Saudade
Anista estava aproveitando o tempo comigo e Mike, pra aprender mais sobre mecânica. Assim como os irmãos, ela gostava muito de moto, mas era perceptível o interesse em como as coisas funcionavam e não apenas em pilotar. Com ele, ela acompanhou a entrega das carenagens quebradas e ajudava no desmonte.
Os maiores danos da moto foram causados por conta de atrito no solo, então na minha cabeça Felix tinha jogado ela, propositalmente no chão, na esperança de se desvencilhar e evitar que ela o esmagasse. A moto dele pesava mais de 200kg, ele sabia que se ela caísse em cima dele e o arrastasse no asfalto, não sobraria muita coisa.
No geral, no entanto, o que importava mesmo era que toda a falta que o Felix fazia na minha vida, eu supria com a leitura de todos aqueles documentos que encontrei. Era meu combustível. Eu sabia que ler me traria bons frutos, mas não sabia que seria nesse nível. Às vezes eu ia ler esses documentos, enquanto estava no hospital, outras vezes eu lia, enquanto estava em casa, pensando no que faria da vida. Outras vezes eu lia quando tinha tempo, durante a manutenção da moto dele – já que a minha irmã estava muito entretida nesse trabalho.
Inclusive, o primeiro passo pra remontar ela, foi desmontar parte por parte. Mike, Anista e eu ficamos nessa missão de desmontá-la por quase uma semana. Todos os dias depois da escola nós encontrávamos Mike e ficávamos juntos, trabalhando nesse projeto. Mike era um amigo do meu irmão, estudou junto com ele praticamente a escola inteira. Tinha sido o fundador daquela oficina que agora expandiu de tamanho e sempre que eu tinha algum projeto pra minha moto, era ele que me ajudava.
Achava importante ter contato com pessoas que podia confiar e como pra ele o acidente de Jensen era intragável assim como era pra mim, eu sabia que se tivesse algo estranho, ele me contaria.
– Oi... – Yohan surge na oficina e eu escondo minha mochila um pouco mais no fundo do balcão onde ela estava. Ali dentro estavam os documentos que tinha selecionado para ler naquele dia. Depois disso, fico de pé. Ele parecia abatido.
– E ai... – respondo.
– Por que não me disse que estava reconstruindo? Quero ajudar. – ele comenta, com um tom ameno e Anista nos observa.
– Na verdade ainda estamos desmontando. Eu ainda vou conversar com seu pai, pra saber se ele vai querer montar. – minto.
– É muito cansativo?
– Nada, Mike eu já estamos acostumados com isso. Sempre tenho ideias mirabolantes e ele topa me ajudar. – é o que respondo.
– Queria ajudar. – ele insiste.
– É complicado. Mike é meio distante de contato humano, foi difícil convencer ele de deixar a Anista fazer parte disso e ele era meio que o melhor amigo do meu irmão, então... – invento uma desculpa qualquer e ele respira fundo.
– Descobriu alguma coisa sobre o acidente? – nego com a cabeça, olhando ao redor.
– Não, acho que ele perdeu o controle mesmo.
– Como seu irmão?
– É, como meu irmão. – não dou muito assunto. – Bem, agora a gente vai continuar desmontando, tudo bem? Levo atualização pra vocês conforme as coisas forem ajudando.
– O que aconteceu com a gente? Meu irmão tá em uma merda de um hospital e você não consegue se compadecer com a minha dor. Deveria me entender, já que... – me viro subitamente em sua direção, dando um soco no balcão e Yohan dá alguns pequenos passos para trás.
– Você e eu somos pessoas bem diferentes, Yohan. – aponto pra ele. – Não ouse falar dessa forma comigo. E outra coisa, quem me afastou foi você, não sou obrigado a engolir a seco seu descaso e depois abrir os braços pra você. Agora some, eu já disse que a gente conversa quando eu for levar atualizações. – ele me olha como se eu fosse um monstro, mas não caio nessa.
Quando Yohan sai da oficina, eu me apoio no balcão, refletindo sobre o que tinha acabado de acontecer. Não era humanamente possível ele simular aqueles sentimentos, certo? E se era, que tipo de pessoa faz algo assim?
– Meu deus. – ouço Anista dizer.
– Ei, vem aqui.– Mike me chama e eu vou em sua direção.
– Diga.
– Essa moto foi sabotada. – ele comenta, convicto.
– O que?
– Olha aqui os cabos do freio... – ele me mostra e parece que alguém tinha rompido manualmente. – Você sabe, isso aqui é de aço, não é como se um ratinho pequeno pudesse roer e pronto. Além disso, olha esse corte, foi feito com lâmina.
– Meu deus.
