Compreensão

º 6 anos antes º

– Esse é meu lugar favorito da cidade, Tyler. – meu irmão comenta, depois de descermos de sua moto. 

– Pra mim parece mais um parque qualquer. – falo e ele sorri. 

Às vezes meu irmão desaparecia. Sempre perguntei pra ele onde ele ia quando as coisas pareciam meio sem nexo e sentido. Ele nunca quis me mostrar, sempre desconversou, como se esse fosse o único segredo que valesse a pena pra ele guardar. Agora, no entanto, ali estávamos nós. 

– E é. Mas é aqui as pessoas choram, sorriem, se pedem em casamento, amam seus cônjuges e seus filhos. A vida acontece. Aqui é onde vejo que todos os meus problemas são tão minúsculos que mesmo que esteja cheio de pessoas, nenhuma delas sabe, se preocupa ou se importa. – ele responde. – Espero ter a oportunidade de viver tudo isso aqui também. 

– Pensei que não quisesse morar aqui pra sempre. – respondo, vendo ele se sentar no banco, dando dois tapas ao seu lado. Me sento ao lado dele. 

– Claro que não quero, pra sempre é muito tempo. – ele reponde e caímos na risada. – Pega um pra você. – meu irmão me entrega um energético e começamos a tomar. 

Estamos no parque da cidade. Não é nada muito elaborado ou diferente de outros parques do mundo. A diferença estava ali, naquele momento, na companhia. Meu irmão era a minha bússola de vida. Eu queria ser respeitado, amado, queria que as pessoas me levassem a sério e contassem comigo, como contavam com ele. 

As palavras do meu irmão não faziam curva, ele era quem as pessoas chamavam quando precisavam de apoio e socorro, era o ombro amigo de todos que um dia precisaram... e tudo isso era natural, vinha dele. Ele nasceu assim. Já eu, precisava fabricar para tentar alcançá-lo. 

Era cansativo, sempre foi, mas sempre vivi dentro dessa realidade e almejando o mesmo objetivo. O que faria se mudasse a rota de repente? 

– Já decidiu onde vai fazer faculdade? Se for muito longe a mãe vai ficar chateada. – pergunto a ele, que dá de ombros. 

– Vou pra Inglaterra. 

– O que? 

– Temos que pensar de forma expandida, Tyler. A vida acaba em um segundo, então precisamos organizar nossas prioridades e objetivos, colocar na ponta do lápis e correr atrás, o mais rápido possível. Nossa família tem dinheiro, sabe o quão privilegiados somos? Aproveita essa porra antes de parar em um caixão e ser esquecido pra sempre. – é o que ele responde. 

– Nunca tinha pensado realmente e levado a sério o papo de sair aqui. 

– Pois passe a levar, irmãozinho... queira ser maior do que tudo o que seus olhos conseguem ver. Quando isso acontecer, vai começar a ficar sedento por realizações. E ao me referir a realizações, não falo só de dinheiro, dinheiro é consequência. Você tem achar o que faz seu coração acelerar, o que vai fazer você querer sair da cama, quando a tristeza bater. – ele responde. 

º Agora º

Pisco algumas vezes e lembro que estava sentado no parque com Knox. Decidi que aquele seria o momento ideal para abrir o que meu pai tinha me dado de presente, porque meu irmão certamente estaria ali comigo. Tiro a caixinha da minha mochila e ele me observa. 

– O que é? – Knox pergunta. 

– Provavelmente dinheiro. – é o que respondo, abrindo e vendo que se tratava de um cheque de mais de 100 mil dólares. – Touché. – mostro o cheque pra ele. 

– Expressivo. – é o que ele fala e eu sorrio, rasgando aquele papel. 

Era só mais um cheque, como sempre. Juntei alguns daqueles pra comprar minha moto há algum tempo, depois disso todos foram picotados. Pro meu pai isso era a única coisa que importava, quando na realidade eu só queria me sentir verdadeiramente apoiado, ou sentir que pelo menos fazia parte de uma família. 

– Ele acha que tudo o que eu mais quero na vida é mais dinheiro. Meu pai não me conhece e nem se esforça, mas pelo menos não pisa nos meus calos. – explico, ficando em silêncio em seguida. – Como foi pra você perder sua mãe? – pergunto e ele parece se perder no horizonte. 

