Capítulo 42: Amizade Interrompida.
Mel a levou para uma sala pequena, ainda no terceiro patamar e pediu calma, porém seu peito parecia explodir. Sua expressão facial depunha contra ela.
— Quem eram aquelas pessoas de cinza e por que minha essência não ficou dualística?
— Eles pertencem à outra classe de magia, que é um tanto oponente à nossa. Estamos do mesmo lado, contudo com princípios diferentes. — Respirou Mel apressadamente. — Protegemos você, em coletivo.
Marine assentiu sem saber o que dizer.
— Não preciso dizer que tudo o que acontece no Conselho, permanece no Conselho, não é mesmo?
— Não — respondeu, confirmando com um aceno de cabeça. — Mas, há algo a mais nisso, Mel. — A mirou nos olhos. — Eu sinto. Há algo que você sabe.
William, Sarah e Josh aproximaram-se rapidamente. Estavam curiosos com o que tinha ocorrido.
— Repouso absoluto. — informou Mel desviando o assunto. — Aliás, Peter deixou uma lista de tarefas. — Entregou à Sarah. — Os dias estão passando, precisa ter mais foco, Marine e afastar-se de confusões — aconselhou a médica.
Marine concordou sentindo uma energia adversa lhe consumir.
Wagner surgiu à porta e cumprimentou a todos, arrumando os óculos embaçados e já distribuindo funções a William e Josh.
— Pensei que poderia levá-la em casa — arguiu William.
Wagner negou e pediu que Sarah a levasse, pois havia muitos vigilantes e membros da guarda em reunião à espera dos representantes das Censoras.
Marine preocupou-se, perguntando se era algo a respeito dela.
Ele disse que não revelaria nada e ordenou que ela descansasse.
— Por favor, nos deixem a sós — pediu ele aos três jovens, que saíram rapidamente e aguardaram distante.
Mel decidiu sair, precisava ir atrás de Zenneher.
— Precisamos que esteja tudo bem com você para prosseguir com segurança o seu aprendizado e, principalmente, levá-la ao Templo Perdido — discorreu seguro. — Você precisa estar em plena saúde física e mental para adentrar.
— O que encontrarei lá? — indagou Marine curiosa.
— Respostas para inúmeras perguntas que pairam nessa sua cabeça tortuosa. — Riu.
William pediu pelo menos alguns minutos para acompanhá-la até ao estacionamento próximo à rodovia. O conselheiro permitiu, mas ordenou que Josh retornasse às suas funções. Com isso, os três partiram por corredores menos movimentados.
Ao chegarem ao veículo, William abriu a porta e acomodou Marine, colocando o cinto de segurança com extremo cuidado. A proximidade dos rostos provocou certos impulsos logo interrompidos por Sarah, que entrou no veículo.
Sarah sorriu, pedindo desculpas, e William ergueu as sobrancelhas emitindo uma expressão jocosa logo dizendo que mais tarde teriam tarefas a fazer. A jovem confirmou com um gesto de cabeça e ligou o carro.
Marine se despediu, tocando-o na mão.
— Obrigada.
Ele respondeu com um sorriso e as observou até o automóvel cruzar por entre as árvores protetoras.
O guarda que conjurou o feitiço nas árvores olhou para William franzindo a testa.
Na rodovia, Sarah questionou discretamente:
— Quando é que vocês vão assumir um para o outro que se gostam? — averiguou.
— O quê? — Marine sorriu atônita.
— Já é notório! — Sorriu.
Marine fugiu do olhar da nova amiga e disse:
— Eu não sei, Sarah... É tudo extremamente complicado. Entrei na Congregação de uma forma errada... Ele está sendo punido por isso — quis parecer óbvia. — Muitas pessoas me chamam de intrusa — tentava raciocinar. — Se isso acontecer, de ficarmos, pode gerar uma confusão maior — arguiu temerosa e refreando seus sentimentos.
Minutos depois estacionaram diante do belo jardim da residência de Claire. Desceram do carro e Sarah apanhou a mochila da amiga, dando-lhe o braço para cruzarem o jardim.
Antes de subirem os degraus da varanda, avistaram a mala de Marine e dois sacos pretos de lixo.
A porta se abriu e Susan Behan, com uma expressão fechada e olhar altivo com um cigarro aceso em uma das mãos, surgiu de camisola preta, visivelmente saudável.
Um rapaz surgiu por detrás, assustando as recém-chegadas.
Ele a beijou efusivamente e despediu-se, agendando algo para a noite.
