Capitulo 6

Horas depois Holand retomou a consciência, sua cabeça doía compulsivamente e sua visão estava turva, o impossibilitando ver o ambiente ao seu redor. Sentiu que suas mãos estavam amarradas para trás e suas pernas imóveis. Ao longe podia ouvir a voz de sua filha o chamando e aquilo foi o suficiente para que o seu corpo reagisse e se recuperasse aos poucos. Sua visão voltou ao normal, ele olhou em volta e estava amarrado a uma cadeira dentro do que parecia ser uma grande garagem. Tentou se soltar das cordas mas estavam tão bem amarradas que seria impossível sair dali sem ajuda.
— Então você acordou — José surgiu das sombras da garagem que agora estava com pouca iluminação. As janelas haviam sido fechadas e a iluminação das lâmpadas diminuída ao máximo.
— Que droga — Reclamou Holand vendo que havia fracassado em sua missão.

— Não se preocupe. Não iremos matar você. Não somos animais. Mas isso não significa que sairá ileso do que tentou fazer — José puxou uma cadeira e se sentou de frente para Holand — me conte tudo o que aquelas coisas te disseram e como chegou até aqui.
— Eu já disse a sua esposa. Eles me disseram que se eu matasse o bebê iriam trazer a minha família de volta.
— Como é ingênuo. Chega a ser uma piada. Acha mesmo que matar uma criança inocente vai te dar algum benefício? Acha que aquelas coisas lá fora querem ver o seu bem?
— O que são elas? Por que querem que eu mate o seu filho?
— Aquelas coisas são o que são e ninguém pode confiar nelas. São malignas e o único objetivo delas é ferir o meu filho.

— Você não respondeu... por que o seu filho?
— Ele é a esperança de um novo mundo. Um mundo sem dor, sem violência, sem mortes. O meu filho foi destinado a salvar esta existência deprimente que chamamos de lar. Por isso aquelas coisas lá fora querem colocar as mãos nele, mas elas não podem entrar nesta casa e por isso mandaram você. Um pobre coitado desesperado emocionante para recuperar a família. Se quer um mundo melhor, não tente ferir o meu filho ou então eu realmente terei que mata-lo.
— Eu não sou uma pessoa ruim.
— Eu não ligo. Você me acertou em cheio na cabeça.

— Eles disseram que eu devia fazer o que fosse preciso para conseguir cumprir o meu dever.
— Claro, machucar uma criança. Que grande dever esse seu, onde fica o seu caráter? Nada que seja bom pode vir de uma atitude tão hedionda.
— Sinto muito. Eu apenas quero a minha família de volta. Se coloque no meu lugar, não faria o mesmo? Porra... a minha filha foi morta por um maldito pedófilo e a minha esposa cometeu suicídio tempos depois. Olha a vida miserável que eu tive... então sim, eu aceitei matar uma criança apenas para poder ter tudo o que eu tinha de volta — seus olhos lacrimejaram — me desculpe.
— Você era caçador, certo?
— Sim.
— Como conseguiu entrar aqui?
— Escalei o muro, tem muita vegetação e isso facilitou bastante.

Alguém bateu na grande porta metálica da garagem. José se levantou e andou até a parede mais próxima para poder acionar o dispositivo que abria a porta. Ela subiu lentamente, revelando a imagem de Maria.

— Ele ainda está vivo? — ela adentrou na garagem, indignada.
— Não podemos mata-lo — José a conteve.
— Esse maldito tentou matar o nosso filho. Ele merece morrer e você sabe. Não foi isso que a igreja disse? Mate tudo e todos que se opuseram no nosso caminho.
— É, talvez eu deva morrer mesmo — Holand parecia ter aceitado o seu destino — quem sabe assim eu possa ter um pouco de paz.
— Viu, até ele quer isso. Vamos pegar a arma e mata-lo.
— Eu tenho planos melhores.
— Quais? Não está pensando em solta-lo, está?

— Não sei. Se ele conseguiu entrar aqui então outras pessoas também podem conseguir. Mas como ele é caçador deve ter algo útil para nós? Armadilhas de caça, talvez. Algo que possamos usar para deixar as redondezas dos muros mais seguras.
— Tenho armadilhas para urso — Holand se pronunciou — entre outras.
— Viu só. É disso que precisamos. Aquelas coisas são mais inteligentes do que pensávamos, elas vão tentar usar pessoas para fazer o trabalho sujo para elas. Precisamos mostrar que não temos medo e que estamos preparados. Temos a fé e a igreja ao nosso lado.
— José, no exato momento em que você desamarra-lo, ele vai te atacar.
— Não. Não mais... — Holand demonstrou estar arrependido.
— Ah claro, vamos muito acreditar em você.

— Não precisamos acreditar nele, só precisamos usa-lo para nos ajudar.
— E depois? Acha que ele vai simplesmente ir embora e nunca mais voltar? Não seja retardado, José. Você já foi mais experto que isso. Caralho, você serviu na terceira guerra mundial, não acredito que ficou frouxo a ponto de não conseguir matar um homem depois de centenas que matou.
— É por isso mesmo que não quero mata-lo. Eu cansei de ver cabeças sendo explodidos, braços arrancados e pernas decepadas. Se houver uma maneira de resolver as coisas pacificamente é isso que farei. Só irei apelar para a violência em último caso.

Maria andou de um lado para o outro, descontente com a decisão do marido.

— Devemos proteger aquele bebê.
— Eu sei.
— Eu vou ajudar vocês — Holand olhou para Maria — se tudo isso for mesmo verdade, eu irei ajuda-los a tornar este lugar mais seguro.
— Nossa, que bonzinho — Maria debochou.
— Eu não devia ter dado ouvidos aquelas coisas no escuro... ferir um bebê... me sinto envergonhado. Eu posso buscar o que vocês querem, eu tenho tudo.
— A gente te solta e você foge, depois volta pior ainda.
— Não, eu juro que não farei nada. Se não acreditam em mim então peguem o mapa que está na minha mochila e eu direi onde fica a minha cabana. Vocês buscam os equipamentos de caça e eu ajudo a monta-los em volta do muro.

— Maria, verifique se dentro da mochila dele tem mesmo um mapa.
— Vamos mesmo acreditar nele?
— Apenas faça o que estou te pedindo. Não temos outra escolha a não ser aceitar isso, precisamos proteger os muros contra pessoas normais.
Maria deixou o local reclamando.
— Eu juro que não estou mentindo.
— Eu sei. Consigo reconhecer uma mentira a distância.
— Você serviu mesmo na terceira guerra mundial?
— Sim. Foi um milagre eu ter sobrevivido a um dos ataques bioquímicos da Rússia. Todos do pelotão morreram na hora mas eu não. Foi então que percebi que alguém estava olhando por mim, cuidando de mim. Agora vivo para servir a esse protetor e fazer a sua vontade.

— Seu filho é um anjo?
— Eu não sei. Mas a igreja nos disse que ele ira curar esta terra. Um novo mundo. Algo assim. De início não acreditamos, óbvio. Mas depois das coisas que vimos não podíamos negar o óbvio. O mundo espiritual é mais real do que pensávamos, quase que palpável e agora temos esses coisas atrás da gente. Nem preciso te dizer que elas são assustadoras, deve ter visto com os próprios olhos.

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