– Não sei. Nunca consegui, sequer, chorar por ela. Nunca tive uma mãe, pra perdê-la. Conforme o tempo vai passando, percebo que nunca fui escolhido por ninguém, é como se eu não existisse, já que quando as pessoas percebiam a minha existência, me humilhavam de alguma forma. Mas se todos fazem isso, o problema certamente sou eu. – ele conclui e eu olho pro chão por algum tempo. 

– Pensei que fosse próximo dela, já que morava com ela, enquanto seu irmão morava com seu pai... – tento voltar ao assunto anterior e ele dá de ombros. 

Knox parecia uma casca vazia, ou uma alma adormecida. Eu até tentava mensurar as coisas pelas quais ele poderia já ter passado, mas minha criatividade para coisas ruins não parecia alcançar a realidade que ele viveu. O fato é que nenhuma pessoa se torna tão apática por nada.

– É difícil de explicar, mas a minha primeira infância eu não passei com meus pais e quando fui morar com eles, só serviu pra entender que não tinha lar. Já conheceu alguém que não tem absolutamente nada? – ele pergunta e eu nego com a cabeça. – Então pode me considerar seu primeiro. 

Knox olha pra frente, pensativo. Conversar com ele era sempre como se eu me olhasse no espelho, mesmo tendo uma vida contrária a dele. Ele não teve nada, eu tive tudo... e mesmo assim sempre pareci viver em uma frequência diferente das pessoas ao meu redor. 

– A pior lágrima é aquela que não escorre pra fora do olho. – digo e ele me observa. – Dá a impressão que a pessoa é apática, mas na realidade, na maioria das vezes sinaliza que uma parte crucial da alma se foi. Você não chorar diz mais sobre o que passou, do que quem se tornou. 

– Diz isso pros meus parentes. Até chamado de psicopata eu fui. – ele comenta. 

– Pelo visto as pessoas costumam te julgar muito. – ele solta um pequeno sorriso tímido. 

– Elas tentam. Mas não sei, sempre pareceu que eu estava em um buraco, com vários venenos ao redor, prontos para que eu tomasse e acabasse comigo mesmo... acontece que eu sei que opiniões venenosas só fazem efeito se você tomar, então meio que as coisas pararam de me alcançar, depois que eu parei de ligar. Passei a conviver nesse ambiente meio hostil e apenas isso. – ele explica. 

– E seu pai? Você disse que eu te livrei de uma surra...

– É, nessa altura do campeonato você já deve saber que eu não sou a pessoa mais equilibrada do mundo. Ele tem medo que eu cause problemas de novo. – entendia o que ele queria dizer. 

Não conseguia julgar sem saber o que aconteceu. Em especial uma pessoa que estava claramente tentando ser um pouco mais vulnerável comigo. Eu já ameacei de bater em Knox e isso o fez rir... o que faria ele ter uma passagem? Bem, confesso que tenho um pouco de medo da resposta. 

– Não posso julgar e acreditar que você é o cara que causa problemas, antes de saber o motivo da sua passagem. Como não vou saber, vou recolher minha opinião. – ele sorri. É impressionante como ele sempre sabia quando eu estava tentando arrancar algo dele. Às vezes ele falava mesmo assim, outras vezes, não. 

– Continua jogando verde, assessor do capitão, quem sabe dá certo. – ele brinca e eu sorrio. – Lá no colégio... – Knox começa, mas parece cauteloso com suas palavras. 

– Pode falar de uma vez, assim como você parece não ser, eu não sou de vidro. Poucas coisas me atingem. Manda. – encorajo. Ele nunca tinha demonstrado uma curiosidade por mim, então queria aproveitar essa oportunidade. 

– Tem um mural com um cara que tem seu sobrenome. De saudades eternas e essas paradas... – sem querer ele tocou literalmente na única coisa que me atinge. Era inacreditável. 

– Meu irmão. 

– Entendi. – ele encerra. 

Não tinha contado essa parte da história pra ele. Às vezes eu falava do meu irmão como se estivesse vivo e mesmo que ele já até saiba que meu irmão faleceu, ainda é confuso. Mas é confuso, principalmente porque pra mim também é. 

– Você ia gostar dele, todos gostavam. Ele tinha uma Ducati Superleggera. Era linda. Meu irmão gastou bons anos alterando essa moto pra ficar mais rápida, foram anos investindo pesado nisso. No final estava perfeita. – conto, fechando os olhos por alguns segundos e imaginando a moto. Era meu sonho de consumo ter uma parecida algum dia, quem sabe.  