Após ele descer pelos degraus e ignorar as duas, Susan as observou com desprezo.
— Susan? — O sorriso de Marine se iluminou. Ficou extremamente feliz em vê-la.
Tentou caminhar até ela de braços abertos, porém foi impedida pelo tom estranho.
— Nem mais um passo, ou chamo a polícia. Invasão de propriedade — declarou Susan.
Marine estancou os passos e permaneceu, ainda de braços abertos e sorrindo, sem entender.
— Não estou entendendo. O que aconteceu? — indagou surpresa.
— Preciso ser mais óbvia? — Apontou para a mala com o cigarro. — Estão aí. Finalmente pude retornar para minha casa. — Tragou fumaça e soltou pela boca em direção à garota estática à sua frente.
— Você pode fumar? — perguntou preocupada.
— Poupe meu tempo de suas perguntas vazias e, principalmente, dessa falsa preocupação. — Virou-se de costas e tentou entrar, impedida por Marine que avançou segurando a porta. — O que é isso?
— O que aconteceu? Onde está a senhora Claire? — Tentou olhar para dentro da casa, porém Susan a empurrou.
Sarah posicionou-se atrás de Marine, fechando a expressão.
— Não sei onde a minha avó está. Talvez no inferno junto com aquela criança insuportável — rechaçou. — Não me interessa. Na verdade, nada me interessa além da minha paz. Todos os seus pertences estão aí. Se quiser conferir, fique à vontade. Agora me deixe em paz.
Sarah interrompeu, afirmando que Marine estava se recuperando de um incidente.
— Será que vocês são surdas? — gritou. — Não quero saber de porra nenhuma. Agora, me faz um favor, tira sua amiguinha daqui. — Mirou em Sarah. — E voltem para o lixo de onde vocês saíram.
— Olha aqui, sua... — proferiu Sarah, logo sendo impedida por Marine que observava atentamente a jovem parada um passo à sua frente com uma expressão de nojo.
Marine respirou profundamente e disse:
— Susan, eu realmente entendo o que você deve estar sentindo. Mas acredite, eu não queria que fosse dessa maneira.
— Tanto queria que me deixou sozinha apodrecendo naquele hospital enquanto seguia a sua jornada pelo desconhecido, saudável, disposta a encontrar as pistas deixadas pelo idiota do seu pai. Encontrou novos amigos. O que restou para mim?
— Tudo. — Marine a tocou no braço e logo foi repelida agressivamente.
— Restou pena, mentiras e esquecimento — foi enfática. Sua garganta explodia. Apontou o dedo contra o rosto de Marine. — Não esqueça de que a responsável por tudo isso fui eu. Porque se dependesse da sua covardia, você ainda estaria em Dublin sendo estuprada pelo Ben.
Marine baixou os olhos sem reação e falou com a voz baixa:
— Não te contei nada porque sua avó praticamente implorou. Descobri tudo recentemente, não teria como te contar no hospital — defendeu-se. — Precisava de um bom momento para justificar...
— Em vão — interrompeu Susan grosseiramente. — Necessitava da sua lealdade no hospital — acresceu ríspida. — Aqui você simplesmente deixou de existir.
— Susan, por favor.
— Estamos em lados opostos, Talbott — falou friamente, olhando-a de cima a baixo. — Adeus. — Nos olhos de Susan, a sombra de Notwen fervilhou. Ele acompanhava tudo à distância, rindo.
As mãos de Sarah posicionaram trêmulas no volante após guardar todos os pertences de Marine no banco de trás. A jovem deu partida no carro e rumaram para sua casa. Observava a amiga com a visão periférica, em silêncio.
O celular da jovem tocou, era Nora informando que a guarda as seguia e que Wagner autorizou a permanência na casa de Sarah, após a conjuração de feitiços de proteção.
Logo que chegaram à modesta casa, Nora as cumprimentou secamente e pediu para que dois bruxos auxiliassem com a bagagem.
Elas entraram e Sarah e os bruxos ergueram seus athames e executaram os feitiços indicados por Dhorion.
Nora, na sala, disse que já iam iniciar os preparos com a proteção e que poderiam seguir com a vida normalmente, pois os encantos detectavam apenas bruxos sem a essência da Congregação.
— É claro que se houver uma invasão das Sombras, somos acionados imediatamente. Mas quero que saiba, não irão invadir — acrescentou com firmeza.
Sarah agradeceu e a levou até a porta, e, ao fechá-la, sentiu o peso da responsabilidade. Suspirou fortemente.
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