– Não foi o pino de fixação ou o esticador, essa moto é nova, esse cabo não ia estar bom em um dia e cortado no outro. E pra piorar, quem rompeu, olha aqui... – ele me mostra. – Rompeu um pedaço apenas, olha aqui... o restante arrebentou, provavelmente quando seu namorado tentou frear. Quem fez, queria que ele morresse, no mínimo. Era pra ele acelerar sem perceber e depois dar cambalhota com a moto na hora que os cabos do freio rompessem, quando ele apertasse o freio.
– Que porra é essa... – coloco as mãos na cabeça.
– Irmãozinho, isso aqui não é trote de ensino médio não. A sorte do seu namorado é que você disse que ele pratica a pilotagem defensiva, se ele corresse igual seu irmão essa moto no mínimo ia dar uma shimada nível chicote. – ele me encara, incrédulo, e eu o encaro de volta. Ficamos dessa forma, conversando pelo olhar de choque por alguns segundos, até eu sentir que minhas mãos começaram a tremer.
– O que? – Anista pergunta e Mike, ao perceber meu nervosismo, chama ela pra perto, explicando o que queria dizer. Ele me olha brevemente e confirma com a cabeça, me autorizando a sair dali.
Acabei saindo da oficina rapidamente, corri até minha moto e fui até o hospital. Infelizmente, chegando lá vejo Yohan com Lúcio, então dou meia volta e vou em casa – já que não daria pra contar a Lúcio a nova descoberta. Comecei a ler os arquivos com rapidez, até ouvir um telefone vibrando. Procurei por algum tempo e quando finalmente encontrei, percebi que era o celular de Felix.
Se tratava de alguém ligando. Não ia atender, por não ser meu celular e não saber o que dizer. Quando a chamada cai, ele não faz reconhecimento facial e ficam os dígitos para senha numérica. Felix era inteligente, ele sabia que estava se metendo em um campo crítico quando o assunto era investigar seu irmão. Sendo assim, que senha ele colocaria que eu conseguiria entender e decifrar, caso algo acontecesse com ele?
Tentei a data que nos conhecemos, errada. Tentei a data que ficamos pela primeira vez, errada. Meu raciocínio estava me matando. O que tínhamos em comum além de tudo que já tínhamos conversado? Era muito difícil encontrar uma linha pra seguir, tendo tantas referências. Gostávamos das mesmas séries, filmes, animações, já tínhamos lido os mesmos livros... ler. Letras. Além de letras, nos conhecemos em uma aula de álgebra.
Tentei duas palavras. Na verdade, tentei os números que representavam essas letras no alfabeto. Sim, tentei "Baile" em referência a senhora Bailey, nossa professora, e Blade, em referência ao Blade Runner que eu já tinha lido e ele estava lendo, ou melhor, 219125 e 212145. Nenhuma das duas senhas deu certo e agora meu número de tentativas era curto.
Nygard. Ele tinha adorado meu sobrenome.
– 142571... – entrou. Não coube o número inteiro que representaria meu nome, claro, mas ele sabia que se eu tentasse, só de ir a metade, já entraria.
Eu também sabia que ele nunca deixaria algo assim em fácil acesso, por isso fui direto nas pastas ocultas do telefone. Elas estavam solicitando senha, então resolvi tentar meu sobrenome ao contrário e deu certo mais uma vez.
Ao abrir as fotos, vi Yohan em uma casa com um cara. Ele tinha barba cumprida, mas não me era estranho. Soltei o celular. Uma dor de cabeça forte começou a me afetar de uma forma que caí da cama, por estar rolando de tanta dor.
– Não quero você perto do Bill, ouviu? – Jensen me intimida, após ter ido assistir um jogo dele e ser cumprimentado por um homem. Nunca tinha o visto tão irado.
– Por quê? – pergunto ao meu irmão.
– Se depender de mim, todos vão descobrir em breve quem ele é. – ele responde e eu abro os olhos, sendo completamente jogado pra fora da memória. Era como se o que estivesse me sufocando soltasse meu pescoço.
Saí correndo do meu quarto e fui até o de meu irmão. Lá, abri algumas das caixas de fotos da época que ele jogava no time de futebol americano da minha escola e comecei a vasculhar. Quando meu olho travou em uma pessoa, eu fiquei completamente em choque. Ali estava ele.
Bill Smith era o treinador do time de futebol americano, antes de eu jogar nele. Ele era casado com uma professora de história que tínhamos, Abigail. Tinha um rumor na escola que ele aliciava seus alunos, para que a mulher pudesse se relacionar com eles – mas ele também se relacionava com alguns.
Ela era a professora que tinha passado HIV pro Erick. Após a morte de Jensen eles se separaram e Abigail saiu da cidade, ninguém nunca entendeu. Já Bill, saiu da escola e também teve seu paradeiro subitamente ocultado. Sabíamos que ele estava na cidade, mas não sabíamos por onde.
