Capítulo 1
A CASA
Assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá uma segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam.
Hebreus 9:28
As estradas estavam ficando cada vez mais escuras, elas se estendiam entre grandes árvores que dominavam aquela região afastada da cidade. A cada três minutos José olhava os retrovisores para se certificar de que nada e nem ninguém o seguia. Ao seu lado estava sua esposa, Maria, que segurava em seu colo o mais novo filho do casal enrolado em um lençol escuro. Em um dos bancos traseiros encontrava-se Judas, de apenas seis anos. Ele brincava em silêncio com um cubo mágico, concentrado em resolver o enigma das cores.
- Não pode ir mais rápido? - pediu a esposa olhando as árvores pela janela do carro, ela sentia que estava sendo observada. Maria estava com os cabelos soltos, havia feito 33 anos mas aparentava ser bem mais jovem.
- Está escurecendo rápido demais, se eu for mais rápido posso acabar pegando o caminho errado e então estaremos ferrados.
- Eu sinto que eles estão lá fora.
- Não pense muito nisso. Como ele está?
Maria olhou para o bebê que dormia tranquilamente em seu colo.
- Ainda dormindo - ela voltou sua atenção para o marido - acha que é mesmo ele?
- Não tenho dúvidas - José sorriu.
- Louvado seja - ela novamente olhou para o bebê que agora estava com os olhos abertos a olhando de volta - espera, ele abriu os olhos.
José pisou repentinamente nos freios, se não fosse pelo cinto de segurança todos teriam voado longe.
- Porra - José deu um soco no volante e abriu a porta do carro.
- O que aconteceu?
- Eu já volto, fique aí.
José cruzou a frente do carro, sendo iluminado pelos grandes faróis e andou alguns passos até chegar perto de um tronco que estava caído no meio da estrada deserta. Ele olhou para ambas as direções mas só o que via eram árvores e mais árvores. Como o tronco não era grande, ele mesmo empurrou o obstáculo para fora da estrada e voltou até o veículo.
- Acha que são eles? - perguntou Maria enquanto José dava partida novamente.
- Pode ser apenas uma coincidência, veja esta estrada rodeada por árvores, essas coisas acontecem com frequência em áreas assim - José possuia cabelos castanhos e uma barba bem feita. Ele ligou o rádio e estava em uma estação de notícias locais, o apresentador do canal de rádio falava algo sobre desaparecimentos em massa ocorrendo em várias partes do país:
"As linhas da polícia foram bloqueadas temporariamente devido ao demasiado número de ligações simultâneas. Todos afirmam a mesma coisa, desaparecimentos de pessoas queridas, país, filhos, amigos. Autoridades alegam que tudo isso não passa de uma espécie de trote em massa criado por um influenciador digital que propôs um desafio ao seus seguidores: ligar para a polícia alegando que alguém querido desapareceu. Pelo visto este desafio saiu do controle e se espalhou por todo o país, fazendo as pessoas ligarem contando mentiras e mais mentiras. Peço aos cidadãos de bem que não caíam nessas mentiras e não participem deste desafio idiota, ninguém está desaparecido, tenham consciência de seus atos."
José trocou para uma estação de música, na qual passavam clássicos dos anos 80. A viagem continuou estrada a dentro enquanto eles cantavam as músicas que tocavam, menos Judas, este continuava concentrado em seu brinquedo. Em um certo ponto do caminho José precisou mudar sua rota para poder encontrar uma estrada de terra que ficava entra as árvores e seguiu adiante até chegar em uma casa de dois andares rodeada por um muro alto repleto de vegetação. José desceu novamente do carro e andou até os portões de grades negras, retirou um chaveiro do bolso e procurou pela maior chave, esta destrancava o portão.
Voltou ao veículo e adentrou no local, havia uma pequena área de estacionamento que suportava até quatro veículos, um caminho de pedras pavimentadas que levava até a casa, um mini play groud infantil com cama elastica e uma área de jardim que seguia pela esquerda da casa.
- Que linda - Maria desceu do veículo junto ao marido.
- Vamos, teremos tempo para explorar tudo pela manhã, no momento precisamos ficar seguros dentro da casa.
Ambos andaram apressados até a porta principal da residência.
- Judas - Maria voltou novamente ao veículo enquanto José acionava o painel que ligava todas as luzes do lado de fora da casa.
- Rápido! - gritou ele enquanto a esposa abria a porta do veículo para o menino.
- Eu quase te esqueci aí, venha logo - chamou ela.
O menino a obedeceu e minutos depois todos estavam na sala principal da casa. O local era grande e aconchegante, possuía quadros, um carpete grande, sofás pomposos, uma TV chumbada na parede, estantes de livros e uma escada que levava ao segundo andar.
- Pronto - José trancou a porta - conseguimos.
- Espero que o bispo esteja certo sobre este lugar - Maria continuou olhando em volta com o bebê em seus braços.
- Ele sempre está.
- Preciso encontrar o banheiro, vou dar um banho nele, o bispo disse que havia deixado roupas de bebês em dos quartos no segundo andar, pode ir procurar para mim?
- Claro, sem problemas - José subiu as escadas.
Maria andou de corredor em corredor procurando o banheiro e Judas foi se sentar em um dos sofás. Maria encontrou o que procurava, o banheiro ficava próximo a um enorme vaso de plantas e possuía até mesmo uma banheira na área de banho. No andar de cima José adentrou em dois quartos com camas de solteiro e no último encontrou o que procurava, uma cama de casal com algumas peças de roupas infantis bem dobradas e cheirosas. Pegou o que iria precisar e voltou para baixo a procura da esposa.
- Tinha um homem parado na porta - disse Judas enquanto José passava pela sala a procura do banheiro.
- O que você disse?
- Tinha um homem parado na porta - o menino apontou para a porta principal. José ficou alguns segundos parado olhando para o local, observando para ver se veria algo mas nada aconteceu.
- Você conhece as regras - ele se virou para Judas - nunca abra as portas e nem as janelas a noite, entendeu?
- Eu sei. Vocês me disseram isso.
- Otimo. Agora vou levar estas roupas para o bebê e quando voltar vamos procurar algo para comer. O que você acha?
- Gostei da ideia.
- Se ver qualquer coisa estranha é só me gritar e eu virei correndo.
José deixou a sala e partiu a procura de Maria, a encontrando sem dificuldades no banheiro.
- Estou enchendo a banheira para dar um bom banho neste anjinho - ela balançou o bebê em seus braços.
- Eles estão lá fora - José colocou as roupas do bebê em cima da pia.
- Como você sabe disso? - Maria ficou séria.
- Judas viu alguém. Mas não se preocupe, eles não podem entrar aqui. Este lugar é protegido contra estas coisas. O bispo nos garantiu isso.
- E se eles conseguirem entrar?
- Eles não vão - José colocou as mãos no rosto da esposa - chegamos tão longe, fizemos coisas que não devíamos ter feito para que o nosso bebê pudesse nascer e agora precisamos protege-lo a qualquer custo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top