4 Capítulo
Acordo com a luz batendo no meu rosto, não me lembro de deixar a cortina aberta, mas visto está na hora de me levantar, sinto algo macio passando pelos meus pés, e é Black, parecendo sonhando, mais um pesadelo na verdade, passo a mão pelo pequeno corpo dele, e falando baixinho que vai ficar tudo bem.
Ele acorda de sobressalto e olha para mim assustado já se afastando dos meus carinhos.
Vejo-o estremecer e descer da cama.
Tomo um banho rápido, deixando a agua quente amolecer meus ombros tensos, bom que o banheiro é no meu quarto, não sei o que faço hoje, nem sei se ela é normal, ou se a Orchid existe, eu não posso ficar presa em casa, mas talvez possa conhecer o lugar onde moro, as ruas, talvez tenha algo que me interesse.
Acabo vestindo um short jeans e uma regata preta, deixo meus cabelos presos em um rabo de cavalo, pois está muito calor, e decido passear pela cidade, livrar minha mente de tanta loucura, preciso ficar calma agora, talvez passando por novos lugares minha mente se lembre de algo, mas me surpreendo ao ver que o rumo onde meus pés estão indo é exatamente onde não quero estar. Paro de frente ao portão do Lar das rosas, estou em um dilema, entro ou não entro, meu coração diz para entrar, enquanto minha mente grita não a essa vontade, mas meu coração fala mais alto e decido me encontrar com Orchid.
Entro no jardim toda pressão de indecisões se esvai e decido sentar embaixo de uma arvore, fico aguardando Orchid até que ela aparece e senta ao meu lado.
- Achei que não viria! - Disse ela sorrindo.
- Não iria mesmo! – vejo o semblante dela se entristecer um pouco.
- Então, onde paramos?
Ela encosta as costas na arvore se aproximando mais de mim, de alguma maneira bem estranha e precipitada estou acostumando com a presença dela, é como se já a conhecesse antes, toda a tensão, confusão que eu sentia ou as vez sinto some quando estou com ela. Ela tão viva e animada, é carinhosa e seus olhos demonstram uma bondade enorme, sinto que estamos ligadas de alguma maneira só não sei como. Percebo que estou observando suas características.
De olhos fechados ela continua.
- Eu e Elle somos irmãs como você percebeu na noite passada, quando pequenas, éramos inseparáveis, uma protegia a outra – Diz ela dando um grande suspiro e aproximando os joelhos do peito abraçando-os com os braços.
- Eu não sei o que aconteceu, quando chegamos à juventude, Elle começou a ficar distante, egoísta, tratava os empregados com intolerância... Ninguém a suportava! Nem Mesmo eu. – isso foi dito como um sussurro.
Eu me aproximei dela e coloquei a mão em seu joelho. Não sei por que fiz isso, talvez para conforta-la. Logico que essa historia era absurda demais de acreditar.
Ela se espreguiçou e esticou as pernas.
- Eu vi tudo Clara! A forma como ela manipulava as pessoas! Eu comecei a me afastar ao ponto de me esconder dela toda vez que entrava no mesmo aposento que eu. Mas no dia que ela matou nosso pai, eu vi o ódio em seu olhar, o egoísmo, a fome de poder, e ela também me viu.
Ela olhou para mim, possivelmente para ver se eu estava acompanhando.
- Então eu fugi não o bastante, ela jogou uma...
Fomos interrompidos por um barulho atrás de nós.
Levantamos apressadas, e quando olhamos para trás era Simon!
- Simon! – Ela disse sorrindo.
- Olá Orchid! Senti saudades suas! - Ele disse sorrindo e dando um abraço nela.
- O que estavam conversando??? – Ele perguntou erguendo a sobrancelha.
- Falando sobre a vida Simon! Havia muito tempo que não conversava com ninguém! – Ela disse sorrindo olhando para mim, mas não deixei de perceber o nervosismo em sua fala.
- Sei... Posso me juntar a vocês? Hoje estou meio atoa, e Lara já está dormindo. Resolvi passar aqui para tirar minhas duvidas.
- Duvidas de que? – Eu perguntei curiosa.
- Se você viria hoje, Orchid não é de se ver muito, então aproveitei que ela está conversando com você e vim vê-la. – Ele disse deitando ao meu lado de olhos fechados.
