...Noventa e oito carneirinhos,

Noventa e nove carneirinhos,

Cem carneirinhos!

Afinal, quantos carneirinhos são necessários contar para que o sono finalmente chegue?

Não sei, mas esse negócio definitivamente já me enjoou e não adiantou em nada.

É apenas a minha segunda noite no palácio, mas parece que a insônia já resolveu me fazer uma visitinha indesejada. Lembro que a minha mãe me disse que tomar leite ajuda nesses casos, será que é verdade? Bom, também não sei, mas é minha única alternativa.

Levanto e procuro o meu roupão, não me lembro aonde eu o deixei. Acendo a luz e não o encontro, só pode estar no closet. Mas vai ser meio difícil  encontra-lo entre todas aquelas roupas.

Decido ir só de camisola mesmo, afinal todos já devem estar dormindo à uma hora dessas.

Faço um coque desarrumado no meu cabelo e abro a porta.

Desço com cuidado os degraus da escada, o palácio está em um completo silêncio, mas mesmo assim olho freneticamente para todos os lados. Não quero correr o risco de alguém me ver usando apenas uma camisola de alcinhas roxa de seda.

Depois de muita dificuldade, chego na cozinha e encho um copo de leite gelado, pego um guardanapo e volto tentando me lembrar do percurso que fiz até aqui, mas o palácio é tão grande que me perco mais uma ou duas vezes até finalmente encontrar a escada correta que me levará de volta até o meu quarto. Teria subido rapidamente se não fosse por um barulho que me fez assustar e bater o meu dedinho no degrau.

- Ai!- grito abafado, e me abaixo para massagear meu pé.

- Julie, o que está fazendo?- ele fala e ouço a risadinha inconfundível de Matthew.

Me levanto e me viro bruscamente.

- Ah é você- aproveito a má iluminação e reviro os olhos- Nada, só estava sem sono e decidi pegar um copo de leite- digo levantando o copo e bebericando o leite.

Matthew se aproxima e sinto um cheiro de perfume preenchendo o lugar e só então percebo que ele está todo arrumado.

- Você acabou de chegar?

- Sim- Matthew sorri de canto- eu estava dando uma volta com uma pessoa.

Então ele fica me encarando e eu desvio o olhar desconfortável.

- Sua namorada?

Eu realmente não sei porque perguntei isso e eu não me importo em saber a resposta, só queria que ele parasse de me olhar daquele jeito, como se estivesse tentando me seduzir.

O príncipe apenas dá outra das suas risadinhas e fala:

- Não, eu não me prendo a ninguém. Digamos que eu gosto muito da minha liberdade.

- E parece gostar muito de aventuras também.

O quê?! Por quê eu falei isso?  Grito mentalmente.

- Tenho que aproveitar a minha juventude e o tempo que eu tenho disponível antes de me tornar um rei- ele fala e ri.

Eu apenas dou mais um gole no meu leite e me viro um pouco pronta para subir a escada.

- Bom, foi ótimo poder conversar com você, mas agora eu vou subir para o meu quarto, o leite já está fazendo efeito- falo e abro a boca fingindo um bocejo.

- Não, espere- enfia a mão no bolso da calça, puxa uma caixinha aveludada preta e a abre- isso vai combinar perfeitamente com você- diz, alternando o olhar entre mim e a caixinha aberta.

Então a vira para que eu possa ver.

Um anel cheio de pedrinhas preciosas de cores variadas está ali.

- Bem, eu ia dar este anel à moça com quem eu estava, mas digamos que ela não o merecia- e sorri maliciosamente.

- Matthew, o que você está querendo dizer?- falo.

- O que eu estou querendo dizer minha bela Julie, é que podemos aproveitar a noite- ele se aproxima de mim, me encurralando no corrimão da escada- que tal irmos até o meu quarto?

- O quê? Não Matthew, se afaste por favor!- coloco uma mão em seu peito o empurrando, mas ele nem sequer se move.

Então pega a minha mão e beija meus dedos.

- Calma Julie, não recuse ainda, deixe-me coloca-lo em seu dedo, aí depois você me dirá o que achou. Eu sei que este anel vai combinar perfeitamente com a sua beleza!- fala, como se a qualquer momento fosse me agarrar.

- Você está querendo me comprar com um anel? É isso?- pergunto exasperada.

- Digamos que comprar não é a palavra certa- ele sorri- Vamos! Aceite. Eu vejo em seus olhos que você quer.

Esse príncipe só pode estar brincando... ou deve estar enlouquecendo.

- Não! Eu não quero. E se afaste de mim agora! Eu exijo.

- Você não pode exigir nada- e morde o lábio inferior.

Percebo que a pupila de seus olhos azuis estão dilatadas e cheias de desejo. Sinto uma mão tocar as minhas costas e me puxar, agora meu corpo está completamente colado ao de Matthew.

Fico sem reação, meu cérebro parece que não está conseguindo processar o que está acontecendo, tenho que fechar os olhos por um momento para conseguir me estabilizar.

- Prometo que será a melhor noite de sua vida- ouço a voz de Matthew em meus ouvidos, tentando parecer sedutor.

- Eu não quero nada com você- digo, com os dentes cerrados- Se não me soltar eu vou gritar!

Ele ri baixinho e começa a depositar pequenos beijos em minha orelha descendo até o meu pescoço.

Ele está achando essa situação engraçada? Por acaso ele acha que estou fazendo algum tipo de charminho?

Começo a puxar o seu cabelo, em uma tentativa frustrada de afastar sua cabeça. Cada toque de seus lábios em minha pele me faz querer vomitar.

Não é possível que isso esteja acontecendo...

De repente ele para e me olha.

- Julie, não se faça de difícil, eu já  conheço as mulheres e os seus joguinhos. Se não gostou do anel posso te dar outra coisa; é só escolher. Você apenas terá que me satisfazer essa noite- fala e segura meu queixo.

Sua boca está se aproximando da minha, sem pensar duas vezes dou uma joelhada no meio das suas pernas e jogo o leite que ainda restava no meu copo, em seu rosto.

Ele se afasta, abaixando no chão e gemendo de dor.

O leite começa a pingar de seu rosto, molhando sua camisa e o obrigando a ficar de olhos fechados.

Depois de alguns segundos me recuperando, me aproximo dele.

- Eu disse para você se afastar! E se ainda não compreendeu, eu vou repetir: não quero nada com você. E não é porque você é um principezinho que pode sair por aí tratando as pessoas do jeito que você quer e eu já deixo claro, que não sou teu objeto e que eu não permito que se aproxime outra vez de mim!- falo com uma voz firme e saio de lá pisando duro.

Matthew ainda continua no chão gemendo, viro para trás para olhar a cena e não consigo me conter.

- Idiota!- falo e subo as escadas até o meu quarto.

Esse príncipe ultrapassou todos os limites. Como ele pôde ser tão imbecíl?

Meus olhos começam a lacrimejar e eu me jogo na cama enfiando minha cabeça no travesseiro.

Não vou chorar! Eu não vou chorar por isso!

Repito isso várias vezes em minha cabeça, até estar suficientemente calma para poder refletir sobre a situação.

Eu estava certa a respeito de Matthew, desde que o vi pela primeira vez, ele já não havia me passado uma boa impressão.

Mas apesar de estar com raiva, não irei contar nada sobre isso para Adam, pois não quero aborrece-lo.

Sei que depois de hoje Matthew nunca mais ousará chegar perto de mim.

Então é melhor deixar as coisas como estão.

Viro para o lado e começo a pensar em coisas aleatórias para me distrair. E sem nem perceber, adormeço.