QUATRO

Fecho a porta da minha casa, deixando lá todos meus pertences, não levo absolutamente nada, pois não quero ficar remoendo lembranças. Sinto que a partir de hoje uma nova vida começa para mim e para meus pais.

Penso que à essa hora eles já devem estar chegando no Reino de Oryon e eles estavam tão felizes e tão aliviados, que só então percebi ter feito a escolha certa.

Eu precisava ajuda-los de alguma forma, e a proposta de Adam foi o único meio que encontrei para isso. É claro que eu me senti muito mal por ter mentido a eles, mas as vezes fazer algo de que não gostamos se torna necessário se isso puder nos trazer um bem maior no futuro.

Começo a subir a ladeira.

E quando me dou conta já cheguei a Central, então vou direto aos portões e encontro um guarda à minha espera. Ele me conduz até uma carruagem e abre a porta para que eu entre, fechando-a logo em seguida.

Um vestido maravilhoso na cor lilás está em cima do banco, passo levemente os meus dedos por ele sentindo o tecido delicado e macio. Lembro-me então das ordens do rei e me troco.

O vestido se encaixa perfeitamente em meu corpo, marcando bem a minha cintura.

Avisto um salto alto preto no chão, tiro a minha sandália e o coloco.

Olho ao redor e vejo que há algumas caixas vermelhas aveludadas. Pego a primeira que está a minha frente, ela tem um tamanho médio e quando eu a  abro encontro uma pulseira de ouro com pequenas pedras preciosas, pego a outra caixa menor e encontro um par de brincos de ouro extremamente lindos, pego a última caixa, ela é a maior e abro revelando um colar encantador.

Fico totalmente admirada, nunca tinha visto tantas jóias em minha vida. Na verdade, nunca tivemos dinheiro para nos dar a este luxo.

Depois que coloco tudo, decido prender o meu cabelo, deixando apenas algumas mechas soltas. Pego o espelho para conferir o resultado e vejo que, o penteado, as jóias, o vestido; tudo isso me faz realmente parecer alguém da nobreza.

A carruagem começa se mexer, isso indica que dentro de pouco tempo já estaremos no palácio, sinto um frio na minha barriga e um nervosismo faz as minhas mãos suarem. Será que acreditarão que eu sou uma condessa? Ou já descobrirão a mentira na hora?

Tento esquecer a preocupação me concentrando no suave balanço da carruagem. Deixo os meus pensamentos me levarem até os meus pais, eles são o motivo de eu estar fazendo isso, é por eles que eu ajudarei Adam a comprovar ou não suas suspeitas contra o rei de Cancordion. É por eles, apenas por eles.

A carruagem para. Isso quer dizer que já estamos no Palácio.

Respiro fundo várias vezes até que ouço a porta se abrir, desço e encontro Adam parado a minha frente.

- Uau, você está linda!- ele fala, um pouco surpreso.

- Obrigada - respondo, sentindo minhas bochechas corarem.

Olho adiante e vejo o palácio enorme e magnífico que nos espera. É algo que eu nunca achei que um dia presenciaria e é surreal pensar que em alguns minutos eu o adentrarei.

Adam percebendo a minha fascinação, estende o braço e me conduz até a entrada principal. Enquanto andamos, ele fala baixinho, para que apenas eu possa ouvi-lo:

- Deixe que eu lhe apresente, fale apenas o necessário, e comporte-se como uma verdadeira nobre.

Noto um certo tom de preocupação em sua voz.

- É claro Adam, farei isso- sorrio e aperto um pouco o seu braço para lhe passar confiança.

Quando chegamos a entrada principal, o rei e a rainha já estão nos esperando com largos sorrisos. Adam vai ao encontro deles, enquanto eu permaneço parada a uma certa distância com um leve sorriso no rosto. Depois de muitos abraços, eles me notam e Adam pega a minha mão me puxando para mais perto.

- Rei Ignatius, rainha Angelique, esta é Julie Bauer, condessa de Airmont, ela é a filha do meu tio já falecido conde de Airmont. E  assim como vocês, eu também não sabia de sua existência, porque o meu tio sempre foi distante, passamos vários anos sem contato, até que em um acaso do destino eu a encontrei e reatamos os nossos laços de família.

