5. Three




Passei o dia inteiro com uma ansiedade gigantesca. A noite chegou e tudo só ficou pior. Eu iria ver Ben, que tipo de roupa deveria usar? Experimentei todas as supostas perfeitas roupas para encontrar o garoto que faz seu estomago se encher de borboletas, mas não me senti à vontade com nenhuma delas. Lembrei-me que Lucas disse que era um show, uma banda de rock cover. Então, o que mais vestir se não minhas botinas, calça jeans e casaco? Eu não iria ser louca de passar frio.

Lucas veio até a minha casa eram quase oito e vinte. Não quis entrar, disse que queria pegar um lugar legal, onde não estivesse muito frio. Seguimos para o porto. Ele estendeu o braço novamente para que eu me segurasse nele. Perguntou-me se eu tinha ligado para Ron para verificar a história do blog. Tive vontade de socar a mim mesma. Eu era indiscutivelmente esquecida. Mesmo quando havia grandes problemas, eu sempre me esquecia.

Não havia muitas pessoas quando chegamos ao local do show. Os músicos da banda ajeitavam os instrumentos. Todos eles tinham o seu próprio cabelo esquisito, mas tinham estilo segundo o meu gosto. Torci para que eles fossem o cover de alguma banda que eu gostasse, já que Lucas não sabia me responder. Ficamos ali, um pouco observando os músicos, outro pouco caminhando pelos arredores. Eu olhava o meu relógio de pulso de cinco em cinco minutos. O show começou um pouco depois das nove. O lugar se encheu de adolescentes, e havia também alguns adultos, no estilo de Jamie. A banda era boa, e eles tocaram algumas músicas de bandas que eu gostava. Olhei no relógio, faltavam cinco minutos.

Dei a desculpa de ir ao banheiro para Lucas. Ele nem fez questão de me acompanhar. Fui em direção ao píer, me desviando com dificuldade no meio das pessoas. Pensei em como saberia qual era o terceiro píer. Seria o terceiro da direita para a esquerda, ou o contrário? Então, olhei para cima e vi que cada um tinha seu próprio número. Eu estava no número sete. Continuei caminhando até o terceiro. Quando estava me aproximando, pude ver a sombra de um homem alto lá. Ele vestia um sobretudo. Meu coração bateu forte.

Caminhei em sua direção, na indecisão de prosseguir ou dar meia volta. Minhas pernas não estavam muito fortes enquanto eu caminhava, ainda me decidindo. Eu deveria dar o cano nele, como ele fez no outro dia. Mas quando pensei nisso, eu já havia pisado no píer. Ben não pareceu notar minha presença, como das outras vezes. Por mais que minhas botinas estivessem fazendo um bom barulho nas tábuas, ele não se virou para trás. Pensei que estivesse apenas fingindo. Estava bem próxima dele, quando o chamei.

— Ben? — ele se virou para trás. Foi então que percebi o motivo dele não ter notado minha presença. Aquele não era Ben. Era um senhor, de idade avançada já. Barba branca, usando um gorro o qual eu havia confundido com cabelos escuros. Minhas bochechas queimaram com a minha vergonha — Oh, me desculpe! Eu pensei que era outra pessoa. — o senhor me olhou de forma estranha, como se tentasse me reconhecer. Eu dei um passo para trás quando ele fez menção de vir em minha direção.

— Eleanor? — perguntou ele

— Ahn, não. Me desculpe, senhor. Eu o confundi com um... amigo meu.

— Eleanor! — ele se aproximou de mim e me segurou nos braços. Meu corpo gelou, e eu não encontrava minha voz para gritar socorro. — Por onde você andou? Eu estive esperando por tanto tempo!

— Me solte! — pedi em um fio de voz — Eu não sou Eleanor, meu nome é...

— Frank! — uma garota alta de cabelos loiros e ondulados apareceu ao meu lado, tentando tirar as mãos do velho homem de mim — Frank, olhe para mim! — o tal Frank continuava me olhando daquele mesmo jeito. Os olhos vidrados em mim — Frank! — a garota falou mais alto. Frank olhou para ela. — Não é ela. Ela é apenas uma garota. Solte-a. — Frank olhou de volta para mim, suas sobrancelhas se uniram, e seus olhos se encheram de lágrimas. Ele me soltou, baixou a cabeça e voltou-se para o mar novamente. — Me desculpe. — disse a garota constrangida. — Meu avô... ele está bastante doente. Não consegue mais separar a realidade de suas lembranças.