- Não quero falar sobre isso Orchid! Não ainda! – disse ele abrindo os olhos e olhando para ela.
Ela acenou com a cabeça e deitou-se no chão também.
- O que você não quer falar Simon?! – Perguntei me virando para ele.
- Nada, só não é o momento! – Disse ele com o sorriso tristonho.
Por algum motivo não rendi a conversa e me deitei no chão também.
- Quero te mostrar uma coisa Clara!
Quando Orchid me disse isso, fechei meus olhos automaticamente como se meu corpo já soubesse o que fazer. Quando abri os olhos estava no jardim, mas era noite, Orchid e Simon estavam me olhando, como se esperasse que eu acordasse, esfreguei meus olhos e me deparei com a coisa mais linda de todas, era como se o Jardim tivesse ganhado vida, as folhas estavam mais verdes, as flores foram tomando vida em suas cores, havia muitos vagalumes e por isso iluminava todo o lugar.
- Como... – eu não tinha palavras, a luz ilumina tudo e pelo fato de estar de noite à beleza era mais acentuada.
- Levanta-se! Quero mostrar o lugar em que eu moro! – Disse Orchid animada, mas podia sentir um toque de tristeza em sua voz.
Simon me ajudou a levantar, percebi que as roupas de Orchid eram iluminadas, e isso me chamou atenção, seu cabelo se destacava entre as rosas e por onde nos passávamos, seus olhos tinham ganhado uma tonalidade de branco, mas não ao ponto de assustar, pois havia um brilho diferente no meio.
Eu achei que Simon iria mudar alguma coisa, mas continuava o mesmo. Acho que eu estava querendo demais. Como se ele lesse meus pensamentos olhou para mim enquanto andávamos e balançou os ombros.
Nós andamos em todos os lugares, até eu perceber a rosa, ela tinha ganhado vida, sua cor continuava branca, mas dava pra perceber o leve mover de suas pétalas ao tocar do vento.
- Como isso é possível! – perguntei me aproximando e tocando a rosa de leve, ela parecia veludo em meus dedos. Ao meu lado vi Orchid estremecer levemente e seus olhos estavam arregalados.
- É minha maldição! – Ela disse se sentando perto da rosa.
- Como assim? Maldição? – meus olhos estavam curiosos, mas preocupados, gostava dela e mesmo não acreditando em maldição não queria que nada de ruim acontecesse.
Senti meu peito se apertando até eu ficar ofegante, fui me abaixando até sentir minhas mãos tocarem o chão e comecei a ter fleches de visão, se Orchid correndo e se escondendo, parecia procurar alguma saída, e carregava algo nos braços, parecia um cordão.
Senti alguém me sacudindo, era Simon, seu olhar estava preocupado.
- Como maldição?! – perguntei quase gritando.
Ela se aproximou de mim, abaixando até chegar ao nível dos meus olhos, sua voz era triste quando me disse:
- A rosa é minha vida, toda vez que uma pétala cai, e um tempo de vida que eu tenho a menos. – olhou para a rosa e quando olhou para o chão sua voz era quase um sussurro. – a primeira pétala caiu assim que você chegou aqui.
- Mas como isso é possível! – eu disse me levantando.
- Eu não sei Clara, nem sei de quanto em quanto tempo às pétalas cai! – ela disse chorando, então eu a abracei e deixei-a desabafar.
- Nós vamos dar um jeito! – para falar a verdade, nem sei de onde essa frase veio, achei que fosse a coisa certa a fazer, mas quando vi um lampejo de esperança nos olhos dela, pensei que deveria ficar calada.
- Quem jogou essa maldição em você?! – Perguntei me afastando e olhando para rosa, então esse era o mistério que ela escondia.
A resposta demorou a vim, então me virei para os dois, e ambos estavam olhando um para o outro como se tivessem uma conversa silenciosa.
- Clara! Precisamos ir! – diz Simon um pouco receoso.
- Não! Agora que quero saber! O que aconteceu com você Orchid, por que vocês vivem me ocultando as coisas! Já que meu pé tá na merda, vou afundar o corpo inteiro agora – a raiva me subia, estava cansada, eles me ocultavam as coisas demais.
