Capítulo 2
Maria se tranquilizou com as palavras de José e seguiu com o banho do bebê, ela o lavava cuidadosamente, o pousando sobre as águas mornas enquanto cantava baixinho uma música para ele. Lembranças da noite anterior invadiram a sua mente. Ela se recordava plenamente de estar rodeada por treze freiras enquanto o bispo fazia o parto de seu filho em meio aos seus gritos e gesticulaçoes de dor. Ela urrava e batia os dentes ao mesmo tempo em que sentia suas entranhas se abrindo. Para piorar a situação, o bebê estava invertido dentro de seu útero, os pés foram a primeira coisa a sair e quando o parto finalmente terminou ela desmaiou, sendo tragada por sonhos estranhos envolvendo um céu vermelho, um sol negro e uma lua partida ao meio.
Maria se livrou daquelas lembranças e terminou de banhar o seu filho, o enxugou com cuidado e colocou as roupas que seu marido havia lhe entregado minutos antes. José estava na cozinha revirando a dispensa, havia todo tipo de alimento ali, principalmente enlatados. Tais como milho, ervilhas, azeitonas, feijão, entre outros que ele não fazia ideia do que eram. A geladeira também estava farta, muita carne, bebidas saudáveis e demais ingredientes para a preparação de sobremesas. A casa estava pronta e apta para recebe-los, tudo havia sido planejado minuciosamente semanas antes pelo bispo.
Tempos depois todos estavam reunidos na mesa de jantar, menos o bebê, este estava dentro de uma cadeira infantil bem aconchegante ao lado de Maria, dormindo com destreza.
— Temos muita comida na dispensa — comentou José enquanto dava uma garfada em um pedaço de carne.
— Tem um berço no quarto de casal, isso vai nos ajudar a ficar de olho no bebê durante a noite.
— Eu gostei do meu quarto — Judas entrou na conversa. Minutos antes ele foi apresentado ao seu mais novo quarto que ficava ao lado do de Maria e José.
— Isso é ótimo — disse José — todos estamos satisfeitos então. Vamos cumprir nossa missão e quem sabe podemos ficar com este lugar.
— Mas... — Maria pareceu pensativa — eles vão leva-lo embora?
— Quem? Aquelas coisas? Claro que não.
— Não me refiro a eles, me refiro ao Vaticano. Quando tudo isso acabar você acha que eles vão leva-lo?
— Eu não sei — José olhou para o bebê — ele tem uma missão neste mundo, seria egoísmo nosso impedi-lo de cumprir o seu dever. A humanidade esperou tempo demais por isso.
— Mas ele também é o nosso filho — Maria ficou indignada — nosso primeiro filho.
Ambos olharam discretamente para Judas, mas o menino não estava prestando atenção na conversa, preferia se concentrar em seu prato cheio.
— Vamos nos preocupar com o agora — José continuou comendo — não adianta criar especulações, vamos enfrentar tudo e esperar para ver o que acontece.
— Precisamos de armas.
— Armas não vão funcionar contra eles.
— O bispo deve ter deixado alguma coisa aqui para nos protegermos.
— A casa em si é a proteção. As coisas não vão poder entrar durante a noite se tudo estiver fechado. Mas o bispo me alertou de que elas tentarão. Falou algo sobre mexer com as nossas cabeças, alucinações, vozes, essas coisas. Só precisamos ignorar e seguir as regras.
— Bem, de qualquer forma eu prefiro estar aqui do que lá fora — Maria voltou a comer tranquilamente — as coisas que estão acontecendo são assustadoras.
— Fala dos desaparecimentos?
— Sim. Mas não só isso. O calor está cada vez pior, as chuvas não param, terremotos, desastres naturais ocorrendo por todos os lados ao mesmo tempo. Se isso não é o fim do mundo, eu não sei o que é.
— Por isso precisamos protege-lo. Ele vai curar essas feridas no nosso planeta. Vamos ficar muito famosos, já pensou? Os pais do salvador.
— Eu gostei da ideia — Maria sorriu e olhou para a cadeira do bebê, que agora estava novamente com os olhos abertos a olhando — ele abriu os olhos outra vez — ela saiu da cadeira e o pegou — que bebê mais fofinho — o balançou nos braços.
— Não era para isso demorar a acontecer? Os bebês não demoram algumas semanas para conseguir abrir os olhos? Algo assim.
— Diga ao papai que você não é um bebê comum — ela beijou a testa da criança que permanecia de olhos abertos.
Alguém deu três batidas fortes na porta principal da casa, deixando Maria e José apreensivos.
— Fique aqui — pediu ele levantando-se imediatamente.
— Não vá — Maria segurou seu filho contra o peito.
Mais três batidas foram dadas.
— Não saia daqui — José ignorou o pedido da esposa e passou pelo hall que lavava até a sala, dali ele podia ver nitidamente a porta. Andou até ela e olhou pelo olho mágico, não havia ninguém do lado de fora.
Ele se afastou e ficou mais alguns segundos parado esperando para ver se as batidas iriam continuar mas só o que teve em resposta foi o total silêncio. Como nada aconteceu, apenas retornou a sala de jantar.
— E então? — Maria foi ao seu encontro.
— Não havia nada lá fora.
— Então eram eles?
— Eu não sei. Talvez. Vamos terminar o nosso jantar, lavar as louças e nos prepar para dormir. O dia foi cansativo e cheio de coisas estranhas.
— Veja, ele voltou a dormir — Maria falou baixinho ao perceber que o bebê estava de olhos fechados — Quer segura-lo?
José o pegou pela primeira vez desde o seu nascimento conturbado, era uma sensação de satisfação seguida de um forte sentimento de proteção. Aquela criança havia sido planejada a muito tempo e agora finalmente estava ali em seus braços. Ele se sentia honrado.
Uma hora depois Maria estava no novo quarto de Judas, o cobrindo com um cobertor felpudo azulado.
— Estamos bem ao lado, caso precise de algo é só bater na porta. Entendeu?
— Entendi — o menino acomodou-se no travesseiro.
— Vamos dar uma olhada nisso aqui — Maria aproximou-se dá janela e notou que nela havia um cadeado trancado, impossibitando qualquer um de abri-la. Ela puxou as cortinas — prontinho. Hora de dormir. Prefere que eu deixe as luzes acesas ou apagadas?
— Apagadas.
— Que corajoso — ela sentou-se na beirada da cama — não tem medo do escuro?
— Não são as coisas no escuro que estão nos observando, são as coisas na luz.
— As coisas na luz?
O menino permaneceu em silêncio e se virou para dormir, deixando Maria pensativa. Ela saiu do quarto mas antes apagou as luzes assim como o menino havia pedido.
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