Ainda com a respiração cortada, e com certo pânico dentro de mim, procurei lhe dizer alguma coisa. Mas não consegui. Ao invés disso, perguntei:

— Quem é Eleanor?

— É uma velha paixão dele. Ela já se foi há muitos anos, ou talvez nem tenha realmente existido. — ela rolou os olhos — Perdoe-o, ele é apenas um pobre velho.

— Está tudo bem. — suspirei — Obrigada pela ajuda.

— Eu sempre tento ficar por perto, para o caso de algum ataque dele. — ela riu, sem graça — A propósito, eu sou Sarah Baker. — me estendeu a mão

— Nathalie Prescott. — a cumprimentei.

— É nova aqui, não é?

— Sim, ahn... — meu celular começou a tocar. O retirei do bolso. — Ahn, me desculpe. É meu amigo, ele deve estar preocupado com o meu... comigo.

— Ah, ok. Foi um prazer, Nathalie. — ela sorriu, mostrando dentes perfeitos. Notei que ela era muito bonito. Mas talvez sob aquela luz ruim até eu parecesse uma modelo da Victoria Secrets.

— Até mais, Sarah. — lhe dei um sorriso sem graça, e saí de perto, para atender Lucas. — Ei.

Ei! Você se perdeu ou o que? — gritou ele do outro lado, acima da música.

— Mais ou menos. Eu já estou voltando.

Ok. — e desligou.

Olhei ao redor para ver se Ben estava por ali, mas não havia sinal dele. Apenas Sarah, a garota com o avô problemático, me olhando do píer. Eu corei, e me virei para frente, seguindo meu caminho.

— Ei, o que aconteceu? — perguntou Luke, assim que retornei ao show.

— Fui em outra direção, acabei me topando com um velho que me confundiu com uma antiga paixão, e fui salva pela neta dele. — Luke gargalhou.

— Nessa confusão toda, você foi encontrar logo o velho Frank? — gargalhou de novo

— Eu sou distraída e esquecida, lembra? Fui completamente na direção contraria do banheiro. — Luke ainda gargalhava. Não me senti bem em mentir para ele. Aliás, eu não me sentia bem em mentir seja para quem fosse, mas Luke não iria gostar se eu dissesse que eu tinha ido me encontrar com Ben, que mais uma vez havia me dado o cano. Voltamos nossas atenções ao show dos garotos.

Depois do show, eu e Luke fomos comer alguma coisa na praça. No meio do lanche, ele atendeu a uma ligação de Chelsea, e ficou melosamente falando com ela. Acho que Luke se sentiu incomodado de estar falando coisas íntimas na minha frente, e se levantou, afastando-se um pouco da mesa. Ficar sozinha não era uma coisa muito boa. Não quando eu tinha pensamentos raivosos sobre Ben. Eu tentava entender o porquê ele fazia aquilo. Me procurar, tratar-me como algo de suma importância, e depois simplesmente sumir. Qual era o sentido em fazer aquilo?

Lucas voltou para a mesa. Eu estava tão mergulhada nesses pensamentos que nem percebi que não era ele quem estava sentado ali.

— Este é o motivo de velhos te atacarem em píeres. — olhei assustada para cima, tanto pela frase, quanto pelo sotaque britânico. Abri um sorriso envergonhado para Sarah.

— Minha culpa. Sou completamente distraída. — nós rimos

— Então, Lucas te abandonou para falar com Chelsea? — ela deu um sorriso irônico.

— Conhece Lucas? — depois que fiz a pergunta, e depois do olhar óbvio que ela me deu, percebi que esse tipo de questionamento não se adequava a cidades pequenas. — É claro que o conhece. — disse, querendo enfiar minha cabeça debaixo da terra. Sarah apenas sorriu.

— Com o tempo você se acostuma que ninguém é um desconhecido aqui. E também vai se acostumar com isso... — acenou para Lucas — Ele já fez muito isso comigo. — eu ri.

— Bem, eu não o culpo. Se eu tivesse um namorado provavelmente faria a mesma coisa. — mas que comentário mais... estúpido!