Mas qual era a ligação de Bill com Yohan? Por qual motivo um pedófilo faria amizade com um adolescente e não o atacaria, a ponto de esse adolescente ir frequentemente em sua casa e sair tranquilo. Eles mais pareciam comparsas que aliciador e vítima.
Aquela sequência de fotos me assombrou, mas ainda precisava de algo circunstancial para conseguir encurralar Yohan e entregar tudo que tinha descoberto ao seu pai. Por esse motivo, voltei a ler os arquivos. No geral, todos eles eram bem parecidos. Eram arquivos de controle de quantidade de produtos químicos. Naquela noite eu dormi lendo aqueles arquivos.
Quando acordei, tudo já estava organizado e Anista pulava na minha cama. Peguei meu celular e a única coisa que tinha eram algumas mensagens de Erick, mas sobre isso eu conversaria com ele mais tarde. Ao perceber que eu tinha acordado, Anista se sentou na minha cama e ficou me observando. Ela tinha separado os arquivos em pilhas, pilhas de arquivos que eu tinha mexido e os que estavam intactos.
– Anda logo, ou vai se atrasar. – ela começa a andar até a saída.
– Obrigado pelo apoio que tem me dado. – respondo, indo até o banheiro. – É muito importante pra mim sentir que não estou sozinho.
– Eu também te amo, Tyler. Anda logo, precisa continuar sendo um herói. – é o que ela responde, saindo do quarto e eu sorrio.
Tomei um banho rápido, escovei os dentes, me vesti e fui tomar café. Depois disso, Anista e eu saímos. Eu não ia realmente pra escola aquele dia, mas precisava conversar com Erick pessoalmente sobre a foto que encontrei.
– A gente pode conversar? – Yohan me pergunta, assim que desço da minha moto.
– Diga. – respondo. Pra mim era assustadora a minha capacidade de fingir estar tudo bem, enquanto desmontava o império dele de mentiras.
– Não sei se vou perder meu irmão, sabe? E isso vem me matando. Se eu o perder, isso tudo vai acontecer enquanto estamos brigados como nunca estivemos. – seus olhos enchem de lágrimas. – Eu não queria, Tyler, ficar assim com você nesse momento. É praticamente o único que me entende, conhece e conhece ele...
– Não esquenta, você não me deve nada. – é o que respondo, procurando Erick.
– Pode me dar um abraço? – ele pergunta e eu procuro uma forma de sair dali.
– Espera, eu preciso falar com alguém. – saio andando rapidamente. – Erick! – felizmente encontro aquele com quem realmente precisava conversar.
– Fala. – ele pede, assim que me aproximo.
– Seus pais conseguiram achar a Abigail? – pergunto. Mais cedo ele tinha me mandado uma mensagem, falando que tinha conversado com os pais sobre o HIV e certamente eles iriam querer tirar isso a limpo.
– Cara, não. É estranho, parece que ela nunca existiu. – é o que ele responde.
– Você entrou aqui antes de mim, lembra de um cara chamado Bill?
– Lembro, os caras falavam que ele tinha um império de pó e distribuição de conteúdo ilegal, de criança mesmo. – ele explica. – Sempre achei ele estranho, no ano que seu irmão morreu foi o ano que ele sumiu. Foi estranho, porque antes disso ele já não era mais treinador do time, ele só acompanhava. Eu tinha alguns amigos que jogavam na época e ele não ficava sempre em campo, estava mais pra olheiro. Era amigo da Abigail, foi ele que me apresentou ela.
Esse era o modus operandi dos dois. Praticamente ninguém da escola sabia que eles eram casados. Pelo o que me lembro, Mike que tinha contado ao meu irmão esse fato, porque o pai dele tem muitos contatos pela cidade e notícias correm.
– Obrigado. – é o que respondo.
Me preparo pra sair, mas antes disso Erick começa a falar:
– Ainda investigando as coisas do Felix?
– Não só dele.
– Sei que perdi muito de você nos últimos tempos... – ele começa a falar, mas não era como se isso me machucasse mais.
– Erick...
– Não. – ele me corta. – Minha frustração me tornou em uma criatura, pra não ter que encarar os fatos que você queria me mostrar. É curioso, porque não sei se vai me entender, mas ontem eu vi algumas fotos minhas na festa desse ano e não me reconheci. Eu senti pena daquele cara. Ele era tão miserável que só tinha dinheiro, droga e bebida. – coloco a mão no ombro dele.
– Eu entendo você.
– Você me salvou, Tyler. Nunca falou muito, mas quando falou, me salvou. – seus olhos ficam marejados. – E eu sei que isso aconteceu, porque foi salvo pelo seu garoto primeiro. Então eu devo sim isso a ele, a vocês dois. O que eu puder fazer pra te ajudar, pode me chamar que farei. – conformo com a cabeça, olhando em seus olhos.
– Tyler, posso passar o dia com você hoje? Eu ando meio assombrado... – Yohan se aproxima.