O rei me olha de uma forma curiosa e fala:

- É um prazer conhece-la condessa Julie.

Faço uma pequena reverência.

- O prazer é meu, vossa majestade.

- Eu a trouxe porque queria que ela conhecesse a vocês e ao maravilhoso palácio de Cancordion, visto que terei que passar alguns dias aqui por causa da reunião.

A rainha o olha carinhosamente.

- Adam você sabe que sempre será será bem vindo aqui, e o mesmo vale para a sua família- agora ela dirige seu olhar a mim e sorri amigavelmente.

Eu retribuo com um largo sorriso.

A rainha então dá ordens para que os criados levem as malas para dentro.

O rei abraça Adam novamente, como um pai abraça a um filho que não vê a tempos. Percebo que eles são muito próximos. Então como Adam pode nutrir algum tipo de desconfiança contra ele? Isso é algo que eu terei de perguntar, não posso manter essa dúvida.

A rainha amavelmente me envolve em um abraço, e me conduz para dentro do Palácio.

- Você tem uma beleza admirável Julie- ela fala.

Até abro a boca para agradecer, mas fico tão maravilhada com o que vejo que simplesmente esqueço o que ia dizer.

O palácio é impressionante por fora, mas com certeza é ainda mais impressionante por dentro!

Tenho que me conter para não passar as mãos na parede desenhada ou tirar os sapatos para pisar naquele tapete macio.

Tudo aqui é tão grande e tão rico, que em cada lugar que eu olho parece haver quilos de ouro.
Mas aí me lembro de que sou uma "condessa" e me forço a manter um pose desinteressada e distante, como se eu estivesse acostumada com tanta riqueza.

Rio mentalmente ao pensar isso.

Até ontem, riqueza não fazia parte da minha vida, então como posso estar acostumada?

Passamos por vários corredores até que o rei para em frente à uma grande porta e fala:

- Imagino que devam estar com fome, vamos tomar o café da manhã juntos.

Os criados abrem as portas e adentramos um enorme salão com uma grande mesa ao centro, todos se sentam e eu escolho um lugar ao lado da rainha.

- Onde estará Matthew?- ela  pergunta.

Quem será este? Penso.

Nesse momento ouço a porta sendo aberta novamente.

A rainha olha para trás e diz sorrindo:

- Aí está ele! Julie, deixe-me apresenta-lo.

Ela se levanta e eu a acompanho, e só então encaro o jovem parado à minha frente.

Ele tem o mesmo porte fisico de Adam, e acho que quase a mesma altura também. Mas seus cabelos são loiros e lisos arrumados em um topete bagunçado e os seus olhos são de um azul claro profundo. Percebo que há algo neles, talvez uma certa malícia.

- Mãe deixe que eu mesmo me apresente!- ele fala sorrindo e dá um beijo na bochecha da rainha-
meu nome é Matthew Ward, príncipe de Cancordion- ele pega a minha mão e deposita um pequeno beijo na mesma.

Percebo que Adam já se levanta de sua cadeira prontificando-se a me apresentar, mas pego sua frente.

- É um prazer conhece-lo príncipe Matthew, me chamo Julie Bauer e sou a condessa de Airmont. Vim à Cancordion apenas para acompanhar o meu primo Adam.

- É um prazer conhece-la senhorita e se me permite dizer, será ótimo ter a sua bela companhia por esses dias.

- Obrigada- sorrio, meio sem jeito.

- Matt, Matt, estou de olho em você- Adam fala caindo na gargalhada logo em seguida.

- Adam, fica na sua!- Matthew diz sorrindo.

- Bem, vamos todos se sentar, criados por favor!- o rei sinaliza para que tragam a comida.

- Oh sim, estou morrendo de fome- o príncipe fala se sentando à minha frente e ao lado de Adam.

Sinceramente o príncipe Matthew não me passou uma boa impressão, mas tento não pensar nisso agora, afinal eu estou com tanta fome que só vou me concentrar no meu café da manhã.

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