— E você não tem? — perguntou ela, parecendo incrédula. Por um momento pensei que iria me passar uma daquelas cantadas "oh, não minta, é lógico que você já namorou! Uma garota tão linda, bla bla bla"

— Se eu tivesse um, eu estaria aqui com Lucas? — rebati. Sarah fez uma careta.

— É. Está certa. Eu digo o mesmo. — ela estreitou os olhos — Digo, não a parte que eu estou aqui com Lucas, porque você está... Ah, você me entendeu. — nós rimos. Deus, o sorriso dela era mesmo muito bonito. Mas cada vez que eu a olhava lembrava que o Manfrey havia me dado o cano novamente. Suspirei ao pensar nisso, e desviei meus olhos para a parte escura entre as árvores, tentando tolamente encontrá-lo lá. — Se é você quem deve procurar... — voltei meu olhar para Sarah, que mexia em seu copo — então ele não vale a pena. — me olhou por baixo dos cílios longos e aloirados. Uni minhas sobrancelhas, e fiquei séria.

— Talvez esteja certa. — ela ergueu uma sobrancelha — Talvez não. — deu um riso curto e irônico. Lucas se aproximou. Aproveitei para dar mais uma olhada nas árvores.

— Ei, Baker! — Sarah se levantou, e os dois se abraçaram. — Faz um tempo que não te vejo, cara!

— Tive de ir a Londres com Frank. Ele não passou muito bem nesses últimos dias.

— Como ele está? — perguntou Luke preocupado

— Ele está bem agora. Digo... — ela me olhou sem jeito — deu uma pirada hoje de novo.

— É, eu fiquei sabendo. — os dois suspiraram — Mande um abraço a ele, ok? Diga que quando minha mãe tiver um final de semana livre, eu, ela e Chelsea iremos lá, visitá-lo.

— Valeu, cara! — os dois bateram as mãos de novo — Eu vou indo. A gente se vê. — me olhou com um sorriso — Até mais, Nathalie. — acenei discretamente para ela.

— Legal ela, uh? — disse Lucas. Ergui minhas sobrancelhas.

— É. — concordei.

— Ahn, Verônica pediu para você ligar para ela.

— Ah, ok. Vou ligar quando chegar em casa. Como está Chelsea?

— Bem. — ele sorriu. Terminamos nosso lanche e Lucas me levou para casa.

Meu bom humor tinha evaporado. Não que eu estivesse mal-humorada, estava apenas desanimada. Talvez tenha sido por Ben não ter aparecido novamente, ou pelo que Sarah havia dito. Sentei-me na poltrona da sala. Ela estava certo. Se isso seria sempre assim, se eu sempre tivesse que esperar Ben aparecer quando bem entendesse, era porque não valia a pena. Mas então porque diabos eu não conseguia tirar ele da minha cabeça?

Afundei meu rosto em minhas mãos. Eu estava completamente perdida. E de repente percebi que estava completamente sozinha também. Sem Ophelia. Sem Verônica. Sem Sandy. Não havia ninguém. Me senti estúpida por estar desse jeito por um garoto que mal conhecia. Mas então eu percebi. Eu não estava daquele jeito por causa de Ben. Eu estava daquele jeito por Ophelia.

Senti um nó em minha garganta, e logo as lágrimas estavam ensopando minhas mãos. Como foi que tudo aquilo aconteceu? Como eu podia ter perdido tanta coisa em tão pouco tempo? Era como se eu estivesse vivendo a vida de outra pessoa. Uma vida miserável. Uma vida vazia. Apesar das lágrimas descendo pelo meu rosto, eu ainda sentia meu coração oco. Uma vastidão preenchida com nada. Comecei a pensar que dali para frente minha vida seria apenas sobreviver. Apenas tentar chegar ao fim do dia com um sorriso no rosto. Tentar não perder o emprego. Tentar não ter que ser obrigada a ir para um internato. Tentar não desmoronar.

Decidi que não ligaria para Verônica, não naquele momento. No outro dia eu estaria melhor e mais disposta a brigar com ela. Agora eu estava muito frágil e eu odiava isso.

Mas não tive escolha. Depois que decidi não ligar, ela me ligou. Tentei não demonstrar nada em minha voz, mas era Ronnie. Ela me conhecia bem demais para não perceber que eu não estava bem.