– E cadê ela? Seus pais guardam? – engulo essa pergunta, coço minha sobrancelha e penso por algum tempo. 

– Meu irmão bateu de frente com um caminhão a mais de 200km por hora cerca de um ano e meio atrás com ela. – explico. – Não sobrou nada dele, nada da moto. O caixão foi enterrado com poucos restos mortais, a moto teve uma perda total tão feia, que sequer era reconhecível que se tratava de uma moto. Um cara de quase 21 anos resumido a uma caixa de sapato. Parece piada de mal gosto.

– Eu não sei o que te dizer. – é tudo que ele responde. Essa era a primeira vez que eu falava tão explicitamente sobre o que tinha acontecido com meu irmão. 

– Não precisa dizer nada. Uma parte de mim ainda o vê em alguns momentos específicos. Eu, então, me acostumei a ficar procurando por esses momentos. Quando acontece, eu penso que tô delirando, depois que passa eu sinto um vazio tão grande que parece que o meu corpo não tem carne. – ele coloca a mão no meu ombro e um arrepio sobe das minhas costas até minha nuca. 

Me aproximo de Knox e por incrível que pareça, ele me abraça. Assim como ele, eu também não tinha chorado pelo meu irmão ainda, mas naquele momento desabo completamente. Um choro que começa tímido se torna copioso em pouco tempo, enquanto ele passa mão cuidadosamente pelo meu cabelo.

Aquele choro veio do fundo da alma, tomou conta do meu corpo, era como um grito de socorro de alguém que estava se afogando nas águas turvas do luto. Senti como se Knox estendesse a mão em minha direção e me tirasse daquelas águas, de uma vez. De relance vi o que parecia ser a silhueta do meu irmão próximo a algumas árvores. Ele estava com a roupa de corrida que usava nas pistas – e tinha falecido com ela. 

Jensen acenou pra mim, de longe, enquanto minha visão estava relativamente comprometida por causa das lágrimas e se afastou, indo embora. Quando pisquei, ele não não estava mais lá. A cada lágrima que saía do meu corpo, sentia meu espírito mais leve, como se estivesse tirando muito peso das costas. 

Knox não para de me acariciar, até que eu o olhe, já mais calmo. Estávamos próximos, mas logo caí na real e me distanciei, respirando fundo e ficando de pé. Ele se manteve exatamente no mesmo lugar, emocionado, mas ameno. 

– Não vou destruir sua fama de bravo, pode ficar tranquilo. – sorrio, passando as mãos nos olhos, limpando todas aquelas lágrimas. 

– É que foi a primeira vez que me senti compreendido. Não sei o que aconteceu, desculpa, não quero despejar minhas coisas em você. Claramente tem mais o que fazer. 

Ele fica de pé. 

– Nunca confortei ninguém, nem fui confortado, espero ter ajudado, mesmo que pouco, talvez. – observo Knox. – Também nunca conversei tanto com alguém como nesses dois dias com você. E acho que como ambos estamos claramente desconfortáveis com isso, se quiser se afastar, tudo bem. 

Sorrio. Era a primeira vez que ele demonstrava estar desesperado. Já imaginava que algo do tipo pudesse acontecer. Eu desabei, sem mais nem menos em seus braços. Knox não sabia muito o que fazer depois de perceber que um cara que ele tinha acabado de conhecer se sentia confortável com ele... eu também ficaria surpreso pela velocidade disso. 

– Bem, você que sabe. Não fica achando que estou tentando colar em você, tudo bem? Faça o que achar melhor pra si. – é o que respondo e ele concorda com a cabeça, passando por mim.

Depois desse dia nos desencontramos. Nas aulas obrigatórias estávamos sempre distantes. Nas aulas que não eram obrigatórias, não nos víamos. Quando acontecia de nos encontrarmos nos corredores, o máximo que saía era um cumprimento tímido. 

Eu saía com meus amigos, buscando algo que tinha perdido naquele dia com Knox, mas não conseguia encontrar, alguma peça estava fora do lugar. Algo tinha se rompido e a sensação que eu carregava comigo de que a culpa era minha, começou a torcer meu pescoço. Me perguntava constantemente se eu tinha sido folgado, ou se tinha colocado uma carga muito grande em alguém que sequer tinha muito contato social. 

