Meu padastro me acordou e eram ainda muito cedo, saí correndo em direção ao quarto da minha mãe e notei que eu estava certa, minha mãe estava em um estado em que não conseguia falar, não conseguia ter controle de e eu corpo e suas ações. Era como se estivesse desmaiada/acordada, ligamos pra emergência e esperamos a ambulância chegar, quando o médico a atendeu ela ja estava bem, e ele não podia dar um veredito se não podia ver os sintomas, nada era certeiro.
De início ficou somente entre a gente, meu irmão Artur, meu padrasto Ed e minha cunhada Ellen. Marcamos então uma consulta com um naturalista, todos indicavam esse médico dizendo ser muito bom e tal. Então veio o veredito, minha mãe tinha tido um AVC ou derrame cerebral, uma veia de sua cabeça tinha estourado e sua cabeça estava manchada. Somente a morte a livrará do sofrimento, é o que dizem pra gente.
Queria poder encontrar o Tommy esse final de semana, precisa de um ombro amigo, um abraço de urso.
Então liguei pra minha sogra pra que pudesse falar com ele. (Da pra notar o sacrifício? Eu quase morri depois disso)

***

Dany Sogra: Alô?

-Âhn Oi, Dany! É a Manu, como você
tá?

Dany Sogra: Oi minha linda, estou bem! Essa semana foi tão corrida, mas estou viva graças a Deus. Tá tudo bem?

-Que bom que está bem, estou bem sim só queria saber se o Tommy está aí?

Dany Sogra: Sim, vou chama-lo. Aliás quando você vai vim jantar conosco?

-Qualquer dia eu apareço aí.
(na verdade eu nunca fui jantar lá pq meu namorado nunca me chamou e eu não sou de aparecer de surpresa, a única vez que comi la foi quando fui conhece-los)

Dany Sogra: Oi amor, é o Tommy!

-Oi, estou um pouco triste e cansada, pode passar por aqui mais tarde?

Dany Sogra: Poxa amor, sinto muito mas eu marquei uma compromisso super importante que não posso cancelar, ja tem um tempinho que tento marcar essa reunião. É daqui a pouco e estou muito ansido, vai ser perto da sua casa, não muito só uns 25 minutos. Mas quando sair eu passo aí. Pode ser?

-Tudo bem então!  Tchau.

Dany Sogra: Tchau!

****

Se eu estivesse ao lado dele poderia jurar que ele tinha tomado uma postura defensiva, a voz dele mudou e ele acrescentou detalhes desnecessários só pra parecer mais Real.

Peguei um livro na minha estante e comecei a folhear como se estivesse lendo, mas minha mente estava flutuando, eu comecei a imaginar cenas de filme comigo e Tommy, aqueles romances idiotas e previsíveis. Tipo de colegial. Sabia que isso não é possível, o Real não se mistura com a ilusão. Minha amiga Claire diria que é falta de macho haha! Quando percebi o livro tinha acabado e eu não fazia ideia do que tinha lido, quando tentava lembrar, os personagens se misturavam com a minha realidade.

Tomei um banho e sentei no sofá enquanto ouvia minha mãe e as amigas conversando. Ela não pode fazer nada sozinha, nem mesmo usar o banheiro ou tomar banho. Estava tão desatenta que nem percebi quando Tommy passou pela porta.

Tommy: Oi, vem comigo.

-Sério? Acho que o chão vai ceder se eu levantar daqui.

Tommy: Ta Bom então, fica sem a surpresa!

Levantei com um pulo.

Rimos enquanto ele seguia em direção ao meu quarto. Ele sentou na cama e sinalizou para que eu fizesse o mesmo. Assim eu fiz.

Tommy: Sabe meu bem, você sempre fala que quer conhecer o mundo, viajar e ter novas experiências que eu entrei em contato com a empresa de Turismo. Eles demoraram duas semanas pra entrar em contato e maracaram pra hoje.

Ele respirou e eu tomei a palavra.

-Ah meu Deus! Vamos fazer um intercâmbio?!

Ele estava sorrindo e então parou de rir.

Tommy: Na verdade, eu só consegui uma vaga. E é pra daqui a duas semanas. Lembra que é minha prova do vestibular? Estudei muito e não posso perder.

- Claro, eu entendo. Eu também não vou poder ir, daqui a duas semanas? Minha mãe tá muito doente. Sinto muito que tenha se esforçado tanto.

Tommy: Mas você pode passar só o fim de semana, seu irmão da conta!

- Eu não vou!

Abracei ele e beijei seus lábios delicadamente.

-Muito obrigada por isso.

Nos beijamos e ele me abraçou, enquanto voltávamos pra sala ele me enchia de cheirinhos pelo rosto e pescoço.

Tommy: Esse perfume é maravilhoso. Nossa!

Chegando na sala ficamos conversando e quando foi umas 9:47 ele disse que ja precisava ir.

-Fica só mais 13 minutinhos, estava com saudades.

Tommy: Ta bem, me empresta seu celular?

-Claro.

Entreguei meu celular pra ele e deitei em um colchão que estava abaixo do sofá, onde meu irmão estava deitado mais cedo. Encostei a cabeça no colo dele esperando que ele fizesse um cafuné, mas ele simplesmente estava jogando no meu celular. Passaram 12 minutos e ele levantou, me deu um beijinho e foi embora. E eu fiquei ali, sentindo-me vazia como nunca antes.

-Mãe já estou indo dormir, precisa de ajuda?

Mãe: Já vai dormir? Assim tão cedo? A doente aqui sou Eu!

Rumos, e eu dei um beijo nela e fui pra o quarto, meu padrasto não havia chegado ainda,  mas já devia estar chegando, além disso não sei conversar com as amigas da minha mãe, não sei falar sobre como a vizinha "deixa a calçada molhada e com sabão, e não enxágue." "Isso é um crime contra a natureza." Ah sim é um crime,  contra minha pobre alma.

Fiz uma oração e me deitei esperando que a vida fosse mais colorida no dia seguinte. Desejei me sentir completa, e eu tinha quase tudo, como podia me sentir tão sozinha se estava rodeada de pessoas que se importavam comigo, Ou fingem que se importa?! Ahhhhh maldita crise existencial da adolescência,  me sinto velha uns 30 anos! Preciso de um dia pra mim.

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