O que aconteceu? — perguntou assim que ouviu meu alô desanimado.

— Eu estou cansada, só isso. — disse depois de um suspiro.

Hm — disse ela sem acreditar — Chelsea me falou que Lucas lhe contou sobre a entrevista. — Ron nem esperou que eu dissesse nada — Olhe, eu não contei nada sobre nós. Não mencionei nada sobre os assassinatos, as mortes, e tampouco sobre o que aconteceu com Ophelia. Falei apenas das viagens, das coisas legais que nós vimos ao redor do mundo. Eu não seria capaz de fazer algo tão estúpido assim, Nath.

— Mas e porque você fez isso, Ron? Entrevista? Para que? — eu havia me visto tantas vezes em minha mente gritando essas perguntas, e agora elas saíram apenas como se eu estivesse implorando por algo.

Chelsea me convenceu que seria uma boa forma para fazer amigos, já que eu era novata. E, você precisa ver Nath, as garotas que me olhavam por cima antes, agora imploram pela minha atenção. — disse Ron, prepotente. Apesar do contexto, eu gostei dessa parte. — Ainda está brava comigo?

— Não. — pude vê-la sorrindo aliviada em minha mente — Eu só fiquei pirada porque pensei que você tivesse contado sobre tudo. Eu iria até aí e surraria você.

Eu sei. Mas eu não seria louca de falar sobre aquilo. Principalmente depois de vovó ter tentando manter isto em segredo por todos esses anos.

— É.

E como estão as coisas aí? Como está o serviço? Já conheceu algum gatinho? Eu não lhe disse que você iria conhecer o namorado da Chelsea? — ela riu.

— Ah, o serviço é legal. É legal morar sozinha, Lucas é muito legal. E não, não conheci nenhum garoto. Não que prestasse, pelo menos.

Nossa, o seu ânimo está me contagiando, Nates. Uh! — zombou. Eu tive que rir.

— Eu estou cansada. A semana foi puxada e hoje teve esse show no porto. Eu só quero deitar e dormir.

Hm. Então tá. Se quiser me ligar amanhã, eu aceito. Desde que você esteja mais animada...

— Ok. Amanhã eu te ligo. Boa noite, Ron.

Boa noite, Nath.

Me joguei para trás, na poltrona, e fiquei ali, decidindo se iria para a cama dormir, ou se ligaria a televisão e passaria a noite toda assistindo. Foi quando ouvi um barulho de alguma coisa sendo derrubada na cozinha.

Minha primeira reação foi ficar imóvel, na mesma posição. Depois me sentei ereta na poltrona, olhando para o hall. Houve outro barulho. Parecia que tinha alguém na cozinha mexendo em alguma coisa. Fiquei em pé, com meu coração batendo a mil por hora. Eu estava morrendo de medo, mas a curiosidade para saber o que era, era maior. Olhei ao redor da sala tentando encontrar alguma coisa que pudesse ferir um suposto invasor. Encontrei apenas minha lixa de unha de metal. Peguei ela.

Quando saí no hall e avistei o corredor e a cozinha escuros, relutei em acender a luz. Isso provavelmente iria alertá-lo — quem quer que fosse. Caminhei como se pisasse em ovos, segurando a lixa como se estivesse segurando uma Winchester 12. Tentava manter minha respiração silenciosa. Quando cheguei à porta da cozinha, vi um movimento perto da pia. Meu coração parou por alguns segundos, e minhas pernas só não me levaram ao chão por que me segurei na porta. Lá, na escuridão, avistei apenas dois olhos felinos verdes e brilhantes. Eles não se mexeram, apenas ficaram lá, fixos em mim. Lentamente, ergui minha mão até o interruptor, e acendi a luz. Na mesma hora, o gato pulou e se escondeu em baixo da mesa.

Depois de entender o que tinha acontecido, eu caí em risos. Me dobrei no chão de tanto rir. O gatinho ficou lá, me observando como se eu fosse uma louca. Quando consegui me controlar, tentei fazer com que ele se aproximasse, mas o pobrezinho estava morrendo de medo. Até eu teria da minha gargalhada escandalosa.