De repente minha visão ficou turva, olhei para ambos, e vi olhares assustados, senti algo tomando conta de mim, e quando vi, tinha sombra ao meu redor da cor vinho escuro por todo o jardim, desmaiei.
Acordei no sobressalto, e estava de dia, Simon e Orchid estavam sentados, os dois me olharam e vi terror neles, ou até mesmo admiração.
- Então não foi um sonho?
- Não! – Disse Orchid. – Mas ainda não é momento de te contar.
- Vocês acham que eu sou criança, que não suporto as coisas, eu não sei quem eu sou, nem de onde vim, e vocês me ocultam talvez a parte que mais me ajude a descobrir quem eu sou.
Sinto lágrimas nos meus olhos, Simon me olha horrorizado enquanto Orchid Sumiu.
Saio correndo do Jardim, paro na rua com dificuldade de respirar.
- Me desculpe não percebi que você não se lembrava de nada. – sua voz e baixa e transparece sinceridade.
Eu olho para ele, e minha raiva se esvai, não consigo ficar com raiva de Simon, enquanto suas bochechas coram e seus olhos se suavizam.
- Ok Simon! Vamos embora!
Nós caminhamos calmamente, meu estresse se foi, mas sinto a inquietude de Simon por isso digo.
- Desembucha! – falo com olhar fixo nele, vejo que suas mãos estão agitadas e ele literalmente não sabe como começar.
- Então... Você não se lembra de nada mesmo?! – suas sobrancelhas se levantam levemente e vejo que sua voz está cuidadosa em me perguntar.
- Sim Simon, não me lembro! Acho que você poderia me dizer pelo menos um pouco o que sabe de mim! – minha voz sai um pouco sarcástica, mais do que deveria.
Ele deixa escapulir o ar que estava prendendo.
- Sei que seu nome é Clara. – ele para se sorrir ao ver meu olhar de irritação.
- Como fui parar na sua casa? - jogo meus braços ao ar um pouco frustrada por não conhecer muito sobre ele. - Ou sei lá quem é dono!
Ele fica um pouco pensativo talvez calculando o que vai me responder.
- Seu pai é dono daquela casa!
Eu me surpreendo com sua sinceridade. Paro um pouco de andar, meus olhos estão arregalados. Nem sei por onde começar, ou o que perguntar.
- Qual nome dele?
Ele sorri.
- Achei que ia fazer uma pergunta mais difícil! O nome é Owen.
- Owen?! Serio? – eu disse voltando o meu olhar de ironia provavelmente para ele.
Parecia que Simon queria me dizer mais coisas, porém mudou a conversa.
- Sim, Owen! – Disse ele, mas pela tonalidade da sua voz parecia que queria acreditar nisso também.
- Então qual meu sobrenome? – perguntei curiosa.
Ele ficou em silencio um instante.
- Owen! – Disse me observando para ver minha reação.
- Então o nome o meu pai é Owen Owen! – falei isso sarcasticamente.
- Não, esse é o sobrenome do seu pai, o primeiro nome eu não sei. – Disse ele observando minha reação.
- Então você...
- Ele é citado pelo sobrenome! – Diz ele atropelando minhas palavras.
- E como descobriu que ele é meu pai? – agora eu o peguei se for amigo ou talvez até sobrinho, ele provavelmente deve conhecer meu pai.
- Ele pediu para que eu a protegesse, mas é somente isso, não temos parentesco nem nada.
Então me veio à mente, onde meu pai está!
- Não sei onde ele está, dá ultima vez que o vi, você estava inconsciente nos braços dele, e depois disso não sei mais!
Senti meus olhos ficando marejados, e um sentimento de tristeza afundou meu peito, será que ele está bem? Ou vivo? Ou porque me deixou? As lagrimas começaram a rolar pelo meu rosto, só sei que me abaixei e Simon me abraçou com seus pequenos bracinhos.
- Ele está bem Clara! Seu pai aparenta ser muito forte!
Como eu posso ter sentimento por um homem que eu nem me lembro?!
- Ele se parece com você! – escutei a voz de Simon como um sussurro e parecia que ele sabia o que eu pensava.
Isso me fez se soltar dele e olha-lo nos olhos, parecia que dizia a verdade.
- Você é mais forte do que pensa! – Ele disse, mas o sorriso não chegou aos olhos.
Levou-me até em casa.
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