Na escola, me concentrar nas atividades era difícil, comecei a fumar mais do que fazia e todas as vezes que via Yohan, minha mente não parava de martelar sobre Knox. Eu estava em crise de abstinência de uma droga que tinha acabado de usar, muito mais forte que a nicotina, tão forte que perto dela o cigarro não era nada. 

Uma raiva muito grande começou a tomar conta do meu peito e jogar futebol se tornou um escape pra essa raiva. Mesmo assim eu não participava e qualquer debate ou "gincana" dos caras nos chuveiros e com o passar dos dias a abstinência que eu sentia foi se tornando autocontrole. 

Em algum momento eu me olhei no espelho pra fazer a barba e percebi que toda aquela tempestade já tinha passado. Junto com ela, algumas coisas começaram a fazer sentido e passei a trabalhar de forma justa e sincera minha mente e autocontrole. 

– O que pensa em fazer, quando terminar a escola? – meu pai pergunta, enquanto tomamos café da manhã. 

– Vou entrar na seletiva de pilotos. – comento e meus pais param de comer para me observar. 

– Não. – minha mãe diz. 

– Eu vivo pela pilotagem. – respondo. 

– Vai acabar virando um bolo de carne, como seu irmão! – minha mãe grita de repente, enquanto treme sem parar. 

– Tenho certeza que ele morreu feliz, porque fazia algo que amava! É melhor que viver preso dentro de uma mansão, sem ter um pingo de vontade de viver, como você! – respondo minha mãe, que se levanta e me dá um tapa na cara. 

– Nunca mais fale comigo dessa forma. – ela responde. 

– Tanto faz. – me levanto, pegando meu capacete e saio de casa. 

– Tyler! – minha irmã corre até mim, me dando um abraço. – Por favor, pilote com cuidado. – ela me pede e eu respiro fundo algumas vezes. 

– Irei. – sorrio e nos cumprimentamos com soquinhos. Saio dali em seguida.

Naquele dia fui pra escola, mas não consegui treinar. Na realidade eu estava há alguns dias sem treinar. Estava no meio de um processo delicado em relação ao meu corpo e precisava de um tempo dessas atividades. 

– Seu desempenho tá estranho, o que esta acontecendo? Na realidade nem desempenho tem, não tem ido treinar. – Yohan pergunta, se aproximando e eu dou de ombros. Estava sentado no pátio, sozinho. 

Como não tinha treino, não tinha o que fazer naquele último horário. 

– Não sei. Estou buscando meu chamado da vida, eu acho, mas não sei o que quero. Isso tá mexendo com a minha cabeça, eu acho. – respondo qualquer coisa. Geralmente dava certo e eu não queria dizer a verdade. 

– Sei como é, comecei a tentar ver qual faculdade quero fazer... – Yohan começa a falar sem parar e meus ouvidos param de funcionar. Quando vejo Knox indo para a quadra de basquete, no entanto, algo me desperta. Ele entra no ginásio e fico paralisado, até minha mente me jogar pra fora dela. 

– Você já viu algum treino do seu irmão? – pergunto e Yohan para de falar. 

– Não. 

– Bora ver? Já que hoje não tem treino pra mim? – pergunto e ele confirma com a cabeça. 

– Claro. – é o que diz e nos levantamos. 

Assim que entramos na quadra, percebi que ela estava cheia. As pessoas pareciam animadas, mesmo que aquilo sequer fosse um jogo. Treinando arremessos estava Knox, quieto. Quando me sentei, ele parecia um cachorro farejador. Seu olhar começou a me procurar e só parou quando me encontrou. Ele ficou me observando, congelado, por alguns segundos. Certamente sabia que aquele ato era muito importante, já que eu não gostava de basquete. Estava ali por ele e ele sabia disso. 

– Continua, Knox! – um menino que estava sentado pouco a frente grita e ele confirma com a cabeça, voltando a arremessar. 

– Seu irmão não erra uma. – comento. 

– Não sabia que você gostava de basquete. Por que não tenta jogar? 

– Nunca fez sentido pra mim. No futebol o Erick me chamou, meio que passou a fazer sentido, porque era tudo que eu conhecia. – explico. 

– E gosta do que conhece? – Yohan me pergunta e eu travo. 

Não respondi a pergunta. Assisti o treino de basquete e me diverti mais do que a última vez que fui ver um jogo da NBA. Depois que o treino terminou, Yohan se levantou. 

– Onde vai? – pergunto. 

