é?
Eu sei que a passagem de avião é mais cara, mas... é pelo seu amado. E eu aposto como Tom se ofereceu para vir lhe ver e você priorizou o descanso dele. – fiz que sim com a cabeça, não conseguia falar, só chorava e soluçava.

Ela me abraçou.

– Aproveite esse amor, e, por favor, não tenha medo de se arriscar, menina. Não seja mais uma covarde como eu. – ela parecia implorar com aquele olhar.

– Sua história – digo depois de um tempo quando me recomponho – é triste. Eu sinto muito, senhora Mercedes. De verdade. E... você chegou a vê-lo novamente?

É nessas horas que eu sinto falta de uma mãe. Creio que elas nos ajudam dando apoio... ora. E aqui estou eu, numa loja de flores com uma senhora inglesa me consolando. 

Antes que ela pudesse me responder meu telefone toca. Era Gabriela. Peço licença e vou atender. Falei onde estava e logo voltei. Tive que desligar na cara dela.

– Querida, antes de tudo, acho que você sabe o que fazer. – ela me olha e procura uma resposta no meu olhar.

– Sim, eu sei. – dou um meio sorriso e suspiro – Obrigada por tudo, senhora Mercedes. De verdade. – a abraço.

– Vamos, menina. Corra! O próximo voo para Newton sai as 18h20, olhei enquanto você falava com sua amiga. Ainda é cedo, da tempo de comprar sua passagem. Ah, o senhor Alex fica com o táxi dele logo ali.  – ela aponta para fora.

Sorrio e saio da loja. Me decidi. Vou para Newton.






as vezes eu queria conhecer vocês

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top