Pensei em seduzi-lo com um pedaço de pão, e ele cedeu. Veio até mim, pegou rapidamente a comida, e se esgueirou de volta para debaixo da mesa.

— Não se orgulhe. Não é o primeiro cara que me ignora. — disse com um sarcasmo que feriu apenas a mim. — Ei? Você é um cara, certo? Ou você é uma menina? — eu estava pateticamente jogada no chão tentando conversar com aquele animal. E ele ficava me olhando, tipo "Cale-se, humana estúpida." — Ok, eu não sei como você entrou, garoto, mas vai ter que sair. — fiz cara de "sinto muito", e me levantei abrindo a porta. Nem precisei dizer nada, o gato cruzou como um vulto pela porta. — De nada! Volte sempre. — disse irônica para os fundos da minha casa. Tranquei a porta e decidi limpar a bagunça que eu havia deixado na cozinha, e que o pobre gato tinha se aproveitado.

Depois de terminada a limpeza, subi para descansar e colocar uma roupa mais confortável. Assim que estava com minha calça de moletom surrada, sentei na cama, pensando no que iria fazer. A preguiça me fez deitar, e acabei pegando no sono.

Mas a noite estava perturbada. Acordei várias vezes, sentindo algo estranho no peito. Uma sensação de que algo iria acontecer. Uma angustia. Eu tive um pequeno pesadelo. Desta vez sem envolver Ophelia e aquela casa que eu não conhecia.

Era apenas uma floresta cinzenta e molhada. Eu podia literalmente sentir a grama molhada em meus pés. Estava frio, o ar úmido, sem neve. Eu procurava por algo, desesperadamente. Até que encontrei alguém de branco, ao longe, deitado na grama. Me aproximei um pouco mais e o reconheci. Era Ben, e ele estava ensanguentado. Corri até ele e me ajoelhei ao seu lado. Vi um movimento entre as árvores, e tive a impressão de ter visto alguém de cabelos loiros lá. Eu tentava encontrar os ferimentos em Ben, mas não havia nada. Ele apenas sangrava muito, e mal conseguia falar. Seus dedos apertaram meu braço e ele me olhou agonizando de dor.

"Me ajude!" balbuciou ele, fraco.

Eu acordei assustada com um barulho no andar de baixo. Meu coração estava disparado, tanto pelo pesadelo quanto por ter acordado no susto. Mas eu já sabia o que era. Vesti um casaco grosso, calcei minhas pantufas, e desci, acendendo as luzes para alertar o gato de que eu estava me aproximando. E também por medo de caminhar no escuro.

Quando cheguei ao corredor no andar de baixo, avistei a porta da cozinha, que dava para os fundos de casa, escancarada. O vento era feroz. Eu não havia trancado a porta? Como aquele gato pôde abrir e entrar?

— Ele é algum tipo de ninja? — resmunguei para mim mesma abraçando meu corpo. Acendi a luz da cozinha e olhei em baixo da mesa, a procura do gato. Foi quando meu corpo inteiro gelou. Desta vez de pânico, e não pelo frio.

Por baixo da mesa, avistei dois pés, meio entrelaçados, calçando botinas marrons, parecidas com as minhas só que masculinas. Eu já tinha visto aquelas botinas em algum lugar. Tentei ver algo mais por entre as pernas das cadeiras altas. Um som esquisito vinha daquela direção. Como algo borbulhando, não sei. Ainda em pânico, arrisquei me arrastar um pouco mais para o lado da mesa, para poder avistar melhor o que tinha lá.

Quando meus olhos focaram o corpo ensanguentado de Ben, meu corpo levou um choque e eu me lancei para trás chocando-me contra o balcão que havia ali, levando as mãos à boca, sufocando meu grito. Desesperada, me lancei sobre ele, tentando achar os ferimentos. Por que eu tinha aquela sensação de déjà vu?

Ben ergueu os olhos para mim, eles estavam mais azuis do que o habitual. Seus lábios se mexeram, mas ele não conseguiu dizer nada, apenas tocou em meu braço e apagou.








Olá! Se você leu até aqui eu sou muito, muito grata! De verdade! E gostaria muito de saber o que você está achando da história, então se puder comentar, votar, xingar ou amar eu vou ser eterna e infinitamente grata! Um beijo da Nalu

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top