– Vou de ônibus pra casa, ele sai já já. Vai embora agora? 

– Não, vou esperar uma amiga. – respondo e ele confirma com a cabeça, se despedindo. 

Knox ficou por um tempo conversando com o técnico. Enquanto isso, os outros rapazes foram para os chuveiros. Quando foi a vez dele de ir, a quadra já estava praticamente vazia – contando apenas com o faxineiro. Acabei indo em direção aos chuveiros. 

– Por que escolheu ver um treino de basquete, Tyler? – ele pergunta, assim que entro nos chuveiros. Knox estava completamente nu, de costas pra mim, enquanto lavava seu cabelo. 

Ele era mais magro que eu e mais alto também. Tinha algumas pequenas pintas pretas pelas costas e coxas, em contraste com sua pele clara, era como um céu ao contrário. O tom da pele das suas costas era mais claro que do rosto, provavelmente porque ele nunca pegava sol ali, já que sempre estava de jaqueta. Seus cabelos eram tão escuros que pareciam sugar a luz. Todo esse conjunto era, sem dúvida, a coisa mais linda que meus olhos já tinham visto. 

– Por você. – respondo e ele abaixa a cabeça por um tempo, enquanto a água tira todo o shampoo de seu corpo. – Me desculpa se descarreguei meus sentimentos em você, Knox. Me senti acolhido. A gente pode, pelo menos, conversar como pessoas normais esporadicamente?

Ele desliga o chuveiro, pegando uma toalha e passando pela cintura. Knox se vira e vem andando até mim, completamente enxarcado. 

– Como pode você se sentir acolhido por alguém que conheceu outro dia? Sempre esteve rodeado com seus amigos, família... – ele pergunta algo que nem mesmo eu tinha a resposta. 

– É como se a minha alma machucada cumprimentasse a sua alma machucada. 

– Eu nem sabia que era capaz de acolher uma pessoa. – ele sorri um sorriso frouxo, sem graça. 

– Eu também não sabia que conseguia sentir compaixão por outra pessoa que não fosse eu mesmo. Não quero que isso tudo fique estranho pra você, mas essas últimas semanas foram um inferno pra mim. Depois do que eu experimentei, percebi que nunca tive isso. Felizmente, depois do inferno veio o autoconhecimento e autocontrole, é por isso que estou aqui, não quero despejar nada em você, mas quero te ter perto. – explico, apreensivo.

Ele coça a cabeça um pouco e abre os braços. Eu o abraço. 

– Não acho que sou digno da confiança de alguém e você pareceu tão vulnerável... fiquei com medo. Não sou uma pessoa constante, pra mim não é difícil apenas contar com alguém, como saber que alguém conta comigo. Desculpe por ter metido o pé depois de algo tão importante pra você. – é o que ele diz.

– Não sou de cristal, Knox. Não se esqueça que já quase te matei. – ele começa a rir. Ficamos abraçados por mais um tempo. 

Quando nos soltamos, eu fui ao banheiro e ele terminou de se vestir. Depois de lavar minhas mãos, o encontrei, brinquei com seu cabelo e saímos juntos dos chuveiros. 

– Como foi com o seu pai, em relação ao seu irmão? Acabou que nem pude saber o desfecho. 

– Meu irmão sabe dobrar meu pai. Essa é a diferença dele pra mim, meu irmão sabe dobrar qualquer pessoa. 

– Eu fiquei pensativo essas semanas. – comento.

– Sobre o que? 

– Acho que o Yohan ainda gosta de mim. 

– O que te faz pensar isso? – por alguns instantes acredito que ele estava sendo sarcástico. 

Será que era tão óbvio assim e só eu não tinha percebido? 

– O jeito que ele me olha, me incomoda. Eu olho com ternura, ultimamente ele tem observado minha boca, tocado meus braços. Não é legal. – explico. – Ele fala como se estivesse preocupado, mas pra mim ele tá disfarçando o desejo. Me sinto um pedófilo quando ele faz esse tipo de coisa. 

– Você não parece ser um cara que precisa de alguém enchendo seu ego. Conversa com ele sobre isso, abre seu coração. Se ele gostar de você, vai sofrer... mas é melhor do que se prender em algo que não pode alcançar. – é o que Knox responde, enquanto andamos. 

– Se ele me quiser, vamos ser dois solitários, porque definitivamente eu não vou perder meu foco. – respondo e ele sorri. 

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