– Na verdade, Erick, poderia ficar com o Yohan pra mim? – pergunto e o olhar dele que era de gratidão rapidamente se torna de raiva.
– Que?
– É, não diga nada que não deve e se acontecer alguma coisa, me liga. Vou matar aula hoje pra ficar com o Felix, me deem cobertura. – pisco pra Erick duas vezes seguidas. Era nosso código pra apoio, independente da situação.
Ele confirma com a cabeça, sem fazer qualquer nova objeção e eu subo na minha moto. De longe vejo Lisandra me observando e mais uma vez acho estranho esse tipo de comportamento vindo dela. Acelerei pra longe dali, voltando ao meu quarto. Algo me dizia que as respostas pra uma parte significativa das minhas perguntas já estava comigo. Meu telefone começa a tocar e quando olho em tela, vejo que se tratava de Mike.
– Fala comigo. – peço.
– Tem como vir no ferro velho do meu pai? Preciso te mostrar uma coisa.
– Claro. – respondo, pegando mais alguns arquivos, pra ler, caso tivesse tempo fora de casa.
Subo na minha moto e acelero pro outro lado da cidade. Mike vinha de uma família envolvida há anos com sucata e mecânica. Não atoa ele era o maior e mais bem sucedido mecânico da cidade. Meu pai dizia que quando se tem história familiar em qualquer meio, a chance de se destacar era maior, porque está no seu sangue – com exceção de carreiras artísticas. Mike era praticamente a prova disso.
– Diga. – o cumprimento, quando chego.
– Aquele acidente ficou na minha cabeça por muitos anos. A gente sabe que shimada era praticamente uma das coisas que seu irmão mais sabia controlar. Não tinha tremulação de guidão capaz de desequilibrar o Jensen. – ele comenta, enquanto andamos em meio as pilhas de sucata daquele pátio.
– Sim, inclusive, mesmo com peso extra em moto, ele nunca caiu. Já shimou comigo na garupa, papo de o guidão praticamente virar. Nunca caiu. – respondo e ele aponta pra mim, confirmando com a cabeça.
– Pois é, vem comigo. – ele me chama. – Você sabe que meu pai comprou a sucata da Ducati pra preservar, porque sabia que no dia que seu pai aceitasse esse fato, ele ia querer respostas. – andamos até um contêiner e ele o abre.
Lá dentro, pela primeira vez eu via o que era a moto do meu irmão. Ao me aproximar, percebo o sangue seco. Estava exatamente como o Tyler de quase 16 anos se lembrava.
– Me ajuda a achar o cabo do freio dessa moto. – ele pede, enquanto segura uma marreta e eu concordo com a cabeça, ainda paralisado. – Bora, força. – Mike pede, dando um tapa fraco no meu ombro.
Era difícil, tudo era difícil. Encostar na moto, depois do que aconteceu era complexo, entender cada parte dela era pior ainda. Como conseguiríamos soltar o freio, se nem mesmo dava pra reconhecer o braço de freio?
O fato é que não importava muito pra Mike e eu. Era muito bom sentir que tinha sido compreendido e não julgado. Ele tinha vivido muito mais coisas com meu irmão, aquele acidente claramente estava entalado em sua garganta desde então.
Nem precisamos marretar muito a moto. Quando identificamos e soltamos o parafuso que prendia o cabo do braço de freio e Mike trouxe o cabo da moto de Felix para comparação, percebemos que o corte era semelhante. Não precisaríamos da outra parte – que estava ainda mais perdida dentro das ferragens – pra constatar a armação.
– Mike... – não consigo terminar de falar.
– Eu vou etiquetar isso e colocar em sacos ziplock, pra quando você for denunciar pra polícia. – é o que ele diz e eu concordo com a cabeça, sentindo meu coração acelerar.
Quando uma pessoa morre de morte natural ou do acaso, é dolorido. Mas saber que foi armação é pior ainda, porque queria ver meu irmão realizar mais sonhos do que permitiram que ele realizasse. Jensen era um ótimo filho, irmão, estudante... seria um excelente pai, teria uma família saudável e tudo isso foi arrancado dele e jogado dentro da caixa de sapato que foi enterrada em seu caixão fechado.
As pessoas não tiveram a oportunidade de se despedir de seus cabelos, nem de chorar sua perda olhando-o uma última vez. O luto e a ausência desses rituais fizeram a realidade incompleta ser estritamente dolorida pra todos que o conheceram e agora ali estava eu. Ao invés de ter raiva da morte por ter sido tão injusta, estava com sede de justiça.
Não importava quem ou quantas pessoas fossem responsáveis por isso, eu iria descobrir e fazer valer a vida daquele que mais me inspirava a ser justo, daquele que eu mais amei em toda a minha existência. Jensen não morreria uma segunda vez.
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